NEUZA MACHADO
UM PRECIOSO TEXTO DE MÁRIO QUINTANA: O NARIZ COLETIVO
NEUZA MACHADO
Os poetas e os pintores costumam enxergar além das formas convencionais dos retratos...
No post de hoje, peço aos meus leitores habituais, e aos que aportarem por aqui de passagem, que leiam este texto de Mário Quintana e que repensem a incomum sutileza crítico-literária do inesquecível poeta gaúcho.
(Aproveitem também para repensarem a pintura de Pablo Picasso e o título que procura traduzir a figura de seu belíssimo quadro: MULHER COM LEQUE).
O NARIZ COLETIVO
Mário Quintana
Nada mais deprimente do que esses retratos de família em que todos têm o mesmo nariz (será postiço?) e onde todas aquelas caras parece que estão pensando: “Mas como somos iguais, como somos animais!”
Não há de ser nada. Há um anonimato ainda mais sutil e mais grave. Quando folheamos revistas antigas, espanta-nos que todas aquelas pessoas que aparecem nas fotografias tivessem a mesma expressão. Vai ver que todos pensavam igual! Era a cara da época. Era a cara de fora. Ninguém tinha a cara de dentro. “Também seremos assim”? – indagas agora na maior frustração. Pergunta supérflua. Devias inquirir: “Serei assim”? E trata, antes, de substituir a tua cara coletiva por uma fisionomia própria. Depois, conversaremos.
Há outras conotações, como hoje se diz. Por exemplo: nos Estados totalitários todas as pessoas têm a mesma cara. A grande manada. O rebanho único. E se acaso aparece um bicho diferente, a solução é simples: caça-se.
UM PRECIOSO TEXTO DE MÁRIO QUINTANA: O NARIZ COLETIVO
NEUZA MACHADO
Os poetas e os pintores costumam enxergar além das formas convencionais dos retratos...
No post de hoje, peço aos meus leitores habituais, e aos que aportarem por aqui de passagem, que leiam este texto de Mário Quintana e que repensem a incomum sutileza crítico-literária do inesquecível poeta gaúcho.
(Aproveitem também para repensarem a pintura de Pablo Picasso e o título que procura traduzir a figura de seu belíssimo quadro: MULHER COM LEQUE).
O NARIZ COLETIVO
Mário Quintana
Nada mais deprimente do que esses retratos de família em que todos têm o mesmo nariz (será postiço?) e onde todas aquelas caras parece que estão pensando: “Mas como somos iguais, como somos animais!”
Não há de ser nada. Há um anonimato ainda mais sutil e mais grave. Quando folheamos revistas antigas, espanta-nos que todas aquelas pessoas que aparecem nas fotografias tivessem a mesma expressão. Vai ver que todos pensavam igual! Era a cara da época. Era a cara de fora. Ninguém tinha a cara de dentro. “Também seremos assim”? – indagas agora na maior frustração. Pergunta supérflua. Devias inquirir: “Serei assim”? E trata, antes, de substituir a tua cara coletiva por uma fisionomia própria. Depois, conversaremos.
Há outras conotações, como hoje se diz. Por exemplo: nos Estados totalitários todas as pessoas têm a mesma cara. A grande manada. O rebanho único. E se acaso aparece um bicho diferente, a solução é simples: caça-se.