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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CARTA TRANSCENDENTAL A STEFAN ZWEIG NO DIA DE SEU ANVERSÁRIO

NEUZA MACHADO

CARTA TRANSCENDENTAL A STEFAN ZWEIG NO DIA DE SEU ANIVERSÁRIO

NEUZA MACHADO


Nesta data que seria a de seu aniversário natalício, registro meus sinceros agradecimentos por você ter acreditado no potencial de meu país. Quando a guerra começou em 1939, e a Europa vivia um momento de cegueira racial, você, um homem de visão, veio morar aqui no Brasil e soube vislumbrar o que muitos homens de saber não souberam aquilatar: que um país de mestiços poderia deixar sua condição de país naturalmente rico (suas riquezas naturais) para assumir uma posição de destaque político perante outras poderosas potências. Muito lhe agradeço pela confiança. Apenas lamento profundamente o fato de você não estar vivo para desfrutar as maravilhas ocorridas aqui no Brasil. Maravilhas que se iniciaram no final do ano de 2002, quando os mestiços brasileiros se rebelaram contra os senhores-de-engenho e conseguiram colocar na Presidência da República um operário metalúrgico (aquele idealista que você previu com muitíssimo acerto: “No Brasil, há possibilidades de assentar gente em dimensões que um idealista talvez soubesse estimar melhor do que um estatístico”). Esse inigualável representante do povão brasileiro – o Ex-Presidente do Brasil, de 2003 a 2010, Luís Inácio Lula da Silva – teve de enfrentar a pequena e preconceituosa elite brasileira (principalmente a elite de São Paulo), que se dizia dona do poder, e que somente o aceitou (naquele momento da eleição do final de 2002) porque pensava estar entregando ao "mestiço" um país sem futuro (em época de recessão mundial). Graças a Deus, caríssimo Amigo Zweig, tudo o que você previu, começou a acontecer, desde o ano da reviravolta histórica (final de 2002), e, apesar dos percalços (acredite, ainda há percalços a enfrentar, a elite, principalmente a de São Paulo, não se conforma com o sucesso do Presidente Metalúrgico), nosso povo poderá seguir adiante construindo o Futuro que você previu.


BRASIL: PAÍS DO FUTURO

Stefan Zweig

“O Brasil, cujo território é de longe o maior da América do Sul, maior até do que os Estados Unidos da América do Norte, é hoje uma das mais importantes reservas – se não a principal – do futuro do nosso mundo. Aqui temos uma riqueza inestimável em solos que jamais conheceram o cultivo e, no subsolo, minérios e tesouros que não foram explorados ou quase não foram descobertos. No Brasil, há possibilidades de assentar gente em dimensões que um idealista talvez soubesse estimar melhor do que um estatístico. A diversidade dos cálculos para saber se este país, que hoje conta aproximadamente cinquenta milhões de habitantes, poderia comportar quinhentos, setecentos ou novecentos milhões com uma densidade populacional normal dá uma noção para avaliar o que o Brasil poderia ser daqui a um século, talvez já daqui a algumas décadas, no nosso cosmo. Com prazer subscrevemos a afirmativa de James Bryce: ‘Nenhum grande país do mundo que pertença a uma raça europeia possui semelhante abundância de terras para o desenvolvimento da existência humana e de uma indústria produtiva'.

Com a forma de uma harpa gigantesca, curiosamente redesenhando, com seus limites, os contornos do continente sul-americano, este país é tudo ao mesmo tempo: montanhas e litoral, planícies, florestas, pântanos, e é fértil em quase todas as zonas. Seu clima varia em todas as transições – do tropical ao subtropical e para o temperado; sua atmosfera é ora úmida, ora seca, marítima ou alpina. Zonas pouco chuvosas se alternam com regiões ricas em chuva, oferecendo, com isso, as possibilidades de uma vegetação mais variada.

O Brasil possui os rios mais caudalosos do mundo ou os alimenta, como o Amazonas e o Rio da Prata. Suas montanhas lembram os Alpes em alguns trechos e se elevam até três mil metros, com zonas nevadas, no caso do seu pico mais alto, o Itatiaia. Suas grandes quedas d’água – Iguaçú e Sete Quedas – superam em força a de Niágara, bem mais famosa, e estão entre as maiores reservas hidrelétricas do mundo. Suas cidades, como o Rio de Janeiro e São Paulo, ainda em pleno crescimento fantástico, já rivalizam com as europeias em luxo e beleza. Todas as formas de paisagem variam diante do olhar sempre fascinado, e a multiplicidade de sua fauna e flora há séculos garante aos cientistas sempre novas surpresas. Só a lista de suas espécies de pássaros é capaz de encher compêndios inteiros de catálogos, e cada nova expedição volta com centenas de novas espécies descobertas. Só o futuro desvendará o que jaz oculto sob o solo na forma de possibilidades latentes de minérios.

Certo é que as maiores reservas de minérios de ferro do mundo esperam aqui intactas, suficientes para abastecer toda a nossa terra durante séculos, e que não falta a este gigantesco país uma só espécie de minério, rocha ou planta. Por tudo que se tenha feito nos últimos anos para ordenar tudo isso, a verificação e a avaliação verdadeiras aqui ainda estão no começo, antes do começo decisivo. Por isso, é preciso repetir sempre: graças ao fato de ser virgem e tão amplo, este enorme país significa, para o nosso mundo apinhado de gente, muitas vezes já fatigado, esgotado, uma das maiores esperanças – e talvez a esperança mais justificada.

