Quer se comunicar com a gente? Entre em contato pelo e-mail neumac@oi.com.br. E aproveite para visitar nossos outros blogs, "Neuza Machado 1", "Neuza Machado 2" e "Neuza Machado - Letras".

domingo, 18 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - V

NEUZA MACHADO

Palácio de Versalhes
Foto de Rogel Samuel


ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



QUINTO CANTO


2a INVOCAÇÃO


mas, como eu ia contando, invoco também a ajuda de São Sebastião de Milão, para guiar-me nesta viagem transcendental; meu São Sebastião hoje do Rio de Janeiro!, Vossa Mercê, um mártir da fé, protegei-me neste infinito aéreo caminho!, quero chegar sã e salva, neste Brioso Avião Imaginário das Ilusões Perdidas, em Pasargada, lá eu sou amiga do Rei Manuel Venturoso Poeta do Século XX Brasileiro, e terei o homem musculoso e heróico que eu quiser, na cama que escolherei, mesmo que esse homem não seja o próprio Manuel, aquele não deu bandeira na Irene no céu, mesmo que esse homem não seja o João Rosa, paixão antiga e esplendorosa, minha paixão sertaneja, por quem, quomodo disse o Anjo Rochel, eu teria me apaixonado perdidamente, se tivesse tido tal prazer, durante sua curta permanência aqui na Terra Rotunda e Azulinda; não conheci o João, mas descobri o seu mundo, redescobri o meu mundo de Minas Gerais, passeei nas Veredas do Grande Sertão, conheci a Verde Gruta de São Marcos dos Ocultos Meandros, cumprimentei a Verde Família de Buritis Majestosos, envolvi-me tensamente com A Hora e vez de Augusto Matraga, convivendo diariamente com Nhô Augusto Filho do Coronel Afonsão do Saco-da-Embira, o Poderoso do Arraial do Muruci; envolvi-me também com o jagunço ficcional Seu Joãozinho Bem-Bem; viajei de avião com o Brilhante João até às Margens da Alegria Infantil em suas Primeiras Estórias repletas de glórias, vi lá do alto as nuvens de algodão de amontoadas delicadezas, convivi com a Tia e o Tio Engenheiro Construtor da Grande Cidade No Meio Do Nada, a Grande Cidade Central do Brasil, e sofri pra caramba com o assassinato do peru de Natal; estórias maravilhosas de um sertão para sempre eterno neste mundão; mas, como eu ia dizendo, retomando o fio de Ariadne Aracnídea do Misterioso Tecido Enrolado a Conduzir-Me ao Território de Vênus Conselheira Amorosa, ela nunca me faltou em meus epo-ficcionais casos de amor, neste 16 de dezembro de 1998, preste atençããão!, com ela transitando em Capricórnio das Altas e Inóspitas Montanhas da Antiga Grécia, minha Casa das Finanças Voláteis Reais no Horóscopo Solar e Casa Três no mapa do Ascendente, vou com certeza obter o esperado, por intermédio de um telefonema, quem sabe?; ou de uma carta; ou mesmo quando eu sair do Casulo de Seda Preciosa da Rua Garibaldi da Tijuca, para passear na Cidade Maravilhosa do Brasil Varonil; lá com certeza um velho financista divorciado charmoso endinheirado e carinhoso estará em uma esquina qualquer; para fisgá-lo, bastar-me-á estar alerta, com os sentidos e olhos bem abertos, e quem sabe?, zás!, com certeza, uma aparência de Vênus Dengosa e Brilhante não me faltará desta vez; hoje, 16 de dezembro de 1998, Marte Guerreiro Temível Terrível está favorável em Libra e Urano Estranhíssimo Planeta, superfavorável em Aquário, em seu domicílio de facto, em seu domicílio legal, e com a Lua Escorpiana Brilhante passando para o signo de Sagitário Arqueiro Centauro às 13 horas e quarenta e cinco minutos, horário de Verão no Rio de Janeiro, e com o Sol Exuberante dos Vaidosos Leoninos brilhando em Sagitário, meu signo querido e especial, sorte a minha ter nascido em Sagitário!, hoje, inclusive, com Marte Muito Garboso Machão em Libra, como eu ia dizendo, com certeza esbarrarei por aí com alguém desse signo; os librianos sempre se enredaram em minhas teias ficcionais, não sei o motivo?, o meu pouco conhecimento em Astrologia ainda não me permitiu compreender; quando eu nasci, Netuno estava em Libra, solitariamente em Libra, quero dizer, mas eu não sei qual é a força de Netuno em minha sortuda vida terrena; Netuno, hoje, 16 de dezembro, se encontra em Aquário, segundo os Astrólogos Adivinhos do Brasil Varonil, o Aguadeiro beneficia o Jovial Arqueiro; assim, com certeza, esbarrarei por aí com algum libriano taludo fortudo e cheio de gás; por falar em Libra, nos áureos tempos de minha vida amorosa conheci dois librianos sensacionais; um, coitado!, não tinha onde cair morto de tão pobre que era; o outro, doutor em literatura hispano-brasileira; mas, como eu ia dizendo, a minha estrela sagitariana sempre me envolveu com estrangeiros sensíveis, sempre me induziu a ouvir sussurros de amor e paixão em outras línguas, lendo, por exemplo, em francês, Fragmentos do Discurso Amoroso de Roland Barthes, ou, em castelhano, O Amor tomado pelo Amor do Doutor Warat, argentino e brasileiro com muito prazer, brasileiro-argentino de Santa Catarina, de Florianópolis, quero dizer, cidadão do mundo rotundo, quero dizer; o eloqüente Doutor Warat, num rápido e passageiro conhecimento, um quase amigo; de qualquer maneira, para não perder o fio da meada americana de Shirley Valentine Ariadne Mitológica, quando eu nasci, Vênus Assanhada estava retrógrada e sem brilho dourado em Escorpião e isto me prejudicou horrores, prejudicou-me no setor amoroso, quero dizer, o motivo de minhas derrotas amorosas foi esta Vênus retrógrada em Escorpião em meu nascimento; mas não me queixo não, eu fui muuuito amada na vida; poucas mulheres foram amadas na História Literária da Humanidade, eu fui uma privilegiada, ainda sou!, e com certeza esbarrarei por aí com O Amor de meus sonhos, nome de um romance açucarado não-realizado; fui muito amada na vida!, por que estou aqui e acolá a me queixar de Vênus Madrinha?!!!, ela sempre me ajudou em meus casos de amor, ou mesmo nos momentos críticos e solitários desta minha vida terrena; por falar em solidão, a solidão sempre foi a minha Estrela da Vida Inteira; plagiando sem pejo o Poeta Manuel, aquele não deu bandeira na Irene no Céu; penso que a solidão interior é um mal de quem nasce no signo do Cachorro do Horóscopo Chinês, o Manuel que o diga, ele nasceu em 1886; a solidão, ninguém percebeu!, sempre foi minha sombra fiel, ela sempre me acompanhou e ninguém notou, sou agitada, indomável, com algum conhecimento e uma legião de semelhantes à minha volta, todos os personagens do mundo rotundo e profundo; de qualquer maneira, em realidade, só conto comigo, e não terei quem acenda uma vela por mim na hora da travessia final para o Reino dos Mortos; todavia, para mim, a grande travessia é esta viagem, viagem dentro de mim, desnudando os mais íntimos recantos de minha alma peregrina, trazendo à luz meus desejos escondidos, relembrando o distante futuro sem-muro repleto de felicidade; sim senhor, em 31 de dezembro de 1999, na passagem para o anno 2000 virarei a página do passado; novos horizontes vão abrir-se para mim, e o último anno do milênio de Cristo será a coroação de tudo; por enquanto, 1998 ainda não acabou, e eu retorno de 2001 feliz da vida, lá eu encontrei a minha Verdade Secreta Secretíssima, verdade ainda não descoberta, descobrirei com certeza!; deixo agora os anos vindouros em paz e recupero 1991, numa fantástica e estupenda viagem de volta ao passado, em Paris, quando vi pela primeira vez a Torre Eiffel e pude pensar no Brasil Varonil repleto de belezas mil; mesmo assim, sinto saudade, muita vontade de rever Paris, passear no Boulevard Saint Michel e no Boulevard Saint-Germain, jantar no Cafe de Flore com meu Anjo-Guru, visitar o Arco do Triunfo, rever a Vênus de Millus e a Gioconda Italiana domiciliadas em Paris; elas deveriam estar na Itália, mas estão em Paris, monami!; beba um cálice de aguardente pra queimar a língua ferina!; oh, Odisséia Maria!, que Deus a proteja, Mulher!; Deus me livre e guarde de uma Inquisição Intelectual neste final de milênio!, Deus Misericordioso que nos guarde!, Deus me livre de ser mal compreendida neste final do século XX; eu só quero viajar tranqüilamente nestas minhas humildes páginas ficcionais; não atiro pedras em ninguém, sou covarde e medrosa, não nasci para o papel de heroína!, pobre criatura pusilânime sou eu, de alma pequenina, sim senhor, fracota de ânimo, sim senhor, não tenho muita firmeza na vida, tão pouco sou decidida; apenas vou vivendo a minha vidinha sem graça; mas muito feliz, graças a Deus!!!; tive muuuita sorte por nascer sob a proteção de Júpiter Justiceiro, e vou começar o janeiro de 1999 com o pé direito e comerei à meia-noite do Anno Novo sete sementes de uva italiana, para ter muita sorte durante o anno todo; e usarei uma calcinha amarela de baixo americana, para ter muita sorte com money só se for americana; e vestirei um vestido branco rendado francês para ter muita paz e felicidade; e usarei um anel de cobra indiana para conquistar o tal amor prometido por Vênus Dengosa da Suprema Paixão Sem-Razão no já mencionado Orago Astral, a Sagrada Cobra do Amor Indiano, e et cœtera e etc e etc e tal; e brindarei com autêntica champanha francesa fabricada made in Brazil; sou uma doutora caipira pra lá de metida; e cantarei louvores ao Senhor, Ele sempre me protegeu com amor; na verdade só Deus Pai me protege e ampara, amém, as crenças esotéricas são a mania deste final de milênio; é bem verdade, há alguns fanáticos, mas eu não sou fanática, graças a Deus!, apenas me distraio dos problemas normais lendo revistas esotéricas mensais; o que seria de mim, neste final de século e de milênio, em meio a esta realidade caótica, se não tivesse essas gotas de ilusão empurrando-me pra frente?!!!; mas, como eu ia dizendo, no próximo Anno Novo de 1999, cantarei louvores ao Senhor, abençoarei meus filhos supermaravilhosos, desejando-lhes muitas alegrias e saúde nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, estendendo as minhas bênçãos maternas para todos os outros anos vindouros do século XXI; e dizendo ao Deocleciano, pai de meus filhos, seja sempre feliz, Déo!; ele, um ex-marido perfeito e continua sendo um amigo perfeito, um ser abençoado nascido em 13 de junho, e pediu-me em casamento, digo, ficou meu noivo no dia do seu aniversário, e casou-se comigo em um bellíssimo 31 de dezembro, há mais de trinta e um anos; minha Nossa Senhora!, a juventude ficou para trás!!!, envelheci e não percebi, tornei-me uma velha decrépita, minha Nossa Senhora das Grandes Graças!; mas, como eu ia sonhando, a primogênita Bete, de 13 de novembro, sem falar nos gêmeos abortados no anno anterior, espontaneamente, durante a gravidez, um menino e uma menina, bivitelinos; com certeza os gêmeos estão agora passeando tranqüilamente no Limbo da Teologia Católica, habitação celestial dos inocentes falecidos sem o batismo cristão; o Deocleciano colocou o 13 em minha vida para dar-me sorte para todo o sempre; e saiba Déo!, foi uma grande sorte ter-me casado com você, não estaria hoje viajando insolitamente através de mim mesma se tivesse me casado com outro; o Deocleciano compreendeu o meu desejo de voar livremente em um avião supersônico; ele, talequal Mercúrio Veloz do Signo de Gêmeos também possui asas nos pés; assim exigiu a própria liberdade e saiu voando para o Ocidente; mas deu-me liberdade também; permitiu-me voar em direção ao Oriente, o Oriente de minha fascinação, com as suas Histórias das Mil e Uma Noites e os seus Leques do Afeganistão, os leques fascinaram igualmente as divinas Lygia Fagundes e Sônia Coutinho; o Déo é do signo de Gêmeos e não aceita ser acorrentado; e acredite Déo!, somente os que têm liberdade dão liberdade, só os privilegiadamente livres permitem aos semelhantes liberdade também, o outro a sair por aí pedalando contra o vento sem lenço e sem documento, à moda do divino Caetano Baiano; e eu sei, Déo!, o nosso casamento no último dia de 1963 estava escrito nas estrelas, teria de ser realizado na terra e no céu, somos seres opostos nos Horóscopos SolarOcidental e Chinês; os opostos se atraem e, às vezes, se repelem; sem jamais esquecer a influência de Gêmeos; em meu horóscopo pessoal, na hora de meu nascimento, Urano se encontrava em Gêmeos, a 26o de Gêmeos; Urano Enigmático Fora Do Comum, Senhor do Estranhamento também; Gêmeos é a minha Casa Sete, Casa do Casamento no Horóscopo Solar, quero dizer; assim, Déo, eu pude aprender com você enquanto lhe ensinava algumas coisas importantíssimas quomodo, por exemplo, ser para sempre feliz, transformando o limão em limonada e o abacaxi em abacaxizada saborosa; agradecimentos por demais sinceros pelo fato de ter colaborado comigo; graças à sua participação eu pude me tornar a mother da Bete dos longos e sedosos e encaracolados e bellos cabelos cor de ébano, minha primogênita dos olhos profundos e mágicos, de olhos melífluos, bondosos, iluminada para além da realidade vital, nascida no anno da Serpente Chinesa de 1965, a mesma do dia 13 de novembro das páginas atrás; do Aleph Deiforme dos Macros Programas Computadorizados, o Aleph conforme com Deus, um missionário suasório de Deus, fiel discípulo do Filho de Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, nascido em 24 de outubro de 1966, dia dedicado aos Gênios da Humanidade, o príncipe herdeiro da linhagem do pai; e da Daleth, a caçula dos olhos de esmeralda, brilhantes, olhos glaucos de Athena semelhantes, nascida em um 12 de maio de 1968; filhos queridos, por todas os inúmeros momentos bons de nossa vida em comum, gratie plena; enfim, Déo, não foi ruim o enlace, não foi desagradável nossa vida em comum; você deu sonoras e gostosas gargalhadas, quand’eu contava piadas e mais piadas na hora de nossos incríveis, maravilhosos, estupendos, magníficos, fartos, incomuns almoços dominicais,

