Quer se comunicar com a gente? Entre em contato pelo e-mail neumac@oi.com.br. E aproveite para visitar nossos outros blogs, "Neuza Machado 1", "Neuza Machado 2" e "Neuza Machado - Letras".

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: A CAMINHAR POR UMA ROTA DESCONHECIDA - 8

NEUZA MACHADO


SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: A CAMINHAR POR UMA ROTA DESCONHECIDA - 8

NEUZA MACHADO


Lembro-me de um entre os meus muitos sonhos com estradas montanhosas:

No sonho, eu havia iniciado uma viagem de automóvel conversível com meu marido e minha filha Ana Lucia, à época, já adulta. Meu marido era o motorista. Havia muita alegria e vivacidade nesse início de sonho. O automóvel (com a capota descaída) se movimentava por uma larga auto-estrada, dessas maravilhosas de Primeiro Mundo. Meus cabelos e os de minha filha esvoaçavam, soltos, animados, ao vento. Grandes caminhões de carga e velozes automóveis de passeio nos ultrapassavam ruidosamente.

Depois de um grande trecho percorrido, com o automóvel ainda em movimento acelerado, o meu genro Leon (nome fictício), esposo de uma outra minha filha (que não se encontrava nesse sonho), apareceu, repentinamente, a pedalar vigorosamente uma bicicleta, e ultrapassou-nos, a olhar-nos com um largo sorriso de vitória.

Em seguida a um bom trecho percorrido, a bicicleta, com o Leon a pedalar-lhe, e o automóvel, que nos transportava (ainda com o meu marido ao volante), passaram a trafegar, lado a lado, ao longo da auto-estrada. Lembro-me que conversávamos, quatro viajantes, enquanto o sonho se ia a movimentar-se.

Em um dado momento, o automóvel conversível de capota arriada transformou-se em um automóvel antigo, aberto (daqueles exaustivamente vistos nas revistas de colecionadores), e a robusta bicicleta do Leon metamorfoseou-se em uma bicicletinha de brinquedo. Não sei como, o Leon, alto e corpulento, se ia a equilibrar-se, e se movimentava, incrivelmente muito bem arranjado, em cima da tal bicicletinha.

Lá pelas tantas, paramos em um encostamento da larga auto-estrada. Se a recordação do sonho for verdadeira, penso que houve um enguiço no automóvel. Assim, saímos do veículo e ficamos, eu e minha filha, a conversar, enquanto os dois homens procuravam consertar algo no automóvel.

Em uma breve reviravolta do sonho, já estávamos – os quatro – caminhando a pé na larga estrada deserta, a subir uma serra de tirar o fôlego de qualquer normal caminhante (e já não havia movimento de carros). Lembro-me de que olhávamos sempre para trás, na esperança de aparecer uma condução. E nada! A auto-estrada já se localizava nas alturas de uma serra, pois percebíamos suas voltas longínquas, na encosta, ao olharmos para trás. Por vezes, tínhamos a impressão de visualizar, lá embaixo, subindo a estrada de serra, o vulto de um ônibus. Entretanto, o ônibus não chegava perto, nunca!, para embarcarmos nele. De qualquer maneira, no sonho, continuava um lindo dia ensolarado. A paisagem, visualizada em ângulo descendente, abarcando uma ampla região montanhosa, era magnífica.

Nova reviravolta do sonho e já estávamos parados (quatro caminheiros), a descansar à margem direita da auto-estrada. Enquanto conversávamos, o meu olhar detectou um outro caminho de terra, do outro lado da Auto-Estrada de Primeiro Mundo (uma espécie de bifurcação em atalho, que possivelmente iria terminar na mesmíssima auto-estrada). Eu olhava para o estreito caminho de terra fascinada, enquanto os meus companheiros de viagem conversavam distraidamente.

Como sempre acontecera até então em meus sonhos, procurei mudar o rumo da ação sonambúlica. Penso hoje que a viagem do sonho já estava a se tornar monótona e eu, espertamente, providenciei para ela uma dinâmica reviravolta.

Mais do que de repente, eu já estava a caminhar sozinha por um rústico caminho de terra. No início, era um caminho estreito, mas, logo se tornou uma estrada mais larga, ainda de terra. Para não perder o costume de enfrentar diversos obstáculos, em meus sonhos dinâmicos, por um bom período das ações, fui a me safar heroicamente dos muitos que encontrei. De trecho a trecho, sempre aparecia uma demanda para que eu a vencesse: pedras impedindo a passagem, chuvas torrenciais, partes de caminhos alagados, pessoas estranhas e mal-encaradas se aproximando de mim, na retaguarda ou em sentido contrário, cachorros latindo à minha passagem, vultos misteriosos pairando por perto, e outros obstáculos próprios de sonhos de aventuras. Lembro-me que passei por pequenas Vilas, todas parecidas com os pequenos Arraiais que margeiam as estradas do interior do Brasil. As Vilas e suas pequenas e humildes casinhas, com seus moradores a olharem-me sorridentes. Recordo-me de ter visto brancas igrejinhas ao longo de minha caminhada. E lá ia eu, começando a ficar temerosa, porque o caminho e os obstáculos se desenvolviam, cada vez mais estranhos, e eu não chegava nunca à estrada principal (aquela do princípio do sonho).

