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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

ODISSÉIA MARIA - XXVII

NEUZA MACHADO




ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



VIGÉSIMO SÉTIMO CANTO



mas, quomodo já lhe disse páginas atrás, para o Governo do Rio de Janeiro, neste Início de Anno de 1999, o Povo Carioquês conta com o Menininho, esperando com fé que ele cumpra o prometido, tudo o que ele prometeu na Campanha Eleitoral para as Eleições de Novembro de 1998; entretanto, os políticos fazem promessas e não cumprem nem a metade, sempre prometem solucionar os problemas do Povo Sofrido; depois de eleitos, não solucionam nada; por enquanto, eu repito, por enquanto, por enquanto, no Menininho todos confiam, ele é um Crente em Jesus e é um garotinho, ele vai cuidar do Rio Encantado com amor e carinho, não esquecerá suas sinceras promessas não, vai consertar o Rio de Janeiro, eu vou esperar!, limpar as ruas da Cidade Maravilhosa; limpar, por exemplo, o rio Maracanã, bem perto do meu Micro-Casulo de Seda Mineira, moralizar o Desmoralizado, tapar os buracos da Cidade do Rio, melhorar o atendimento público nas Repartições Públicas do Rio de Janeiro, cuidar dos Hospitais Abandonados, cuidar da saúde do Povo Sofredor, neste início de 1999, matar a Fome dos Miseráveis, solucionar os problemas do Pobre Trabalhador Brasileiro Sem Eira Nem Beira, pois os Pobres daqui vão vivendo quomodo Deus quer, mesmo que alguns digam o contrário, que está tudo bão no Reino do Ão, os pobres daqui vão vivendo quomo Deus quer; quomo, como, quomodo Você quiser!, se hoje não tem, amanhã deusdará; mas o Menininho é o Atual Governador; aquele, o que diz “está tudo bão!”, não votou no Menininho não, não faz parte da oposição, não Senhor!, é partidário do grupo da situação; o Menininho, por ora, se ele no Futuro não virar a casaca, repito, por ora, é uma pedra no caminho da situação, por isso, para ele, até então, não estava nada bão, meu Irmão; o Povo, por ora, confia no Menininho, ele é um Crente em Jesus e cumprirá o prometido, neste início de 1999 até o final do seu Mandato Sensato, cuidará dos problemas do Povo Sofrido; mas ele, Coitado!, carrega um Grande Fardo, mora num Palácio Encantado, mora em um Grande Palácio Bem-Assombrado, mora no Palácio do Governador, no Bairro das Lindas Laranjeiras em Flor, das Verdes Laranjeiras Gigantes do Imperador; naquele Bairro Assinalado, no passado, havia muitas gigantescas laranjeiras em flor, depois as ditas premiavam as crianças com saborosas laranjas-da-terra; ele mora no Palácio das Laranjeiras em Flor, de Florezinhas Branquinhas Branquinhas, pra lá de Branquinhas; existe também um outro bellíssimo Palácio Encantado ornamentando e enriquecendo a Maravilhosa Cidade, é o Palácio dito Presidencial; o Rio de Janeiro, em priscas eras, foi a Capital do Brasil Varonil; o dito Palácio é o Palácio do Catete, localizado no Bairro da Glória Triunfal; esse Palácio do Catete tem umas águias sinistras nos cantos sinistros do seu antigo telhado; há outros bellos Palácios no Rio, Encantados, quomodo, por exemplo, o Palácio do Itamarati, também o do Museu da República, ainda o Velho Palácio da Praça 15 de Novembro, e mui outros da época em que os Reis de Portugal aportaram per acá, incluindo os posteriores Palácios do Esplendor do Café; no Século XXI existirão Palácios no Rio de Janeiro?, será?; o Rio de Janeiro está a se transformar numa Imensa Favela, meu preocupado Leitor do Terceiro Milênio, do Quarto, do Quinto, quem sabe?, do Sexto também; talvez, Você só saberá que existiu uma Cidade Maravilhosa no Mundo Rotundo, Raimundo, por intermédio destas palavras aladas, se estas palavras chegarem a Você, meu Amor!; no Século XXI existirá a Ponte Rio-Niterói?, será?, aquela construída com o sacrifício do Povo?, será?, no Século XXI existirá a Cidade do Rio Encantado?, será?, a Cidade Mais Bella do Mundo Rotundo; será que existirá o Mundo Rotundo, Raimundo?; mas quomodo ia contando, viajo agora para São Gonçalo do Estado do Rio de Janeiro, e hoje é o Primeiro Dia de Fevereiro de 1999, a Lua Cheia vai brilhar à noite em Virgem Assanhada, e flertará com os Astros do Céu Cor de Breu, os que olham o céu apreciarão a beleza do Mundo Rotundo e do Mundo Profundo também; são poucos os que olham o Céu Escurecido Com Poucas Estrelas Brilhantes neste Final de Século XX Demente; a vida de hoje é uma correria constante, o dia é pequeno demais, meu Rapaz!, as Horas Mágicas passam voando voando; há pouco, passaram as Doze Horas do Dia Estafante, voando garbosas com suas Asas Brilhantes, acompanhando felizes a Carruagem do Sol de Apolo Cantante, voando garbosas pra o Futuro Distante, soltas, leves e livres no Espaço Dourado, no Espaço Encantado DeMentes Brilhante, a deusa charmosa do Grego Antigo Cantante; há pouco, passaram as Doze Horas do Dia, em direção ao Infinito do Relógio Central do Brasil Varonil, as Súditas Fiéis de Apolo Cantor, voando com o Tempo que passa que passa, que passa sem princípio sem fim sem medida, só para recordar-me dos versos do divo Poeta Bilac, o divino Príncipe que da Terra se foi no Princípio do Século XX, e agora festeja, com outros divinos que partiram da Terra, o título invejável de Príncipe Cantor Sucessor do Apolo dos Gregos Antigos, uma honra recebida em seus annos de vida na Terra, de seus Leitores e Amigos do Final do Século XIX e do Século XX também; há pouco, passaram as Doze Horas do Dia, enquanto eu, Odisséia Maria, atravessava de Ônibus Velho do Velho do Restello a Ponte Brilhante do Futuro Distante, pensando em Bilac e em outros divinos cantantes, que hoje estão no Reino do Único Deus dos Cristãos, comendo e bebendo no Banquete Eternal; Apolo Pagão das Narrativas Antigas de Versos Hexâmetros, grandiloqüentes, troantes, com inveja, a olhar de longe, distante; os outros deuses do Olimpo de Homero e de Hesíodo ficam olhando também; e os da Floresta dos Celtas; e os deuses tutelares da Roma dos Césares; os deuses pagãos estão olhando invejosos, porque o Deus dos Hebreus e também dos Cristãos é o mais poderoso; são poucos, no mundo atual, que alcançam tão Alta Honraria, participar para sempre dos Banquetes do Céu, ao lado dos Arcanjos, dos Anjos, dos Serafins e dos Querubins, e de toda Hierarquia Celestial Sem-Igual que compõe o Exército de Deus Onipotente Silente; Bilac, Alberto, Raimundo e o Cruz, todos os Poetas do Final do Século XIX no Brasil Varonil e do Século XX também, aqueles Poetas que formalizaram em poemas a Poesia Volátil, e que mostraram a existência de um Plano de luz repleto de Imagens Desconhecidas e Magias Sem-Fim, o Mundo Secreto do Amorfo Silêncio, do Indizível Espaço Distante das Regras e Conceitos do Mundo Rotundo, todos esses Assinalados se banqueteando no Céu Cor de Anil, o Céu Cor de Anil do meu Brasil Varonil, porque na Terra honraram seus nomes mortais, agora imortais; mas, quomodo ia contando!, as Incríveis Doze Horas do Dia passando passando, voando felizes em direção ao Futuro Sem-Muro, a Carruagem do Sol brilhando brilhando, brilhando lindamente no Infinito Azulado, brilhando brilhando brilhando nos meus Sonhos Dourados; Apolo Cantor correndo entre as Nuvens Moventes, e o dia de hoje repleto de Luz, os Endeusados Peixões Luzidios e as Sereias Faceiras, moirenas do Rio Encantado seduzindo os mortais, as Sereias Faceiras da Baía Encantada brincando nas praias, os Peixões Luzidios e as Sereias Moirenas seduzindo os mortais, levando os fracos mortais à Loucura do Amor; e Odisséia Maria, esta Vossa Criada, viajando em direção ao trabalho estafante, atravessando a Ponte Grandiosa do Futuro Distante, a Ponte Intrigante DeMentes Brilhante; óh! Ponte Famosa!, uma das Maiores do Mundo, construída com o sacrifício do Povo Sofrido, um Povo que trabalha trabalha, e no fim de um mês qualquer de um Final de Século XX Malfadado, não tem dinheiro pra pagar os Impostos impostos; desculpe-me o meu Contar Redundante, óh!, Leitor do Futuro Distante!, os impostos são tantos que o Pobre do Brasil Varonil quase morre de fome, neste Início de Anno de 1999, o dinheiro que sobra não dá para nada, e é preciso comer, senão a morte virá com certeza, e é preciso vestir, andar pelado é proibido, os tecidos de algodão estão custando os olhos da cara, as costureiras matreiras cobram um dinheirão, as roupas prontas das Lojas Americanas e Outras Por Certo Estrangeiras custam um dinheirão, as Montras Lindonas Bonitonas da Cidade, com seus nomes difíceis estrangeiros, expõem as roupas da moda, e o Pobre Coitado do Brasil Varonil não pode comprar; o Povo Brasilês (neste início de 1999) vive de teimoso que é, se hoje não tem, amanhã deusdará, deusdará a comida, deusdará a roupa, deusdará a esperança de viver com bonança, deusdará a esperança para sobviver neste Tenebroso Angustioso Caos; o Caos Apocalíptico do Século XX Agonizante, mas, mesmo assim, as Horas Velozes do Tempo Infinito passam felizes voando voando voando, e o Coração Sem Tamanho do Brasileiro da Cruz se enche de Luz, repleto da Luz Verde da Incorrigível Esperança; o Coitadinho-Brasileiro do Final do Segundo Milênio espera que as coisas melhorem no Reino do Ão!,