A primeira impressão deste país é de uma opulência desconcertante. Tudo é intenso – o sol, a luz, as cores. O azul do céu é mais retumbante, o verde, mais profundo e saciado, a terra, mais compacta e roxa – nenhum pintor seria capaz de encontrar em sua paleta matizes mais ardentes, ofuscantes, cintilantes do que os das plumas dos pássaros, das asas das borboletas. A natureza sempre se supera: nos temporais que rasgam os céus com seus raios estrondosos, nas chuvas que se precipitam como rios selvagens e na vegetação que em poucos meses se transforma em verdes e densos matagais. Mas também o solo, intacto há séculos e milênios e ainda não desafiado a mostrar seu pleno desempenho, responde a cada apelo com uma força quase inacreditável. Quando nos lembramos do esforço, do martírio, da habilidade, da tenacidade a que é preciso recorrer na Europa para que se possa extrair flores ou frutas de um campo, aqui, ao contrário, encontramos uma natureza que precisa ser domada para que não se desenvolva de forma demasiado selvagem e impetuosa. Aqui, o crescimento não necessita ser estimulado, e sim contido, para que em sua bárbara impetuosidade não sufoque o que é plantado pelo homem. Espontaneamente, sem que sejam necessários cuidados especiais, crescem as árvores e os arbustos que fornecem alimentos a uma grande parte da população – banana, manga, mandioca, abacaxi. E cada nova planta e árvore frutífera trazidas de outros continentes usam e abusam deste húmus virgem.

Tamanha impetuosidade e boa vontade – quase poderia se dizer: generosidade – com que esta terra responde a cada experiência que se tenta fazer com ela, paradoxalmente se transformou várias vezes em perigo para sua economia. Com sequência quase regular ocorreram crises de superprodução, unicamente porque tudo era muito rápido e simples. O episódio em que sacas de café foram lançadas ao mar, no século XX, é o exemplo mais recente. Cada vez que o Brasil começa a produzir alguma coisa, precisa se auto impor barreiras, a fim de evitar a superprodução. Por isso a história econômica do Brasil é cheia de mudanças surpreendentes, e talvez seja até mais dramática do que sua história política, pois geralmente o caráter econômico de um país é determinado inequivocamente desde o começo: cada país toca um instrumento, e o ritmo não muda essencialmente ao longo dos séculos. Um país é agrícola, outro extrai sua riqueza da madeira ou do minério, o terceiro, da pecuária. A linha da produção pode oscilar para cima ou para baixo, mas de um modo geral a direção permanece a mesma. O Brasil, ao contrário, é um país das constantes transformações e das mudanças bruscas. Na verdade, cada século produziu uma característica econômica diferente, e no decorrer desse drama, cada ato tem um nome: ouro ou açúcar, café, borracha ou madeira. Em cada século, em cada meio século, o Brasil revelou sempre uma nova e diferente surpresa quanto a seus abundantes recursos.”

ZWEIG, Stefan. Brasil, um país do futuro. Tradução de Kristina Michahelles. Porto Alegre, Rio Grande do Sul: L&PM, 2006: 78 - 81.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

25 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 10

NEUZA MACHADO


25 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 10

NEUZA MACHADO


Meus Amigos e Amigas do Futuro! Hoje mudarei o rumo do meu missivo. Quero enviar-lhes outros assuntos. Não lhes escreverei sobre Guerras e muito menos tristezas. O motivo desta decisão se encontra em meu Mapa Astrológico de Nascimento. Descobri que o Mistério do Futuro me fascina e possuo, graças ao meu Sol em Sagitário (três graus, mais ou menos) e Ascendente em Escorpião (21 graus mais ou menos), a faculdade de conversar com vocês através de Cartinhas. Descobri, também, que, até este preci(o)so momento, ainda não lhes falei de mim. Sou apreciadora de Oragos Astrais e Culinárias Exóticas. Além disso, gosto de escrever textos reais ou insólitos e não sei lidar com imposições que limitem meus procedimentos existenciais. Por uma grande sorte do destino – os Sagitarianos sempre se acham proprietários da Sorte Benfazeja, não aceitarão nunca a tal sorte malfazeja –, nasci em um lugar fora do comum e, ali, aprendi a Arte de Cozinhar. Por isto, quero que conheçam meus Escaldantes Segredos Culinários, em outras palavras, os