Já me sentia cansada, de tanto andar e, principalmente, de me defrontar com impedimentos vários, quando, sem mais nem menos, apareceu-me uma acompanhante. Era uma senhora negra, gorda, simpática e sorridente (talvez, fosse a mesma daquele outro sonho, daquela viagem de trem, já relatada anteriormente). Por sorte (e eu sempre me considerei uma grande privilegiada da sorte, por formar interessantes enredos sonambúlicos no decorrer de minhas noites de sono calmas ou agitadas), não fiquei com medo da providencial acompanhante. A partir dali, os entraves do caminho se suavizaram, e eu continuei a caminhar, com mais tranquilidade, a conversar com a senhora (que, por sinal, aparecera em meu sonho inesperadamente, apenas para confortar-me nas últimas etapas daquele estranho caminho de terra).

Ao longo do sonho, a caminhar e a enfrentar os diversos obstáculos, posteriormente, acompanhada pela estranha Senhora, continuava o dia ensolarado. De repente, ainda acompanhada da Senhora desconhecida (com certeza, um Anjo de Guarda), eu me percebi sorridente e animada, pois já visualizava o trecho final do caminho de terra e, um pouco distante, a larga auto-estrada de montanha do início do sonho. Ainda um dia muito ensolarado! Talvez o sonho fosse um contínuo amanhecer ou entardecer, não sei!

O caminho de terra terminava exatamente (como de costume em meus sonhos da meia-idade) no alto da montanha. Do outro lado da auto-estrada, bem a direção do estreito caminho, localizava-se um ponto de ônibus e algumas pessoas estáticas e, por sinal, também extáticas, se encontravam ali à espera de uma hipotética condução que as levaria a alguma outra parte extra-sonho.

Paralelo a auto-estrada, existia um outro caminho de terra, que se iniciava a partir do anterior (talvez fosse o mesmo, com uma pequena bifurcação para uni-lo à rodovia principal). Ali, naquele rústico entroncamento do caminho, despedi-me de minha acompanhante casual (e que me entretivera nas últimas etapas do sonho, fazendo-me esquecer dos obstáculos que tive de enfrentar). Curiosamente, a Senhora seguiu pelo caminho de terra paralelo à margem esquerda da auto-estrada, em sentido Norte. Ainda fiquei a olhá-la, enquanto o seu vulto ia desaparecendo, na distância de meu ângulo de visão, a subir a estrada de terra, como se fosse uma névoa.

Antes de atravessar a larga rodovia, deslumbrei-me com o cenário que se projetava do outro lado. Como já foi relatado, ali se localizava um ponto de ônibus, entretanto, ao fundo do Ponto de ônibus, do lado da margem do despenhadeiro, existia uma ampla casa iluminada (e era ainda um dia ensolarado!), possivelmente uma hospedaria. As várias portas do pavimento térreo, com o interior iluminado, denunciavam que ali era uma espécie de Confeitaria ou Café ou Padaria. A edificação, em meu sonho, exibia faixas com dizeres luminosos encimando as muitas portas existentes. A casa parecia estar pendurada no despenhadeiro, insolitamente presa à encosta do lado direito da rodovia. De qualquer maneira, as luzes projetadas a partir dela eram excessivamente brilhantes. As pessoas que se encontravam no ponto de ônibus apareciam, ao meu ponto de vista, estranhamente iluminadas, graças àquela incrível luz que as rodeava.

Enfim, atravessei a rodovia que se encontrava, naquele momento do sonho, totalmente sem os rotineiros veículos barulhentos. O ambiente estava silencioso. Até mesmo as pessoas que estavam ali paradas, iluminadas, à espera de condução, não conversavam umas com as outras (pareciam seres estagnados).

Caminhei a direção do ponto de ônibus. Quando ali cheguei, encontrei a minha filha a esperar-me. Perguntei-lhe porque estava sem a companhia do pai e de seu cunhado Leon (de meu marido e de meu genro). Ela me respondeu que caminhara sozinha, e que os outros dois estavam vindo de ônibus. Olhei para baixo, obliquamente, e abarquei a extensão da auto-estrada, em subida, contornando em ziguezague a encosta da montanha. A muita distância percebia-se o vulto de um ônibus, subindo morosamente a serra.

Não entramos na brilhante confeitaria! O dia continuava ensolarado! Esperamos juntas o ônibus se aproximar. Finalmente, ele chegou. Só eu e minha filha entramos nele. Deixamos para trás a visão da desconhecida casa iluminada. As outras pessoas continuaram ali, na parada de ônibus, estáticas, alheadas.