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

ODISSÉIA MARIA - XXVI

NEUZA MACHADO



ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



VIGÉSIMO SEXTO CANTO



mas, como eu ia contando, o pobre não aproveita nada na Terra do Ão, só os ricos aproveitam tudo, Irmão!; o pobre só aproveita o Carnaval, meu Irmão!; economiza muito só para sair no Carnaval, e pula e dança a noite toda com muita resistência; nesses dias, pobres e ricos se irmanam ao som dos batuques, das cuícas e dos tamborins, e todos dançam e pulam como loucos nas ruas do Brasil Varonil; as Escolas de Samba desfilam na Avenida Central, na Avenida que é a vida dos Carnavalescos do Rio, e a dança mais popular do Brasil invade os salões e as ruas e as boates e os clubes, e as moças e moços requebram e dançam ao som das cuícas e bumbos estridentes das baterias carnavalescas, elas tocam três dias seguidos sem parar, é um espetáculo pagão de rara beleza, a música carnavalesca nas ruas do Rio de Janeiro Altaneiro, o céu abraça a terra iluminada e as luzes se encontram, as luzes das estrelas do céu e das estrelas da terra, jovens se fantasiam para o Grande Carnaval Sem-Igual, e sambam e dançam até o Sol Apolíneo raiar, às vezes não param, emendam o dia com a noite, são três dias de festa e orgias sem fim, as bebidas dos deuses enchem os copos de vidro barato dos pobres mortais, dos mortais da Terra do Ão, e a falsa alegria invade os salões e as ruas, e o Salgueiro Querido dos Foliões Tijucanos do Bloco Carnavalesco Nem Muda Nem Sai de Cima vai desfilar na Avenida; uma vibrante Escola de Samba do meu Brasil Varonil, às vésperas do Carnaval de 1999, ensaia seus sambas na minha Rua Encantada, uma rua bacana da Tijuca Sensacional se transforma, às sextas-feiras, numa imensa Feira-Mercado à moda medieval, e essas noites de ensaio não me deixam dormir, não consigo dormir, o som é altissonante, barulhento demais; depois dos ensaios, nos três dias de carnaval, o Salgueiro dos foliões tijucanos desfila na Avenida Central, a Ágora Atual está transbordando de gente inflamada, o Salgueiro desfila eletrizado pra ser campeão, será campeão, e o céu todo abraça a terra iluminada, abraça a Terra do Ão, meu Irmão!, e o povo todo esquece os seus insolúveis problemas, homenageando o poeta popular, o povo todo, neste início de 1999, quer morrer no carnaval, sambando e cantando, pra esquecer suas dores, porque somente as alegrias da vida valem lembranças, e o lá-lá-rá-lá-rá-rá invade os corações com alegria e paixão, no Rio de Janeiro todo mundo vai cantar e sambar, o céu abraça a terra iluminada, quando o povo quiser morrer, após um porre titânico, morrerá feliz, sambou e cantou e sorriu e chorou; o bloco saiu com o povo reunido, brancos e pretos irmanados ao som dos sambas-enredo, ricos e pobres unidos e esquecidos das diferenças de classe, a cidade e o morro num grande abraço amigável, o pobre do morro beijando a rica mocinha, aquela moça de boa família que lhe apresentei lá atrás, páginas de embaralhado tecido verbal, e saiba Você que todos se unem nos dias de Carnaval, as Escolas de Samba disputam o Grande Campeonato, a Grande Vencedora levará o troféu, a Escola mais linda receberá o prêmio, a bem fantasiada, aquela que dançar e cantar com mais entusiasmo e prazer receberá aprovação do júri seleto, por isto, os passistas se esmeram, os porta-bandeiras das Escolas de Samba rodopiam na Avenida Central com suas Bellas Fantasias de Príncipes e de Principesas e et cœtera e tal; cada fantasia mais luxuosa do que a outra, passam necessidades vitais o anno inteiro pra comprar a tal fantasia, comem mal pra caramba, o dinheiro é escasso, mas conseguem o dinheiro da fantasia, sim Senhor!, se tornam Reis e Rainhas nas noites de carnaval, se tornam famosos nas rodas de samba, seus retratos saem nas revistas da moda atual e dos jornais populares, neste início de 1999, a televisão os eleva ao patamar da glória, se tornam famosos por três dias e nas noites seguintes também, enquanto durar a euforia, entendeu?, depois voltam apagados e tristes para a vida diária, comendo sempre o pão que o diabo amassou, comendo o pão que o diabo amassou com o rabo, por três dias foram aclamados e endeusados; o Mundo Inteiro vem para o Brasil, os turistas estrangeiros vêm para o Brasil nos dias em que a folhinha assinala o Carnaval Sem-Igual, e os turistas estrangeiros invadem o Brasil, e o turismo brasileiro produz muito dinheiro, só não sabemos para onde vai o tal dinheiro altaneiro, o povo oprimido vai continuar sem pão, sonhando por mais um anno com o Carnaval, no mês de fevereiro ou março existe o carnaval no Brasil, o Carnaval do Brasil Varonil, meu Amor!, Festa Antiga e Pagã, agora Brasileira, parece até que o carnaval nasceu no Brasil, o Carnaval Dionisíaco é hoje brasileiro, o Carnaval de Veneza se misturou com o samba africano e virou brasileiro, o Carnaval Antigo da Veneza Antiga, Carnaval Monumental só mesmo no Brasil, o melhor Carnaval do Mundo é o Carnaval do Brasil Varonil; no entanto, nem mesmo o carnaval modifica o Brasil, por enquanto, neste início de 1999, seremos sempre habitantes do Inglório Terceiro Mundo Rotundo, não obstante o Carnaval Monumental do Brasil Varonil, o Maior Espetáculo da Terra é o Carnaval Brasileiro, muito elogiado no mundo, a despeito da violência e das drogas e das orgias pagãs, carnaval das brigas de rua e das mortes violentas, carnaval bestial muito aplaudido, a Arena Pós-Moderna é o Carnaval do Brasil, todos sabem, tragédias terríveis acontecem no Carnaval Brasileiro, mesmo assim, os jovens e velhos pulam e dançam as três noites seguidas e os três dias também, alegrias e dores compõem o carnaval, o carnaval dos pobres é dos ricos também, as moças de família se despem no carnaval, os moços de família se bestializam no carnaval, as bebidas alcóolicas rolam no carnaval, o povo todo se embebeda no carnaval, e a Bateria de Músicos vai puxando o Cordão de Carnavalescos, todos dançam e cantam sem parar, e os ricos semideuses se irmanam com os pobres mortais, os deuses gregos descem do Olimpo Pagão, e o turista detecta Febo Apolo fantasiado de Bello Crioulo, um deus negro descendo do Olimpo-Salgueiro, mostrando a beleza e esplendor do Homem Brasileiro, mostrando a força da Mistura de Raças, mostrando ao turista o que é ser Brasileiro, mostrando a todos o seu porte altaneiro, a galhardia de ser Brasileiro nesta mistura de raças e religiões, o Povo Brasilês é uma incrível mistura, dês que o português aportou per acá, é branco, negro, italiano, chinês; no Sul do Brasil a origem é alemã, os italianos também se aclimataram legal, e os japoneses vieram plantar tomate no Brasil de Cabral, e por todos os lados se vêem olhinhos amendoados, são Brasileiros Com Muito Prazer, orgulhosos de sua Terra Natal, jamais voltarão para seus países de origem, onde nasceram seus avós, pra cá emigraram, todos os estrangeiros amam o nosso Brasil Sem-Dinheiro, não obstante a pobreza, todo estrangeiro, morador de acá, neste início de 1999, quer ser brasileiro, ficam ricos e formam empresas milionárias, escravizando o Pobre Trabalhador Brasileiro com muito trabalho e um baixo salário, um salário insosso que Deus me livre, mas em verdade, Somos Todos Estrangeiros na Terra do Ão, o Índio da Floresta Encantada é o Verdadeiro Brasileiro, é o Filho Legítimo desta Terra Abençoada, os brancos europeus do passado roubaram dos Índios a terra e o direito de continuarem no mundo, os pobres Índios restantes estão morrendo à míngua, neste quase final de Século XX, desamparados pelos brancos arrancos, foram todos arrancados e roubados, roubaram-lhes o direito de acreditar em Tupã, impuseram a crença do branco ao Índio Indefeso, a cultura do Índio foi prascucuias, as Índias foram estupradas pelo branco malvado, e o Brasil se encheu de Curumins-Bonitins, o Brasil Varonil é uma mistura de raças, em Manaus-Amazonas os Caboclos enfeitam a Cidade, são filhos de Índia acasalada com branco português, espanhol, americano ou judeu, japoneses e coreanos namoram as caboclas manauaras, a mistura das raças vai continuando e crescendo, os rosados alemães grandalhões também participam da Festa, de vez em quando nasce um miudim caboclim, um curumim pequenino de olhos azuis com os lisos cabelos um tantinho alourados, herança pesada que seu pai lhe deixou; em Sampaulo os japoneses se casam com italianas e os rebentos do casal se tornam japonanos, esses japonanos são todos brasilanos,

domingo, 29 de novembro de 2009

ODISSÉIA MARIA - XXV

NEUZA MACHADO




ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



VIGÉSIMO QUINTO CANTO



mas, como eu ia dizendo, viajo agora em meu Imaginário Avião Supersônico fabricado na Cidade Maravilhosa e Fermosa dos Cariocas Intrépidos, quebrando as Barreiras Genéricas da Linear Narrativa Ordenada, para a invasão de um Novo Mundo Espiralado e Profundo no Próximo Terceiro Milênio da Era de Aquário; um Avião Supersônico pra lá de arretado, voando e voando através dos tempos, vou passando e voando sobre Antigas Cidades, vejo os Templos Tão Firmes de Jerusalém, as Pirâmides Antigas do Antigo Egito, proprietário daquele outro Grande Rio Sagrado, o Rio Nilo Fermoso Adorado na Época da Fartura de Trigo, vejo as Tumbas Memoráveis dos Faraós Memoráveis, mas sofro e choro quando a seca vem e acaba com os grãos de trigo que darão o pão, e o Povo Antigo sofrendo, sofrendo, o Povo da Antiga Nação implorando a seus deuses muita proteção, a abundância voltando a reinar no Egito pelas mãos de José Neto DeLabão ― óh! Assinalado José dos Hebreus!, salve o Brasil da Fome Voraz! ―, aquele José tão amado pelo Deus de Abraão, ele foi vendido pelos próprios irmãos ao Faraó divinizado, tornou-se escravo maltratado, depois, foi transformado em seu braço direito, poderoso, o Deus dos Hebreus jamais o abandonou e fez dele um Grande Adivinho, sim! Senhor!, e o José do Egito, o José dos Hebreus, salvou a Nação da fome feroz, guardou os grãos preciosos para o momento mais crítico da fome implacável, José do Egito soube estocar e guardar; e o povo aceitou seu inteligente comando; o José do Egito não roubou os egípcios, não roubou o povo que o adotou e amou, não! Senhor!, na época da fome distribuiu a farinha, antes guardada nos celeiros reais, o povo egípcio não morreu de fome; época incrível, meu Deus!, os governantes egípcios se preocupavam com o povo!; neste Anno de 1999, não sei não!, aqui, no meu Brasil Varonil, neste início de 1999, não sei não!, mas, como eu ia dizendo, vou viajando na Carruagem do Sonho Doloroso, que pena! meu Sonho do Agora não é um Sonho Fermoso!, vejo o Sertão do Brasil Varonil, o Povo Infeliz do Sertão Sem-Tostão morrendo de fome na seca inclemente, não tem José do Egito aqui para resolver a questão, o Povo da Seca, neste início de 1999, preste atenção!, espera o Sertão virar Mar, os peixes do mar invadindo o Sertão, se o Sertão virar mar, a fome acabará, o Pobre do Brasil Varonil terá peixe em perene abundância na refeição, mesmo sem pão, a água salgada matará a sede terrível, o Sertanejo do Brasil Varonil transformará a água salgada em água doce tratada, descobrirá com certeza uma engenhoca pós-moderna para retirar o sal da Água Encantada do Mar do Sertão, fará a água salgada se tornar água doce bebível, o Sertanejo, neste início de 1999, preste atenção!, espera o Maná, o maná cairá do Céu do Brasil Varonil quando a seca chegar; porém, maná que é maná não existe acá no Reino do Ão e do deusdará, se existir maná, o rico o venderá, um rico qualquer registrará o maná do Sertão Nordestino, fará com que o maná seja de sua propriedade e venderá o maná aos pobres coitados de lá, até os ossos raspados de animais consagrados são comercializados no Mundo Global, se transformam em farinha, têm muito cálcio para fortificar os ossos dos Homens Ricaços, a farinha de ossos vai mesmo é para a mesa do rico, agora, só os ricos comem farinha de ossos, o pobre não tem direito à nutritiva farinha de ossos, a farinha de ossos é um alimento caríssimo, tem muito cálcio, é saudável, nem mesmo os ossos sobraram para os pobres terráqueos sem-eira-nem-beira, aqui no meu Brasil Varonil, neste Final de Segundo Milênio; as pelancas de carne antigamente nada valiam, hoje valem muito dinheiro; tudo agora é vendido na Terra do Ão!; as sobras de carne, no passado, eram distribuídas aos mendigos da rua, agora, salgadas e ensacadas, em bellíssimas embalagens atraentes, atraem os fregueses, perdão!, os Clientes dos Grandes Maravilhosos Hipermercados, Imensas MegaLojas de arrepiar os cabelos praláde compridos, as ditas pelancas de carne são vendidas para o hiper endinheirado consumidor, o consumidor rico, meu Futuro Leitor, os pedacinhos de sobras de carne, salgadas e ensacadas, agora vão para a mesa do sabido ricão, os ricos compram pedacinhos de sobras para a feijoada ou para colocar na sopa do Domingão do Faustão, agora, neste início de 1999, é chique comprar sobras de carne, nem as sobras sobram mais para o trabalhador sofredor, aquele trabalha, trabalha, trabalha, nem mesmo as sobras de carne salgada ele pode comprar, agora (não s’esqueça jamais!, início de 1999), no Brasil Varonil, é chique comprar sobrinhas de carne bellamente ensacadas nos Hipermercados, enquanto isto o dinheiro altaneiro sobra no Banco dos Grandes Onzeneiros e Milhardeiros e Bilhardeiros e Mega Megatrilionários do Reino da Ilusão e do Ão, o dinheiro do rico onzeneiro, quero dizer, Leitor!, as sobras se transformaram em comida de rico neste final de Século/Milênio famigerado famoso (olhe a redundância da ganância, Leitor!), os Mestres-Cucas de Comidas Malucas da Televisão Mundial e do Brasil Varonil que o digam, não mais se oferecem sobras de comida aos desamparados famélicos, agora (final do Século XX, 1999, prest’atenção!), tudo se reaproveita, com muita paixão!, para o dinheiro render no Bolso do Rico Patrão, não se reparte mais o Pão Consagrado e o Vinho Abençoado na Terra do Ão,