SEGREDOS DE CULINÁRIA DE ODISSÉIA MARIA

Desde meu nascimento, eu, Odisséia Maria, vi-me envolvida com a arte de comer bem. Só para vocês terem uma idéia, pendurei-me aos seios de minha Jane Mamãe e mamei seu precioso leite, ininterruptamente, até aos sete anos. Ocorre que Jane Mamãe era uma camponesa saudável, uma descendente de Valerosas e Imortais Caçadoras de Onços Pintados e Jaguatiricos Noturnos de Minas Gerais, uma região mítica, mágica, sem-igual no Mundo Global, localizada na parte Leste do Brasil Varonil, e, assim, Jane Mamãe aguentou, com galhardia, o apetite descomunal de sua excêntrica filhinha. Quomodo Vocês já notaram, nasci em um Alto de Serra Florestada of hinterland de Minas Gerais (aqui, em minha Pátria Natal, no Brasil governado pelo FHC, neste Anno de 2001 – não s’esqueçam da Data desta Cartinha –, adoramos os idiomas estrangeiros; principalmente o idioma inglês) e, portanto, possuo o conhecimento dos Segredos Inumeráveis, Mitológicos, sobre culinária, ervas, simpatias e muito mais, todos ainda guardados a sete chaves pelas Matriarcas Mineiras. Obtive o direito de aprender as Sigilosas Receitas de Minas Gerais com minha Avó Justiniaña de Ogiges, descendente da lendária Calipso, aquela que muito amou o navegador grego Ulisses, o Eversor de Cidades, também parente distante do Centauro Quirón. Foi graças a essa minha inesquecível avó camponesa (entretanto, muito Lady, uma senhora da roça mui fidalga), a poderosa Maga Quiromântica Justiniaña, neta de uma portuguesa de olhos glaucos, misteriosos, oriunda da indescritível Ilha de São Miguel, aquele Arcanjo Poderoso, que Jane Briseides, a Jane Mamãe, filha de Emiliano de Brises, teve a feliz idéia de batizar-me, nas águas eternais do Rio Carangola, com o nome de Odisséia Maria.

Depois destas explicações, necessárias, e antes de revelar-lhes os meus Segredos, gostaria de dizer-lhes que esta minha predileção por culinária (incluindo a minha vocação para literatura) já havia sido pressagiada pelos Astros que presidiram o instante, aquele espaço pequeníssimo, mas indeterminado, de tempo, de meu nascimento. Naquele momento, a Lua estava a 19o graus do signo de Sagitário, em minha Casa Dois do Dinheiro Vagamundo, se penso em meu ascendente a 21o do signo de Escorpião. Ocorre que o meu Sol de nascimento estava a 3o de Sagitário, na Casa Um, compartilhando com Escorpião o privilégio de também direcionar a minha vida interior práláde agitada. Por esta razão, o meu signo de nascimento sempre se imiscuiu na Casa Um do Ascendente e, também, na Casa Dois do dinheiro volátil, a bagunçar para sempre as misteriosas exigências de vida de meu misterioso Ascendente Escorpionino. Também por esta razão, a minha paixão por horizontes dilatados, sem preocupações existenciais, quomodo as preferências dos sagitarianos sortudos, encontrou, por parte do Ascendente em Escorpião, a intimação, em função de direito suposto, de impulsionar, para minha vida, uma série de transformações radicais.

Ah!, meus Amigos e Amigas do Futuro!, durante esses anos todos, completados hoje, às 4h20min/horário Verdadeiro no Brasil (5h20min/horário de Verão), nesse Domingo práláde radioso de Novembro de 2001, foram inúmeras as minhas transfigurações. Saibam vocês qu’eu nasci em uma Segunda-Feira Misteriosa, dia de Lua Nova, em meados do Século XX, e, desde esse dia, tive a sensação de que o mundo seria, exclusivamente para mim (vejam Vocês!), uma ficcionalmente egocêntrica, uma Grande Aventura. Jane Mamãe, em nossas discussões homéricas, hesíodas, vyásicas, dantescas e camonescas, nas quais não faltaram as famosas e doloridas chineladas, acusava-me de ser portadora da chamada Mania de Grandeza (a tal mania de grandeza sagitariana, tão propalada pelos Astrólogos do Brasil Varonil). Pensando bem, Jane Mamãe e os todos os Astrólogos do Passado tinham razão! Não foi sem motivo que Júpiter, patrono de meu nascimento, soprou nos ouvidos dela (de Jane Mamãe, naturalmente) o nome que faria de minha humilde pessoa uma incansável viajante transtemporal.

Mas, voltando ao assunto principal – quomodo aprendi a famosa culinária de minha Terra Natal –, o fato de ter nascido em uma Segunda-feira, dia consagrado ao culto da Lua, também o fato da Lua – por supuesto, muito de bem com o Sol – estar localizada em Sagitário, um signo famoso por possuir nativos adeptos da boa mesa e, principalmente, pelo fato de Jane Mamãe, uma dominadora ariana de 01 de abril de 1917, casada com um aquariano (acho que papai era do signo de Peixes, 18 de fevereiro de 1910/noite), não ter sido uma boa cozinheira – mamãe, coitadinha, não sabia cozinhar –, repetindo, penso que tudo isso tornou-me uma apreciadora da Arte de Cozinhar. Valorizo, também, para explicar esta minha qualidade de Cozinheira – este meu talento extraordinário –, o fato de possuir cinco planetas domiciliados nos signos de fogo: o Sol, a Lua e Marte em Sagitário, Plutão e Saturno em Leão, acrescentando o Meio do Céu em Leão (pelo Ascendente Escorpionino), a Cauda do Dragão em Sagitário e a Lílith, a outra Lua Misteriosa, também em Sagitário. Convenhamos, meus Amigos do Futuro!, o Fogo teria de fazer parte de minha vida. Por todos esses motivos, tornei-me uma fogosa cozinheira de deliciosas iguarias e uma avultada degustadora de comidas apetitosas.

Além da culinária mineira, aprecio também a culinária estrangeira. Já aprendi, por exemplo, a cozinhar de acordo com os preceitos portugueses, chineses, japoneses, indianos, et cetera – inclusive, sou fanática por comida oriental –; aprendi a cozinhar de acordo com os costumes dos Caboclos de Manaus, quomodo, por exemplo, um Peixe ao Iskabaj à Moda Cabocla (escabeche: molho, conserva de temperos refogados, especialmente cebolas, aos quais se adicionam coentro, vinagre e muito azeite doce e, principalmente, muita pimenta murupi e pimenta doce, além de muito amor pela culinária manauara), iguaria deliciosa, sem-igual, realmente, um Alimento dos deuses de Homero Beocianato e dos deuses da Floresta Amazônica.