Dentro do ônibus, reencontramos apenas meu marido. Perguntei-lhe porque o Leon não se encontrava no ônibus. Não sei como, mesmo no sonho, obtive resposta: o meu genro Leon havia recuperado a bicicleta e fora a uma outra direção.

Em meio à algazarra do reencontro, continuamos a viagem...

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: SUBINDO A SERRA ENCANTADA - 7

NEUZA MACHADO


SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: SUBINDO A SERRA ENCANTADA - 7

NEUZA MACHADO


Durante os anos de casamento, graças ao marido irrequieto, morei em vários lugares do bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Para ir-me a caminho ao centro da cidade (por motivos vários), de ônibus, táxi ou automóvel de passeio, sempre procurava usufruir as benesses do atalho da Avenida Menezes Cortes (a popular estrada da Serra Grajaú-Jacarepaguá, uma das pequenas montanhas que circundam a Cidade Maravilhosa).

Por motivo dessas “curtas viagens”, a serra do Grajaú já estava nitidamente decalcada em meus pensamentos. E não sem razão, muitos mágicos sonhos, a partir dela, povoaram as minhas noites sobrenaturais.

Em um desses sonhos, logo no começo, o sopé da serra se sobressaiu, com as características já conhecidas. As tais características se evidenciavam sempre pelo lado do bairro da Freguesia de Jacarepaguá, pois ali se situava a minha residência daquele momento. E, para começar esta longa narrativa de um simples sonho com apoteose, o prédio em que eu morava, no dito sonho, estava fixado justamente no lugar onde se ergue a construção do Hospital Cardoso Fontes, na base da serra, pelo lado da Zona Oeste. Entretanto, não era propriamente o prédio do Hospital, mas o local de minha moradia sonambúlica (um pequeno edifício de três ou mais andares, nada parecido com a minha real residência daquele momento).

Para explicar o motivo da certeza dos andares, afirmo que, no início do sonho, eu estava atarefada na cozinha, preparando alimentos relacionados a uma atmosfera de festa, que eu e meu marido iríamos oferecer a algumas desconhecidas visitas. Da janela da sala (que se conjugava com a cozinha e a área de serviço, sem paredes intermediárias), eu os via a conversar no pátio em frente ao prédio.

Em um determinado momento do sonho, a cozinhar os deliciosos quitutes, precisei de temperos, mas não os tinha à mão. Imediatamente, aproximei-me do parapeito da janela da lavanderia caseira, contígua à cozinha (no segundo ou terceiro andar), e comprei os tais temperos.

Como comprei os tais temperos, se não saí da cozinha?

Explicação do insólito: A vizinha do andar de cima tinha uma mercearia em sua própria lavanderia-e-cozinha. Para solucionar o problema da imediata falta de temperos em meu espaço de sonho, criei uma solução engenhosa (uma pequena mercearia à minha disposição logo acima de minha cabeça), pois, bastou-me esticar um longo braço até à janela da vizinha (não me lembro se enviei o dinheiro da compra), para ela depositar em minha mão os necessários temperos.

Agora, a explicação da abertura-janela da improvisada mercearia: A janela-mercearia ficava (repetindo tautologicamente a informação) no andar de cima, à minha direita, em ângulo L ao contrário (ponto de vista oblíquo). Na verdade, não era uma janela, mas uma ampla abertura, sem esquadrias, sem batentes e folhas (um recorte quadrado na parede), semelhante às antigas aberturas de lavanderias de apartamentos, amplas e sem as folhas ou vidraças.

Depois da solução engenhosa, continuei a movimentar-me normalmente pelo interior da cozinha, mexendo nas panelas, etc. Lembro-me que, de vez em quando, procurava observar, pela janela da frente (possivelmente, uma sala de visitas), olhando para baixo, os meus convidados e meu marido, os quais estavam conversando no pátio do prédio.

Em um intervalo do sonho, olhei pela janela da sala (pelo o outro lado do largo cômodo, pois não havia paredes a separar os aposentos), observando a paisagem arborizada e o movimento dos carros de passeio e ônibus a subirem a sinuosa estrada.

(Somente para os leitores que não conhecem a dita Avenida Menezes Cortes, explico-lhes que esta é uma rodovia que vai a direção ao centro da cidade do Rio de Janeiro, cujo trajeto, íngreme e sinuoso, passa por uma minúscula Floresta, pelo lado de Jacarepaguá).

Entretanto, quero crer que o início do sonho não me satisfazia, porque o inicial ponto de vista do meu olhar esbarrava, à frente e pelo lado esquerdo, com a serra arborizada e, pelo lado direito de minha perspectiva, com a minúscula floresta, já em nível baixo, uma espécie de pequeno precipício.

Em um momento da sequência de imagens sem nexo, eu estava apreciando a paisagem, quase semelhante à da Serra do Grajaú, e, de repente, o sonho se transformou.