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - IV

NEUZA MACHADO



ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO


QUARTO CANTO



DEDICATÓRIA



...atravessei o dia e seu perigo na Ponte do Arco da Aliança Entre Mortais e Imortais, agora, posso retomar a minha viagem real; infelizmente, neste minuto-mito do tempo, não verei os navios do Cais de Niterói, não imaginarei bellas incríveis aventuras de marinheiros, olhando de longe o Almirante Guillén; esta minha viagem marítima a bordo de um ônibus velho continua, o anoso veículo enfrenta agora as ruas abandonadas e alagadas do Bairro de Neves Eternas, a poucos minutos de São Gonçalo do Estado do Rio, vai ser difícil chegar na hora certa, o dito cujo é velhíssimo e não consegue atravessar a corrente de lama; seja o que Deus quiser!, óh, Mulher!, mesmo se tivesse de ficar parada aqui até o apocalipse total, esperando as coisas melhorarem no Reino do Ão, neste final de noventa e oito praláde cansadão, prest’atençããão!; talvez os políticos resolvam fazer algumas obras na Cidade, quiçá no Brasil Varonil e arredores; por favor, oradores!, não fiquem só prometendo, cumpram pelo menos a metade das promessas já feitas; por isso agora eu confio no Governador Menininho, Governador do Estado do Rio de Janeiro, no momento, neste anno de 1998, preste atenção! (não sei se vou continuar confiando), confio por ora no Menininho, ao Menininho do Brasil dedico esta minha viagem sonhada, ele é um crente em Jesus e jamais fará algo que desrespeite as Leis do Senhor, pelo menos eu espero tal sorte, neste final de 1998, preste atenção!, anno de 1998, pois não confio na Gerência Atual, e conto com a misericórdia divina para colocar no Planalto Central do Brasil Varonil, nas próximas eleições, alguém carismático e sincero, alguém que se preocupe cada vez mais com o povo, sem lero-lero, alguém que se preocupe realmente com o povo brasileiro e não faça nada de desabonador, lembrando-se sempre, o Confiável Futuro Carismático, antes de tudo, de sua função primordial, o eleito para cuidar da Nossa Casa com carinho e amor (com certeza, se isto acontecer, vou cantar epopéias sinceras em sua homenagem, para o Carismático do Futuro, bem entendido!, preste atenção!, Carismático do Futuro!); o Atual, deste anno da graça de 1998, preste atenção!, eu disse 1998, foi eleito no passado para cuidar da casa e a casa pertence ao povo brasileiro; será que o Atual da República, neste anno de 1998, preste atenção!, 1998, cuida direito de nossa casa, será?, por isso rezo a Deus todos os dias, não é fácil cuidar de uma grande casa cobiçada pelo mundo inteiro!; ele pode se desmazelar; mas, quomodo o cogitado, estamos parados dentro do rio-rua, e penso e repenso e não paro de pensar, nem mesmo Caronte Mitológico das Histórias Antigas enfrentou tantos problemas sociais ao levar as almas gregas afamadas para o Hades Tenebroso, atravessando, com sua barquinha branquinha, tão mítica!, o Rio Lethes das Almas Penadas, ou mesmo quando transportou Dante Alighieri D’Itália em uma viagem pelo Inferno Medieval, numa famigerada famosa Divina Comédia à moda pré-renascentista do século XIV; na verdade, aqui, no momento, o Inferno de Dante se faz presente, há no ar um dantesco calor infernal, o ônibus força os motores num barulho provindo das quentes ardentes profundezas; neste momento, 1998, preste atenção!, lá vai ele, devagarzinho, quase parando, devagar-quase-parando, ainda não pifou, não deu prego, quomodo se diz no Norte e Nordeste do Brasil Varonil; coitadinha da cidade de São Gonçalo!, tão jogadinha e abandonada nesse anno de 1998, servindo de plataforma política para os políticos do Estado do Rio; agora, lá vamos nós!; eu, aqui, no meio do povo sofredor, que está voltando do trabalho estafante, vou agora para o trabalho nosso de cada dia; trabalho de noite e durmo de dia; na hora do meu nascimento fui abençoada, graças a Deus!, desta vez o suplício terminou, ainda não, desta vez o suplício vai terminar, parece que vai terminar, penso que está quase terminando; o orago astrológico do dia garantiu-me uma bellíssima tarde sem problemas, está para existir um oráculo mais fajuto do que este neste final de século XX, o temporal de hoje não está para brincadeiras, não, mesmo assim, confio em minha sorte sagitariana, Vênus Estrelíssima não me vai faltar desta vez, ai dela!, se isto acontecer!, Vênus Madrinha do Trabalho Exemplar e da Saúde Regular e do Amor Estrelar em Capricórnio não me vai faltar, não senhor, eu sou monoteísta com muito fervor, o meu Deus é maior do que Vênus Brilhante e nas horas de aperto só penso em Deus Pai; graças a Deus!, até agora o ônibus não enguiçou, se Deus quiser, não enguiçará; e rom-room-rom-roooom, lááááááá vamos nóóóós!, este trecho de minha viagem não quer acabar; infelizmente o rom-rom-rom foi alarme falso, o ônibus continua parado no centro da lama pegajosa; e que lama terríííível, meu Deus!; há milhares de ônibus à nossa volta e à nossa frente, todos parados, indefesos, no meio da lama e do lixo, impedindo o caminho, num homérico engarrafamento, num colossal e barulhento problema de trânsito, Deus me livre e guarde de tal momento sinistro!; por sorte, a minha mágica e preciosa caneta esferográfica está em minha bolsa, o meu caderno de anotações está na bolsa também; o que não tem remédio, remediado está; só me resta então esperar que os Santos do Céu nos socorram, comandados pelo valente São Brás Eversor de Obstáculos; peço também ao Buda Tibetano de meu Anjo-Guru Amazonense Rochel para secundar os meus santos; todos os aqui invocados desentupindo o caminho repleto de lama; não sei o porquê?, estou agora misturando rezas e crenças praláde milenares e esoterismo e cristianismo; não sei se rezo aos meus santos cristãos ou se faço uma branca bragata ou se recito mantras budistas, aprendidos com o meu Anjo-Guru; vou rezar mesmo é a Salve Rainha Mãe de Jesus; nessas horas do medo, óh, meu Deus dos Hebreus!, a fé das origens é muito mais forte!; o perigo ronda esta tarde sinistra funesta danosa medonha!; confio em Nossa Senhora do Perpétuo Socorro dos Momentos de Aperto, ela solucionará os imediatos e desastrosos e dolorosos e insolúveis problemas; o ônibus velhíssimo enfrentará a lama e sairá vencedor, sim senhor!; Nossa Senhora da Penha Mais Alta cuidou deste momento terrivelmente tenebricoso e danoso; o ônibus, agora, vai atravessar a Mimética Via Férrea dos Novos Trens Imaginários das Linhas Silenciosas, a Via Férrea Longa Infinita do Bairro das Neves de Niterói e por São Gonçalo do Estado do Rio também, e vai a direção do infinito-sem-fim dos meus sonhos dourados; o ônibus, agora, atravessa a linha divisora, aquela divide o Norte Silencioso das Idéias Ficcionais Geniais do Sul Barulhento da Massa Concreta; e está na hora do Trem Fantasma dos Parques de Diversões de Outrora passar, senhor doutor; nós vamos atravessar sim a linha imaginária do Fantástico Trem dos Meus Sonhos de Infância; eu que nasci e cresci num alto de serra of hinterland, perto do Pontilhão de Ferro que corta o Sertão, uma verdadeira obra-de-arte importada da Bélgica, o Pontilhão da Leopoldina-Princesa e da Velha Maria-Fumaça, a Via Férrea dos meus sonhos de infância dourados, me levando e embalando-me até Lacerdina; mas, agora, o apito estridente do Trem do Bairro das Neves Eternais vai acordar-me; estava sonolenta, dormindo dentro do ônibus velho; o ônibus parado dentro da lama; o barulho infernal das buzinas em volta; Nossa Senhora das Reais Causas Perdidas é poderosa e vai ajudar-me, vou rezar um rosário de lágrimas e risos agradecendo a ajuda, e pedirei por todos os passageiros do ônibus assinalados para uma viagem folhetinesca; darei graças e louvores ao Rei dos Reis dos Cristãos, e acenderei muitas velas em agradecimento fervoroso e repleto de fé; aproveitarei o momento de muita tensão, nessas horas as rezas saem espontâneas e límpidas, e pedirei a Nossa Senhora da Penha Mais Alta permanente proteção, pedirei por todos os desconhecidos do ônibus, por meus pais já falecidos, per meus irmãos vagamundos do mundo rotundo; agora, todos gritam e falam impropérios e reclamam, e os carros buzinam, buzinam, buzinam, o barulho é pior do que o do Inferno de Dante, o calor é mais forte do que o calor das labaredas subterrâneas infernais, neste dia 15 de dezembro de 1998, às 17 horas da tarde, horário de Verão no Brasil Varonil, menos em Manaus Capital do Amazonas, lá o fuso horário sai fora do tempo vital, quando o governo atual decreta o Horário de Verão Econômico e Legal; o horário de lá não acerta com a hora oficial do Brasil Varonil; mas, como ia contando, já estamos parados há uns 179 minutos; este dia ficará eternamente marcado em minha memória sem-fim, este dia ficará marcado para sempre no espaço intermediário de meu Calendário Astrológico da Duração Perpétua, suspenso no tempo do pensamento individual, suspenso entre o antes e o depois, o passado e o futuro, quomodo um dia me disse o meu inesquecível filosófico amor Bachelard, momento inesquecível, quomodo ensinou-me o inesquecível francês, naquelas tardes excitantes dos anos 90, enquanto eu escrevia uma excitante e ambiciosa tese de doutorado; neste momento, praláde tumultuado, saí do patamar da glória intelectual, o meu título suado não vale muito no Brasil, não significa nada no Brasil Varonil, só os doutores não doutores ganham muito dinheiro em minha Terra Explorada, defender tese é em verdade ilusão na Terra do Ão; no entanto, mesmo assim, defendi a minha vontade, a vontade de me tornar uma velha doutora sem eira nem beira; mas, quomodo ia dizendo, o meu título de doutora não significa muito por acá, viajo de ônibus para trabalhar, trabalhar, trabalhar; no meu caso, significa ganhar o pão, receber um salário para pagar as contas, as inúmeras contas e os impostos altíssimos; não há jeito de driblar o Imposto de Renda, o Felino Voraz; não há jeito de diminuir o Imposto Predial e Territorial Urbano, o famigerado IPTU do Brasil Varonil; os inúmeros Impostos impostos me deixam mui louca, os Impostos impostos para solucionarem os problemas do País Varonil, e quem paga sempre é o pobre assalariado, ele não tem nem mesmo sal para temperar a sopa de domingo, coitado!; sou uma pobre doutora de literatura brasileira sem-eira-nem-beira, se hoje não tem, amanhã deusdará, amanhã Deus me dará o emprego com ânsia almejada, almejo trabalhar pertinho de casa, para não enfrentar esses ônibus lotados e as longas distâncias, afinal a PVC está em meus calos; a porra da velhice está quase chegando, e os velhos aposentados morrem nas filas do INSS; se os velhos não trabalham, são vagamundos no Mundo e no Brasil Varonil com seus cem vezes seiscentos desempregados mil, assim pensa a minoria doutora pra lá de privilegiada, endinheirada; entretanto, saí melancolicamente do patamar da glória intelectual, viajo em direção a São Gonçalo do Estado do Rio neste ônibus assinalado, cuja placa é RJ 117 117, vindo da Rua do Passeio, uma rua encantada do Rio de Janeiro, agitada, a Cidade mais linda do Mundo Rotundo, em direção a São Gonçalo Casamenteiro padroeiro das solteironas portuguesas, e o motorista não sabe que o personalizo agora, nestas páginas mágicas de mágicas retortas, a curva mágica do Baco Pastoral, páginas de vidro ou de louça com gargalo recurvo repleto de química rosada, por intermédio de minha caneta mágica e esotérica comprada no Bazar Ilusões de Minas Gerais; nem mesmo o rapaz sentado à esquerda, jovem de óculos de tartaruga brilhantes azuis e usando calça jeans de índigo blue, cujo nome não sei, mas gostaria de perguntar o seu nome, rapaz!; não sei se devo, mas vou perguntar assim mesmo, sentindo as dores mortais da coluna arruinada pelo tempo sem tempo que vem de nortada, a PVC não me deixa em paz sequer um momento; o jovem gentil é estudante da Escola Técnica Federal do Rio de Janeiro, está no primeiro anno do Curso de Mecânica Futurista, tem 16 anos e se chama Eduardo; Eduardo Primeiro, Rei das Moçoilas, mora em São Gonçalo, no Bairro Paraíso do Canhão da Ágora para ser mais exata; no Paraíso de São Gonçalo, leitor!, existe um canhão de guerra no centro da Praça; Eduardo, o Primeiro, está preocupado com seu venerável papai; Papai Saturnino Severo de Antiga Linhagem Judaica está voltando também do trabalho estafante, viajando também em um ônibus velho, e com certeza estará enfrentando também o engarrafamento colossal sem-igual, talvez agora em cima da Imensurável Incomensurável Estupenda Ponte Rio-Niterói, a Última Grandiosa Maravilha do século XX, mil vezes maior do que o Memorável Colosso de Rodes da Antiga Civilização, neste incerto trajeto da História do Mundo Rotundo; coitadinho do pai de Eduardo Primeiro, meu temporário amiguinho do ônibus assinalado, estará certamente passando por momentos terríveis incríveis também, atravessando a Ponte Dos Que Lutam Para Ganhar A Vida Todos Os Dias, debaixo do fenomenal temporal apocalíptico, e desconhece, coitado!, a aflição de seu filho Eduardo, o Primeiro; graças a Alá dos Antigos Muçulmanos, o filho foi visitar a avó tão velhinha; mas, graças a um Gênio Ruim do Deserto Muçulmano, quando retornou para casa, o Eduardo foi obrigado a conhecer o Inferno de Dante Alighieri D’Itália e Florença; enfim, Alá protegeu o jovem Eduardo, São Brás desentupiu as ruas de São Gonçalo Padroeiro, Santa Bárbara acalmou a fúria da tempestade esquerdista tupiniquim, Santa Luzia dos Cegos Borromeus de Carangola, minha padroeira, guiou o motorista temporariamente sem rumo certo de boa política, e nosotros rompemos os obstáculos gigantescos, três horas dentro daquela caldeira infernal, rompemos todos os obstáculos, graças ao Deus dos Hebreus e também dos Cristãos!; eu, triunfante, Odisséia Maria Guerreira do Século XX Desequilibrado, pude subir as escadarias do Templo do Glorioso Saber sem ter molhado sequer um fio de cabelo; subi as escadarias, assinei o ponto, pratiquei alguns necessários rituais, e fui cumprir a minha obrigação de sofressora, realizar o meu trabalho, senão, como pagar as contas mensais e os impostos impostos e et cœtera e tal?; porsupuesto, tudo isto aconteceu neste memorável 15 de dezembro de 1998, preste atenção!; entretanto, os astros já haviam previsto tais ocorrências; assim predisseram os Imensuráveis Incomensuráveis Magos Adivinhos dos Vaticínios Astrais do século XX; e tudo terminou bem, a Lua estava favorável em Escorpião, Marte Benfazejo Apesar de Brigão em Libra, e Urano Rei Por Um Bom Tempo Tranqüilamente Em Aquário, Urano Esquisito reinará em Aquário ainda por muitos anos, até 30 de dezembro de 2003; além disto, o oráculo do dia intimava-me a fazer meditação para equilibrar o astral, e foi exatamente o que pratiquei durante a travessia tenebricosa tenebrosa horrorosa do Mar de Lethes Fluminense, depois de ter almoçado com meu Anjo Guru Amazonense no Restaurante Vegetariano da Praça Tiradentes; no entanto, a minha caneta esotérica de Madagascar me diz que ando devagar, digo, a divagar, e não conto os contos que deveria contar,