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

ODISSÉIA MARIA - XXIV

NEUZA MACHADO



ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



VIGÉSIMO QUARTO CANTO



mas, como eu ia contando, só alegrias valem lembranças!, hoje, 27 de janeiro de 1999, Penúltimo Anno do Século XX e Penúltimo Anno do Milênio de Peixes, eu estou esperando extasiada o Grande Momento, a Passagem Para o Terceiro Milênio, sem acreditar em tamanha Sorte, meu Deus!, só os assinalados testemunham as Grandes Passagens do Mundo, e este será um Acontecimento Sem-Igual, e eu estarei viva, vivíssima!, se Deus quiser!, daqui a dois anos presenciarei a Passagem do Milênio de Peixes Praláde Emotivo para o Milênio de Aquário Indiferente e Internáutico, e verei os Fogos de Artifício no Céu, e presenciarei o Grande Espetáculo da Terra do Alto de um Edifício de Oitenta Andares, na Megalópole Mais Linda do Incrível Universo-Sem-Fim, o Mundo celebrando a Passagem Esperada, feliz da vida!, a profecia de Nostradamus não se realizou, as inúmeras profecias apócrifas não se realizaram, não se realizarão, graças a Deus!, o Mundo girando, girando, girando em volta do Sol Apolíneo, o Mundo continuará gira girando em volta do Sol, o Planeta Terra resistirá às intempéries, aos meteoritos caindo do céu, o mundo continuará resistindo ao desleixo do próprio Homem, o Homem não cuida com carinho de sua Morada; mas, como eu ia dizendo, só os Eleitos testemunham as Grandes Mudanças, e eu me sinto quomodo um ser assinalado; quomo, como, quomodo Você quiser!; somente os privilegiados testemunham as Grandes Ocorrências do Mundo Rotundo e Profundo; ser privilegiado sou eu!, meu Romeu!, estou aqui, permanente, atemporal, alicantinosa, epo-ficcional, agora, viajando num Avião Supersônico Veloz, descrevendo influente o Momento Enrolado de Uma Guerreira Mulher no Final do Milênio de Peixes, no Final do Século XX ― pesquise aí no seu Futuro Sem-Muro essas minhas palavras aladas ―, ao mesmo tempo, estou conversando com Você; Você ainda nem nasceu, meu Netinho!, mesmo assim, Amorzinho!, guarde bem as minhas palavras asadas, somente os Puros Eleitos Testemunham as Grandes Mudanças!; eu fui abençoada na hora de meu nascimento, um deva mineiro, um brilhante poeta, instalado em um interstício espaço de luz, entre os seres divinos e os pobres mortais, um deva magrinho careca e de óculos, sussurrou de looonge, láááááá em Diamantina, e o sussurro dele chegou até aos meus ouvidos de recém-nascida, “Vá, Odisséia Maria Ulissiponense da Grandiosa Selva Mineira - Divino - Carangolana - Greco - Romana - Francesa - Italiana - Hispano - Africana - Portuguesa - Brasilana, vá apreciar os Incomuns Acontecimentos do Mundo Profundo!, vá procurar, entre as Íngremes Montanhas de sua Terra Natal, um Sumetume Iluminado e Arejado, para você se evadir das normas severas de seus ancestrais e do mundo real, para você viajar pelo Espaço Estelar numa Aeronave de Cores Rosadas Azuladas Argentadas e Douradas, de mil matizes multicolores”, e isto aconteceu em uma madrugada de segunda-feira, no mês de novembro de quarenta e seis, com o Sol a 3º de Sagitário, o nono signo do zodíaco ocidental, quando o Sol Hipermineiro apontava no Belo Horizonte Faceiro de Minha Terra Natal, com seus magníficos raios luminosos, quando a Aurora Fermosa com seus dedos de rosas surgiu matutina e o Centauro Quirón, um velho habitante das Serras of Hinterland de Minas Gerais, se preparava para percorrer seus vastos domínios, atirando Flechas Brilhantes ao acaso ou em direção ao infinito sem-fim; mas, quomodo eu ia dizendo, somente os assinalados reconhecem os Importantes Momentos da Humanidade, óh, maravilha!, estou incluída entre esses poucos ditosos!, não fui esquecida na hora do meu nascimento, não, mesmo nascendo nas Brenhas do Grande Sertão, nas Serras of Hinterland de Minas Gerais, em uma pequenina cidade de belezas tais, melhor dizendo, em Santa Luzia do Carangola, uma velha cidade da época do esplendor do café, proprietária de um velho tupi yekiti’bá centenário, centenário é pouco para valorizar o rosa yekiti’bá em questão, talvez ele já exista desde a Descoberta do Brasil Varonil, uns quinhentos ou quatrocentos annos para o meu jekiti’bá orgulhoso, um jequitibá gigantesco, ele resistiu a um incêndio sem-igual, incêndio provocado per algum maluco descuidado, quase acabando com o jequitibá-rosa de quatrocentos annos, Amor!, mas o Povo da Terra lutou pelo jequitibá varonil, salvaram o jequitibá glorioso, o precioso patrimônio do meu conterrâneo tradicional, patrimônio afetivo daquela Cidadezinha Campestre, incrustada num Alto de Serra Of Hinterland da Zona da Matta Mineira Guerreira, amada idolatrada e adorada por mim; mas, como eu ia dizendo, viajo pelo interior de mim mesma buscando recordar os justos valores que nortearam a minha vida aqui nesta Terra Azulinda, dês aquele longínquo novembro, 2a feira, quando o Sol hipercarangolense iniciava a sua visita ao signo de Sagitário Cordial Vagamundo, no Criador Espaço Vazio Bashôniano Profundo entre a noite e o dia, quando a Aurora Fermosa com seus dedos de rosa surgiu matutina, 3º de Sagitário, ascendente em Escorpião ou Sagitário, não sei!, descubra aí no Futuro Sem-Muro, Amor!, aplacando a sua saudável curiosidade sobre a minha idade, Leitor Esotérico do Século XXI e Seguintes!, sabendo alicantinosamente que Você estará interessado nesta Minha Viagem Grumosa e Enrolada, procurarando compreender e julgar os encontros e desencontros de uma mulher de cinqüenta, Sumaca Antiquada dos Mares Revoltosos do Século XX, no Final do Milênio de Peixes, Você sentirá curiosidade em relação a esse meu período de tempo vivido aqui nesta Terra Azulinda de Deus Protector, em um momento muito conturbado e belicoso, naquele novembro assinalado no tempo, suspenso entre o Antes e o Porvir, com a Vênus Madrinha Retrógrada em Escorpião, ela me salvou de um destino amoroso meio aloucado, mas também me prejudicou horrores, saiba Você!, meu Amor!, Vênus Bella Assanhada estava andando para trás!, meu Rapaz!, não me premiou com líricos amores com super-homens românticos!; veja só!, estou aqui a me queixar de Vênus Madrinha!, estou reclamando de Vênus Afrodite de Traços Perfeitos!; saiba Você que Marte Amoroso dos Grandes Casos Sentimentais nunca me faltou, não Senhor!, os annos passam e eu continuo recebendo inúmeras porções de amor!; no entanto, quomodo boa sagitariana, de acordo com os Novos e Interessantes Vaticínios do Mundo D’Ágora, já distantes dos Terríveis Oráculos do Destino Pagão, nem sempre retribuo com a mesma moeda; mas vou levando a vida com muito jeito, se hoje não tem, amanhã deusdará, deusdará o que me faltar, mas vou levando a vida com muito cuidado, solitariamente fechada em meu Casulo de Bicho da Seda Tijucano; de qualquer modo, com Júpiter e Mercúrio em Escorpião no Mapa Astral de Nascimento, os dois, naquele dia sem-guia, estavam em Escorpião, o meu signo ascendente de proteção, ou será Sagitário?, Escorpião no ascendente me faz pensar duas vezes, de vez em quando refreia e embonda pra valer o meu entusiasmo sagitariano, mas o grande barato mesmo foi nascer com Urano Onomatomante em Gêmeos Falante, minha romântica Casa Sete do Casamento no Horóscopo Solar e Casa Oito no Mapa do Ascendente; eu tenho mania de onomatomania, uma preocupação obsessiva e doentia com a escolha de palavras, estou vivendo a última fase do período pós-cambriano, iniciado há milênios na Antiqüíssima Câmbria, penso que estamos vivendo um algonquianismo meio às avessas, a Vida Amorosa está se extinguindo na Terra per culpa das próprias ações insensatas dos Homens; pratico também a onomatomancia, adivinhação fundada no nome da pessoa impressionável; às vezes, pratico também a nefelomancia, invadindo os domínios de Zeus-Júpiter que as nuvens cumula, durante as minhas epo-ficcionais viagens de avião supersônico, Aeronave Brilhante, Espacial, Especial, Viajando Sem-Rumo pela Galáxia Estelar; assim meus Sonhados Amores foram todos estranhíssimos, uma grande atração por gente estrangeira, ouvindo palavras de amor em língua enrolada, até mesmo palavras de amor em língua tibetana pronunciadas per aquele jovem tibetano pisciano que poderia, ai, Jesus!, ser meu filho, a quem ensinei em dois meses a falar português-brasilês, e ensinou-me o caminho da verdadeira felicidade búdica na Terra, e os librianos estrangeiros residentes no Brasil Varonil!, sem falar nos virginianos estrangeiros e brasileiros que me cercam loucamente, exigindo qu’eu seja ordeira e certinha, criticando abertamente o meu modo de viver, e os ciúmes dos gentis cancerianos?, os cancerianos querendo cortar meu barato, querendo cortar as minhas asas rosadas, minha alegria de viver, quero dizer, mas o meu íntimo sagitariano das viagens impossíveis exige liberdade, quero o meu cavalo bem solto no Mundo Profundo, não quero saber de amarras reforçadas não, meu Irmão!, não aceito o ciúme e a inquietação no amor!, não senhor!, não quero ninguém pegando em meu pé com furor, ninguém pegando em meu pé pra valer; é verdade!, ambiciono muito amar, ser amada, eu quero, sim senhor!, quero ser amada até ao fim de meus dias na Terra, chegar aos cem anos ou mais amando loucamente, ensinando ao amado as regras do bem viver com lazer, ele na casa dele e eu em minha casa, de vez em quando um aconchego de amor, sou de carne e osso também, Deus me livre e guarde dos aproveitadores!; Deus!, me proteja dos sugadores de amor!, bom Deus!, afaste de mim os maiores abandonados!, esses homens-morcegos chupadores do sangue e dinheiro de uma anosa mulher!, eles merecem receber uma surra de toalha molhada à moda nordestina, pra reconhecerem o valor da mulher brasileira; mas, como eu ia dizendo, nascida em Carangola de Minas Gerais, amando e adorando o Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa do meu Brasil Varonil, mas sem nunca deixar de amar minha terra de origem, sem nunca