Olhando, ainda, pela janela da sala, os convivas e meu marido (que conversavam animadamente), retirei a minha perspectiva de cima para baixo e direcionei-a, em sentido horizontal, para o meu lado direito (o lado baixo da pequena floresta da dita serra). A mudança do panorama do sonho foi drástica. Ao invés do cenário já conhecido, visualizei, como se fosse ampla tela de cinema, uma espécie de outro lado, montanhoso (muito parecido aos altíssimos montes de Minas Gerais). O cenário, à moda mineira, do lado direito de minha perspectiva, unia-se insolitamente ao pátio do pequeno edifício, o palco telúrico de minha moradia de sonho (por meio do início de um estreito caminho campestre).

Da janela do segundo ou terceiro andar da residência do sonho, passei a apreciar o novo cenário. A partir de uma reorganização das imagens, a Serra do Grajaú com a sua movimentação citadina, já conhecida, desapareceu, para ceder o espaço a um ambiente campestre, montanhoso, próprio da região de Minas Gerais. Um caminho sinuoso e solitário se destacava e se afunilava, desde o pátio do prédio (onde ainda estavam os convidados e meu marido) até ao alto da montanha. A visão da encosta só apresentava uma vegetação rasteira, à semelhança de pastagens de animais. Não me lembro de ter visto árvores, por esta nova perspectiva. Na parte mais alta da montanha, pude perceber o contorno de uma distante casinha (à semelhança de representação de pequenina casa campestre em aquarela onírica).

Em um novo movimento do sonho (não me recordo dos detalhes), eu já estava iniciando a caminhada, morro acima. Ao virar-me rapidamente para trás, acenei um adeus para os convidados e o marido (que me olhavam espantados), e continuei a andar, subindo sempre a direção da distante casinha de pintura.

Ao longo do caminho tortuoso, fui enfrentando vários obstáculos (poças d’água, ribeirinhos sem pinguela, caminho obstruído por pedras caídas de um barranco, temporal, trechos inundados onde eu me debatia para sair, bifurcações e outros mais). Se me recordo bem, percebi um ou outro passante casual, em sentido contrário, mas, lembrando-me integralmente do sonho, o caminho estava praticamente deserto.

Depois de trancos e barrancos, cheguei ao topo do altíssimo morro, onde se encontrava a dita casinha. Pela verdade do sonho, já não era mais uma pequena casa, mas, sim, uma imensa residência campestre de um só pavimento, sobre uma pequena elevação de terra. Ao redor da casa, contornando-a, uma cerca baixa de tábuas lisas de madeira, em sentido horizontal, e em três camadas, presas em várias grossas estacas.

O novo cenário parecia-se com aqueles dos filmes de faroeste americano. Para completar a semelhança com a enxurrada de filmes de cowboys americanos, que dominavam os entretenimentos cinéfilos da juventude brasileira, da época, alguns rapazes estavam sentados a descansar em cima dos mourões da cerca (com roupas e chapéus de vaqueiro americano).

Procurando lembrar-me do sonho com exatidão, os vaqueiros não se surpreenderam com a minha presença. Todos me cumprimentaram ao modo da roça, com muito respeito. Eram jovens louros, tipicamente americanos. Um deles recebeu-me com gentileza, uma vez que’eu estava cansada da atribulada viagem, morro acima, e levou-me para o interior da moradia. Já no interior da casa, apresentou-me a uma senhora obesa, que parecia ser a dona do lugar, ou criada de confiança, para que me desse um temporário abrigo, e, a seguir, voltou para a companhia dos outros rapazes. A partir daí, não os vi mais. E o sonho se encaminhou para um outro rumo. Entretanto, as características da alta montanha continuaram as mesmas.

Continuando a falar dos acontecimentos que se sucederam no interior da casa, além da senhora obesa, duas adolescentes também apareceram na sala, onde inicialmente eu me encontrava a conversar com a anfitriã. Vale lembrar que as três mulheres estavam vestidas e penteadas à moda do Velho Oeste Americano, o que contrastava com a minha natural forma de vestir-me.

Da sala, eu observava o ambiente ao redor, e, dali, eu via a entrada principal, do lado de fora, uma espécie de passarela ladeada de pequenas árvores e flores e encimada por caramanchões em guirlandas floridas (os quais estavam ligados às árvores de lado a lado).

Em um movimentar de olhos, as jovenzinhas me levaram até a uma cozinha, de aparência antiquada, onde pude beber água e saborear algum quitute, pois ali se encontrava uma outra jovem a cozinhar. Não vi mais a senhora obesa, pois esta desapareceu misteriosamente para algum outro aposento da casa. A seguir, as duas jovens me levaram a um quarto, e me mostraram o quartinho-banheiro, para que eu pudesse tomar um banho e repor-me da caminhada.