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - III

NEUZA MACHADO


ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



TERCEIRO CANTO



mas, quomodo ia contando, sou Odisséia Maria Intelectual Sertaneja, uma hétero-descendente de Bravos Caçadores Mui Machos de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas e Gatas do Mato e de Mineiras Matronas Mui Fêmeas, Caçadoras também de Onços Pintados e Jaguatiricos Noturnos e Gatos do Mato, Mineiras Cozinheiras Fagueiras do Leste de Minas Gerais do Brasil Varonil, uma viajante interiorizada destes annos finais do Século XX, deste final de noventa e oito, preste atenção!, de azarações mui políticas; leitora amadora de Gabriel Garcia Marquez; amante delirante de escritores hispânicos; do uruguaio Juan Onetti; daquele divo escrivinhador que foi casado com a tia Júlia, tia dele, prest’ atenção!, aquele escreveu sobre a Guerra de Canudos acontecida no Brasil, sem ser brasileiro, sem ter vivenciado a tal Guerra, o pós-moderno, genial e bellíssimo Mario Vargas Llosa; leitora de Jorge Luís Borges, o divino argentino; e tantos outros divinos latinos; eles, os latinos, me seduziram nesses annos todos, ficcionalmente, press’tenção!, quero dizer; incluindo aqueles escritores franceses e brasileiros e portugueses mui loucos dos anos 50 e 60 e 70; eu, leitora e amante de escritores latinos começo hoje uma insólita e incrível viagem, sabendo sempre pitonisamente, para viver um Singular Grande Amor Imaginário, durante esta minha epo-viagem repleta de ficção e lirismo, será necessário, antes de tudo, sagrar-me Odisséia Maria Guerreira, a enfrentar os moinhos de vento do Reino do Ão e do Reino dos Ões, amar o divino Vinícius, o divino Cervantes e o divino Camões, perscrutando minha mente favorecida, graças aos favores daqueles deuses de Hammurabi Sétimo Rei de Babilônia, os quais na hora do meu nascimento pronunciaram com muito muitíssimo respeito o meu nome, benfazejamente, é claro!, perscrutando meu sólido coração cinqüentão ainda aberto para o telúrico amor, perscrutando minha realidade terceiromundista avassaladora; por tais motivas reais totalmente avassalada, desestruturada, massificada, desequilibrada, lá vou eu, Circe Irinéia dos Anjos Guerreiros Antigos, voando atrás de Ulysses da Silva Ponderoso, querendo prender Ulysses em minha Ilha Mágica, singrando estes ficcionais ares poluídos nunca dantes navegados por nenhum avião de carreira, mas ansiosa por chegar a um aeroporto seguro, sem poluição atmosférica ou mesmo da mídia atual, com a ajuda de Vênus Maravilhosa Madrinha do Trabalho e do Amor Redentor em Capricórnio; e Mercúrio Carteiro Mensageiro dos Deuses Eternais novamente direto em Sagitário, neste dia memorável de 12 de dezembro de 1998, prest’ tençããão!, quando inicio esta epo-ficcional-fantástica viagem em meu próprio interior; talvez, James Joyce, no início do século, com o seu Ulysses volumoso, em apenas um dia, tenha feito uma caminhada mais agradável, mas não sou James Joyce, não sou Clarice Pernambucana Lispector, não sou Murilo Mineiro Rubião, não sou Roberto Mineiro Drummond e tantos outros portentosos divinosos, eles souberam narrar com criatividade seus incríveis desencontros com a realidade caótica do Século XX, e, óh!!!, coitadinha de mim!!!, estou apenas tentando descrever aqui esta minha aérea viagem já agora iniciada, e seja o que Deus quiser!, pois quomodo dizia o divo Machado Carioca Poeta, o que fica realmente da espécie humana é a glória de ter vivido aqui nesta Terrinha Azulinda; por isto, retomando o fio de Ariadne Aranha da Teia Esburacada, lá me vou à procura do Amor neste final de milênio, lutando sem medo contra o deus da decadência existencial, quomodo sempre fiz, des aquel’outro dia memorável do início de minha vida, há tantos e tantos e tantos anos atrás, em Minas Gerais, enfim, lutando para continuar mulher, querendo ser ainda bella na terceira idade; seria bom ser bella quomodo estas sedutoras atrizes das novelas das oito da Rede Globo de Televisão do Brasil Varonil, ainda hoje, há mais de quarenta anos, seduzindo seus parceiros de trabalho televisivo com seus sensuais beijos e olhares langorosos, belezas eternas, esqueceram elas a passagem do tempo, freqüentando os especialistas da eterna juventude, esses vendedores-doutores de ilusão, privilegiados dos deuses atuais, esses souberam compactuar com aqueles diferentes anjos habitantes das sombras, os anjos tortos do poeta mineiro Drummond, conhecedores quomodo ninguém de quomodo alegrar as mulheres do Século XX; por tudo isto, eis-me aqui, Diana Athenas Caçadora de Ilusões, neste 12 de dezembro de 1998, preste atenção!, meu Irmão!, relembrando Osíris Rolando Lero Amoroso, aquele que numa tarde de novembro me disse ser um enviado dos deuses eternais e meu amador para sempre, até à morte, apesar de ser imortal e tomar o chá dos imortais na Academia Brasileira de Letras; todavia, meu Osíris Amoroso Lero Rolando, divino Osíris, aquele que sabe quomodo ninguém alcançar os mais recônditos labirintos do infinito, falou da boca para fora e jamais cumpriu seus votos de amor, jamais me mostrou suas artes marciais no campo de guerra da sedução ficcional; assim, eu, Diana Afrodite Desiludida dos Antigos Deuses Egípcios Eternais, continuarei cantando, para sempre, aqueles versos inventados para ele, meu longínquo Osíris, hoje esses versos esquecidos são a minha lanterna-canção de Lionoreta Brasileira de França e Portugal e Afeganistão; eu, Diana Caçadora da Grande Floresta Verde d’Amazônia, com uma pequenina luzinha, embarco agora em um avião imaginário e vou para Campina Grande, Paraíba, Brasil, descobrir o Nordeste e os nordestinos, descobrir, quero dizer, um nordestino capitalista que me faça feliz, e, quando eu voltar, no anno de 1992, estarei flertando com um imberbe budista tibetano, seguidor religioso do Venerável Dalai Lama, perdido e encontrado aqui no Brasil, vinte anos mais novo, e que poderia, ai! Jesus!, ser meu filho; no entanto, o tibetano glabro mostrou-me o caminho da verdadeira felicidade amorosa, ensinou-me o desapego das coisas terrenas e a busca da iluminação; por isto, eu, Vájira Diamante Forte e Resistente batizada em 30 de junho de 1990 no Antigo Budismo Teravada do Olimpo Maravilhoso de Santa Teresa, do Bairro de Santa Teresa, quero dizer, eu, Vájira Diamante, amiga inconteste do Venerável Monge Vipassi do Manto Dourado, jamais fui budista, mas convivo e amo os budistas, tive essa amizade transcendental com aquele discípulo de Buda de outra corrente filosófica, é claro!, mas nem por isto menos verdadeira; eu, Vájira Diamante da Antiga Língua Pali dos Budistas Antigos, continuo a minha viagem, e espero jamais colocar um ponto final em minhas aventuras seguras por estes ares poluídos nunca dantes navegados; atenção!, a minha viagem só será pontuada com vírgulas e voltas necessárias; depois de 1992, retomo a minha contra-viagem sem destino final e recordo 1991, na França, viajando com o meu Anjo-Guru budista e intelectual Amazonense Rochel; não sei o motivo, a França me pareceu tão exótica; eu, Odisséia, habitante do país mais exótico do Universo, em 1996, morei em Manaus, o lugar mais exótico do Planeta, e convivi com índios, caboclos, escorpiões, anacondas e sucuris; hoje, 12 de dezembro de 1998, véspera do dia de Santa Luzia, minha padroeira, a padroeira de minha cidade natal perdida nos confins da Zona da Mata de Minas Gerais, enfim, repito, hoje, não quero falar de coisas tristes, neste final de século e de milênio, só as alegrias valem lembranças; por isto, recordar Paris será glorioso, principalmente o Hôtel Gerson, 14, rue de la Sorbonne, onde vivi os momentos mais bellos de minha vida terrena, ouvindo os suspiros de amor dos parisienses, eles não têm vergonha de demonstrar em alto som seus momentos de incríveis paixões, Paris, de madrugada, eu, professora do Brasil Varonil, ouvindo os gemidos de amor de um casal no quarto vizinho, a amante exaltada gritou de prazer duas horas seguidas, seu furor uterino espalhado sonoramente na madrugada de Paris, o amante parisiense amoroso retribuiu com barulhentos beijos estalados; e também as brigas sexuais dos gatos nos parisienses telhados; enfim, solitariamente em Paris, invejando os amantes felizes; mas o que é isto?!, sou tremendamente feliz!, por que invejei o casal desconhecido?!, sou uma mulher livre e viajo e canto na hora que bem desejo, sou uma egocêntrica descendente de Bravas Caçadoras de Onços Pintados, Jaguatiricos Noturnos e Gatos do Mato de Minas Gerais, heroína brasileira fragmentada de um mundo fragmentado, uma mulher-somatório de todas as mulheres-heroínas do Brasil Varonil; mas de Paris falarei depois, páginas adiante, por certo!, a minha perspectiva mágica me obriga a pensar o presente, e o presente agora é um ônibus velho, viajo agora de ônibus velho em direção a São Gonçalo, vizinho velhinho de São Sebastião do Rio de Janeiro, atravesso a incrível Ponte Rio-Niterói, a Ponte Incomensurável do Destino dos Gloriosos Homens do Brasil Varonil, misturando-me ao povo trabalhador muito mal remunerado neste final de 1998, preste atenção!, por favor!, eu disse 1998, desci temporariamente do mirante ideológico da imaginação mágico-substancial, daqui a pouco vestirei a minha farda de Alferes do tempo de Machado Carioca de Assis, quero dizer, o atualmente desvalorizado jaleco formal de Professora Universitária de Literatura Geral, na verdade, um deslumbrante overall azul metálico à moda americana, para dar aula em São Gonçalo vizinho de São Sebastião; viajo agora de ônibus velho gaiola dos pobres, atravessando a Ponte Interminável do Destino Brasileiro, situada no insólito imaginário-em-aberto dos juízos de descoberta, sob uma chuva imensa e aterradora, sem fim, em direção ao infinito dos meus sonhos secretos; ouço um barulho estranho, assustador, sem igual, é um velho homem fechando a janela do ônibus velho, decrépito, pois teme a chuva a invadir o nosso mundo praláde caótico; agora, atravessando a Ponte Rodoviária dos Motoristas Intrépidos, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro nos proteja, amém!, vou a direção de São Gonçalo do Estado do Rio; e esta é uma viagem epo-lírica ou epo-ficcional ou epo-dramática, não sei!, não sei precisar o Gênero Atual desta minha narrativa enrolada, espero que não seja epo-paraliterária!, que Deus me proteja!, tamanho é o perigo a nos rodear, a cerração política provocada pelo descomunal temporal apocalíptico; enfim, graças ao Senhor Deus Onipotente dos Antigos Hebreus, dos Católicos e Crentes, no qual acredito deveras, atravessamos o perigo!; o Rio Lethes fluminense-brasileiro em dias ensolarados é uma baía tão linda!,