Meus Amigos e Amigas do Futuro! Neste final de Novembro de 2001 (jamais s’esqueçam das datas de minhas Cartinhas, estão sendo escritas em 2001), e, por agora, terminando de digitar este meu missivo, estarei, aqui (espero que por um bom tempo!), passando-lhes os meus segredinhos da incomparável Cozinha Mineira e, também, de outros Estados do Brasil Varonil e do Mundo Rotundo, para que, aí, no Futuro Sem-Muro, vocês possam conhecer a Arte de Cozinhar de meu tempo histórico (a mania que se instalou por acá, neste primeiro Anno do Século XXI, um Século pré-anunciador de Guerras, Crianças Desnutridas e Fome Implacável, na maior parte do Planeta Terra).

Quanto às notícias dominicais, estarei de volta no Domingo que vem!

Recebam, Homens e Mulheres do Futuro, o meu afeto incondicional e um imenso, amplo e carinhoso abraço transtemporal.

ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu Papai e Jane de Brises Mamãe, descendentes de imortais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma região incrivelmente mágica situada na parte Leste do Brasil Varonil.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

18 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 9

NEUZA MACHADO



Esta minha Epístola aos Homens do Futuro (não s'esqueçam da data!) foi escrita em:

18 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 9

NEUZA MACHADO


Inesquecíveis Amigos e Amigas do Futuro Sem-Muro do Imenso e Grandioso Brasil Varonil! Hoje, 18 de Novembro de 2001 (não s’esqueçam da Data desta Cartinha!), quase finalizando o Primeiro Anno do Terceiro Milênio, lembrei-me de informar-lhes algo muito importante. Eu e meus Contemporâneos vivemos ainda sob as Ordens do Impositivo Patriarcalismo Imemorial. O Mátrio Poder, por enquanto, ainda não conseguiu o almejado e total sucesso em sua luta pela igualdade entre Homens e Mulheres (espero confiante que no Tempo de Vocês já exista o Mátrio Poder). Conto-lhes isso, porque, até o momento, sempre direcionei minhas Cartinhas aos Homens do Futuro, aparentemente, excluindo as Mulheres. Quero que saibam o motivo: quando me refiro aos Homens do Futuro, estou, também, incluindo as Valerosas Mulheres do Tempo Vindouro (as Valerosas Mulheres do Tempo de Vocês). Ocorre que, neste meu tempo, neste 18 de Novembro de 2001 (não s’esqueçam da Data, por favor!), ao nos referirmos aos seres humanos ― Homens e Mulheres ―, de qualquer Era deste nosso Mundo Rotundo, enlaçamo-os em uma só Categoria Genética. Por exemplo: os Homens do Passado eram fortes e corajosos (em outras palavras: os Homens e as Mulheres do passado eram fortes e corajosos).

Neste dia 18 de Novembro de 2001 (prestem atenção à Data, por favor!), procurarei explicar-lhes, da melhor forma possível, o motivo de minhas elucubrações sobre o Assunto em questão. Dei-me conta, de repente, da possibilidade das Mulheres do Futuro se rebelarem contra mim, tachando-me de adepta inconteste do Poder Patriarcal. Desde o início da Semana (a segunda-feira já passada; neste Anno de 2001, a segunda-feira se caracteriza quomodo o início da semana) venho cogitando o assunto desta minha cartinha. E se as mulheres forem as Supremas e Poderosas mandatárias aí no tempo futuro de Vocês, Meus Amigos do Futuro Sem-Muro do Brasil Varonil? Quem lerá o meu missivo dominical, se elas se acharem desprestigiadas aqui nesta humilde Epístola Semanal?

Por esta razão, depois das explicações necessárias, neste meu 18 de Novembro de 2001, quero que as minhas Poderosas Amigas do Amanhã saibam que, daqui para frente, todas as notícias de meu Agorá (esta Praça da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro) serão endereçadas às Mulheres e Homens do Futuro. Infelizmente, não sou pitonisa (não sei, neste meu momento de 2001, se as Mulheres do Futuro Brasileiro serão respeitadas), não adivinho nada!, e quero agradar aos Gregos e às Troianas que se encontram no Porvir aí de Vocês (mesmo que esse Porvir se localize no meu próprio Amanhã). Agora, depois de minhas sinceras desculpas às minhas Amigas do Futuro Brasileiro Sem-Muro, passarei a narrar-lhes as principais ocorrências da Semana que passou (desde o dia 11 de Novembro de 2001 até este 18 de Novembro de 2001).

Meus Amigos do Grandioso Futuro Brasilês (Homens e Mulheres), em uma outra Cartinha, falei-lhes que o meu Brasil Varonil é considerado o País do Futebol. Neste Anno de 2001, gostar de futebol faz parte de nossa realidade. Endeusar nossos jogadores, também. Com isto, esquecemos nossos hodiernos problemas sociais, nossas angústias existenciais, as Inúmeras Guerras que nos cercam (este anno tooodo de 2001 foi terrível; pesquisem aí na Maravilhosa Internet de Vocês; saibam separar o joio do trigo, não sejam preguiçosos!).