Não me lembro dos detalhes da lavagem corporal. Entretanto, penso ter saído do local enrolada em uma toalha, pois não me recordo de ter-me visto nua nas sequências seguintes. As gentis mocinhas estavam me esperando no quarto com algumas roupas nas mãos, para eu as vestir. O vestido que me ofereceram assemelhava-se aos delas próprios: longo, rodado e cheio de enfeites. Presentearam-me com antiquadas sapatilhas, acompanhadas de longas meias de algodão, além de enfeites para os cabelos. Uma penteadeira estava ali, à minha disposição! E elas começaram a me pentear, executando um penteado também antiquado, com cachinhos e laços de fita colorida.

Já devidamente adaptada ao ambiente e já vestida à moda das mulheres cinematográficas do faroeste americano, as mesmas duas mocinhas me levaram de volta à sala e ficaram conversando comigo algum assunto de que não mais me lembro. Depois de algum tempo, elas me informaram que o meu marido estava a se aproximar, pois viera buscar-me para levar-me para a minha casa.

Olhei para fora, para o pequeno trajeto da entrada da casa, ladeado de flores e encimado por um caramanchão florido, e vi um homem muito branco e louro se aproximando. Era o tal marido anunciado pelas jovens! (E não era o meu verdadeiro marido, aquele do princípio do sonho).

O meu diferente marido se aproximou de mim, enlaçou-me, colocando o braço direito em meus ombros, e encaminhamo-nos para a saída da casa. Dirigimo-nos para a outra extremidade, por um grande corredor que atravessava toda a casa (de onde se divisava a porta de saída), um corredor que apareceu repentinamente, já no final do sonho.

Do dito corredor situado na parte interna da casa, não me lembro de tê-lo visto antes. E não me recordo se houve despedidas. Com a nova aparição, as anteriores personagens desapareceram. Saí abraçada ao meu marido muito louro e resplandecente, completamente feliz. O caminho em cima da montanha era reto e amplo, para frente!

Ao lado do meu marido misterioso, não desci a montanha pelo o outro lado! Não me lembro de caminho de descida! E não retornei ao início do sonho!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: A CASA ILUMINADA - 6

NEUZA MACHADO


SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: A CASA ILUMINADA - 6

NEUZA MACHADO


Em uma de minhas noites repletas de sonhos com circunstâncias diferenciadas, com muita dificuldade eu comecei a subir um caminho, estreito, ermo, a direção de uma altíssima serra, muito parecida com as inúmeras serras e montanhas que compõem a geografia do Estado de Minas Gerais, meu Estado natal (serras estas recortadas por uns poucos restritos caminhos, próprios para os trabalhadores do campo).

A direção do tal caminho, pela perspectiva de meu sonho, ao longo da subida, voltava-se para a minha direita. No entanto, apesar de ser ainda um dia claro, estava deserto. E, da mesma forma, nas encostas próprias para plantações diversificadas, não se percebia nenhuma movimentação laboriosa.

Já estava caminhando, serra acima, por um bom tempo, respirando com inquietação, quando ouvi estampidos de arma de fogo, e me vi obrigada a esconder-me atrás de uns arbustos (do lado direito da estrada, sempre pela minha perspectiva). Nesse ínterim, descendo a ladeira, em desabalada carreira, apareceu um homem, e, atrás dele, vinha um outro, em seu encalço, com um revólver na mão. Os dois – o perseguido e o perseguidor – não deram pela minha presença por entre os arbustos, e sumiram nos desvãos de meu sonho.

Depois da cena perigosa, retomei a minha caminhada e continuei, morro acima, o meu cansativo passeio. Nos incomuns entrementes do percurso, outros obstáculos surgiram, tais como alguns trechos problemáticos abarrotados de pedregulhos e lama. E a estreita trilha de meu sonho continuava despovoada.

Nesse meio tempo, consegui chegar à parte de cima da serra. Nesse trecho do trajeto de meu sonho (ainda à direita de meu ponto de observação), o tal caminho terminava em um outro, sobre a elevação montanhosa. Continuei tomando o rumo de minha direita e entrei no tal percurso, reto, um pouco mais largo do que o anterior, por cima do dito monte de base extensa. Dali, do alto, eu visualizava os dois lados. E a visão panorâmica era de uma beleza extraordinária, um cenário por demais colorido. Nesse espaço de tempo do sonho eu já caminhava descansada, sem os incômodos próprios dos tais entrementes do pesadelo inicial.

Depois de muito andar, eu percebi que o dia ensolarado já estava se aproximando do declínio, como se eu já estivesse a andar sem destino na parte da tarde. Senti-me momentaneamente agoniada, pois não enxergava por ali, para o meu conforto, nenhum abrigo disponível. No sonho, eu tinha pleno controle de minhas emoções, pois estava consciente de minha solidão, ali, naquela estrada de terra, ao entardecer, no alto de uma desconhecida montanha. E já estava também começando a sentir uma espécie de medo, pois me percebia ansiosa e expectante, como se algo extraordinário estivesse por suceder-se. O meu olhar percorria o cenário, buscando uma solução para o impasse de meu próprio sonho.