ODISSÉIA MARIA - II

NEUZA MACHADO




ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



SEGUNDO CANTO




DIÁRIO / NARRAÇÃO

... 12 de dezembro de 1998, 9 horas e 35 minutos, horário de Verão no Brasil Varonil, 10 horas e 35 minutos no Relógio Central do Rio de Janeiro; a Lua está em Libra, o Sol em Sagitário, Vênus inicia a sua caminhada, atravessando os domínios de Capricórnio, prometendo-me um grande amor milionário do ar; eu, Odisséia, de vez em quando Irinéia, nasci sob as bênçãos de Júpiter Patrono e ele estava em paz convosco, óh! divo Mercúrio!; ora, Capricórnio é o meu signo das finanças voláteis, volúveis, e a minha Vênus Madrinha do Trabalho e do Amor, passeando em território capricorniano, não me faltará desta vez; e por falar em Júpiter, este quase me deixou na mão; quando nasci, lá pelas bandas de Minas Gerais, o praláde benigno dos Oráculos Modernos/Pós-Modernos estava naquele momento ensimesmado, desconfiado, calado, domiciliado temporariamente no signo de Escorpião, e todo astrólogo que se preze sabe que Escorpião é o Inferno Astral dos sagitarianos; entretanto, a minha estrela de boa sorte não me faltou naquela hora tão importante de revelação existencial, as novíssimas Parcas do século XX, três superprotetoras amigas, seguraram o corte da linha divisória entre o Nada e a Vida, naquela zona da mata mineira de abertura que determina ao ser humano a capacidade de pensar, para que o nascimento se desse exatamente na madrugada de vinte e cinco de novembro, e adivinhe você, futuro leitor destas linhas, leitor da hora certa, hora de revelação do Mundo Tenebricosamente Silencioso, às vezes estático, daqui a alguns anos, quando estarei ainda muito viva e com saúde, eternamente, quem estava, naquele momento, pontificando no céu, tornando-se para sempre o meu signo ascendente?, Escorpião; talvez Sagitário!; Júpiter e Vênus e Mercúrio estavam ali unidos, também, enviando-me seus fluidos benéficos, e o mais importante é que Vênus retrogradava; o acontecimento ao invés de prejudicar-me ajudou-me horrores e maravilhas; Vênus, na Casa Um do Ascendente poderia tornar-me uma mulher sem complexos vitais, se estivesse caminhando para frente, mas isto não aconteceu, ela estava andando para trás, e, felizmente, pude tornar-me uma mulher menos preocupada com os desejos carnais e mais preocupada com as metas inatingíveis do coração; então, hoje, Vênus Madrinha está em Capricórnio, minha Casa Dois do Horóscopo Solar e Três do Ascendente, por certo, tenho motivos para me rejubilar, desta vez, aquele rico amor luminoso e inatingível não me escapará; é bem verdade!, o inatingível me seduz, sempre me seduziu e seduzirá, mas Vênus Brilhante não me faltou na hora do meu direito de livre-arbítrio, de decidir sobre o que fazer da minha vida naquele antigo mundo mineiro patriarcal; mesmo andando para trás, Vênus em Escorpião será sempre indicadora de força amorosa, assim dizem os Imensuráveis Incríveis Magos Adivinhos do século XX; graças a Vênus Implexora em Escorpião, sou uma mulher-teceloa, entrelaçando os fios da substancial imaginação, fios que se cruzam e entrecruzam com urdidura, tecendo uma teia de sonhos e risos sem-fim; o riso, óh meu leitor do Futuro!, ainda é a melhor arma para balançar as estruturas hipócritas deste final do século XX, de passagem para o XXI, mesmo que você não acredite em mim, apesar da PVC e das rugas e do desenrolar do tempo, a PVC, você descobrirá depois, é o meu maior problema atualmente, a conseqüência natural da Vida, no entanto, a partir de hoje, terei toda a probabilidade de realizar todos os meus sonhos, é Vênus Amorosa Madrinha afirmando-me tal prognóstico, o super-homem dos meus anelos mais bellos, ele na casa dele e eu em minha casa, em festivos e intermitentes encontros; as minhas viagens vitais, mentais e astrais; graças a Vênus Madrinha andando para trás, possuo a glória de ser uma ilustre desconhecida, jamais verei o meu nome inscrito na calçada hollywoodiana das estrelas; quanto a Júpiter Troante, em Escorpião, naquele longínquo 25 de novembro, hoje, dia 12 de dezembro, véspera do dia dedicado à Santa Luzia, mártir da Igreja de Roma e padroeira de Carangola, “minha Santa Luzia!, imploro-lhe que ilumine o meu caminho, para qu’eu possa enxergar somente o itinerário que leva à santificação da alma”; hoje, o Astro Patrono Júpiter Tonitruante está em Peixes, sua Casa domiciliar, no passado, antes da descoberta de outros planetas, Sagitário dividia com Peixes o privilégio de hospedar Júpiter, o Senhor Todo-Poderoso do Olimpo Romano; em verdade, os romanos, muito espertos, tomaram Zeus dos gregos e o transformaram em Júpiter, no entanto, para mim, vejo sempre em Júpiter o poder de Zeus, o danadinho usurpador, o malandro usurpou o trono de seu pai Saturno; por falar em Saturno Severíssimo, regente de minha dita Casa Dois do Mapa Solar e Casa Três do Ascendente, hoje em Áries, depois de uma rápida passagem por Touro neste 1998, mas, como eu ia contando, brilhando em Áries, em sentido direto, naquele longínquo nascimento estava em Leão, abrilhantando a minha Casa 9/10, não s’esqueça do meu ascendente!, juntamente com Plutão Especulador dos Segredos Alheios, no auge dos seus treze graus, no Signo de Leão, esticando seus raios até Júpiter Protetor Vigoroso, a treze graus de Escorpião, numa quadratura que teria tudo para sacudir maleficamente minha vida, se não fosse Júpiter Intrépido meu guardião e amigo, o dito defendeu-me bravamente naquele passado distante, possibilitando safar-me das Leis do Destino e oferecendo-me o número treze quomodo número de sorte, assim, o treze entrou em minha vida, Marte Corajoso Guerreiro, quero crer, estava também a treze graus de Sagitário, 13° ou 14°, os astrólogos às vezes se enganam, um pouco distante do meu Sol sagitariano, meu Sol a 3° de Sagitário, graças a essa pequena distância de 10° não se chocaram; felizmente, para mim, fui batizada em 13 de julho, pude ficar noiva em 13 de junho, casar com um homem nascido em 13 de junho, em um 31 de dezembro, a primeira filha de 13 de novembro, e permiti-me continuar cultuando o número 13, sem nunca temer a sua força purificadora, olhando-o sempre como símbolo de renovação, no Tarot, não vejo o lado negativo deste número de superstição, observo apenas os aspectos positivos; lá se vão meio século e dois anos de vida, com uma Carta Astral predicando uma quadratura exata entre Plutão e Júpiter, a 13° (treze graus), no entanto, tal quadratura nunca me prejudicou, conheci uma caminhada de vida dificultosa, sim, mas sempre realizei insólitos e implexores pensamentos, outros teriam renunciado ante a quantidade de obstáculos; assim aqui vou eu, Circe Irinéia Capitulina do Brasil, viajando em mim mesma, descobrindo, sempre, os astros não são os donos do destino de um ser humano, existe o livre-arbítrio nos dias atuais; e milhões de bolas de ar para o destino pagão, sou católica romana e creio em Deus Pai, mas não deixo de perscrutar o futuro; a minha realidade de habitante de um mundo caótico, participante ativa de uma mudança de século e de milênio, me leva a pensar no amanhã e massifica-me com estas revistas de horóscopo espalhadas por aí, enfim, não deixo de perscrutar o Futuro Sem-Muro, ele é uma incógnita, o atual Futuro Inseguro, e o que seria de mim, Matusalém, se não tivesse o ópio dos oráculos do final do Milênio a ajudar-me a enfrentar o porvir e a buscar cada vez mais uma distração para a minha vida agitada aqui nesta Terra Azulinda;

terça-feira, 13 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - I

NEUZA MACHADO



ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



PRIMEIRO CANTO


1a INVOCAÇÃO


Conta-me, óh! Mercúrio Veloz!!!, fiel mensageiro dos deuses mui poderosos das Idades Antigas Greco e Romana e da Astrologia Pós-Moderna, neste 12 de novembro de 1998, quomodo foi o passado, como será o dia de hoje, quomodo será o futuro, e quomo se desdobrará esta minha insólita e necessária viagem nesta minha existência terrena, esta incursão transcendental nos meus mais íntimos pensamentos?, conta-me tudo!; mostra-me, óh! Mercúrio Dinâmico Praláde Veloz!!!, um epo-lírico-ficcional caminho aéreo-espacial, certinho, a esta minha nova face de mulher de cinqüenta, trabalhadora, viajante incessante incansável na vida, Odisséia Maria dos Últimos Anos do Século XX e das Durações Sombreadas do Segundo Milênio de Peixes Final, mas, à espera expectante brilhante do início do século XXI, do Terceiro Milênio Sensacional ... ... ...

domingo, 4 de outubro de 2009

HOMENAGEM AO PRESIDENTE LULA

NEUZA MACHADO


“... eu ainda vou escrever uns versos laudatórios pra ele, para homenageá-lo à moda de alguns poetas brilhantes do passado distante, puxa-saquismo ainda é prática no País do Ão, e eu vou puixar à moda de então ...” (In: NEUZA MACHADO, ODISSÉIA MARIA, narrativa de 1998 a ser publicada em breve)



Em 2003 escrevi As Aventuras de Bhima na Terra dos Homens, uma narrativa sócio-mítico-ficcional em que previ (sem querer, em absoluto, me autodenominar Profetisa) os sofrimentos políticos e a certeza das vitórias do Presidente Lula. Em todas as minhas narrativas, de 2003 para cá, a presença, sempre marcante, do nosso Presidente Metalúrgico foi uma constante. Neste ano de 2009, estou muito feliz com a consagração, em termos mundiais, do nosso atual Presidente, enquanto Homem de Bem e Grande Político. Que morram de inveja os adversários, pois, apesar dos ataques e maledicências, ele já entrou para a História dos Grandes Homens do Mundo.

Eis aqui um trecho d’As Aventuras do Bhima escrito por ocasião da vitória do primeiro mandato de Lula:

“Naquele dia, o Bhima chorou muito!, mas era um choro de pura alegria. Aprendera a amar aquele povo sofredor e ao mesmo tempo feliz, o qual, naquele momento histórico, aclamava o Novo Governante, O Abençoado e Ungido, com lenços vermelhos e bandeiras coloridas, depositando em seu ombro esquerdo o Luminoso Saco do Papai Noel repleto de verdes esperanças em um futuro radioso somadas a brancos estímulos de paz e vermelhas motivações de vida saudável. Sim!, para aquele povo sofredor e, ao mesmo tempo, alegre e barulhento, o vermelho não era sinônimo de guerra e sangue, de jeito nenhum! Para aquele povo, secularmente subjugado e desmerecido por outros povos aparentemente superiores, naquele momento, o vermelho significava o precioso e valeroso sangue que pulsava em suas veias, o qual deveria ser naturalmente saudável, por meio de uma saudável alimentação, uma saudável forma de existir no mundo, e que, infelizmente, até aquele momento, lhe fora negado por outros anteriores acomodados governantes. Em verdade, naquele País Terceiromundista, até àquele momento, só uns poucos privilegiados possuíam suas despensas fartas, suas mesas com saborosas iguarias, boas roupas e calçados de primeiríssima qualidade, e muito dinheiro nos inúmeros bolsos e Bancos. A educação, até àquela data, infelizmente, era precária, tanto para os muito ricos quanto para os muito pobres. Quanto aos sessenta milhões de miseráveis, esses, coitados!, até àquela ocasião, não possuíam o direito de receber nem mesmo a tal precária educação! Emocionou-se mais ainda quando viu o Longamente Esperado (há treze annos o povo o esperava) levar a mão esquerda até ao ombro direito, numa clara expressão de dor. Somente ele pode ver, com seus grandes e amendoados e luminosos olhos de Extra-Terrestre, o volumoso fardo que, a partir daquele momento, amoldara-se pesadamente ao ombro direito do Novo Governante, aquele que fora há vários séculos anunciado pelo Mago Nostradamus, obrigando-o a externar a dor física que estava sentindo. O Bhima chorou lágrimas ardentes, muito mais e dolorosamente, porque tinha consciência de que levaria algumas luas-luz, com certeza!, antes que o Realmente Aclamado pudesse realizar as esperanças de seu povo amigo e cordial. Chorou lágrimas sentidas porque não lhe era dado, pelo Supremo, o direito de revelar ao povo que ele tanto amava se aquele novo Chefe da Nação, predito por Nostradamus do século XVI em suas Centúrias no início do cinqüecento, iria sair-se vitorioso em sua empreitada de Combate Contra a Fome que, há muuuiiito!!!, grassava no País.

Naquele dia, a Tela Mágica do Futuro ficou bem resguardada em sua Vimana Voadora, a sua Nave Estelar Maravilhosa. O Solitariozinho não quis olhar a Sorte Vindoura daquele povo por ele muito amado, uma vez que o Senhor Supremo, a poderosa divindade dos hindus antigos; o God dos ingleses e americanos do norte; o Dieu dos franceses; o Dio dos italianos; o Diós dos espanhóis; o Deus dos portugueses e brasileiros e alguns povos da África; o Tupã dos homens vermelhos da Grande Floresta Tropical; o Oxalá da religião africana; ou seja lá o nome que os humanos dão ao Senhor Supremo Criador de Todas as Coisas; repetindo, uma vez que o Senhor Supremo impusera-lhe a Lei do Silêncio quanto à Sucessão Temporal. Então, graças a essa Lei, os humanos só poderiam viver o presente, relembrar apenas alguns fatos marcantes do passado, esquecendo-se dos pormenores vividos, e não poderiam, de jeito nenhum!, conhecer o dia do amanhã. No máximo, poderiam alcançar o dom de uma incerta premonição com ar de probabilidade. Assim, quanto ao Porvir Luminoso, este seria sempre uma incógnita para os terráqueos.