abandonar os valores mineiros, trazendo comigo os valores do campo, respeitando os mais velhos, respeitando os humildes; não sou melhor do que ninguém, não senhor!, mesmo reconhecendo as bençãos recebidas ao nascer, pois, na hora do meu nascimento, os deuses de Hammurabi Babilônico e um deva mineiro, da Cidade de Pedra, pronunciaram meu nome, vá, Circe Irinéia Maria dos Ficcionais Épicos e Poéticos Sonhos de Glórias Viajar Pelo Mundo, pelo Mundo Rotundo, vá conhecer um certo filósofo francês-camponês dos Campos Vinículos da França dos Reis, um filósofo francês nascido no campo, vá conhecer o barbudo filósofo camponês, aquele que soube, quomodo ninguém, defender O direito de sonhar neste Mundo Rotundo e Profundo, vá Odisséia Maria Grieco & Romanus amar Bachelard, suba com ele os Cogitos Superpostos dos Pensamentos Maiores, não ligue jamais para os Estreitosos que não apreciam as Redundâncias Vocabulares da Língua Brasileira-Portuguesa, elas abrilhantam as estampas dos doutores altaneiros do Brasil Varonil, não procure nunca um Benday para a Arte Final Sombreada dos seus Casos de Amor, viaje com ele até ao cogito três, pronuncia-se cógito, Leitor!, a palavra, meu Amigo!, é de origem latina!, procure no Dicionário do Aurelião, meu Irmão!, e Você saberá, Você saberá o significado correto da palavra cogito; mas, como eu ia dizendo, o deva e os deuses disseram, vá Odisséia Guerreira Praláde Sortuda amar Bachelard, viaje com ele até ao cogito três, plano lacunar do tempo do pensamento, alcançado apenas pelos pensadores-eleitos; aqueles sábios indivíduos buscam o plano do espírito, o tempo espiritual, mas sabem de antemão que não alcançarão jamais, o plano do espírito está fora do plano vital, mas está próximo do tempo do pensamento real, fora do plano vital, entendeu?; o tempo espiritual não pertence ao plano vital; mas, atenção!, não esquente a sua cabecinha, óh! Leitor Amigo do Terceiro Milênio e Seguintes!, eu mesma custei a entender o meu amor Bachelard, o plano do espírito está tão próximo de nós, mas não o alcançaremos jamais, não senhor!, apenas sentimos sua proximidade, intuímos o que se passa do lado de lá; o plano vital é bem diferente do espiritual, por isso custei a entender o meu amor Bachelard, o Fascinante Sábio Francês me ensinou maravilhosas filosofias transcendentais, acompanhou-me naquelas noites de amor e febre e paixão, noites tempestuosas passei com Bachelard ao meu lado, naqueles annos vibrantes da década de oitenta, enquanto entretanto eu escrevia a minha tese sofrida, e o Bachelard cuidando de mim com amor; e o João Cordisburgo também me protegendo, mui sedutor, quero dizer, o adorável mineiro escritor soube me seduzir com suas palavras aladas, digo, o adorável mineiro soube me seduzir ficcionalmente quomodo ninguém, foram horas e horas com os livros dos dois ao meu lado, num triângulo amoroso pra lá de esquentado, foram horas e horas passeando filosoficamente com Bachelard nos campos fermosos de sua fermosa Champagne, entre uvas e flores, bebendo o bom vinho francês; foram dias e dias, e horas e horas, e minutos e minutos, também, com o meu ficcional amor conterrâneo, o inesquecível João, passeando pelas Veredas do Grande Sertão, meu Irmão!, foram noites e noites embalada pelas Primeiras Estórias, Estas Estórias e outras estórias, Leitor!, sem falar nos outros livros do Inigualável Rosa, semelhante àquele deus antigo que as nuvens cumula, o Grande Rosa que me fascinou; segundo o meu Anjo-Guru Amazonense Rochel, o João Rosa era um homem singular; não conheci o preclaro escritor, dos divos Guimaranes descendentes, de um Estado Suevo da Lusitânea, enquanto ele viveu aqui nesta Terra de Deus, conheci apenas o João Escritor, sua face de incomum narrador, caminhando miticamente ao seu lado pelas Veredas do Grande Sertão; o João Narrador do Sertão ainda vive em minhas lembranças, eu o amei loucamente naquelas noites ficcionais, argentadas, douradas, rosadas, de mil cores azuis-matizadas, ainda ouço suas palavras de amor e carinho; o Dom João Cordisburgo era um Prestidigitador, um Grande Mago Literário, um Artista Sem-Igual, de valor, às vezes, naquelas noites dinâmicas, agitadas, febris, ele se transformava em Riobaldo Valente, eu me via transformada em Diadorim, a guerreira dos olhos verdes brilhantes, quero dizer, eu me via transformada em Maria Deodorina Valente e Pudica, a Virgem Fermosa dos Olhos Glaucos de Athenas, aquela foi em vida um destemido jagunço, parenta longínqua da corajosa Princesa Guerreira da Literatura de Cordel do Sofrido Nordeste Europeu-Brasileiro, para agradar a seu pai, o destemido rei-patriarca desejava um filho guerreiro!, saiu pelo Mundo Medieval em sangrentas batalhas, em vitoriosas pelejas de guerra, mas, de acordo com a lenda, foi vencida na Guerra do Amor, transformando-se depois em virtuosa esposa-rainha; a Diadorim-Deodorina, do meu grande escritor, não teve um final tão feliz, meu Leitor!, ela se figurou de jagunço-guerreiro e se fechou para o amor redentor, e sofreu pra caramba, a guerreira-donzela não pode revelar seu segredo de amor, mesmo assim, não conseguiu se desviar da paixão per Sir Riobaldo Sofredor de Trabalhos Sem Conta, quero dizer, do amor do Grande Tatarana Urutu-Branco das Guerras Sertanejas Dilatadas e Míticas, ele muito chorou, não se conformou em sentir atração per um homem fermoso e dengoso, de verdes olhos encantados; não se esqueça, meu Leitor!, a Maria Deodorina estava disfarçada na figura de um bravo jagunço, e Riobaldo Guerreiro, parente do Monsier Robert Le Diable Cavaleiro Francês, não sabia disso não, mas Diadorim era na verdade Maria Deodorina, Linda Mulher de Olhos Verdes Fermosos, mais bella do que a Princesa Magalona e a Encantadora Donzela Teodora e a Imperatriz Porcina do Cordel Nordestino, vestida de homem-jagunço et cœtera, etc e tal, mas o infeliz Riobaldo não sabia disso não, e o coitado do moço sofreu pra caramba, Leitor!, Riobaldo Tatarana Guerreiro sofreu por amor, per amor a um jagunço de olhos verdes fermosos, o destemido Riobaldo só descobriu o engano quando Diadorim, a dos mistérios profundos, jazia estendida no leito de morte, por ter lutado e matado o cruel Hermógenes; o Hermógenes Canhoto também a feriu com a morte fatal; só depois da morte sofrida Diadorim mostrou-se mulher, mas aí já era muito tarde para Riobaldo Guerreiro, o amante não pode consumar seu amor, terminou seus dias, já velho e cansado, um barranqueiro-Caronte do divo São Francisco Du Mont, um rio eternal do Brasil Varonil, sofrendo a perda do amor sedutor, e muito o pobre sofreu!; no entanto, se você quiser conhecer a vida aventurosa de Riobaldo Tatarana Jagunço Valente, leia Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa nos Séculos Vindouros, o maior escritor brasileiro do Século XX será venerado também pelos Leitores do Futuro Sem-Muro Equilibrado e Seguro; eu mesma, deste século atual de guerras sem-fim, amo e venero os escritores antigos, Homero e Hesíodo, narradores antigos, Século X ou IX ou VIII antes de Cristo, não sei!, grandes poetas épicos da Antigüidade Clássica; amo também os poetas líricos antigos, aqueles que habitaram as terras deíficas da Grécia de então, talvez no Século VIII ou VII antes de Cristo; reverencio todos os escritores da Idade Média Pré-Renascentista, Dante Alighieri D’Itália, Geovane Boccaccio e Francesco Petrarca; e ainda o divino Camões Português do Século XVI, digo, do Renascimento Português, ele deixou aos pósteros a epopéia mais bella e grandiosa existente, até hoje, em Língua Portuguesa quinhentista, a epopéia das aventuras marítimas do povo lusitano; óh! Povo praláde privilegiado!, conquistou o Mundo Rotundo e descobriu o Brasil e povoou o Brasil Varonil, no último Anno do Século XV, 1500, para ser mais exata, ainda hoje o Luís é reverenciado também por ter escrito lindos sonetos de amor, sonetos inspirados nos modelos maneiristas, reveladores do desconcerto do homem de então, o desconcerto do homem de uma mudança de Eras, do homem que saiu da Idade Média para a Idade Moderna, a Era das Grandes Navegações pelo Mundo de Deus e dos homens também, momento fatídico de Grandiosas Descobertas; a Era Moderna nos legou o Progresso, nos brindou com o desequilíbrio existencial, o desequilíbrio e o caos, o desequilíbrio do Homem começou nos annos quinhentos, meu Equilibrado Leitor do Terceiro Milênio e Seguintes!, começou no Século XVI; eu por exemplo sou a mais desconcertada dos seres que passaram pelo Mundo Rotundo e pelo Mundo Profundo e não sei consertar concertando esta minha Viagem Sonhada; não sei concertar esta minha Viagem Encantada, digo, não sei consertar concertando esta minha Viagem Intrincada; mas, como eu ia dizendo, tudo isto aprendi em minhas peregrinações noturnas, lendo os grandes escritores, magistrais intérpretes de suas épocas, por isto registro tudo aquilo que vejo e interpreto nestas desorientadas palavras aladas, a minha época é belicosa, brumosa, não é brincadeira não, o Caos impera no meu Mundo Atual, o Século XX, até o Agora sem hora, é um Século de Guerras Desenfreadas, é irmão contra irmão, pai contra filho e filho contra pai, et cœtera e etc e tal; mas, como eu ia dizendo, aprendi tudo isto lendo os maiores escritores desse mundo de Deus dos Hebreus e também dos Cristãos; os grandes escritores souberam registrar suas épocas, e escreveram sobre tudo o que ouviram e viram e sentiram, e deixaram para os pósteros documentos preciosos, documentos reveladores quomodo eram seus mundos de então; dês Homero e Hesíodo o Mundo mudou, em cada época a História nos mostra um mundo diferente, os poetas e narradores, mesmo criando mundos ficcionais, denunciam as mazelas de seu mundo vital, de seu mundo real, mostram quomodo foi realmente o seu Mundo Global; assim, eu viajo no tal Avião Supersônico Praláde Veloz, ele voa e voa através dos Tempos, vou passando e voando voando voando sobre Antigas Cidades;