Foi então que uma grande casa (com a porta e as janelas abertas) apareceu, diante de mim, como que por encanto. O caminho do alto da montanha terminava nela. A casa estava espantosamente iluminada, por fora e por dentro. Ainda não era noite e a tal casa brilhava diante de meus olhos maravilhados. Corri em sua direção, para abrigar-me.

Não havia cercas ao redor da casa. A porta de entrada estava aberta e iluminada, assim como as janelas. Um pouco receosa, entrei no grande salão estranhamente vazio. Não havia móveis em seu interior (um único e imenso cômodo), mas, as inúmeras lâmpadas iluminavam-na de uma forma extraordinária. A incomum luminosidade abrangia todo o aposento, alcançando também o lado de fora, translucidamente. Dominada por uma atmosfera de deslumbramento, vi-me envolvida por aquela luz intensa.

Acordei, logo a seguir, com o impacto do climax do sonho. Não me lembro de ter saído daquela incrível casa, completamente transbordante
de luzes.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: A MONTANHA OCA, A LARGA RODOVIA E O MAGO-OURIVES - 5

NEUZA MACHADO



SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: A MONTANHA OCA, A LARGA RODOVIA E O MAGO-OURIVES - 5

NEUZA MACHADO

Eis o sonho:

Eu estava em uma casa, no campo, em visita à minha prima (Nelci), nos arredores da Cidade de Divino do Carangola, em Minas Gerais. Entretanto, a casa não era a mesma residência de minha prima (aquela que conheço). O lugar era diferente, mas, no sonho, a minha prima Nelci era a proprietária das terras e do casarão.

No auge do que me lembro, eu já estava de saída e me despedindo.

Pois foi a partir da despedida, com abraços e promessas de breve retorno, que descortinei o cenário do sonho. As terras e o casarão ficavam em um lugar plano (totalmente diferente do lugar verdadeiro e montanhoso em que a minha prima mora), mas (ainda no sonho), repleto de flores e arbustos muito verdes, onde se localizavam alguns animais.

Em algum flash do sonho, minha prima acompanhou-me até ao portãozinho, que ficava em frente à sua casa. O terreno, que comportava o casarão, era todo cercado por arame liso (uma cerca baixa), entrelaçado com vegetação florida. Em frente, existia um caminho estreito, de roça, rente a uma montanha (que ficava em frente à residência do sonho).

Explicando melhor, as terras campestres e o casarão do sonho se localizavam na base da montanha. Ao longe, em um plano superior, em ângulo para a minha direita, visualizei um trecho de uma grande rodovia de muito movimento, na parte de cima da dita montanha.

Muito ao longe (ainda, em ângulo para a minha direita), detectei um ônibus em movimento, vindo à minha direção. Eu o visualizava bem pequenininho, por causa da distância. Entretanto, muitos carros passavam em disparada, na rodovia, na parte superior da montanha.

Lembro-me de que, no sonho, falei para a minha prima: “Não conseguirei chegar até a estrada, para parar o ônibus. O caminho até ao alto é muito íngreme”. Mesmo falando, no sonho, eu via um caminho estreito, serpenteante, oblíquo, em direção à estrada. Foi aí que a minha prima respondeu-me: “Você não precisa ir por aquele caminho. Passe por dentro da montanha. Dentro dela existe uma saída que vai dar na estrada, aí em cima”.

Despedi-me às pressas de minha prima e entrei em um grande orifício da montanha (uma espécie de portal rudimentar), o qual ficava bem defronte ao portão de entrada do casarão, em busca do caminho até à estrada. E a minha surpresa, mesmo sonhando, foi imensurável!

Nessa etapa do sonho, vi-me dentro de uma extraordinária cavidade. A montanha era totalmente oca. E, ali, existia uma movimentação febril. Era como se fosse uma Grande Cidade, com pessoas andando de um lado para o outro. Alguns trabalhadores escavavam-na, dirigindo poderosas escavadeiras motorizadas. E usavam capacetes para protegerem as cabeças. E o lugar era mesmo uma montanha interiormente escavada, com reentrâncias nas paredes escarpadas, e muito pedregulho nas laterais. E aquela agitação toda não se harmonizava, em absoluto, com o início do sonho, vivenciado em um ambiente campestre.

Em meio ao burburinho, procurei sofregamente o caminho de saída para a estrada, pois, pela minha perspectiva sonambúlica, o ônibus almejado já estava próximo.

Foi então que avistei o tal caminho.

O caminho, dentro da montanha, se direcionava em sinuosidade até a uma pequena fenda, no alto, em ângulo para a minha esquerda. Pela base, começava largo e, ao longo das reentrâncias, se ia afunilando, até chegar à abertura, no ponto mais elevado. No reduzido orifício de saída se percebia uma difusa luminosidade, como se fossem raios de sol. Muitas pessoas - homens, mulheres, adolescentes e crianças - caminhavam, subindo em ziguezague, a direção da minúscula abertura. Ansiosa, entrei no cortejo. E, de repente, incomuns obstáculos começaram a se desenvolver.