Por tudo isto, o Bhima também chorou de alegria, feliz em observar o clamor espectacular do povo daquele País Tropical ante o novo Governante, um homem forte, de superior inteligência racional e emocional, capacitado para dirigir com mão-de-ferro e coração de mel a Nação, a qual estivera, até aquele momento, se encaminhando para o desastre total. Então, surgiu aquele homem, nascido entre roupinhas modestas e muito amor de mãe pernambucana, prometendo ao povo, se fosse eleito Governante, um rumo diferente para a Nação, um rumo diferente para a História Nacional inserida na História Geral da Humanidade. O Bhima apreciou, por meio de sua Luneta Mágica, o clamor do povo abençoando aquele homem sorridente e amoroso, firme em suas convicções, um Governante que fora, pela primeira vez na História da Nação, escolhido realmente pelo povo, sem nenhuma maracotaia eleitoral. Homem do povo que o povo escolheu, ao depositar, com fervor, nas inúmeras urnas eleitorais espalhadas pelo País, seu voto de confiança naquela nova gestão.”


Eis aqui a Dedicatória ao Presidente Lula, inserta em minha narrativa As Aventuras de Circe Irinéia, escrita em 2005:

“DEDICATÓRIA AO GOVERNANTE ATUAL
QUE PASSA POR UM MOMENTO RADICAL
EMARANHADO NAS TEIAS DE POLÍTICOS
INTRIGANTES QUE TRAMAM SEU MAL

Mas, esta história que quero contar,
por pertencer a um Gênero do Antigo Narrar,
do passado dos gregos e dos romanos de então,
necessita por certo de total proteção,
a proteção de um homem exemplar
e de boa intenção.
E per a razão de meu cogitar,
ao Luís Ignácio do Pernambucano Rincão,
atual Chefe de minha Nação,
fenomenal governante,
Presidente Presente de meu Brasil Triunfante,
a ele, em primeiro lugar,
esta nova estória vou dedicar.
E por ser ele um homem cristão,
nascido e criado em meio ao povão,
pernambucano ou mineiro ou paulista de ação,
quomodo Governante Presente
de meu Chão Resistente,
certamente!,
não se importará
e acredito! permitirá
que, ao meu Povo Brasileiro da Serra e do Mar,
do Oiapoque ao Chuí e do Grande Sertão,
esta dedicatória
com glória
também chegará.

Então, quomodo estava a contar,
esperando que a dedicatória não se perca no ar,
para você, óh! Luís!, e para o meu Povo Exemplar,
e para o povo global que vive a sonhar,
As Aventuras de Circe Irinéia do Insólito Narrar,
uma parenta arredia
de Odisséia Maria,
desejo tramar.”


Em 18/12/2006, com muita consciência do valor do Presidente Luís Inácio, iniciei uma terceira narrativa sócio-mítico-ficcional, concluída neste início de 2009, denominada As Aventuras Prosopopaicas de Dianna Valente. Aqui destaco a Dedicatória e alguns trechos, escritos à época sob o impacto das notícias jornalísticas, quase todas desfavoráveis ao Presidente Lula, jornalistas estes que hoje, por motivos óbvios (mesmo contra suas vontades), se vêem obrigados a apresentar em seus textos a face vitoriosa do nosso ímpar Presidente da República (até agora, no Brasil, não existiu outro igual!).

DEDICATÓRIA

É importante que se diga que a narradora em questão,
digladiadora feroz em um mundo de homens em ação,
mundo de guerras inglórias
e indesejáveis vitórias,
possuía ― naquele momento’anormal ―
consciência total
de que, sem a Dedicatória
Com Glória
ao Presidente’Atuante
do Brasil Verdejante,
o seu Neo-Cantar Incessante,
exaltando o destemor e carisma de Mulher Atuante,
em um Mundo de Homens da Força Imperante,
somatório a Dianna de várias mulheres brilhantes,
mulheres que lutam e labutam
em trabalhos desgastantes,
pois então!,
entendia, a tal narradora em questão,
que, para o desenrolar bem pomposo
de um narrar suntuoso,
uma dedicatória
com glória
ao Governante Popular,
de acordo com as normas da Antiguidade Exemplar,
ao Presidente’Afamado
de seu Brasil Adorado,
o Luís Comandante
da Nação Triunfante,
ela teria de, com orgulho, ofertar.
E foi esta a dedicatória,
com glória!,
da Narradora em Ação
ao Luís Ignácio da Nova Nação,
naquele Anno da Vitória ou Segunda Gestão:

A Vós, óh! Luís! Meu Presidente Presente!
Oferto o meu cantar insistente,
Aqui exaltando o caminhar de uma Brasileira Altaneira,
uma laboriosa guerreira,
a Dianna Valente
Quiromante Influente,
mulher bemmenada,
de vid’agitada,
mulher destemida,
labutante na vida,
âncora segura da família querida,
somatório das outras,
as incansáveis mulheres que passam na Estrada,
do nascer ao morrer,
sem medo de nada.

A oferta, óh! Luís! é bem validada!
Uma Mulher Importante,
bella e atuante!,
de temperamento vibrante,
é o Porto Seguro de vossa caminhada,
vossa esposa Marisa,
Primeira Dama Glorificada,
Muitíssimo Admirada
per muitos brasileiros da Nação Dilatada,
Primeira Dama Por Certo! Invejada
per as anteriores Consortes da Grandiosa Esplanada,
por ser Dona Marisa per Vós bem amada.

E a tal Narradora
Implexora,
dos Antigos Escribas incansável Leitora,
buscando as Arribas da Canção Precursora,
habitante de um Mundo Por Demais Conflitante,
um Mundo Indomável
e Neo-Guerreante,
da Pós-Modernidad’Envolvente,
do Imigo Intrigante,
da Praga Latente
matando Gigante,
da Aids Inclemente
exterminando o Amante,
do Sexo Premente
com Vírus Inflamante,
Pós-Modernidade Doente
com Bactéria Voante,
Mundinho, o tal, de Narrador’Atuante,
redigo o já dito,
num tom mais bonito,
a tal Narradora
Urdidora
de Narrativa Implexora,
depois do pedido ao deus tutelar,
o Júpiter Troante
de Vozeirão Trilenar,
vozeirão imperante
na serra e no ar,
e da dedicatória com glória
ao Luís Exemplar,
o Luís Comandante
do Brasil Gran Gigante,
a História
Com Glória
da Dianna Valente,
Mulher Singular,
Notável Vidente,
a tal Narradora,
redigo, Assessora!,
retomou o cantar.

(trecho do capítulo VI):

"Pois um Brasil Glorificado,
a Diannazinha buscava
no tal Monte Adivinado,
para que o Futuro Assinalado
soubesse que o Brasil Adorado
per seu Povo Maltratado,
de Passado Malsinado,
de Povo Desautorizado,
acordou, bem renomado,
naquele incrível instante,
pois um Pré-Dito sem Calçado
tornara-se um Gran Gigante,
e que o Brasil Colonizado
até ao Vinte Perpassante,
já se via idolatrado
em Vera Terra Distante,
no princípio assinalado
de um Vinte e Um Importante,
o Terceiro Aquilatado,
desde o início pré-julgado
como Milênio Interessante,
e o Brasil Colonizado,
naquele instante’atuante,
se vendo Neo-Governado
por Mão Firme-Comandante,
Mão de Governo’Honrado,
por Deus-Pai abençoado,
por Ele muito estimado,
pois Pernambucano’Atilado,
Governanti’Ajuizado,
pelo Povão Adorado,
era já fato afirmado
no Ágora Fortificado
da Neo-Nação Verdejante.
E, agora, depois do excursado,
com muito parolão recriado,
de longe, a Terra avistada,
a tal Montanha Importante
de sua Terron’Adorada,
pertinho de Belo Horizonte,
Capital Mui Fascinante,
e, por companheiro de Estrada,
contava, a dita Vagante,
com o Toinzão, que ela amava,
o dito Neo-Heliosponte
Filho de Apollo Brilhante.

CAPÍTULO FINAL D’AS AVENTURAS PROSOPOPAICAS DE DIANNA VALENTE, escrito no início de 2009:

E o 2009 chegou, com muita alegria sana!,
e Deus-Pai abençoou o nosso Luís Tão Bacana,
e a esta narradora doou a História da Dianna,
uma Sacerdotisa Mui Sana,
ou Sacerdotisa Lunar,
a que, em 2007, sem grana!,
foi com o Toinzão a buscar
uma Aventura Gincana,
uma Aventura Sem-Par,
no Monte Santo da Serrana
Narradora Du Neo-Mar
(que confusão pós-montana!;
não se sabe se a Dianna
pertence à Serra ou ao Mar!),
filha de Antoizinho’Aquileu
e de Joanna Borromeu,
neta do Zeca Estelar
de Minas Gerais Aveziboõna,
o meu Estado Bacana,
a minha Raiz, o meu Lar,
Serra Muito Antígona,
do Alto Espetacular
de Carangola Timoneirana,
a Cidade Altiplana
da Zona da Matta Exemplar.

Mas, enquanto o Mundo sofria
uma recessão de assustar,
uma recessão que valia
muito mais ficar no ar,
causada per secrelia
de um Norte Sem Bem-Estar,
um Norte da vei-mania
de querer no Mundo mandar,
o nosso Brasil Tão Querido,
regido per o Neo-Ungido
pela Massa Popular,
desde o 2002 do Sumido
Anterior Governar,
daquele momento em diante,
do 2002 para a frente,
estava a se tornar Possante,
graças ao Neo-Presidente,
um Presidente Atuante
que, apesar de muita gente
dar-lhe bordoada constante,
bordoada maldizente
de brasileiro inconseqüente
que não quer perder a fonte
do ganhar muito imprudente,
do que não sabe plantar semente,
mas tira o pãozinho quente
de quem trabalhou incessante;
redigo: apesar da Maldizente,
o nosso Grande Presidente
já nos leva ao Patamar,
pois, a nossa Nação MultiGente,
o nosso Brasil Singular
já põe as Cartas na Frente
e vai ao Mundo Guiar,
o Mundo da Recessão Demente
produzida por Dirigente
que se dizia Solar,
e queria mandar na Gente
que não sabia lutar,
e apesar do Oponente
― que não aprecia o Governar
de nosso Luís Presidente,
e está sempre a criticar
o seu Mandato Exemplar,
e terá de se curvar continente,
a cumprir a lei ocorrente ―,
o Grande Luís Presidente,
neste 2009 Afolente,
está no Mundo a brilhar.”

Outros trechos serão destacados em futuras postagens.


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

UMA JOALHERIA REPLETA DAS JÓIAS MAIS MARAVILHOSAS

UMA JOALHERIA REPLETA DAS JÓIAS MAIS MARAVILHOSAS

NEUZA MACHADO

Para Letícia Teixeira Machado

Uma joalharia repleta das jóias mais maravilhosas, um período de imensas riquezas, em todos os graus, inaugurando um novo período na Crônica do Mundo Insciente. A Grande Conjunção entre os planetas Júpiter e Saturno, ambos em Touro, marcando mais um ciclo astrológico, neste 28 de maio do anno 2000, no qual recomeço mais uma viagem pelo interior de meu interativo cogito explorador dos juízos das descobertas surpreendentes.

Na verdade, esta minha segunda viagem não se fará pelos caminhos já preestabelecidos pelas normas narrativas do Mundo dito real. Será uma viagem interdita, orientada pelos veredas subterrâneas e paralelas do Mundo Ficcional, resguardada por um Mercúrio em transição já quase pós-moderno, em fase de restauração ou, se você assim o quiser, em processo de renovação. Esse Mercúrio Transitivo, no momento finalizando um trânsito nos domínios de Gêmeos, estará agora deixando a sua alada e velha capa brilhante e suas asinhas nos pés, para assumir o aspecto de um jovem mancebo motorizado da Ágora de agora. Este Mercúrio Atilado à moda geminiana estará aqui associado ao Plutão Praláde Misterioso em Sagitário, neste momento de mudança das Eras do Mundo.

De qualquer maneira, neste instante-mito, momento de mudança das Eras do Mundo, ouso afirmar que, em meu Grande País Varonil chamado Brasil, o meu relógio infalível assinala quatorze horas e vinte e cinco minutos, e o Orago do Grande Mago das Boas Notícias prediz um longo período de fartura e alegrias em nossa Nação. Júpiter Troante e Saturno Severo se abraçam no Céu Astrológico das Previsões Milenares, irmanados, amigos, a 22o 43’ do signo de Touro, afastados estavam um do outro dês outubro de 1980. Minha herdeira genética, por nascer, ainda este anno, desfrutará de toda essa prosperidade vaticinada pelos Magos Adivinhos do Segundo Milênio Quase Agonizante da Era de Peixes. A minha netinha amadinha, que nascerá em novembro do anno dois mil, será um ser privilegiado da Era de Aquárius, graças a Deus! O Aguadeiro Futurista a guiará pelas sendas do Mundo de Altas Tecnologias Filtradas pela Máquina Internet e o Grande Satélite Global Vigilante Das Massas Humanas Que Se Negam A Pensar. E pensando em você, minha netinha do amanhã, arrisco-me novamente nesta viagem interstícia. Então, nesta hora certa do Relógio do Mundo Astrológico, quando, no futuro, a importância da Grande Conjunção entre Saturno e Júpiter, neste final dos annos noventa, for reconhecida por todos, em virtude de algum evento cosmológico repleto de magnitude, você repensará o aqui dito.