Imaginem Vocês! Homens e Mulheres do Abençoado Futuro do Brasil!, neste meu Momento Histórico, neste 18 de Novembro do Anno de 2001, (Nós, os Brasileses) fingimos que não há Guerra no Brasil Varonil. Aqui, neste Mês de Novembro de 2001, para a Maior Parte do Povo Brasilês existe uma Dolorosa Guerra: há a batalha diária pela sobvivência (ou subvivência, se Vocês preferirem!). Há um percentual pequeno que vive dignamente (são os muuuuuuito ricos); há um outro percentual, também pequeno, que sobrevive (são os oriundos da Antiga Classe Média); e há, em graaaaaande quantidade, os sobviventes (são os que sobvivem ou subvivem em meio a mais Horrenda Miséria).

Não saberei narrar-lhes como sobvivem esses Meus Irmãos Brasileses, neste anno de 2001, porque (graças a Deus! Que é Brasilês e está sempre olhando pelos Pobres do Brasil!) pertenço à Classe Número Dois: luto quomodo uma condenada, toooooodos os dias!, para sobreviver neste Anno de 2001, neste Meu Mundo de Incertezas Constantes. Mas, graças ao Deus dos Católicos e dos Evangélicos!, ainda posso escrever Cartinhas para os Meus Brasileses Amigos e Amigas do Glorioso Futuro do Brasil. A Minha Mente (graças a Deus!) continua sã (sei repensar esta minha atual realidade!). Ainda posso comprar alimentos com o parco salário de Sofressora Horista, algumas roupas, calçados e, melhor ainda, não tenho dívidas (faço uma economia incrível para não ter dívidas!). Quando não puder mais trabalhar (para sobreviver depois que a Extrema Velhice chegar), irei para o Maravilhooooooso Asilo de Velhos. Quando esse dia sem-guia chegar, conhecerei (oh! Deus! espero que não!) a Atual Classe Número Três deste 2001.

Meus Amigos e Amigas do Futuro Sem-Muro Ideológico, neste Anno Aziago de 2001, rogo a Deus, sempre, que não me deixe conhecer a Classe Existencial Número Três. Vou batalhar muuuuuuito, acreditem em mim!, para terminar os meus dias aqui na Terra Rotunda com um certo conforto.

Entretanto, Amigos e Amigas do Incrível Futuro Abençoado!, aqui no Brasil Varonil, desde o Século XX já passado e, principalmente, neste Anno de 2001, gostamos de Futebol (um jogo incrível, saibam Vocês!). Só para Vocês terem uma idéia, estamos eufóricos porque o Brasil Varonil se classificou valentemente para a Copa do Mundo de 2002. Vai começar tudo de novo. Vamos esquecer nossos atuais insolúveis problemas de 2001. Vamos torcer pela vitória de nossa Seleção em 2002 (que seja uma vitória insuspeita!).

Agora, para Vocês não se esquecerem deste Passado Anno de 2001, envio-lhes notícias do Planeta Terra (repetindo sempre, neste Anno da Graça de 2001-11-18): as Guerras, Meus Amigos e Amigas, infelizmente, continuam. Existe prostituição infantil em cada cantinho do Mundo Global (principalmente aqui no meu Brasil Varonil). Há inúmeras pobres crianças abandonadas, em muitos Países do Terceiro Mundo (principalmente aqui no meu Brasil Varonil, por enquanto, ainda, neste 2001 um País de Terceiro Mundo), revirando lixeiras, buscando alimento, roupas velhas, calçados velhos, no meio do lixo. Os Restaurantes do Mundo jogam as sobras de comida no lixo (e não oferecem as sobras aos pobres). Os infectos ratos ― propagadores de doenças ― proliferam nos esgotos mal cuidados de minha Cidade Maravilhosa neste Anno de 2001. As infectas baratas também. Os caríssimos cachorros das elegantes Madames (neste 2001) fazem cocô nas calçadas do Rio de Janeiro, Megalópole do Brasil Varonil. Os rios do Mundo estão poluídos. O ar ― purificador ― está poluído. As florestas nativas estão desaparecendo. Neste 2001 a Corrupção Política continua inapelavelmente. Uma doença mortal ― chamada Aids ― também. Os Impostos Sociais estão cada vez mais altos. O dólar ― o dinheiro do mundo americano do norte ― está altíssimo (por enquanto, eles mandam no Mundo). A passagem do ônibus ― transporte de pobre ― aumentou no Rio de Janeiro neste Mês de Novembro do Anno de 2001. Os subnutridos da sobvivência irão morrer de fome (todos eles, inapelavelmente): o salário-escravidão mensal não dará para comprar alimentos nos Hiper Mercados. Et cœtera. Et cœtera. Etc. Etc. Então, meus Amigos e Amigas do Maravilhoso Futuro Brasilês!, acreditem!, neste Anno de 2001, só porque somos Brasileiros e não desistimos nunca, continuamos vivendo quomodo Deus quer!

Meus Amigos e Amigas do Futuro Brasilês Sem-Muro, estou aqui, neste incomum dia 18 de Novembro de 2001, a escrever-lhes esta Cartinha Doída, esperando que Vocês a recebam aí no Futuro (só para que possam avaliar este Meu Histórico e Triste Presente, e incrivelmente já um Passado para Vocês) e que recebam também o meu Fervoroso Carinho Transtemporal!