Inicialmente, comecei a caminhar com tranquilidade, conversando animadamente com uma jovem e um menino de uns cinco anos, mais ou menos. Ao longo da caminhada, comecei a sentir cansaço, respirava com sofreguidão, pois a subida começava a se tornar difícil. Em um dado momento, o caminho desapareceu, pois, para retomá-lo, havia a necessidade de escalar uma pequena escarpa, evidentemente em aclive e verticalmente. Muitas pessoas, à minha frente, já estavam realizando a proeza, mas, quando chegou a minha vez, percebi que a jovem e o menino não estavam conseguindo escalar o atalho, repleto de pedregulhos e terra solta. Vi-me ajudando-os. Primeiramente, empurrei a jovem para o alto e, rapidamente, ela se pôs a caminhar, acompanhando os outros. Depois, fui ajudar o menino. Aí, tudo se complicou, porque ele pesava muito. Eu me sentia cansada, respirava com muita força e meus braços doíam, na ânsia de empurrá-lo para cima. Até que ele conseguiu e se foi, sumindo de minha visão.

Não sei como, milagrosamente, eu também consegui escalar o pequeno atalho. Fiz muito esforço (disso me lembro bem), pendurando-me nas fendas da parede de pedra, até alcançar a pequena trilha. E me vi caminhando, em meio a muitas pessoas, já descansada, em direção àquela luz do orifício afunilado, à saída da montanha, pelo alto, para a estrada de rodagem.

Quase na saída, no pedacinho iluminado pelo sol, percebi o chão de terra fina e fofa. Naquela macia camada de terra, alcancei vislumbrar pequeninas jóias de ouro - anéis, brincos, camafeus e, inclusive, pedrinhas brilhantes -, faiscando, graças à luz que entrava no orifício, mas, só eu as via, os outros caminheiros passavam com as cabeças erguidas, sem olhar para o chão. Entretanto, não toquei em nenhuma jóia, somente as admirava, enquanto caminhava. E nesse momento do sonho, já não conversava com os outros caminhantes.

Relembrando o sonho, depois desses anos todos, tenho a convicção de que me encontrei em apuros para sair da montanha. O orifício era muito estreito e tive de estirar-me ao chão, como uma lagarta, ansiosa por ver-me à luz do dia. O mais interessante é que os outros saíram normalmente, caminhando eretos, o que não foi o meu caso.

Mas, ao sair, deparei-me com uma estrada magnífica, ultramoderna, larga e movimentada. E vislumbrei, ainda longe, bem distante, o mencionado ônibus, o qual, certamente, me levaria a algum lugar.

Contudo, ao sair da montanha, vi um homem louro, cabelo meio comprido, a se parecer com um pajem antigo, sentado em um tamborete, cinzelando as tais jóias, que foram vistas anteriormente. Ele estava de costas para a tal saída da montanha e, logo que terminava uma peça, jogava-a na fenda, displicentemente. O ourives possuía uma aparência medieval e usava um macacão dessa época. Na verdade, hoje, posso afirmar que ele se parecia com o Mago do Tarô Tradicional. Em meu sonho, o ourives continuou com a cabeça inclinada para baixo, trabalhando diligentemente, e não me olhou, não se surpreendeu com a minha presença. Parecia não fazer parte daquele lugar.

Finalizando, o ônibus chegou em tempo, para que eu pudesse nele viajar. E eu entrei nele. E, com certeza, o sonho continuou, mas, não me recordo do que aconteceu depois.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: A VIAGEM - 4

NEUZA MACHADO


SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: A VIAGEM - 4

NEUZA MACHADO


Nessa época, eu já estava morando na Rua Garibaldi, na Tijuca. Ali, muitos sonhos interessantes povoaram as minhas noites, pois o prédio em que eu morava era muito silencioso. Aos poucos, pretendo relatá-los.

Em um deles, eu estava a sair de casa na parte da manhã. Ia ministrar duas provas em uma Universidade. No sonho, eu me vi saindo de meu apartamento.

Ainda o sonho: Cheguei a um local – desconhecido – para o trabalho regular e para ministrar as ditas provas. Movimentei-me na sala repleta de alunos (alunos desconhecidos) e distribuí as provas. Eles estavam comportados e compenetrados, elaborando as questões propostas.

No intervalo de uma prova para a outra, por algum motivo inexplicável, saí rapidamente, pretendendo voltar, logo a seguir, para aplicar a segunda prova.