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

ODISSÉIA MARIA - XXIII

NEUZA MACHADO




ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



VIGÉSIMO TERCEIRO CANTO



mas, como eu ia dizendo, a Sorte estava a meu alcance, num lance, segundo os Incríveis Magos Adivinhos do Século XX Final, no entanto, ela passou bem longe de mim, insensata que sou, simplesmente não atendi ao Oráculo, não joguei um centavo sequer, não Senhor!, não saí de casa em Busca da Sorte, mas sou uma sagitariana pra lá de sortuda, a Sorte por certo virá para mim, não preciso jogar para ter Sorte na vida, tenho a Sorte de possuir um Mundo de Sonhos, de sair por aí sem destino, sem aeroporto seguro, sem pouso, sem dogmas, viajando feliz numa Epo-Ficcional Aeronave Brilhante, tenho a sorte de ter nascido com Sorte, pois, na hora do meu nascimento, os deuses de Hammurabi Sétimo da Antiga Babilônia pronunciaram meu nome, e aquele deva mineiro magrinho e careca também, vai Doña Odisséia Maria Felix das Horas Felizes ser musa de poeta, vai dizer ao teu poeta Agustín, te quiero, te quiero, te quiero, solo tu és o amor de mis amores, e o divino Agustin mirando mis ojos, diciendo tener ganas de un beso mio, Agustin, dime si me quieres!, ya non me acuerdo de ti, Agustin!, usted nasció em setembro de 1900 e eu nasci em novembro de quarenta e seis, numa linda madrugada do dia 25, quando a Aurora dos dedos de rosa apontava no Horizonte Acima do Monte, com as Três Parcas Bondosas do Século XX tecendo meu destino, um destino diferente, é verdade!, de muitas aventuras incríveis, reais e imaginárias; as Parcas desta minha narrativa são todas bondosas!; as Parcas Antigas, Cloto, Láquesis e Átropos eram malvadas, elas fiavam, dobavam e cortavam o fio da vida; mas, como eu ia dizendo, o Agustin do passado distante preenchendo meu instante de paixão e amor, com seu canto mavioso e mui sedutor, eternamente gravado num disco de vinil, depois o disco antiquado foi repassado para um Compact Disc atual, totalmente recuperado por técnicas americanas do Final do Século XX, resgatando totalmente a voz do Cantor; no entanto, Agustin, você não é meu único Amor, Doña Maria Felix do Acapulco Monte Mineiro é uma mulher infiel, ela beija todos os atores de filmes americanos, digo, eu beijo todos os atores americanos do norte e do sul, sonho sempre que sou a mulher do mocinho, sou uma atriz de cinema beijando John Wayne às margens do Rio Vermelho ou Rio Bravo, não me lembro bem, e sou também a Odisséia Mineira do Leste Brasileiro, cansada das Guerras Inglórias do Final do Milênio de Peixes, amante ficcional do maior poeta da América Hispânica, aquele deiforme caleidoscópio desbravador sentimental da Cordilheira dos Andes, seduzindo e amando as chicas de lá, amanhã viajará o Tal pelo Mar do Caribe em um Magnífico e Invejável e Suntuoso Navio Fantasma, acompanhando amigável o divo Gabriel das Narrativas Insólitas; pois no jogo da paixão eu saio sempre na frente, eu sonho com o meu poeta latino flutuando no espaço, um deus caipira empunhando sua lança de guerra, conquistando as meninas e velhas do Rio, parolando e encantando as balzaquianas de acá, andando pelas calçadas de Ipanema Fermosa, bebendo cachaça e catuaba nos botecos do Rio, perseguindo as ninfas da Baía Sagrada, à noite retorna para o Olimpo dos Imortais Criadores do Mundo das Letras, andando nas Trilhas Inóspitas do Mundo Pralá de Profundo, do Mundo Amorfo, Sem-Forma, quero dizer, buscando sempre a palavra primeira, a palavra ainda não-pronunciada, a palavra impronunciada; mas, como eu ia dizendo, a noite passou, tive bellos sonhos mui coloridos, de madrugada, sonhei que estava em uma festa de sonhos, do alto da galeria enfeitada apreciando o espetáculo dinâmico, um grupo de jovens dançando dançando e encantando, com suas lindas vestimentas mui coloridas, dançando e encantando em um palco de areia, os jovens dançavam em uma das praias do Rio de Janeiro Vibrante, dançavam na praia do Arpoador, Leitor!, e os barcos coloridos desfilavam no mar, e era um espetáculo de rara beleza; meu Felizardo Ouvinte do Século Seguinte, no seu século, o Mundo será muito mais cordial, mais limpo e mais bello; os jovens cariocas dançavam e cantavam e encantavam, e eu, na galeria, apreciando o espetáculo, tendo ao meu lado o meu Anjo-Guru Amazonense Rochel; mas, como eu ia dizendo, a noite passou, e o 23 de janeiro de 1999 chegou, sim senhor!, com quatro planetas favoráveis no memorável Céu Astrológico, Sol, Júpiter, Netuno e Mercúrio, aumentando as minhas possibilidades de muito sucesso no amor, na sociedade e na profissão, e o Oráculo Vidente me empurrando pra frente, espere as boas surpresas que virão pra você!, mas não deixe de se divertir e amar!, curta cada segundo de vida ofertada!, os deuses do Olimpo, os deuses da Floresta dos Celtas, os deuses do Egito, os deuses dos Índios do Amazonas, os do candomblé, os deuses indianos e as divindades budistas, os astros poderosos et cœtera e tal, todos reunidos em um Grande Agorá olhando por você; solucione seus problemas da vida na Terra!, vá em frente, sem medo do Porvir, Odisséia Maria De Mente De Idéia!, cumpra seu destino no Mundo Vital!, você terá seu mundo de sonhos e et cœtera e tal, pois o Sol em Aquário lhe é favorável, os Sóis Aquarianos lhe envolverão, os aquarianos estão de olho em você, cuidado!, não se envolva com aquariano, não!, senão, adeus liberdade e viagens sem fim, os aquarianos estão todos à espreita, Mulher!, querendo laçar uma sagitariana feliz, e a liberdade é um bem precioso demais, cuidado com aquariano neste mês de janeiro, cuidado com aquarianos até 19 de fevereiro de 1999, depois, fique muito tranqüila, os piscianos perseguirão você; mas, como eu ia dizendo, Mercúrio está favorável em Capricórnio neste 23 de janeiro de 1999, e eu tenho de aproveitar as boas vibrações de Mercúrio Veloz da Astrologia Antiga e Moderna também, para trabalhar trabalhar e muito dinheiro ganhar; mas hoje é sábado e a Cidade descansa, vai descansar no domingo o meu Bem, e eu não poderei me valer de Mercúrio Veloz Falador, sou professora horista e não trabalho aos sábados, meu Amor!, mesmo assim, vou me aproveitar de Mercúrio Intrigante, não estarei tão falante quomo de costume, Mercúrio em Capricórnio me deixa acanhada, graças a Deus!, no dia vinte e sete, ele estará radiante em Aquário!, e eu também estarei bem falante, as Palavras Aladas me conduzirão a um Futuro Absolutamente Sem Muro, usarei a minha linguagem de filiação sumeriana, difícil e engrumada, entrarei na Carruagem Dourada do Tempo Incontido Quase Interdito dos Pensamentos Fervilhantes em direção ao Porvir, conversarei animada com os habitantes de lá, conhecerei as Cidades Antigas Flutuantes dos Desaparecidos Atlantes, descobrirei seus segredos incríveis e mirabolantes e et cœtera e tal; mas, como eu ia dizendo, retomando este fio enrolado de Ariadne Aracnídea Teceloa de Sonhos Impossíveis Dantanho, neste 23 de janeiro de 1999, Júpiter e Netuno também velam por mim; a Lua está momentaneamente em Áries, reforçando os meus loucos desejos de aventura e paixão, e eu vou sair por aí à procura do tal Supra-Homem Ideal, esbarrarei com ele a qualquer momento numa das esquinas das inúmeras ruas da Cidade Fatal, o Rio é a Cidade do Amor Sedutor, é a Cidade da Paixão, meu Varrão!, o Rio é a Cidade dos Amantes Divinos; São Paulo só serve para quem almeja ganhar dinheiro, só serve pra quem quer trabalhar e enricar; New York só serve para quem quer fazer compras e dinheiro gastar; os ricos do Brasil fazem compras em New York, entram em seus jatinhos e vão para New York, almoçam no Rio de Janeiro e jantam em New York, a Grande Cidade da América do Norte; mas, como eu ia dizendo, vou sair por aí, vou a Copacabana Bacana, ao Posto 4, na praia, neste 23 de janeiro de 1999, assistir ao show do meu aluno João, baterista de uma banda de música agitada, vibrante; as bandas de música, de 1960 per acá, já não são parecidas com as bandas de outrora, as saudosas furiosas bandinhas de minha infância mineira, tocando dobrados e valsas vienenses nos coretos das ágoras das pequeninas cidades do interior do Brasil, encantando as crianças e os adultos também, e os músicos todos com suas fardas azuis, com lindos apliques da cor do ouro velho, e os músicos todos com seus brilhantes instrumentos, espalhando pelo ar os sons maviosos, orgulhosos, tocando instrumentos de sopro, flauta doce, saxofone, trombone e pistom, vários outros instrumentos e et cœtera e tal, todos acompanhando a batida do bumbo, é pura emoção, meu Deus!, recordar isto tudo!, meu Pai tão amado foi trombonista da Banda de minha Cidade Natal, tocava marchas e hinos e encantava os habitantes de lá, naquelas tardes distantes dos annos cinqüenta, no Antigo Coreto da Ágora Central, um Bello Monumento Que Não Foi Tombado, aquela praça defronte à Igreja Matriz, a Igreja Matriz de Santa Luzia dos Cegos Videntes de minha Carangola Frajola, a mesma Igreja Católica