ODISSÉIA MARIA, conhecida também por Circe Irinéia, filha de Antônio Aquileu Pelides e Jane Briseides, neta de José Peléias per lado paterno, e de Emiliano de Brises per lado materno, todos descendentes de Imbatíveis Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma Região Insólita Paradisíaca Sensacional localizada na parte Leste do Brasil Varonil.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 8

NEUZA MACHADO



Esta minha Epístola aos Homens do Futuro (não s'esqueçam da data!) foi escrita em:

11 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 8

NEUZA MACHADO


Ao iniciar esta minha cartinha, com as notícias de hoje, dia 11 de Novembro de 2001, desejo que esta os encontre repletos de saúde e riquezas fabulosas. Que o Futuro-Sem-Muro aí de Vocês seja um lugar de paz, tranquilidade e harmonia, incluindo a permanente abundância de alegrias espontâneas e felicidades autênticas.

As notícias de meu tempo, neste 11 de Novembro de 2001, não são boas. A semana transcorreu quomodo o já esperado. Nós Brasileses, neste Mês de Novembro do Anno Inicial do Terceiro Milênio (2001), não estamos guerreando, mas as Guerras Insolúveis de Outros Povos do Mundo nos envolvem inexoravelmente. A Incrível Máquina Internet nos mostra todos os Acontecimentos do Globo Terrestre ― todas as guerrilhas que acontecem nas diversas regiões de nosso Planeta ― no mesmíssimo instante do ocorrido. Ontem mesmo (10 de Novembro de 2001) caiu um helicóptero na África (pesquisem aí no Futuro!), em uma localidade da África, e a Humanidade toda recebeu a notícia uns segundinhos depois, inclusive [Nós] os Brasileses, habitantes de uma Região Paradisíaca, Bela e Agradável, Incrustada no Espaço de Fogo do Orbe Guerreiro.

É bem verdade que o Nosso Paraíso não se parece nem um pouco com o Paraíso Celestial das Profecias Religiosas, aquelas inúmeras profecias que acompanharam a humanidade, desde o Princípio do Mundo até este meu Insólito Momento (desculpem-me a insistência temporal: 11 de Novembro de 2001). Muitas Manchas Negras e Nuvens Escuras poluem a Nossa Atmosfera, que deveria ser, sem nenhuma dúvida, de uma Pureza Celestial, já que nos consideramos os Privilegiados de Deus. Saibam Vocês, Meus Amigos do Futuro Sem-Muro do Brasil Varonil, que a frase mais propalada aqui no Meu País, neste Meu Tempo de Incertezas (11 de Novembro de 2001), é esta: Deus é brasilês! Realmente, somos um Povo Feliz. Não há inflação declarada (assim afirmam os economistas do Governo Brasilês deste 2001); a economia se mantém estabilizada (assim afirmam nossas autoridades competentes do Governo Brasilês deste 2001); uma Parte do Povo se alimenta bem (uma Pequena Parte, bem entendido!, a parte elitizada) e se veste dignamente (uma Mínima Parte, bem entendido!, a parte elitizada); os Homens Brasileses são vigorosos e as Mulheres Belas saem nas Capas das Revistas Culturalmente Conceituadas (uma Pequena Parte, bem entendido!, a parte elitizada).

É bem verdade que, Neste Final de 2001 (até este 11 de Dezembro de 2001), muuuuuuitos (milhõõõõõões e milhõõõõõões!) Passam Fome nas Regiões Atrasadas de Nosso Vastíssimo Território Brasilês (pesquisem aí no Futuro, para não falar bobagens contra o Governo de Vocês, os Governantes do Futuro, os que vão tirar o Brasil da Miséria! A Internet está aí para Vocês pesquisarem! Aproveitem!), milhõõõõõões passando fome nas regiões de seca inclemente, mas, um dia, os Beneficiados da Sorte olharão por eles. De qualquer maneira, no momento (11 de Novembro de 2001), que seja feita a vontade de Deus! Infelizmente, neste nosso Agora Atual (neste 11 de Novembro de 2001), nesta nossa Praça do Rio de Janeiro (neste 11 de Novembro de 2001), onde, segundo o deífico Poeta Chico Buarque, desde eras imemoriais passaram, passam e, por certo!, ainda passarão inúmeras festivas bandas, cantando coisas de amor, neste minuto-mito de nossa realidade (11 horas e 11 minutos do dia 11 de Novembro de 2001), não há quomodo pretender perfeição celestial em nosso Paraíso.

Neste 11 de Novembro do Anno de 2001, no Brasil Varonil, há muitos desempregados (pesquisem aí no Futuro Radioso de Vocês! por favor!), uma Legião de Heróicos Brasileses que vivem em condições de Extrema Miséria (Pesquisem aí no Futuro, por favor! Olhar o Passado no Retrovisor da História Não-Oficial não é pecado!).

Mas, Deus, Meus Amados!, é maravilhosamente brasilês e, de vez em quando (até esta incrível data de 11 de Novembro de 2001), acontece o inesperado: alguns, entre muitos, enviam Cartinhas Dolorosas aos Animadores de Programas de Televisão, revelando seus infortúnios vivenciais, e são sorteados, e depois vão aos Programas Televisivos e ganham Cestas de Alimentação por um anno, Casa Mobiliada, Automóvel, Plano de Saúde por um anno, Assistência Odontológica por um anno, Vestuário Completo (comprado nas mais famosas lojas dos grandes Shoppings de nossas mais importantes Urbes). Acreditem! Por aqui, até esta data de 11 de Novembro de 2001, há umas poucas pessoas riquíssimas, pessoas super elitizadas, com muito dinheiro no Banco, e que não se preocupam, em absoluto!, com o Famigerado Imposto de Renda ou mesmo com o chamado Caixa Dois, e, às vezes, seus corações se enchem de compaixão por uns poucos mais pobres! São milhares e milhares e milhares de Pobres Brasileses, no entanto, somente uns poucos (infelizmente!) são agraciados pela Sorte Benfazeja. Apenas os que foram sorteados na Roleta da Sorte Benfazeja! No esperado Dia de Glória, para os incríveis assinalados da Boa Sorte, a comoção é geral. A Grande e Tão Esperada Sorte sempre comparece nas Tevês do Brasil Varonil, neste anno de 2001, aos Domingos, buscando a passiva aceitação dos Telespectadores.