Penso e repenso: como recomeçar minhas tentativas de novas incursões insolitíssimas nas Vastas Planícies e Altas Montanhas do Território Interdito do Cogito Lacunar das Idéias Maiores? Eu sei, minha menina, a manhã do dia de hoje não foi nada gloriosa! Ralei, pra caramba!, as mãos, maltratadas pelas tarefas diárias, na minha Côncava Gruta de Calipso das Tranças Bem-Feitas, recheadas de lembranças dos annos primaveris e saudosas de épicas contendas, quomodo as mãos valerosas da preclara deusa guerreira dos olhos glaucos bovinos, filha muito amada de Zeus dos Antigos Aqueus. Mesmo assim, meu favo de mel, para você vislumbrar este momento com exatidão, compartilhando-o comigo no futuro distante, lembrei-me de saudar e registrar este acontecimento que, por ora, fecha o milênio caótico pra lá de perturbado da Era Confusa e Instável e Tenebricosa do divo Peixes Sofredor Sonhador.

Ah!, como é difícil, minha guerreira netinha do futuro!, recomeçar uma viagem sem rumo certo, sem a proteção de um semideus glorioso, quomodo Aquiles Pelida Filho de Tétis, ou mesmo de um deus pagão, fermoso e espectaculoso, seguindo meus passos, quomo acontecia aos gregos peregrinos das histórias de Homero, ou sem o auxílio de um rei medieval, alto, louro, espectaculoso e interessante, protetor de artistas e mulheres de letras, itinerantes, no século atual já agonizante. Hoje não temos tal proteção. As mulheres-teceloas e os incríveis varões escritores sofrem impedimentos sem conta, para mostrarem ao mundo suas façanhas diárias. É bem verdade!, fique você sabendo, aí no Futuro, meu bem precioso!, alguns magos-fidalgos hodiernos conseguem!, graças à Máquina Propaganda Com Sede de Novidade e Lucro Abundante. A tal maquininha projeta o Artista, esperando retorno imediato em sucesso e dinheiro verdinho americano.

Ah!, minha descendente adorada!, não conto com tais protetores, infelizmente! Entretanto, pedirei novamente o resguardo de Mercúrio Veloz dos Horóscopos Pós-Modernos, no momento, envelhecido, coitado!, quase agonizante, coitado!, mas, qual a Bella Fênix Transmutadora, preparando-se para um glorioso renascimento. Quomodo o já dito, dele receberei proteção, talequal recebi em uma outra Viagem, na figura caleidoscópia de OdisséiaMaria Guerreira do Século XX Belicoso. Aqui e agora, novamente o invoco, oh!, Mercúrio Atual dos Grandes Silêncios e dos Ecos Vazios!, hoje, transitando em Gêmeos, dê-me um engenho poderoso, um som grandíloquo e potente, para que eu possa homenagear a minha netinha amadinha que está por nascer. Mais uma vez, oh!, Mercúrio Alucinante Intrigante Implicante!, oriente-me nesta Nova Recorrente, uma viagem estelar em um Planeta Novo do Terceiro Milênio, o Planeta Novo Brasil Varonil, ainda recente, tão jovenzinho!, coitadinho!, agüentando várias e grandiosas, imensuráveis, explosões interconectadas, quase simultâneas, observáveis na Lente Potente da Grande Rede da Máquina Internet. Oh! Mercúrio das Predições Atuais!, mostre-me o caminho certinho para uma nova epopéia, de autoria feminina, é claro!, em direção ao futuro. Infelizmente, o passado já está tão relatado! Não há mais nada a narrar sobre ele! Já esquecemos o glorioso passado, oh!, Mercúrio de Douradas Asinhas Invisíveis! Os antigos heróis valerosos, eversores de povos autóctones, perderam suas forças míticas, envelheceram melancolicamente, meu divo Mercúrio Dourado! Os heróis de hoje são muito mais poderosos, são anti-heróis, meu amor! Estão sobrepostos à massa que passa, adquirindo proporções gigantescas e força descomunal, tais quais uma legião de formigas vorazes sobre um gigantesco cadáver! O deus-Moeda-de-Ouro-de-Verdade, também chamado de deus-dinheiro, não sai de seus bolsos. Oh, divo Mercúrio Falador, Encantador, Superior!, vossamercê comanda as notícias mundanas e sabe de tudo, como Chefe Supremo dos Correios e Sedexes do Olímpico Brasil Varonil, presenteie-me com uma Incomparável Tela Fabulosa, uma nova maravilha na História do Mundo -
mas que não seja um presente de grego para distraídos brasileses-troianos desprevenidos! -, maior do que a Internet dos dias atuais, um Orago Cinematográfico de primeiríssima qualidade ainda não inventado por seres humanos solertes, capaz de apresentar-me o futuro brasilês do Grandioso Terceiro Milênio, repleto de fartura, bem-estar, luxo e comodidade, antes de minha ainda distante visita ao Rejeitado Execrado Abominado Detestado Reino dos Mortos.

Vou perturbar-lhe, constantemente, oh!, Mercúrio Reticente!, exigindo de você proteção, secundando-me nestas minhas mui sem-graças palavras aladas, não muito altissonantes e brilhantes, ai de mim!, nasci atrasada!, e como já previra o meu rico português argonauta do século dezesseis, para cantar as grandezas e pequenezas de uma anti-heroína quase sessentona do final do segundo milênio, só mesmo pedindo a proteção de um prestimoso deus do Olimpo Pagão. E esse deus, meu Mercúrio Alado e Brilhante!, só poderá ser mesmo vossa mercê. Quem mais, senão vós?, amadinho?!, avoado, enrolado, enganador e atilado!... Oh!, Mercúrio das Predições Atuais!, reuna seus seletos sócios intelectuais do Olimpo dos Maiorais, convoque Júpiter Troante e Saturno Implicante, neste momento astrológico tão amigos!, e, juntos, ofereçam-me um poderoso engenho e uma arte incomparáveis, para qu’eu possa exaltar a grandeza de meu sofrido povo brasilês, principalmente a coragem guerreira da mulher de cinqüenta, atualmente, tão cheia de vida e saúde e repleta de amor, tal qual fez Camões, engrandecendo o povo português. Eu quero cantar nossos femininos sofrimentos e glórias, oh! Mercúrio Agitado! Por que não eu?, meu Mercúrio Argentado?! Sou mulher? Não posso cantar e encantar, quomodo os cantores antigos? E daí!?! A mulher do Século XX já se emancipou, não sabia? Ela já se cansou de tecer tapetes reais infindáveis, qual Penélope Charmosa, à espera de seu Ulisses Ulissiponente Praláde Valente. Você não se lembra, mas eu prometi aos meus descendentes, na minha Odisséia Maria: “uma mulher cinqüentona do Século XX tomará a armadura de seu pai greco-romano-português-brasilano, e sairá em combates epo-lírico-ficcionais, mostrando o valor e a coragem da matriarca brasileira do final do Século XX”, aquela que se multiplicou e se dividiu, e ainda se multiplica e se divide, e se multiplicará e se dividirá, no Terceiro Milênio da Mítica Era Esotérica que começará no anno que vem, para interpretar seus vários papéis na pós-moderna sociedade do Mundo Globalizado. E, por mim e por ela, somatório de heroínas sem identidades memoráveis, oh!, Mercúrio Capaz!, eu, Odisséia Maria, do clã valeroso do imortal português Joaquim Pereira Barba de Argolão, reunirei minhas forças, e bradarei com vigor, e cantarei um canto eletrizado, altissonante e glorioso, já distanciado dos famosos versos hexâmetros de Homero e dos decassílabos heróicos de Luís de Camões, só para que esta raça de poderosas guerreiras do Século XX possa ser exaltada. Por tudo isto, avante! vamos lá!, oh!, Mercúrio Instigante!, por vezes, meio fantasioso, falante, ambíguo, especulador, intrigante, meu padrinho avoante!, colabore comigo!

Em sua homenagem, minha netinha do porvir, Letícia Machado, herdeira do sobrenome paterno do Clã Valeroso dos Machados Mineiros do Calderão Tampado, revelarei, para os pósteros, nestas mui poderosas palavras aladas, quomodo é a vida d’agora das guerreiras mulheres do Século XX.

As incansáveis velhas guerreiras, deste final de século já agonizante, arregaçam as mangas de seus vestidos surrados ou blusas masculinizadas e trabalham quomodo qualquer homem, para ajudar no sustento de suas famílias. Eu, Odisséia Maria dos Curtos Prateados e Anelados Cabelos Revoltos, sou uma delas! Hoje, se não houver união e disposição, para o trabalho estafante e as disputas diárias, o destino será a sarjeta, viver ao deusdará, debaixo de alguma ponte gigantesca, ou dentro de algum Olimpo-Favela, dominado por bandidos perigosos, insegura e desprotegida, a mercê de balas de escopeta, de fuzis AR-15, de metralhadoras tonitruantes, eventuais granadas e todas essas armas-de-fogo, mortíferas, cruéis, desse grande, imenso, tumultuado mundo de Deus dos antigos hebreus.

Hoje, pela manhã, um dia de muito sol e calor no Brasil Varonil, o orago astrológico das Predições Atuais dizia-me para eu adiar e para odiar e parodiar os negócios mui importantes, seguir somente a rotina, fugindo das aventuras amorosas. Eu, minha netinha, jamais fugirei dos reais e ajuizados e rentáveis negócios importantes e das imaginárias aventuras sem-fim, mesmo que o cuidadoso Sol virginiano de Setembro imponha-me tal atitude. O Sol virginiano, minha particular Décima Casa Astral dos feitos repletos de glória do horóscopo solar, está pretendendo negar-me proteção, lá pelos meados da tarde fermosa de dedos de rosa. A Lua em Sagitário, meu precioso signo natalício, em quadratura com o Sol, também resolveu abandonar-me a um incerto destino. Sem falar de meu Júpiter Poderoso, no momento, a 9o de Gêmeos em linha direta, neste anno 2000, protetor e amigo das sagitarianas valentes aventureiras, estranhando-se com a Lua e o Sol, em aspectos arrepiantes, nesta radiosa manhã de impedimentos sem conta. Mesmo assim, insisti, e consultei outro oráculo. Estoutro disse-me que o momento era bom para eu tomar alguma decisão no trabalho. Que decisão poderei tomar!??? O futuro dirá! Só sei viver o presente, mais nada! Não sou uma velha professora guerreira a lamentar o passado, e, muito menos, preocupo-me com o futuro inexistente. Só vou seguindo, sempre pra frente, praláde contente. E o orago me diz que sou uma velha guerreira insatisfeita, a lutar contra moinhos de vento, à moda quixotesca do divo Cervantes. Será que sou mesmo uma mulher insatisfeita, desejando transformar esta vida sem leme? Assim, a manhã desta terça-feira passou, e eu trabalhei pracaramba em uma grande Universidade do Rio de Janeiro. Sou professora, sabia?, de Literatura. Encantada! Depois, voltei, para o meu pequenino oásis repleto de livros e sonhos e aparelhos pós-modernos, e tomei um banho tremendamente revigorante no micro-banheiro do meu casulo aconchegante. Almocei deliciosas iguarias enlatadas e alimentos saudáveis, manjares saborosos de deuses ignotos, há meses congelados no meu freezer 90 Compact da Cônsul do Brasil Varonil, invenção tão útil deste Século XX. À tarde, saí, para trabalhar em uma outra grande Universidade de minha amada Pólis tão agitada! Trabalho dobrado! Acontece que preciso trabalhar, pra ganhar meu sustento e pagar os altíssimos Impostos impostos exigidos por lei. É isto aí, minha menina!, pra viver neste mundo, é preciso pagar alto preço, ou, então, viver quomodo indigente nas violentas favelas sem leis ou debaixo da ponte.

Agora, por exemplo, neste preciso instante, estou viajando de ônibus refrigerado, em direção ao meu outro trabalho. Quomodo costumo fazer, viajo envolta em um halo de sonhos, olhando a tumultuada realidade desse final de milênio, de um ponto de vista distante, interiorizado e impessoal. Esta é uma forma de me defender do estresse diário. A vista, minha netinha Letícia!, é tão linda! É um dos postais de minha Pólis Maravilhosa. Vou apreciando os anúncios luminosos, refletores da pós-moderna economia desse mundo globalizado, massificado. Em um deles, há o reclame de cem empresas de informática celular em um único local, agrupadas em um Complexo Pólo Comercial da Barra da Tijuca. O ônibus, confortável, com ar refrigerado, caríssimo, saiu às 16h40min em direção ao Campo Grande das batalhas diárias. Para que o ser humano possa sobreviver dignamente nesta vida tumultuada das constantes competições trabalhistas, oh!, minha neta!, é necessário guerrear. Neste mundo de hoje, só os fortes sobrevivem. Todavia, quanto a mim, apesar dos inúmeros Impostos impostos, ainda posso pagar um ônibus refrigerado, livrando-me assim do calor insuportável do meu burgo famigerado famoso. Viajar de ônibus refrigerado, em direção ao trabalho infindável, é uma terapia sem ônus, equilibrando as minhas emoções e a minha razão. Vou apreciando a bella paisagem, as garças se beijando em uma criativa escultura de algum desconhecido escultor do Rio de Janeiro, vejo, também, o estupendo Teatro de Lona da Barra Encantada, um bairro nobre dos emergentes milionários do País do Ão. A mosca milenar bate ao encontro da vidraça da janela do ônibus. A mosca, uma mosca, uma simples e pequenina mosca, desde o princípio do Mundo. O Barra Plaza e seus escritórios e lojas, os templos grandiosos da Pós-Modernidade Elitista recebendo as oferendas diárias dos infelizes súditos do deus-dinheiro. O telefone celular, chatíssimo, mania da massa maçante, tilintando dentro do ônibus, num incômodo permanente. Os estranhos edifícios-conjuntos residenciais dessa rica humanidade expectante e espectante. Em contraste, os pobres trabalhadores cavando a terra, exatamente quomodo os primeiros homens fizeram, desde o princípio dos tempos imemoriais. A criança que chora ao lado da mãe, perturbando o silêncio desta viagem interdita, é um fato real. Um soluçante choro de criança suspenso entre o antes e o depois dessa realidade de final de milênio. Um choro de criança ressoando no tempo vertical e infinito de meus pensamentos ativados. Ah!, o tilintar desse telefone celular enjoado desse passageiro de voz enjoada não me deixa sonhar! Os telefones celulares, objetos de bolso, com seus mágicos fios invisíveis, nos lugares públicos, são chatices científicas de minha realidade vital, promovendo improdutíveis diálogos entre pessoas distantes, incômodos, obrigando aos que estão próximos a ouvirem a conversa. O telefone de bolso é uma invenção mal usada pelos bobos mortais. Que o Deus dos hebreus e também dos cristãos nos livre de alguns modismos desse mundo atual, amém! A motocicleta possante e ruidosa passa veloz com seu motoqueiro intrépido, quomodo um deus sarado disfarçado do Olimpo dos gregos admirados, usando um brilhante capacete azul metálico, de material resistente, imponente. Aires Voador agora se disfarça de audaz motoqueiro nas ruas da Barra, pobre coitado! A Barra Milionária dos Sonhos Milionários, dos noveau richi, a grande pequenez dos homenzinhos cheios de empáfia.