de meu batizado, no dia treze de julho de quarenta e sete, meus pais e padrinhos (o Antônio e a Joanna, o José e a Rita) juraram em meu nome qu’eu sempre seguiria os preceitos romanos, adorando a Deus Pai sobre todas as coisas, rejeitando sempre as outras crenças infiéis; entretanto, todas as crenças acreditam em um Ser Supra-Divino, e todas elas acreditam também em um Céu Divinal, acreditam em um lugar especial, para onde irão os que acreditaram, e eu não posso atirar pedras nas outras com pedras!, não acredito que o meu Deus dos Cristãos aprovasse isso, não!, por isto, respeito as Águas Espirituais de Todas as Fontes Brilhantes; Compadre Meu Quelemém, aquele compadre também de Riobaldo Guerreiro, amigo sincero de João Cordisburgo dos Guimaranes de Portugal, foi quem me ensinou, ele segue os preceitos de um crente Matias, mas não deixa de ler os ensinamentos de Kardec, e de vez em quando vai ao candomblé dos deuses baianos; ainda tem também o meu Anjo-Guru adepto inconteste dos ensinamentos budistas, ele segue a orientação dos Sakias divinos, uma família budista de Katimandu, que outrora reinou no Lindo Tibet das Altas Geladas Montanhas, hoje o Tibet pertence ao povo chinês e et cœtera e tal, cujo chefe se chama Sakia Trinzin, e tem uma irmã sacerdotisa, a venerável e amável Jetsun Kushola, monja budista também, atualmente morando no Canadá, a Venerável viaja pelo mundo de avião supersônico, levando para o Racional Ocidente as Crenças do Oriente, invertendo a caminhada feita no passado pelos missionários de Cristo no Oriente; mas, quomodo eu ia dizendo, não fui ao show, não, não vi o meu aluno João bater o compasso de sua banda agitada, ele é baterista de uma banda de rock dos annos 90, o rock foi a trilha sonora de uma geração inteira, a geração barulhenta dos annos sessenta, os grandes rockeiros de então hoje são velhos sessentões; alguns já morreram!; Pink Loid, a Banda dos Rolls Stone, os Beatles, os rockeiros cabeludos dos annos sessenta, cidadãos mitológicos do Século XX; assim, João Baterista!, meu Aluno Rockeiro dos dias atuais!, vai ficar para outra vez!, na verdade, meus ouvidos veirotos são sensíveis demais, não agüentam os estridentes sons das bandas de rock atuais, os sons violentos e altissonantes são uma chuva de pedras nos meus ouvidos senis, longe está a década de sessenta de minha mocidade agitada, quando eu vibrava com os rocks da época, ouvindo as músicas loucas da juventude de então, dançando freneticamente a dança dos Beatles, e eu era jovem, bonita e muito faceira, dançava, requebrava e pulava, acompanhando o som daquele ritmo infernal, e foi a época de minha rebeldia, Leitor!, os jovens dos anos sessenta mudaram a face do Mundo Vital, os anos rebeldes de uma década rebelde, os jovens se rebelando contra os preceitos antigos, abaixo o sutiã, diziam as lindas mocinhas, os moços não queriam cortar os cabelos, moços cabeludos enfrentando seus pais, moças transando com seus namorados, todos desrespeitando as ordens severas, todos fugindo com medo da guerra, guerreando às avessas per um mundo de paz, e as drogas e o vício acabando com os jovens, maconha, cocaína, heroína e LSD; hoje é o crack, matando a pobre juventude, atrizes de novela lutando contra o vício e a morte, perecendo per culpa das próprias ações insensatas, jovens famosos morrendo de Aids, contaminados por usarem agulhas infectadas, jogando em suas veias o vício e a morte; pobre juventude do Final do Milênio!, pobre juventude com medo do Amanhã!, se drogando e fugindo das responsabilidades impostas pelas leis sociais, fugindo, fugindo de um futuro incerto; e vão fugindo da vida sofrida, amedrontados e trôpegos, os filhos dos antigos jovens de sessenta, inseguros e infelizes, com pavor do Futuro, do Futuro Sem-Muro; óh, minha Gente Brasileña! óh, meu Povo Americano do Sul!, sinto o peito excruciado só por relatar tais agruras!, preferia, antes disso, sofrer em minh’alma trabalhos cansativos sem conta; e seus pais, coitadinhos!, os vibrantes jovens rebeldes do Ontem, agora, carecas, sem suas vastas cabeleiras e grossas pulseiras de metal argentado, e suas mães, no passado também jovens rebeldes, se preocupam e temem pelo futuro dos filhos, alguns, esquecidos dos annos de rebeldia, querem por força mudar o destino dos filhos, aconselham e brigam, quomodo qualquer pai do passado, colocando regras nas atitudes dos filhos, infernizando, quomodo qualquer pai do passado, a vida dos filhos, jurando de pés juntos que foram obedientes e souberam respeitar os pais no passado, mas todos infelizes filhos do pós-guerra; os annos dourados da década de cinqüenta foram o período de bonança, depois da tempestade, depois da guerra, um período de paz, mas os alicerces familiares já estavam abalados, depois da Guerra, o Mundo mudou, o Mundo sentiu sua fragilidade, cada Chefe de Nação querendo falar mais alto, todos gritando e mandando para impor respeito, cada qual a seu modo querendo o Poder, e as nações mais fortes dominando as mais fracas, submetendo os fracos com a força do money, e as pobres nações com medo de guerras, preocupadas com o futuro de seus filhos queridos, e as grandes potências oferecendo dinheiro, e as pobres nações aceitando o dinheiro, o tal dinheiro não será pago jamais, os juros cobrados são altos demais, e as pobres nações vão ficar na miséria, e o Brasil do final do novecentto jamais saldará a dívida externa, cobrando do trabalhador, com juros insólitos altíssimos, o dinheiro repassado para a conta do provedor, aquele mesmo provedor do dinheiro emprestado, as prestações devidas nunca terão fim, o saco da dívida é um saco sem fundo, neste Anno de 1999, o pobre brasileiro trabalha sem parar, e no fim das contas o salário é uma miséria total, mal dá pra comprar o leite dos filhos, o sal, e et cœtera e tal, e o governante estrangeiro brasileiro altaneiro exalando superioridade, somos preguiçosos e et cœtera e tal, o aposentado é preguiçoso legal, e o estrangeiro-brasileiro ainda diz que somos vagabundos e et cœtera e tal, o estrangeiro bem vestido tem os bolsos cheios de dinheiro, e viaja pelo mundo aproveitando as férias anuais, e tem amante em alguma casa suntuosa, real, talvez em Portugal, ou na Espanha, ou na América do Norte e et cœtera e tal, e não sabe como é difícil ser brasileiro, o brasileiro vive sem um tostão, aqui, o rico estrangeiro alienado não fala a língua do brasileiro, ele come filé mignon picadinho no salão-refeitório dourado, e o brasileiro vivendo sem um tostão furado, vivendo de brisa minuanóica e ao deusdará, comendo o pão que o diabo amassou, o pão que o diabo amassou com o rabo, mas sempre esperando o dia da caça, se hoje não tem, amanhã deusdará, amanhã deusdará o arroz e o feijão, se não tiver feijão, deusdará o pão, se não tiver o pão, deusdará a ilusão, ilusão de que o pobre terá o que comer no dia seguinte deste Final de Século XX; enquanto isto, a exploração continua, neste anno da graça de noventa e nove, os provedores estrangeiros querem seus dinheiros, mesmo às custas do pobre infeliz, ele trabalha, trabalha, trabalha, e no fim do mês só tem conta pra pagar, é o dinheiro da conta de luz, o dinheiro do gás, o dinheiro da água; se não pagar a água, vai morrer de sede; se não pagar o gás, vai morrer de fome, o fogão não cozinhará a pouca comida para um batalhão do sertão, muita gente para comer a pouca comida do pobre trabalhador, muita gente abonada, o pobre conseguiu comprar um tantinho de comida; no entanto, se não tiver dinheiro pra pagar a luz, vai ter de viver com a luz apagada, na cidade não se usa lamparina, as velas são caras e acabam depressa, o lume é matéria caríssima na Terra do Ão neste noventa e nove sem pão, ninguém na cidade usa carvão, os fogões de lenha não existem mais, usar querosene nem é bom pensar; mesmo assim, o pobre vai levando a sua vidinha ao deusdará, comendo o pão que o diabo amassou, conformado com a miséria e com o sofrimento sem-fim, que seja tudo per amor de Deus em minha vida, óh! Senhor!, seja o que Deus quiser!, se Deus quiser que o pobre padeça, será feita a vontade de Deus nesta Terra Globalizada Rotunda Azulinda; mas Deus não quer isto, não, Ele quer os seus filhos bem amparados, com casa e pão, Ele quer os seus filhos alegres e felizes; o Homem Ricaço se acha dono do mundo e inventa a fórmula secreta de dominar seus irmãos, os mais fortes nadando em ouro e riqueza, com muito dinheiro guardado nos Bancos da Suíça, e o pobre coitado, entresilhado, a chupar o dedo fininho, cada dia mais fino e fraco, nem osso o pobre pode roer, agora até osso se vende nos Grandes Mercados, quando o dinheiro dá, o pobre compra feliz um bello osso pra botar na sopa, uma sopa rala que deusmelivre, uma sopa insossa e sem vitaminas, feita com as sobras da feira, recompensa magra pra quem trabalhou e suou carregando os caixotes pesados de legumes, frutas e et cœtera e tal, e o pagamento é um saco de restos apodrecidos de alimentos fedorentos foetentos infectados,