Hoje, por exemplo (não s’esqueçam da Data: 11 de Novembro de 2001), à tarde, com os olhos marejados, estarei assistindo, pela televisão, confortavelmente instalada em minha macia poltrona de cor incrivelmente dourada (apesar do minguado salário de sofressora), os Programas que se esmeram em proporcionar a estes Desvalidos um pouco de conforto vital, mesmo que seja instantâneo. Quero deixar claro, aos meus Amigos do Futuro, que não me coloco contra os Programas Televisivos que assim agem. Ao lado da disputa pela atenção do Telespectador, existe uma Grave Revelação (uma Importante Denúncia), em outras palavras, esses Programas conseguem mostrar nitidamente (para aqueles espectadores-eleitos, aqueles que sabem avaliar criticamente as mensagens subentendidas) o ponto ― que não seja irreversível ― de miséria absoluta e abandono que atinge a maior parte da população brasilesa neste final do Anno de 2001.

Mas, não se impressionem, meus Amigos do Futuro Sem-Muro!, olhando para os lados, observando a realidade circundante, repensando o Mundo já Globalizado (neste 11 de Novembro de 2001), aqui ainda é um Lugar Maravilhoso. Existe, por acá, o chamado jeitinho brasilês, e, assim, graças a esse jeitinho, vamos vivendo quomodo Deus quer.

Por ora, neste dia 11 de Novembro de 2001, sem mais notícias (e, infelizmente, sem boas notícias), despeço-me com um carinhoso e caloroso aperto de mão transtemporal.

ODISSÉIA MARIA, filha genuína de Antônio Aquileu e Jane Briseis, neta per lado paterno dos mitológicos José de Sousa Peleu e Antoniña de Tetis, e per lado materno dos inigualáveis Emiliano de Brises e Justiniana de Ogíges, descendentes — os meus dois maravilhosos troncos ancestrais — de Imemoriais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma Região Mitológica localizada na parte Leste do Brasil Varonil.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

04 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 7

NEUZA MACHADO


Esta minha Epístola aos Homens do Futuro foi escrita em:

04 DE NOVEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 7

NEUZA MACHADO


Meus Amigos do Futuro do Brasil Varonil, conforme o prometido eis-me aqui novamente. No momento exato em que começo esta minha cartinha, neste exatíssimo 04 de Novembro de 2001, na Cidade Cariocjônia do Rio de Janeiro, o minúsculo relógio digital de meu telefone celular marca vinte e uma hora e trinta minutos. Relógios digitais, telefones celulares, microondas [um forno (incrível invenção!) que cozinha os alimentos em questão de segundos], computador, et cœtera, etc, serão, no Futuro Sem-Muro aí de Vocês, aparelhos fora de moda, porque, certamente, Vocês, Brasileses do Futuro, todos certamente! com muito estudo universitário (neste meu anno de 2001, são poucos os brasileiros pobres que conseguem estudar – com sacrifícios monetários – nas Universidades Particulares e, muito menos, conseguir vagas nas Federais Gratuitas para os ricos) e no auge de suas inteligências, já terão inventado objetos similares mais sofisticados, e, alguns de Vocês (os realmente interessados em conhecer o Passado do Brasil Varonil), que estarão a buscar preciosas informações desta minha realidade temporal – realidade histórica deste 04 de Novembro de 2001 –, acharão muita graça de nossas atuais invenções que, para Vocês, já serão ultrapassadas).

Entretanto, neste exato momento (não s’esqueçam da data: 04 de Novembro de 2001), são vinte e duas horas e cinco minutos ― horário de Verão no Brasil Varonil ― e eu estou, aqui, reflexiva, a cogitar, selecionando os Acontecimentos do Dia, ansiosa por enviar-lhes notícias interessantes.

Diferente dos outros Domingos (hoje, 04 de Novembro de 2001, não s’esqueçam!), o Sol Hipercariocjônio não iluminou a Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro. Choveu o dia todo incessantemente. É esta uma noite terriiiiiiiivelmente fechada e ainda chove na minha Terra, por certo! (por que não?), maravilhosa e abençoada por Deus (apesar dos pesados pesares que nos afetam todos os dias!). Estou a esperar que chova bastante perto das grandes Usinas Hidroelétricas do Brasil Varonil, para que a luz volte a reinar em nosso simplório cotidiano, o qual, no momento, infelizmente!, neste 04 de Novembro de 2001, se encontra sem muitas perspectivas iluminadas.