E eis a política e os políticos: “Votem no Conde Engenheiro, para prefeito de sua Cidade Maravilhosa. Dêem novamente seu voto para o Conde Engenheiro, de linhagem tão nobre. Mas, não deixe de esperar pelo término do Barra World Shopping, quase prontinho, para aguardar e guardar o seu rico dinheirinho”. Ah!, minha neta adorada!, há também as imensas, gigantescas, piscinas azuis, tudo para o seu conforto e lazer, em sua vida de glórias, dês que você tenha muito dinheiro para comprá-las. E você terá, minha Flor! Basta pagar o preço, dez vezes mais que o salário atual do pobre trabalhador deste Brasil Varonil. Mas você viverá em um novo Brasil, aí no Futuro! E as Academias de ginástica, para a manutenção de um corpo apolíneo, escultural, sem-igual? Tudo isto você usufruirá, minha neta!, se tiver dinheiro para pagar no futuro distante. Para você, meu Favo-de-Mel que está por nascer!, desejo-lhe riqueza, mas, já estou implorando ao meu Deus dos Hebreus e também dos Cristãos que lhe ofereça outros dons importantes: muita saúde, bondade e alegrias constantes.

Os velozes carros brilhantes, possantes, aerodinâmicos, se engarrafam nas amplas Avenidas da Barra Tijucana. Engarrafamentos colossais, homéricos, prosopopaicos. E os cursos de inglês-americano? Wizard, CCAA, et cetera, etc. Deixe de falar português, meu freguês! Português é um idioma ultrapassado, quase em extinção. Chique, no Brasil Varonil, é falar inglês, melhor ainda inglês-americano, se possível com um leve sotaque texano ou nova-iorquino ou californiano. Ah!, eu gosto de viajar nos cogitos superpostos! Sou uma sonhadora viajante em um mundo intrigante. É muito interessante viajar de confortável ônibus refrigerado e de pensamento. Ver o recreio das crianças e o Recreio dos Bandeirantes, um aglomerado de casas luxuosas perto do Olimpo da Barra. Os bandeirantes do passado paravam aqui, será?, em suas andanças no Século XVIII, será? Recreavam-se e se alimentavam aqui, ou acá descansavam seus corpos cansados da longa viagem em lombo de burro ou, talvez, deapé, os bandeirantes do século do ouro brasilês-português. Ou será que eles recriaram o Brasil Varonil? Eu, agora, estou tentando, a partir de um nadica de nada, mas com a ajuda de Mercúrio Amado, mui Revigorado, recriar o Brasil Varonil do Milênio Vindouro. Tá difícil! Mas, ainda há cavalos no século atual. Teremos cavalos e outros bichos no Terceiro Milênio e nos milênios seguintes? Não sei! O Mundo tornou-se pequeno para os humanos. Milhares e milhares e milhares e milhares, et coetera, et cetera, etc., de seres humanos abarrotando esse nosso pequeno Planeta. Onde abrigar cavalos ou os outros bichos do mundo de Deus? E as flores? Cadê as flores? E os frutos? Quedê os frutos? E as árvores? Quede as árvores? As florestas? Que é das florestas? Só há alguns minúsculos hectares nesse pobre mundo agonizante.

No Brasil Varonil, estamos todos contra o FHC, neste anno 2000. Quem é o FHC? É o Presidente Supremo da Nação, meu irmão! E mais e mais piscinas à venda, durante a viagem para o trabalho de todos os dias. Vejo milenares galinhas ciscando na beira do caminho. Ainda há galinhas ciscando no Mundo Rotundo! Precisamos ainda das milenares deliciosas galinhas assadas, quomodo qualquer animal esfaimado. Cuidamos das galinhas com carinho, com muito milho e amor, para depois saborearmo-nas em festivos almoços de domingo agitado. As galinhas, tão saborosas!, douradas em óleo fervente, ou assadas, saboreadas com arroz e feijão, salada de folhas comestíveis, legumes coloridos, et cetera, etc., transformam-se em uma refeição sem-igual. E os porcos? Tão saborosos! E os bois? Tão saborosos! Et cetera, etc. Mas, há casebres humildes. Há pobres no Mundo Submundo! E eu estou aqui a viajar em um ônibus confortável, e, mesmo assim, vou reclamando dos outros passageiros. Os ditos matraqueiam incomodamente com distantes conhecidos, através de seus telefones celulares chatíssimos. A passagem caríssima custou-me dois reais e cinqüenta centavos. Uma bagatela! Para mim, meu tesouro! Amanhã ela custará muito mais. Sou mulher trabalhadora, guerreira, merecedora do salário mensal. Não sou rica, mas, não sou também muito pobre. Sou uma velha senhora pra lá de privilegiada, meu amorzinho. Ganho o meu sustento com o suor de meu rosto, e ando de ônibus refrigerado, e pago as minhas contas, só com o salariozinho de professora. É bem verdade que trabalho sem parar. São horas e horas, só para receber um razoável dinheirinho, que dê para viver e não sofrer privações. As velhas de hoje trabalham, e muito!, fora de casa. O trabalhador assalariado, coitado!, não pode pagar tal quantia, em suas viagens diárias. Viajam em ônibus convencionais ou de trem, às vezes, pulam a roleta e não pagam a passagem.

Ainda há árvores neste meu trajeto de viagem, coitadas!, empoeiradas, mas resistentes. E lagos? Os lagos brilhantes, espelhados, de Narciso Fermoso, ainda são vistos no mundo. E eis o telefone celular da vizinha passageira tocando novamente dentro do ônibus. Seu matraquear insistente perturba meu sonho, que chatice! Vejo deliciosos cocos verdes e abóboras-morangas brilhosas, douradas, expostas na barraca da beira da estrada. Ah!, uma água de coco, agora! Que delícia dos deuses de Homero seria! Hoje o dia está frio no Rio de Janeiro. Casebres e carros de luxo à vista. Que incoerência! O Recreio dos Bandeirantes ficou para trás. Vi um Restaurante de comida mineira e me lembrei de Minas Gerais do Leste do Brasil Varonil. Sou mineira, nascida em um alto de serra of hinterland daquelas terras floridas, encantadoras. Pastos!? Quedê os cavalos? Um novo vilarejo nascendo na foz do divo Rio Argentado. Um Jardim Maravilha. Açougue Boi Manso. Eletrônica Nossa Senhora Aparecida. Incomodei o rapaz, sentado ao meu lado, com os meus pensamentos, as minhas folhas de papel e a minha caneta esferográfica mágica, comprada no Bazar Ilusões de Minas Gerais. Minha caneta vibrante brilhante preciosa não para um minuto sequer de fazer anotações, para esta minha viagem interdita, dedicadas à minha neta que está por nascer. O rapaz do ônibus Pégaso Veloz foi sentar-se em outra cadeira. Apolo Taurino, disfarçado de passageiro de ônibus, está contra mim. Incomodei o rapaz apolíneo, só porque estou escrevendo. Escrever em público também incomoda. Estou pouco me lixando para ele. Coitado! Homem-massa-não-pensante que não gosta de escrever. Ah!, minha netinha, sua avó é um prato cheio para os psicólogos desse final de século e de milênio.

Existe ainda caminhão de frete para transportar mudanças. O Dicró Cantor Brasilês, você sabia?, vai cantar hoje, dia 28 de maio do ano 2000, no Bairro Magarça. Descobri o evento graças ao anúncio colado no poste de luz. Eis o número 3006. Que rua é esta próxima da Estrada do Magarça do Imenso Campo Grande das Laranjas Douradas? Mercado Queirós. Lava-jato do Rico (R$3,60/três reais e sessenta centavos). O Rico tem um lava-jato na Estrada do Magarça, para lavar possantes carros empoeirados e ganhar um dinheirinho legal. Bar Garotas do Magarça. Sacolão do Magarça, repleto de verduras saudáveis e frutas deliciosas, para a alimentação cotidiana de quem pode pagar. Aviário do Magarça. Aviário: para vender saborosas galinhas mortas e depenadas, a refeição preferida dos brasileses guerreiros, pós um dia de labor estafante. Matadouro de galinhas é o Aviário do Magarça. A casa seguinte é para a diversão semanal. Os deuses morenos e suas deusas lindíssimas, habitantes dos morros-olimpo da Cidade Encantada, não dispensam as diversões semanais. Forró e Pagode: danças arretadas. Depois de trabalhos sem conta, um pouco de dança, para esquecer os incontáveis problemas diários. Sábado à noite teremos Pagode no Magarça. Eta!, celular incomodante, Zeus Tonitruante! Não me deixa viajar em paz! É a jovenzinha de voz anasalada falando: “Oi, Cris, tudo bem? Não. Tô na Barra. Minha avó já chegou? Sorine. É! Adulto. É. Sorine adulto. Pinga no nariz de quatro em quatro horas. Você compra uma garrafinha de soro. Agente usa também Adinax. O Sorine é melhor. Tá bem! Um beijo, Cris. Tchau!” Se o povo-massa soubesse como é ridículo o ato de conversar em público, pelo telefone celular!!! Vote na Graça Moderna para Vereadora. Ou será Pós-Moderna? Uma das três Graças da política brasileira. As eleições estão chegando. Que bella Igreja Católica neste bairro residencial. Que bairro é este? O bairro depois da Estrada do Magarça. Campo Grande dos Imensos Campos de Laranjas Douradas! “Venha cá, m’a garça!”, quem sabe?, diria o velho português do passado, talvez, se engraçando com alguma bunduda belezura do lugar. “Temos galeto na brasa”, anúncio do Restaurante Não Sei O Nome. Deixei a Bella Barra e estou viajando em direção ao infinito de meus sonhos mais caros. Que incrível casarão, bem aqui na parada do ônibus, quase chegando ao centro do Imenso Campo Grande das Pelejas Diárias. Quanta riqueza! Ah, celular chatinho! Não para de tocar, nem um minutinho, dentro do ônibus refrigerado e dentro do meu ouvido cansado. São vários minúsculos aparelhos de diferentes passageiros. Todos tocam, quase ao mesmo tempo. Todos falam ao mesmo tempo, conversam com pessoas distantes, através de um fio invisível, ao mesmo tempo. Oh! descoberta maravilhosa do Século XX! Padaria e Confeitaria Pepitão, meu irmão. Venha saborear os deliciosos pães de nossa padaria! Posto Luanda, Limitada, Posto de Gasolina Aditivada. Oh!, meu bom ex-Presidente Itamar!, o homem está acabando, em menos de cinqüenta annos, com o que a natureza levou milênios para formar! O petróleo já está quase no fim, Deputado Serafim! Jardim Escola Amor Perfeito. Paty Som, venha apreciar a boa música, meu bom! Projeto TranformAção: faça a sua parte, meu irmão! “Vendo esta propriedade”, Majestade! Retorno Bangu: siga a seta, Juju!. Santa Cruz: siga a seta, Maria da Luz! Avenida Brasil: siga a seta, oh!, Povo Varonil! Retorno Barra: siga a seta, Zé Navarra! Direção: Campo Grande: siga a seta, Viajante! Já chegamos em Campo Grande dos Imensos Antigos Campos de Laranjas Docinhas. Daqui a pouco vou trabalhar, até às 21 horas. Só chegarei em meu micro-casulo, para descansar do dia estafante, às 23h30min.

Seis de outubro do anno 2000, dezesseis horas e trinta e cinco minutos de um dia escuro, nevoento, prestes a desaguar um temporal apocalíptico. Um outro ônibus refrigerado, talvez o mesmo, me leva em uma outra viagem interstícia. Vou para um trabalho diferente, lidar com outras pessoas, preparada para enfrentar os momentos inesperados desse meu tempo de espantos e incertezas quanto ao futuro. Não há nada permanente. Tudo é uma incógnita. O mundo gira e nós vamos girando também, deixando-nos guiar pelos desígnios do divo destino. Mas, os deuses de Hammurabi Babilônico ainda velam por mim. Eles pronunciaram meu nome na hora de meu sortudo nascimento, lá em Minas Gerais, e as três Parcas Bondosas do Século XX – a Maga Patalógica, a Bruxinha Meméia e a Bruxilda Atanazai – cuidaram, cuidam e cuidarão do meu longo viver. Há pouco, antes de sair de casa em direção aos meus sonhos mais bellos, consultei o oráculo da Bruxinha do Olimpo da Mágica Ilha do Governador, e ele me disse que o meu dia seria mutável, com boas e más influências, e qu’eu só poderia cuidar de negócios de pequeno vulto. O orago não me satisfez plenamente. Consultei outro oráculo, o da matriarca bruxona de Copacabana. Eis o que ele me augurou: “Graças ao Velho Saturno Soturno, hoje favorável no Céu do Brasil Varonil, você, sagitariana sortuda, poderá alcançar um bello desenvolvimento no campo profissional, sem igual!” Ah!, minha netinha amadinha !, eu só aceito previsões positivas. Previsões negativas, mando-as prascucuias! Mas, fiquei muito mais feliz com o orago do Mago Bidu, indicando-me uma paixão fulminante, misteriosa e excêntrica para o dia de hoje. Em 6 de outubro do anno 2000, Urano Estranhíssimo está favorável no Olimpo do Engenho Real, e, quem sabe?, uma paixão irreal estará a caminho, quomodo os dizeres solertes dos velhos líricos poetas dos tempos d’antanho.

