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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO

Antônio de Sousa Costa

Esta narrativa foi escrita por Antônio de Sousa Costa, meu pai, em 1985 e conta a saga de sua família materna, cujo tronco iniciou-se a partir do português João Pereira da Cunha. Gostaria de informar aos internautas que Antônio de Sousa Costa estudou apenas os três primeiros anos da escola primária. Entretanto, excetuando raras correções de pontuação ou de erros ortográficos, a estrutura, o discurso e a coerência do texto são autênticos.


Na década de 1840 chegava à extensão de terra sem dono, que depois se tornaria a Fazenda Cachoeira, Município de Carangola, Estado de Minas Gerais, João Pereira, vulgo Barba de Argolão. Ele vinha de Ponte Nova, Minas Gerais, escoltando sessenta escravos que pertenciam a ele. Com uma autorização imperial bem guardada em sua mala, naquele local fixou residência, pouco abaixo da Cachoeira. Com o documento de posse nas mãos, construiu um casarão que abrigou toda a sua família e agregados. Fez também uma grande sanzala que era a residência dos escravos. João Pereira, vulgo Barba de Argolão, era português, casado com uma mestiça, filha de índio com negro, por nome Antônia, mas era chamada de Antoninha. Desse matrimônio nasceram sete filhos, sendo quatro homens e três mulheres. Nomes dos homens: Joaquim, Sebastião, João e Manuel. Nomes das mulheres: Joana, Antônia e Luiza. Carangola, até hoje em dia, é conhecida como uma cidade da Zona da Mata Mineira. Naquele tempo era mata virgem cerrada, com poucos moradores. A terra era posseada. O Governo da Regência Imperial oferecia as posses para os súditos portugueses. Cada morador português remarcava o seu pedaço de terra o quanto queria. João Argolão, como era chamado, tendo ele muitos escravos, demarcou uns quinhentos alqueires de terra. As divisas eram águas vertentes. Com os seus escravos, ele fez uma picada nos altos. De distância em distância, ele cortava uma árvore das mais grandes e dizia para os escravos: “ – Esta é a divisa que tem que ser respeitada”. E, assim, formou uma grande Fazenda que, até hoje, tem o nome de Fazenda Cachoeira.

Mas teve poucos anos de vida, pois, sendo ele bastante severo com os escravos, duas escravas feiticeiras fizeram feitiço para que ele morresse. E morreu mesmo. Esta história da morte de João Argolão foi assim. Ele saiu da Fazenda para ir ao Divino de Carangola, para fazer umas compras, e as duas escravas ficaram tramando o feitiço, e dizia uma para a outra: “– Nhô-nhô saiu de casa com as pernas dele, mas não entra em casa com as pernas dele”. E tudo isto aconteceu. Elas foram pra debaixo do poleiro das galinhas, apanhavam penas das galinhas, e sempre dizendo: “ – Ele não entra com suas pernas”. E tudo isto aconteceu. Quando ele chegou em casa, que foi apear do cavalo, caiu ao chão, e foi carregado até a sua cama, e dali foi para o cemitério. Joaquim, sendo o mais velho dos irmãos, ficou administrando a Fazenda. Joaquim era casado com Maria Brasilina de Jesus. Joaquim também era severo com os escravos (apesar de seu parentesco com seus próprios escravos, já que sua mãe Antônia era mestiça), batia nos escravos amarrados num topo, e sem piedade. Um dia, as duas escravas quiseram fazer uma vingança, mas não com ele. Dessa vez, elas quiseram matar a esposa dele, Maria Brasilina, que ficou doente e foi pra cama. Estava mesmo a ponto de morrer, mas, Joaquim, desconfiou das duas escravas, e disse pra elas: “– Se Sá Maria morrer, eu vou acender uma fogueira e vou jogar vocês duas vivas dentro do fogo”. Sabendo que ele falava e cumpria o juramento, elas desmancharam o feitiço, e, em poucos dias, Maria Brasilina estava salva daquele mal.


Joaquim dirigiu a Fazenda até o ano de 1888 daquela Era, pois veio a liberdade dos escravos, decreto-lei pela Princesa Isabel, no dia 13 de maio de 1888. Com a liberdade dos escravos, Joaquim ficou perturbado do cérebro. Como era estudado, reuniu os escravos no terreiro da Fazenda e começou falando discurso, e dizia para os escravos: “ – Hoje vocês têm liberdade, são senhores de si, fazem o que querem, mas, eu não dou nem um ano e vocês estarão matando uns aos outros”. E, conforme ele previu, isto aconteceu. Os escravos iam para as vendas de cachaças, bebiam até se embriagarem e, na volta para casa, brigavam e esfaqueavam uns aos outros.
(continua...)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Apresentação do blog Caffe com Litteratura

Estamos de volta!
Neste blog, apresentarei textos variados – poesias, narrativas, textos técnicos de crítica literária –, objetivando partilhá-los com internautas que apreciem literatura de qualidade.