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

ODISSÉIA MARIA - XXII

NEUZA MACHADO


ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



VIGÉSIMO SEGUNDO CANTO



mas, como eu ia contando, retomo de Avião Supersônico Transcendental o Espaço Aéreo do Ontem Inflamante, voando de Avião de volta para o Passado Distante, encontro no caminho a Carruagem de Apolo Fascinante; encontro também o Velocino de Ouro de Hércules Possante, o Valioso Cordeiro pastando nos Campos da Grécia dos deuses; e vejo do Alto Instigante a Nau de Aquiles, o Beligerante Pelida Filho de Tétis, a deusa divina, amante imortal do mortal Peleu; o Pelida, amigo de Pátroclo; o Forte, vingando seus mortos, vingando a morte de Pátroclo Valente, arrasando com a sua fúria a Cidade dos Ílios, vencendo o Poder de Heitor, o Grande Troiano, vencendo o Filho de Príamo; a Guerra dos Gregos, a Guerra dos Ílios, aquele Combate ficou na Heróica História do Mundo Profundo, graças à grandeza dos versos de Homero, aqueles versos hexâmetros troantes e bellos; no entanto, as Guerras de hoje são mil vezes maiores, as Guerras do Século XX, quero dizer; mas, como eu ia dizendo, viajando de Avião, por esses ares epo-ficcionais belicosos nunca dantes navegados por Epo-Ficcional Foguete Interplanetário de Carreira, viajando para o Infinito de Meus Sonhos Sem-Fim, e se o combustível acabar?, o que será de mim?, no Passado não existiu Posto de Gasolina, não!, quomodo irei abastecer o Avião, se o combustível acabar?, gasolina ou óleo ou qualquer combustível que faça o meu Avião Supersônico voar?, se a gasolina acabar, não poderei voltar, quomo voltar do Passado?, por Zeus!, se a gasolina acabar?; no momento, neste Anno de 1999, continuando a viagem, vejo, lá embaixo as Três Caravelas descobrindo o Brasil, Pedro Álvares Cabral desmatando o Brasil, os Índios da Mágica Floresta perdendo o Brasil, o português quinhentista dominando o Brasil, o pau-brasil saindo do Brasil, as riquezas do Brasil saindo do Brasil, as esmeraldas e diamantes enfeitando a Europa, o ouro, nos Museus do Mundo Rotundo, e o Brasil?, e o Brasil?, coitado do Brasil!, o Brasil se transformando em cinzas no braseiro de pau-brasil!, os braseiros brasileiros perdendo a combustão, neste Anno de 1999, todos apavorados no Reino do Ão, todos divagando no Império do Ão, todos sonhando no País do Ão, todos querendo um Mundo de Abundância no Território do Ão, mas os Inconfidentes Portugueses das Minas Gerais perderam a revolução, foram mortos ou expatriados pra terras distantes, e tudo continuou do mesmo jeito de então, pelos séculos e séculos e muito amém; e a minha Contra-Viagem sempre na contramão, retornando do Passado, o óleo não acabou, não!, graças a Zeus, Júpiter botou combustível no Avião, Zeus e Júpiter, divindades diferentes, óh! Confusão Sem-Razão!; num passe de mágica!, retorno do Malfadado Passado do Brasil Adorado, um raio divino me trouxe de volta num veículo veloz supersônico, de volta para o presente de 1999 sem honras e glórias, não há mais Heróis neste Mundo Atual; a Guerra dos Gregos ficou para trás; o Carro de Apolo, o Velocino de Ouro e o Carneiro Mitológico do Velo de Ouro de Hércules Valente ficaram para trás; agora, só vejo o demente presente embaçado; somente as alegrias verdadeiras valem lembranças; e eu sou sagitariana, muito prazer!, e hoje é dia 20 de janeiro de 1999, Penúltimo Anno do Século XX e Penúltimo Anno do Milênio de Peixes, dia de São Sebastião, nascido em Milão, ou foi em Roma?, meu Romano Irmão?, ou em uma outra cidade qualquer da Itália?, não há certeza, não!; São Sebastião, soldado romano do tempo do Mui Antigo Imperador Deocleciano, soldado cristão, defensor dos cristãos, dos inocentes presos cristãos; soldado-mártir da causa de Cristo, morto a flechadas e pauladas por infiéis pagãos; São Sebastião, Santo Padroeiro do Rio de Janeiro, Cidade Mui Maravilhosa inaugurada num 20 de janeiro, Cidade abençoada por São Sebastião, santo venerado por Dom Sebastião, aquele Rei tão jovem e tão amado pelos portugueses fiéis, aquele Rei imortalizado nos versos heróicos de Camões, desaparecido nas areias escaldantes de Alcacér-Quibir, chefiando a Cruzada mais Santa da História do Mundo, em agosto de 1578, mas, ainda é esperado em sua Pátria Querida; os portugueses esperam o Rei Sebastião, Sebastião, o Conquistador, o Santíssimo Servo do Senhor, Sebastião, o Rei do Amor, do amor por Cristo, quero dizer; e hoje é dia de São Sebastião, a quem invoco e peço proteção, para continuar esta minha viagem, peço também ao divo Mercúrio Veloz das Predições Astrais, por ora, habitando os domínios de Capricórnio, mas no dia vinte e sete de janeiro estará em Aquário Aguadeiro, propiciando-me uma eloqüência transcendental, que segunde o Mártir São Sebastião nesta minha viagem!; Mercúrio em Capricórnio me deixa sensata, censura e rasura minhas palavras aladas, desde oito de janeiro só faço viagens instrutivas, anseio viajar por Terras Inóspitas, uma viagem à Terra Encantada do Vazio Criador Bashôniano, apenas sons, músicas e sensações, convivendo com os deuses do Olimpo de Homero Mitológico e dos Orientais também, confraternizando-me com os deuses do Antigo Egito e com os deuses ingleses habitantes da Floresta dos Bárbaros Celtas, esperando a chegada de outros deuses-convidados, eles virão do Japão, da China, do Industão e et cœtera e tal; nesse sincretismo religioso não faltarão Tupã e a sua Imensurável Corte de deuses afamados da Floresta Amazônica; não faltará a Corte dos deuses africanos, também, Oxalá e Ogum e et cœtera e tal; também as deusas moirenas do Candomblé Baiano namorando faceiras os dourados deuses super-americanos; todos os Extra-Terrestres serão convidados para o Banquete de Deliciosas Ímpares Provisões Abundantes; ao lado da Carruagem de Apolo Cantor, estacionada no centro da Ágora, serão vistos, também, bellos e reluzentes Discos Voadores, os Pequeninos Homens Verdes do Planeta Marte, os Recurvados Homens Marrons do Planeta Saturno, as Formosas Damas Vermelhas do Planeta Vênus e et cœtera, etc e etc e tal, e todos os futuros deuses do Terceiro Milênio saídos das Imortais Páginas Ficcionais do Mago Brasileiro, o nosso singular Haliterses Mastórida, dentre os brasileses inventivos o mais competente, sem dúvida, na arte de conhecer os augúrios esotéricos e ler pelo vôo dos grandiosos aviões intercontinentais e pela borra de café dos habitantes de Fez e pela fumaça do chá indiano o presente e o futuro, o nosso Mago Mega-Milionário do Século XX; todos os futuros deuses do Terceiro Milênio estarão reunidos nessa festa de arromba, saboreando os mais finos manjares do Olimpo Pagão, nectares deliciosos caríssimos e ambrosias divinas, e bebendo as saborosas e alucinógenas sonhadoras bebidas dos deuses da Floresta Amazonense Equatorial-Tropical, o cauím saboroso da Sacerdotisa Iracema passando de copa em copa, de copo em copo, de taça em taça, o licor da Virgem Alencariana na Copa de Zeus, a Virgem da Grandiosa Floresta Aniquilada e Devassada sob a proteção de Netuno dos Mares Antigos, aquele vive no fundo do Mar Dulce do Caudaloso Amazonas, mas tem uma bella casa de veraneio às margens do Rio Negro do Norte do Brasil Varonil; ele às vezes se transfigura em Peixe Espada ou em Dourado Sem Escamas do Igarapé Caudaloso do Encontro das Águas Eternais, o divo Solimões Argentado e o Rio Negro de Águas Profundas e Misteriosas em um para sempre abraço amigável, indescritível; neste Cœnaculu dos deuses mui antigos e modernos, Odisséia Maria das Altas Serras of Hinterland das Minas Gerais dos Atléticos Invencíveis Caçadores de Esmeraldas e de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas e Gatos do Mato se esbaldando pra valer, esquecida do mundo real das contas insolúveis e dos problemas vitais, distante das filas imensas dos Bancos do Brasil Varonil, esquecida das contas da luz, do gás, da água, das contas do telefone, do Camping Clube e da NET, muito feliz da vida! convivendo com os deuses garbosos de todas as crenças e etnias, saboreando deliciosos manjares, vivendo e correndo, pensando e sonhando no Olimpo da Terra do Vazio Criador de Linhagem Oriental e Bashôniana, lendo vorazmente todos os Escritores-Artistas do Mundo Profundo, encantada com os versos mágicos dos grandes Poetas do Mundo, olhando de longe o Grande Navio Catarineta Minas Gerais, atravessando obliquamente a Ponte Rio-Niterói das Estranhas Narrativas Reais, recordando saudosa sua terra de origem; Minas já foi e hoje não é mais!; hoje o Rio de Janeiro é minha terra adotada, ou, quem sabe?, a Cidade Maravilhosa me adotou com amor; mas, como eu ia dizendo, 20 de janeiro de 1999, pós o apetite acalmado na Festa de Arromba, com a Lua brilhando no signo de Peixes, com Marte e Saturno se estranhando no céu, numa oposição daquelas de amedrontar, Marte em Libra e Saturno em Áries, temporariamente em Áries, quero dizer, em 01 de março ele retorna pra Touro, me obrigando a trabalhar, trabalhar, trabalhar; mas hoje é feriado no Rio de Janeiro, carioca que se preze adora um feriado, feriado em louvor ao Mártir São Sebastião, mas em São Gonçalo não é feriado não, feriado em São Gonçalo só no dia de São Gonçalo; por isto, não terei feriado não, vou trabalhar em São Gonçalo, senão não terei dinheiro para pagar as contas do mês e para comprar o pão, o arroz e o feijão; mas o contrato acaba no fim do mês, depois, adeus bellas viagens de ônibus velho caquético, atravessando todos os dias a Ponte Rio-Niterói dos Brasileses Intrépidos, olhando com orgulho e paixão o Almirante Guillén Garboso e Lendário, imaginando mil e uma aventuras com um Almirante Gattoso Fermoso, navegando mar afora com o Almirante Deiforme; se houver um tempinho, troco de Nau Argivosa e vou visitar o Millenium Condor das Montanhas Andinas, de vez em quando, pousado no Porto do Rio, à noite, seus sócios companheiros se atracam com as moças do Rio, ou então um passivo e arguto argonauta, tripulante trilendário do navio mitológico Argus Brilhante, possuidor de cem olhos argutos, se atraca com os michês do Rio, às vezes gastando seus dólares americanos com as beldades do Rio, nas boates mal-afamadas do Rio, assistindo striptease nos inferninhos do Rio e et cœtera e tal, minha Mentes Dinâmica calçada com bonitas sandálias voadoiras de oiro e brilhantes passeia no espaço vazio infinito comandando estas estranhas palavras aladas; mas, como eu ia dizendo, consulto o oráculo deste dia pós-moderno, neste 20 de janeiro de 1999, e o orago me diz, você vai Odisséia resolver os problemas aflitivos!, para eu aproveitar os três dias seguintes, para resolver os inenarráveis problemas maiores, e são tantos, meu Deus!, não há oráculo que dê jeito, Senhor!, mesmo que o momento seja oportuno para cuidar do meu ralo dinheirinho, não há jeito não!, é só conta e mais conta para pagar, meu Irmão!, o Correio só traz conta pra eu pagar, Mano Velho!, a ansiedade é tanta e só o que faço é comer, como todas as iguarias da geladeira, como todos os biscoitos guardados na lata, como todo o mel guardado no pote quebrado, como todo o queijo da queijeira mineira, insaciável à noite, vendo televisão, continuo comendo, comendo, e vou engordando, engordando, engordando, assim não conquistarei aquele bilhardeiro deiforme assinalado por Vênus Madrinha, neste 1999, não jogarei do meu Avião Supersônico os reais dólares e euros, para matar a fome dos pobres mortais do Brasil Varonil; mas, como eu ia dizendo, atravessar a Ponte Interinfinita Superlotada de Caminhões Gigantescos e Automóveis Velozes Brilhantes e Ônibus Antiquados Gaiolas dos Pobres é um barato legal, a paisagem do Rio é de uma beleza sem igual, esqueço que há no Rio esgotos mal cuidados, malcheirosos, crateras escuras, esqueço as ruas esburacadas do Rio, esqueço que o carioca joga lixo nas ruas, o carioca joga lixo nos canais foetentos, o carioca joga lixo nas praias foetentas, no Passado tão limpas!, os ricos industriais poluem a Cidade, jogando gás tóxico na atmosfera do Rio, pelas chaminés de suas fábricas de tudo, os motoristas jogam gás carbônico no ar, gás carbônico exalado de seus possantes carros mal cuidados, sujando sem dó os pulmões da população e de seus filhos também, pois seus filhos habitam a Cidade Agonizante Tão Bella e Charmosa também, e vão morrer com certeza com doenças respiratórias, se não houver um basta para tanto descuido; mas, como eu ia dizendo, a Cidade é Bella, é a Cidade Mais Bella do Mundo Atual, meu Senhor!, nem mesmo Paris possui as belezas do Rio Afamado, e é lamentável tanto abandono, meu Deus!, as Favelas invadem os bellos morros do Rio, os barracos mal construídos maculam a maravilhosa paisagem, mesmo assim, a Cidade é bella, talvez no passado tenha sido mais bella, a falta de amor do povo ainda não conseguiu destruir a Cidade, a Cidade ainda reina soberba no Reino do Ão, durante o dia reina a sujeira, o barulho dos carros, os assaltos, os homicídios e et cœtera e tal, à noite, tudo isso e muito mais e et cœtera e tal, à noite, a Cidade se ilumina com a incrível eletricidade moderna, de luzes elétricas, estrelas diversas luminosas, cores vibrantes e muito glamour, e é um espetáculo de rara beleza, meu espantado Leitor!; mas, como eu ia dizendo, com muito Amor, lá vou eu, por estes ares poluídos e bélicos nunca dantes navegados por Epo-Ficcionais Astronautas Atilados, neste 22 de janeiro de 1999, Penúltimo Anno do Milênio de Peixes, segundo dia do Sol em Aquário, com o Sol e Netuno favoráveis em Aquário, a Lua Nova brilhando temporariamente em Áries, tenho tudo a meu favor para conhecer um Ulisses Gattoso Super Especial; esse Alguém deve estar muito longe, talvez explorando a Cordilheira dos Andes, contando lorotas para as moças de lá, viajando pelo Mar do Caribe na Corveta Catarineta Princess Verônica, uma Corveta Nicaragüense dos Mares Suntuosos Fermosos, ou então reinando em outro navio qualquer, de nome sonoro e difícil de pronunciar, quomodo o Star Liberty, o Astro Vagamundo dos Mares do Norte e dos Mares do Sul do Incrível Mundo Rotundo, grande e charmoso!, atracado no Porto, sobressaindo-se garboso entre os demais, e o meu Alguém Especial tão distante de mim, sempre Bienvenido Granda em minha vida e em meu coração; mas, como eu ia dizendo, o Sol em Aquário, neste 22 de janeiro de 1999, uma sexta-feira de muito calor, um calor infernal, sem igual, com a Lua em Áries e Netuno em Aquário, e Vênus também em Aquário, e Urano Estranhíssimo em Aquário também, e Plutão Mui Transformador em meu Sagitário Querido, doze anos pela frente reinando contente, doze anos de transformações radicais, induzindo minha Mentes Dinâmica a vôos originais, exigindo energia vibrante, fazendo de minha vida uma aventura constante, Plutão levando-me numa epo-viagem ficcionalmente alucinante por esses ares insólitos nunca dantes navegados, e o orago do dia prometendo sucesso, não tenha medo de apostar no Futuro, óh! Mulher!, neste 22 de janeiro de 1999, jogue as cartas mais altas do baralho amoroso, aposte nos dados e nas corridas de cavalos, jogue na Sena e no Bolão da Esperança,