Meus Caríssimos Amigos, como já lhes disse, em uma outra Cartinha, estamos vivendo uma dramática terrível hiperbólica situação de Economia de Luz (para os mais pobres, evidentemente!). Desde o Mês de Junho de 2001 (não deixem de dar atenção à data!), economizamos Luz Elétrica (para os poucos muuuuuuito ricos, evidentemente! evidentemente! evidentemente!), para que não ocorra o apagão, ou melhor, a falta de luz nos lares, a escuridão total. É bem verdade que a Megalópole Cariocjônia do Rio de Janeiro, neste anno de 2001, continua muitíssimo iluminada: os Riquíííssimos Prédios Públicos, os Letreiros Luminosos Milionários, as Ricas Mansões dos Bilhardários e Trilhardários e Multiplicadários ao Infinito, os Belos Cumes Troantes e Ribombantes e Eletrizantes de minha Polis Maravilhosa repletos de Luzinhas Elétricas, e Muitos Outros Locais Elitizados, permanecem, continuamente, Iluminados.

Na verdade, Meus Amigos do Futuro Sem-Muro do Brasil Varonil!, neste Anno de 2001-04-11, apenas a classe muuuuuuuto pobrinha (a antiga Classe Média) foi obrigada a fazer economia (estamos esperando o dia em que aqui no Brasil a Luz Benfazeja do Amor ao Próximo seja para todos!). Existe uma quota prevista para os inglórios assinalados do Destino (e eu, Sofressora e Mulher, aqui no Brasil Varonil!, redigo, Professora, me encontro entre esses assinalados). A base da tal quota foi elaborada a partir do gasto de eletricidade ― de cada residência ― ocorrido no Mês de Junho de 2000 (atenção: eu informei-lhes corretamente a data: Mês de Junho de 2000). Por exemplo, se a quota foi pequena no tal mês de Junho de 2000, os ingloriosos assinalados do Destino, os brasileses muiiiiii pobrinhos, só poderão gastar aquele percentual ― todos os meses ― até que o governo do FHC determine o fim da economia (para a solução dos grandiosos problemas monetários dos poucos muito ricos do Brasil Varonil). Ocorre que os Privilegiados da Sorte deste Anno de 2001, os poucos brasileiros da Elite Ricaça ― haja Sorte! ―, gastaram bastaaaaaante eletricidade no tal mês de junho de 2000 e, já que Gastaram Muuuuuuita Luz, os Tais poderão usufruir a luz elétrica racionada sem grandes perdas; entenderam?, bastarão desligar alguns condicionadores de ar e tudo estará resolvido. Os inglórios pobres coitados do Brasil Varonil (os padecentes!) que se arranjem neste Final de Anno de 2001 e façam economia!

Mas, Graças a Deus!, o tempo interstício está ameno e o Calor Abrasador ainda não fez a sua entrada triunfal na Megalópole do Rio de Janeiro, neste início de Novembro de 2001. Só não sei o que faremos quando o Caloroso Sol Flamejante vier nos visitar. Como agraciá-lo com a nossa amável acolhida, se não recebermos, daqui a um mês (Mês de Dezembro de 2001, não s’esqueçam!), autorização governamental para ligar nossos humildes ventiladores?

Oh! Meus Amados Brasileses do Futuro Sem-Muro! Estou aqui, neste 04 de Novembro de 2001, a me preocupar com a possibilidade de um apagão, enquanto milhares e milhares de Seres Humanos, inclusive e principalmente aqui no Brasil, neste Anno de 2001 (pesquisem aí no Futuro Sem-Muro, por favor!), não têm o que comer. A Guerra Inglória continua no mundo. As doenças incuráveis continuam. Os Deserdados da Sorte estão morrendo à míngua. As infelizes crianças de algumas regiões do Oriente Médio, neste final do Anno de 2001, vão sendo treinadas para a Guerra e já manejam armas mortíferas (pesquisem aí no Futuro, por favor!). As crianças da Região de Conflito do Oriente Médio não receberam permissão para sonhar com o Futuro Sem-Muro Radioso. Não saberão como escrever suas Cartinhas para os Homens do Longínquo Futuro Sem-Muro. Não conseguirão (as Crianças do Oriente Médio deste 2001), jamais!, imaginar a possibilidade de conforto para as Crianças do Futuro. O Futuro não existe para os muitos infelizes pequeninos do Oriente Médio. Existe, saibam Vocês do Futuro!, neste Anno de 2001, a Guerra Capitalista. As crianças do Oriente Médio, neste Anno de 2001, não brincam como crianças!; passam fome e sede (a água é escassa), não têm nenhuma esperança e não sonham com dias felizes. E eu, neste 04 de Novembro de 2001, uma pensativa e incomodada sofressora desta Era de Calamidades Sem Conta, estou aqui preocupada com pequenos probleminhas cotidianos, com a possibilidade de falta de Luz Intersticial Para Sempre no meu Brasil Varonil.

Mas, neste Final de Anno de 2001, acredito piamente!, um Herói do Futuro irá se sobressair no meio de todo esse alvoroço e gritará a sua Sentença de Paz. Quando esse dia chegar, estarei a postos, se Deus assim o permitir!, para relatar-lhes o Acontecimento.

Aguardem novas notícias no Domingo que vem (11 de Novembro de 2001). Espero que vocês recebam aí no Futuro Sem-Muro Glorioso do Brasil Cor-de-Anil o meu Profundo Amor Transecular!

ODISSÉIA MARIA, conforme a Lei, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseides, ambos descendentes de Indomáveis Caçadores de Onças Pintadas e Jaquatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma região paradisíaca, ímpar, maravilhosa, sem-igual, situada na parte Leste do Brasil Varonil.