14 de novembro de 2000, terça-feira. Uma velha guerreira viaja de ônibus. Sou eu, minha neta. Você está por nascer, amanhã você vai nascer, e sua avózinha viaja de ônibus, em direção ao trabalho e aos seus sonhos mais bellos. Uma velha guerreira, ainda animada, viajando de ônibus refrigerado, ouvindo música suave pelas ondas magnéticas da máquina-rádio, música tocada em uma rádio qualquer, mascando chicles sem açúcar. E lá vamos nós, novamente, para Campo Grande dos Sonhos Amplos e Dilatados, inimagináveis, para mais um dia de trabalho estafante, sem fim. À noite, carregarei as pedras infindas do sono intranqüilo e esperarei confiante a aurora fermosa dos dedos de rosas do dia seguinte.

O dia amanheceu nublado e chuvoso, igualzinho àquele do dia 6 de outubro, dias atrás. A tarde está triste, azulada, cinzenta, com leves e espaçadas nuvens brilhantes. Mas, vou de qualquer maneira pelo Caminho do Sol, agora, repleto de escuras nuvens apocalípticas. O Camiño do Sol fica no Olimpo da Barra Encantada, bem pertinho do Recreio dos Bandeirantes. Os bandeirantes antigos buscavam ouro e recreavam-se acá. Hoje, já não há mais bandeirantes, com suas bellas bandeiras e guapos mancebos de olhos brilhantes, em busca do oiro dourado, acobreado ou argentado. Hoje, as grandes viagens são mais confortáveis. Mas, o telefone celular continua tocando dentro do ônibus, tocando, tocando, e incomodando a minha fantasia. O passageiro do lado não sabe do incômodo. Continua falando e perturbando esta minha epopéia rodoviária, suspensa entre o ontem e o amanhã de minha vida terrena. Ele está de serviço e poderá demorar pra chegar alhures e algures. Irá amanhã de manhã para atender a cliente. Ele conserta máquina de lavar roupas. As roupas sujas do Século XX são lavadas em máquinas, minha netinha! Hoje, as mulheres não lavam roupa à mão, possuem o conforto do século atual. Até as mais pobres têm máquina de lavar roupa, louça, o que for preciso pra facilitar o convívio com a hause. O mundo de hoje é pura tecnologia. As máquinas poderosas do mundo dominam o Mundo. No entanto, Letícia Machado!, você que nascerá amanhã, quinze de novembro do anno 2000, feriado no Brasil Varonil, a Barra é encantada. Os deuses de Homero e os super-deuses dourados do Trópico de Câncer estão por acá e não querem voltar.

Neste 04 de Dezembro de 2000 (2000-12-04), final do Segundo Milênio, você já nasceu, Letícia!, você já está com dezenove dias de nascida, e esta sua avó, Circe Irinéia dos Cabelos Argentados Curtos Revoltos Anelados Abundantes, esta privilegiada representante das milhares e milhares de labutadoras mulheres desconhecidas do Brasil Varonil, se prepara para apreciar a última conjunção do milênio, entre o Bello Sol Sagitariano Hipertijucano e o Valeroso Plutão em Sagitário, neste momento de impasse ideológico, quase sem solução, neste Histórico Presente Demente. Eu, Circe Irinéia Atilada ou Odisséia Maria Guerreira Valente ou Diana Caçadora das Mil Cabeças Pensantes e Milhões de Braços de Medusa, preciso libertar-me do que não tem mais significado em minha vida. Os tentáculos da deusa polvorosa querem envolver-me, mas, o Valeroso Plutão Bonitão desceu do Olimpo Astrológico, para cumprimentar o Gran Sol Tijucano Sagitariano, e ambos estão favoráveis aos meus planos. Entretanto, o vizinho bonitinho, morador do Casulo de baixo, amanheceu agitado, brigão, gritando com a infeliz consorte-guerreira. Daqui, do meu micro-casulo encantado, ouço as contendas matrimoniais, abalando os firmes alicerces de meu Edifício-Castelo, super-repleto de apart-casulos, construído em tempos imemoriais. De qualquer maneira, o Sol Apolíneo e Plutão Valeroso estão a dialogar amigavelmente na Maison Sagitarius, minha Casa Egocêntrica no horóscopo solar e Casa da Fortuna do meu ascendente. Os tentáculos da preclara deusa polvorosa, a horrorosa tirana, propiciadora de pesadelos sem fim, de angústias sem fim, não me envolverão no dia de hoje. As brigas do mundo, os gritos maternos e os choros das crianças indefesas agitam o meu dia, mas não serei atingida. O dia de hoje passará, com as bênçãos de Deus Pai Verdadeiro. Os deuses mitológicos vigoram apenas no Olimpo do Sonho Astrológico do Século XX. São inofensivos, brincalhões, não castigam os pobres mortais, quomodo os preclaros deuses do passado greco-romano. Não são inquisidores pirados, graças ao Deus dos Hebreus e também dos Cristãos!

Hoje, 12 de fevereiro do anno 2001, 16h30min., horário de Verão no Brasil Varonil, segundo Mês do Terceiro Milênio, o orago astrológico me incentiva a colocar a minha rica imaginação para funcionar, pressagiando-me conquistas inovadoras no setor de comunicação. Infelizmente, o ócio é um luxo que não posso usufruir no momento. Apenas, poderei me valer das viagens de ônibus com ar refrigerado, num tempo suspenso entre o antes e o depois, entre um e outro lugar. Mesmo apreciando a mensagem do oráculo, mensagem lida às primeiras horas do dia, obriguei-me a sair para o trabalho diário, trabalho diário que ocupa a maior parte de minha vida acordada. Agora, aqui neste ônibus refrigerado, propulsor de imagens maiores, agora, já desperta para as ocupações de meu dia, pensarei novamente na mensagem do orago. Enquanto viajo e mastigo chicletes dietéticos, olho abismada o fundo do mundo profundo. Mastigar chicletes e olhar o mundo profundo são atividades para passar o tempo, neste momento endoidecido do início do Terceiro Milênio. Não sei se você percebeu, minha neta Letícia!, mas já estamos no Terceiro Milênio das Grandes Emoções Solitárias Não-Compartilhadas. Enquanto viajo de ônibus refrigerado para o trabalho diário, enfrentando a longa longa longa Avenida das Américas Pós-Modernas até Campo Grande dos Grandes Imensos Campos de Sonhos, repenso a longa jornada que terei de enfrentar até às 24 horas do dia de hoje, quando apagarei mais uma flama do dia, quomodo já ocorrera insolitamente com a Ana Amorosa, amiga de minha maninha literária, a divina Clarice. O cawboy americano do outdoor luminoso incita-me a aprender a língua americana dos atuais portentosos poderosos semideuses da mitologia contemporânea. Sinto que o meu bello melodioso idioma português-brasilês, repleto de magia e doçura sem-fim, está prestes a se tornar uma língua morta. Oh!, minha netinha guerreira do Século XXI, penso em você com muita ternura e amor, antevendo o que terá de enfrentar. Ai de você se não aprender, urgentemente, ainda criança, as línguas oficiais dos deuses e semideuses de hoje. Eles são os herdeiros dos heróis de Homero. Quem lutará para preservar o nosso inculto e tão bello e tão amado falar? Nós, os pobres mortais do Brasil Varonil, aqueles que trabalham e trabalham e trabalham para ganhar seu sustento. Pois assim é, doçura!, sua guerreira-avó não terá mais tempo para colocar na maleta diária de sobrevivência constante no mundo d’agora as gramáticas e os dicionários dos deuses do Norte e dos semideuses hispânicos.

17 de fevereiro de 2001. O oráculo me incomoda: “Nada do que seja comum irá atrair a sua atenção!” A minha atenção, você entendeu? Realmente, este sábado se fará praláde incomum. Estou saindo de meu casulo para mais um dia de trabalho pesado. Gastarei as minhas cordas vocais e suarei pra caramba, na tentativa de transmitir conceitos e regras aos meus alunos espectantes. As regras severas e os conceitos já firmados não atraem a minha atenção. Jogarei sementes sadias, para que possam plantar, em um futuro qualquer, novos juízos e novos valores. Enfim, mais um dia incomum espera por mim. À noite, antes do sono reparador, acertarei o relógio de meu tempo vital, porque hoje, filhinha, zero hora em ponto, do dia seguinte, 18 de fevereiro de 2001, com a permissão dos Poderosos Comandantes do Brasil Varonil, atrasarei em uma hora o tempo atual, para recuperar o tempo normal. O horário do Verão Econômico, no Planeta Brasil Varonil, temporariamente, acabou.

18 de fevereiro de 2001, eis a mensagem do oráculo: “Algo ligado à infância ou à família deverá marcar o seu dia”. Puríssima verdade, minha florezinha! Hoje, a minha infância será relembrada. Se o meu Grande Papai estivesse ainda vivo, estaria comemorando 91 annos de trabalhos pesados. Por meio de recordações transformadas, lhe direi como era o seu bisavô.

Seu bisavô foi um homem-guerreiro do Século XX. Lutou pra caramba contra os ultra-terríveis redemoinhos-de-vento, vendavais destruidores, impossíveis de serem controlados. No dia de seu nascimento, uma Sexta-Feira-Santa de 1910, por volta das vinte ou vinte e uma horas, numa noite de religiosidade, superstições e magias sem-fim, ele veio ao mundo. A Grã-Costureira Antoniña Pereira, a Grande Matriarca Mineira, minha avó Toninha, descendente do Imemorial Caçador de Onças Pintadas de Preto e Dourado, Gatas do Mato e Jaguatiricas Noturnas, o andarilho português João Pereira, vulgo Barba de Argolão, costumava contar que a noite tornou-se clara, luminosa, repleta de estrelas brilhantes, e que ela ouviu, no auge das dores do parto, uma voz sonorosa pré-anunciando: “Este é um descendente de José dos Hebreus e de José de Arimatéia e de José de Sousa Moreira, e terá de sofrer trabalhos sem conta, neste mundo ateu do Século XX, até encontrar o Cálice Sagrado de Nosso Senhor Jesus Cristo, perdido nas terras of hinterland do Sertão do Brasil Varonil”. A matriarca Antoniña, além de costurar panos, costurava sonhos, lendas, crenças e superstições, retalhos da imaginação de uma mulher do Sertão, com muita criatividade, amor e emoção. Ela criou o meu Grande Papai Antônio Aquileu, descendente do fabuloso José Peleu da Cidade de Sousa – uma cidade portuguesa, com certeza –, consciente de sua missão religiosa, aqui, nesta terra desgovernada, a vagar sem rumo certo pelo espaço sideral. Antônio Aquileu, um entre os muitos imemoráveis Sousas residentes, antigamente, na região do Choro Incontrolável, seu bisavô, meu tesouro!, ainda criança, fora educado para lutar pela causa de Cristo Nosso Senhor. Aprendeu a rezar o terço bizantino e a cantar o cantochão medieval e a tocar instrumentos de corda e a rezar novenas nos dias sagrados com sua progenitora Antoniña Pereira, do clã valeroso dos Pereiras do Alto Carangola.

Mas, recordando a história de meu papai Antônio Aquileu...

Entretanto, para que você possa conhecer a história de meu papai Antônio Aquileu, ofereço-lhe – Letícia Teixeira Machado –, para você ler no futuro, juntamente com seus futuros irmãos e futuros primos queridos, o livro A História de Antônio, manuscrito por ele mesmo, em 1984, e por mim digitado em computador do anno 2000 (início da digitação no anno 2001; o término da digitação ainda não tem data marcada).

Finalizando a História desta Preciosa Vitrine, nesse dia 26 de março de 2001, retomo a Carruagem Dourada de Apolo Cantor, e sigo novamente as veredas interditas do sinuoso Caminho do Sol. Apolo Ariano, ao contrário de Marte Enfezado, é meu guardião e amigo, e quer qu’eu conheça o Salão da Calipso, para qu’eu possa divertir-me e cantar e dançar ao som de boleros, tangos e sambas dolentes e de bellas canções murmurantes de amor dos annos cinqüenta pra frente. Mercúrio Veloz está contra tais predições. Passarei ao largo da Maison de Vida Agitada, pois o trabalho me espera até ao início dos Clarins da Alvorada.

O sol apolíneo, carruagem dourada, brilhante brilhante, se movimenta tranqüilo, nesta tórrida tarde, com seus raios de oiro. Milhões de outras carruagens transitam pelo Caminho do Sol da Barra Encantada. Uma tarde bellíssima convida-me para devaneios sem-fim. Agora, passei pelos portões automáticos, situados entre o antes e o depois deste momento incomum, e sigo ativada para o Campo Grande das Inúmeras Veredas, às vezes, Sombrias. Há deuses milenares me observando, cismados, durante o trajeto de retas e/ou inesperadas curvas fechadas. Os deuses gregos e os deuses romanos; os deuses celtas e os deuses egípcios; os deuses indianos e os africanos mudaram-se, todos eles, para a Estrada do Cachamorra, no Rio de Janeiro do Brasil Varonil. Os maiorais estudaram o português-brasilês e, agora, fazem pós-graduação nas bandas de acá. Neste momento, em um outdoor luminoso, um bellíssimo deus celta – de olhos azuis e cabelos doirados – cumprimenta, efusivamente, uma ninfa americana de pele rosada. Muito Além do Horizonte e da Linha do Sonho Tropical e Equatorial, a deusa do Norte, com seus vários maridos terráqueos, passeia triunfante nos Olimpos Cinematográficos do Rio Argentado.

Amada Letícia, o seu Terceiro Milênio da Era de Aquárius será Uma Joalheria Repleta das Jóias Mais Maravilhosas. Minha netinha lindinha, meu amorzim, meu doce querubim, desejo-lhe muita saúde e felicidade sem-fim!

Um grande beijo da Vovó Neuza
(Rio de Janeiro, março de 2001)