sábado, 21 de novembro de 2009

ODISSÉIA MARIA - XXI

NEUZA MACHADO



ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



VIGÉSIMO PRIMEIRO CANTO



mas, como eu ia contando, vou atravessando agora a Baía Praláde Encantada, atravesso a Ponte Rio-Niterói do Sonho Legal, quero dizer, no ônibus Vila Isabel-São Gonçalo, muito animada!, um transporte real et cœtera e tal, em direção ao Templo do Maravilhoso Saber de Cultura Pós-Moderna Geral; vejo ao longe o Pão de Açúcar com um pouquinho de Sal e Manteiga Dourada; vejo o Cristo Redentor Francês-Brasileiro Universal abençoando o Local; meus olhos deparam com a Ilha Fiscal do meu País Equatorial-Tropical, e a minha Imaginação Entrópica Astral explora a Miniatural Ilha Fiscal; a Ilha Pequenina de um Passado Real assistiu ao Último Baile da Monarquia Portuguesa Sem-Sal no Brasil-Colonial do Passado Arbitral, e é um lugar tão lindo, deveras sensacional, meu Leitor do Futuro do Amor, se estas palavras aladas perdurarem, não sei, não sei se elas perdurarão, não sei, a Ilha foi palco de uma triste história, o Último Baile da Corte Portuguesa no Brasil Imperial, antes da Proclamação da República do Brasil Varonil; a Ilha Miniatural com seu Palacete Gótico-Provençal, com aparência de Igreja Gótico-Provençal, a pequena Ilha marcou a despedida do Imperador D. Pedro II e sua Família Real com um dantesco Baile Imperial; e foi um espetáculo incrível, meu Deus!, sem igual, três mil convidados dançando e comendo às custas do povo faminto, tão pobre, de longe, tão perto, o povo miúdo olhando a opulência, e as valsas vienenses marcando o compasso, e as polcas e mazurcas em ritmos dinâmicos, e a sociedade da época se despedindo do luxo demente sob as benções da Nova República emergente; estas coisas só acontecem mesmo no Brasil Varonil, três mil convidados dançando e comendo às custas do dinheiro do povo faminto; mas os estilos de governo mudam, vão mudando, por enquanto, só não muda a exploração ao pobre assalariado, o pobre será sempre explorado, nos Séculos XXI, XXII, XXIII e Seguintes, o pobre sempre foi explorado, mesmo na Corte de Henrique VIII, mesmo na Corte de Alexandre Magno, mesmo na Corte de Elizabeth da Inglaterra, não importa o anno, meu Deus!, não importa o século, meu Deus!, não importa o milênio, meu Deus!, o pobre será sempre explorado, vai comer sempre o pão que o diabo amassou, o pão que o diabo amassou com o rabo, pronunciando sempre as mesmas sentenças, se hoje não tem, amanhã deusdará; do Anno de 1889 ao Anno de 1999 deusdará o que falta ao povo faminto; e as valsas vienenses enchendo o salão, o Grande Salão de Bailes da Ilha Fiscal do Brasil Varonil, de música, risos e mentirosa alegria, o Grande Salão repleto de música, comida, elegância e perfume, e os três mil convidados aproveitando a festança, os Últimos Suspiros da Corte Agonizante, e a República Atilada à espera dos despojos para implantar posteriormente um governo austero; mas cadê austeridade na República do Ão, cadê a austeridade dos políticos do Ão, cadê as promessas do País do Ão, neste 1999, ainda hoje, é só servidão, só se ouve falação, o Governo do Fernando não cuida do pobre, não!, o pobre almeja é um pouco de pão, um salário digno, um salário justo, entrementes, nem isto existe no momento do Reino do Ão, pesquise este meu Presente já Passado, meu Irmão!, a maior parte do povo não tem teto nem pão, mesmo depois da queda dos Braganças, naquela noite de 09 de novembro de 1889, só os ricos entraram e o povo não, só a elite dançou na Ilha Fiscal, o povo se sujeitou a mais uma humilhação, o povo por enquanto não tem vez, não, em 1999, coitado do povo bobão, aqui nunca foi a França, não, aqui não se faz rebelião à moda francesa, aqui não há guilhotina, não senhor, aqui o Imperador foge tranqüilo para Portugal em um navio luxuoso, os vapores luxuosos da época, quero dizer, depois de um grandioso baile de despedida para a nobreza que permanecerá no poder; apesar da tal República Emergente, as Leis nunca mudaram no País do Ão, desde 1500 nada mudou, aqui por enquanto é o Reino do Ão, a elite comerá sempre as finas iguarias, nectares e ambrosias, os manjares dos deuses, e o povo ficará de longe lambendo com os olhos, óh!, meu Povo do Coração!; mas, como eu ia dizendo, em 09 de novembro de 1889, o povo será engabelado com bellos fandangos e com tristes lundus, na Praça defronte à Ilha Fiscal, separada da Ilha por um trecho de mar, mas o povo de agora, do Final do Segundo Milênio, tem o Carnaval do Brasil, se hoje não tem, amanhã deusdará, Deus dará o pão, a alegria e a vontade de viver, Deus dará o dinheiro para o Carnaval, para comprar a fantasia de Carnaval, e o povo faminto espera o Carnaval, e os pivetes do morro roubam para o Carnaval, os pivetes do Rio roubam no Carnaval, e os mais espertos exploram o povo no Reino do Ão; mas, quomodo eu ia dizendo, voltando ao passado, voltando ao Baile Esplendoroso da Ilha Fiscal do Passado, o Baile Esplendoroso da Ilha Fiscal é, hoje, apenas recordação, aquela Cesta de Luzes na escuridão do passado, o divino Machado de Assis soube tão bem retratar, numa única frase, o fantástico baile, na escuridão tranqüila do mar, uma Cesta de Luzes, a Mágica Ilha dos Meus Devaneios Infinitos era no passado uma Cesta de Luzes, as taças de champagne rebrilhando naquela Cesta de Luzes, as nobres figuras brilhando, os vestidos de renda francesa brilhando naquela Cesta de Luzes, os olhos das moçoilas brilhando, as damas e cavalheiros da Corte brilhando, brilhando, as milhares de luzes brilhando, brilhando, brilhando, o poder do Imperador findando, a construção do Palacete Gótico-Provençal brilhando, brilhando, brilhando, o gótico e o provençal brilhando e brilhando e brilhando, até hoje brilhando nas iluminadas noites tropicais de milhares e milhares e milhares de lâmpadas elétricas atuais, o Rio de Janeiro situado no Trópico de Capricórnio, a Baía de Guanabara tão tropical, a pobreza brasileira tão tropical, tropicando sempre sem cair no chão, digo, tropeçando sempre, mas, sem cair no chão, e a gótica construção embelezando a paisagem, e as vistosas vestimentas embelezando o passado, e a Ilha Fiscal faiscando, uma imensa Coroa de Luzes no Mar de Escolhos do Brasil Varonil, e o jornalista Coelho Neto descrevendo o Baile, a Flora Tão Bella do Machado de Assis abrilhantando o Salão, dividida entre os irmãos Esaú e Jacó, disputada pelos irmãos Pedro e Paulo, Pedro Esaú e Paulo Jacó, ou será Jacó Pedro e Esaú Paulo?, os nomes se confundem em minha veirota memória, o Machado de Assis vai me perdoar por ser tão esquecida, a Flora Dionóra Machado das Contendas Antigas, do clã valeroso dos Machados Mineiros do Calderão Tampado, nora do Grande Bolívar, filho do Memorável Theofilo, nora de Marieta Pereira, do Intrépido José Imortal descendente, da Polis da Imperatriz Leopoldina, os Machados Galhardos oriundos de Portugal, e hoje não sabem, no passado pertenceram aos novos cristãos radicados em Portugal, cristãos novos por imposição, cristãos novos pela Inquisição, a Inquisição que marcou a Igreja Ocidental, triste mácula no Ontem da Igreja de Cristo Nosso Senhor, Ele só queria o bem da humanidade pecadora, e os cristãos do passado perseguindo os judeus, queimando os judeus nas fogueiras inquisitoriais, triste acontecimento de uma Era tenebricosa; os cristãos de hoje abominam a Inquisição, no entanto, ela ainda existe, meu Deus!, disfarçada em preconceito geral; cada qual com suas crenças, vamos respeitar os judeus, e os judeus sempre perseguidos através dos séculos sem-fim, Hitler perseguindo os judeus da Alemanha, triste acontecimento do Século XX, triste ocorrência do Século Final do Segundo Milênio, triste espetáculo da Segunda Guerra, e os inocentes judeus sempre perseguidos, e os valentes judeus sobrevivendo no mundo, os unidos judeus resistindo no mundo, por certo!, os judeus mandando no mundo, a união faz a força e os judeus são unidos, são unidos e ricos, têm muito dinheiro para comprar o Mundo Rotundo, se eles quiserem comprar o Mundo no Próximo Século XXI, e os judeus, graças a Deus!, vivendo no mundo, e as matriarcas judias criando seus filhos, respeitando as Leis do Antigo Testamento, respeitando os dias santos judaicos, e os Machados e os Coelhos e os Baratas e et cœtera e tal distanciados das leis judaicas pela imposição do tempo vital, os Pereiras, os Cerejeiras e os Nogueiras desconhecendo o passado judeu, o sangue do povo assinalado corre em suas veias, Irmãos, desconhecem suas raízes existenciais, meus Irmãos, todos descendentes de Abraão e dos Novos Cristãos, eles abjuraram suas crenças com medo da morte na Fogueira Infernal, e a vida correndo, meu Deus!, e os homens matando em seu nome, meu Deus!, e os homens brigando em seu nome, meu Deus!, as Guerras Santas, meu Deus!, não concebo a existência de Guerras Santas, my God!, neste Final de Segundo Milênio, a Irlanda do Norte Europeu guerreando em seu nome, meu Deus!, católicos e protestantes guerreando, meu Deus!, Irmãos-Cristãos lutando entre si em seu nome, meu Deus!, os homens criando as atuais leis religiosas do mundo em seu Nome, todos interpretando os ensinamentos de seu Filho à revelia, meu Deus!, os hodiernos exegetas do Novo Testamento interpretando de qualquer maneira os ensinamentos de Jesus, deturpando as santas palavras de Jesus, Aquele deu sua vida para salvar a humanidade pecadora, mesmo assim, os homens continuam matando, continuam mentindo, o Século XX foi o século das guerras, a Primeira Guerra Mundial durou três anos de sangue e lágrimas, sangue de infelizes soldados, morriam ou matavam submetidos aos seus governantes, lágrimas de dor e desespero dos pais, das famílias, sofrendo por seus filhos-soldados tão distantes de casa, morrendo ou matando, matando outros inocentes de outras nações, triste matança, meu Deus!, milhões de hecatombes dos gregos antigos, cem bois já não satisfazem os deuses do progresso do Século XX, agora os homens são sacrificados aos milhões em nome dos deuses poderosos do tal progresso, depois, a Segunda Guerra Mundial de 1940 a 1945, cinco anos de bombardeios aéreos e muito terror, a guerrinha histórica, entre gregos e troianos, foi uma pequena contenda entre as cidadelas antigas, durou dez anos, mas não matou tanta gente, Homero Gigante foi brilhante ao narrar a Guerra Troante de versos sonantes destruidora dos infelizes troianos, seus versos hexâmetros deram vida e grandeza à contenda, os versos hexâmetros glorificaram o ocorrido, mas as guerras reais do Século XX foram muito mais cruéis, mil vezes mais destruidoras, pequenas bombas mortíferas destruindo cidades, pequeninos botões arrasando países, não há modelos de versos épicos que traduzam nosso medo, Senhor!, as bombas são jogadas do alto, dos aviões militares, os soldados de hoje possuem armas poderosas para a destruição da humanidade, os aviões transportam bombas mortíferas neste Final de Século XX, as bombas caem do céu e os inocentes morrem na Terra, Hiroshima e Nagasaki destruídas em segundos, mais de 300 mil mortos num instante, meu Pai!, o Japão destruído economicamente em segundos, bombas poderosas destruindo o mundo; cuidado, Mundo!, com as bombas do Mundo; e a Segunda Guerra quase destruindo o mundo, e os anos seguintes em pé de guerra, ninguém deseja fumar o Cachimbo da Paz para não perder o poder, pequenos focos de guerra em cada canto do mundo; e a Centúria 10 de Nostradamus prevendo o final, 1999 será o anno aziago; a Centúria 10 da quadra 72 dizendo, do Céu virá o Grande Rei do Terror, Marte Audaz Aviador Destemido destruindo o Mundo; dos aviões riscando os céus descerão as bombas fatais, o Grande Rei do Propalado Terror é um semideus muito louco, louco por mulheres mortais, quero dizer, no entanto, eu sei!, uma mulher sem-igual destruirá o Grande Rei do Terror, o Grande Rei do Terror não sabe o que o espera, uma mulher de 1999 vai destruir a profecia, a profecia de Nostradamus, quero dizer, Você viverá, sim Senhor, a Mulher de hoje quer um mundo de paz, meu Amado Rapaz!, o Rei do Terror vai se render a uma Mulher, sim senhor, ela vai segurar a boca do leão, fará o leão se ajoelhar a seus pés, fará o dito leão se curvar, sim senhor, fará do leão um cordeirinho sem valor, e o Grande Rei do Terror se transformará no Rei do Amor; Nostradamus do Século XVI se enganou, meu Leitor!, ele não viu direito o Futuro Sem-Muro,