A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: ALTO DE CARANGOLA NO TEMPO DA
MATA VIRGEM
ANTÔNIO DE
SOUSA COSTA
Alto de Carangola, no tempo
da mata virgem, tinha nome de Quilombo, por ser o lugar aonde os escravos se
escondiam dentro das matas, por não quererem sujeitar-se ao trabalho forçado
que o Sinhô exigia deles. Os escravos fugiam para o quilombo e formavam um
verdadeiro exército e faziam muitos roubos. Eles viviam iguais aos índios, mas,
mais conhecedores do que se passava nas Fazendas. Eles saiam de noite e
roubavam o que fosse necessário para o sustento deles, trabalhar não era com
eles.
Quando um escravo fugia da Fazenda, já se sabia que
ele estava no Quilombo. E, para chegar lá, quem se atrevia em ir com pouca
gente? Naquela época não existia
policiamento para fazer prisão de fugitivo. Em lugar atrasado, longe do
comércio, os próprios fazendeiros saíam com alguns de seus parentes e amigos, e
com alguns empregados de confiança, e iam até ao Quilombo, e traziam os
fugitivos. E botavam o fugitivo no tronco até castigar bem. Depois, tiravam do
tronco, e o escravo era obrigado a trabalhar com a perna algemada na perna de
outro escravo que não devia aquele castigo. Se fosse fazer uma capina de café
em carreira, aquele escravo que não devia nada não saía da sua carreira, mas, o
outro, o que devia o castigo, de pé em pé, ele tinha que atravessar, para
conseguir levar a capina, até chegar ao final.
Alto de Carangola continuou,
por muito tempo, com o nome de Quilombo. Mesmo quando eu era ainda bem menino, muitos falavam Quilombo, referindo-se ao Alto de Carangola. Ali, no Alto
de Carangola, existiu um homem que virou bicho. Sobre o homem que virou bicho,
o Egídio Fagundes, o caso foi muito comentado durante muitos anos, dizia-se
sempre, referindo-se ao Egídio Fagundes e ao lugar do acontecido: o Bicho do
Quilombo. E, hoje em dia, o lugar não é chamado nem de Quilombo, nem de Alto de
Carangola, é conhecido com o nome de Arizona [*Orizânia].
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