Já na rua, comecei a caminhar a passos rápidos. Como estava com muita pressa, um jovem desconhecido motorista, com cabeleira louro-dourada, esvoaçante, que passava por ali em seu automóvel vermelho, com o teto de lona arriado, diminuiu a velocidade do veículo e se aproximou de mim, oferecendo-me um grande embrulho. Quando abri o embrulho, vi que eram passagens de metrô, acomodadas em tiras compridas, subdivididas, para serem destacadas, ou seja, tiras de passagens semelhantes a invólucros de band aid. Logo a seguir, o motorista louro, deu-me carona até ao Viaduto que fica antes da Praça Onze (o afamado Viaduto Paulo de Frontim do Rio de Janeiro). Em meu sonho dinâmico, o carro esporte vermelho, com a capota arriada, chamava a atenção dos passantes. Em um determinado momento, saí do automóvel brilhante, agradecendo a carona.

Ia atravessar a rua movimentada quando, na terceira passada, um grande caminhão de transportes bateu violentamente em mim. Levantei-me do chão e o caminhão desapareceu como em um passe de mágica. Uma vez que não havia sofrido nada, atravessei a rua e continuei, tranquilamente, o meu caminho, a direção do ponto de ônibus.

De repente, ao invés de estar no ponto de ônibus, vi-me em um quartinho apertado e um pouco comprido, onde algumas pessoas, em fila indiana, esperavam para comprar a passagem. Fiquei na fila unicamente para não perder a minha vez de entrar naquele lugar desconhecido, pois já possuía o ingresso (oferecido anteriormente pelo motorista louro).

Uma senhora negra era a primeira da fila e se encontrava rente a uma porta metálica. Eu era a sexta. Quando olhei à minha volta, o quartinho estava cheio de pessoas que esperavam entrar em algum lugar desconhecido.

Olhei para cima, obliquamente, e vi uma pequena janela no teto do quartinho, na qual um rosto de mulher me observava fixamente. Ao ser surpreendida por mim, fechou a abertura.

Nisto, ouvi o barulho de uma locomotiva e, imediatamente, a senhora negra tentou abrir a porta. Conseguiu abri-la e quase foi lançada em direção ao nada. Isto, porque o quartinho se movimentava (como se já fosse o próprio trem) e só por milagre ela conseguiu se segurar. Não havia plataforma, não havia trilhos, não havia estação, mas o quartinho passou a representar um vagão de trem. A senhora negra, retrocedendo, afastou-se um pouco e a porta fechou-se como se fosse encantada. Se antes não havia assentos no apertado recinto, esses apareceram milagrosamente. E o quartinho superlotado se transformou em um veículo de viagem. Vi-me sentada perto da janela, tranquila, apreciando o panorama cinematográfico que se apresentava diante de meus olhos (os assentos já ocupados e muitas pessoas de pé).

O quartinho corria velozmente, em aclive, sobre trilhos imaginários. Em meio à movimentação do sonho, visualizei cenários incríveis, parecidos com as terras de faroeste americano. A terra era vermelha e poeirenta, exatamente como aquelas apresentadas nos filmes americanos, e o quartinho corria velozmente, sempre em aclive.

Olhei novamente os passageiros e dei de cara com o rapaz louro, belíssimo, aquele que havia me dado o embrulho com os bilhetes e me oferecido carona em seu automóvel esporte vermelho-brilhante. Não sei explicar o motivo, mas ele também apareceu no interior do pequeno quarto em movimento, incluindo o seu incomum veículo vermelho.

Gritei para ele (o barulho do trem era insuportável) que eu não iria conseguir voltar a tempo para ministrar a segunda prova. Ele, aos gritos, respondeu-me que não me preocupasse, pois haveria tempo sobrando, que aproveitasse o máximo do duradouro passeio, pois era relaxante, e eu estava precisando de um longo período de entretenimento.

Não saí do quarto-vagão. Acordei, repleta de uma incomum felicidade.

O sonho permanece vívido em minha memória. O motivo? Antes que esquecesse de todos os detalhes, registrei-o em uma caderneta, imediatamente, ao acordar (antes mesmo do asseio matinal, para o café da manhã).

Sempre relembrando o sonho, tantos anos passados, percebo que, até hoje, a minha vida corre velozmente sobre trilhos imaginários, em meio a infindáveis sonhos de felicidade, e, sempre, procurando realizá-los. De vez em quando, presa às imposições vitais, detenho-me, para consertar alguns trilhos descarrilados.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: O APARTAMENTO-COBERTURA E O HOMEM-ÁGUIA - 3

NEUZA MACHADO


SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: O APARTAMENTO-COBERTURA E O HOMEM-ÁGUIA -3

NEUZA MACHADO


Nessa época, eu estava recém-separada, depois de um casamento de vinte e quatro anos e três filhos adultos. Por aquele tempo, eu trabalhava como professora (trabalho ainda). Com a separação, aluguei um apartamento em um prédio da Rua Benjamim Constant, no Bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Enquanto aquilo, eu procurava adaptar-me à minha nova realidade existencial. Por tais motivos, as minhas noites de sono não eram muito tranquilas, pois estranhos sonhos e sonolências mórbidas povoavam a minha mente.

Em uma daquelas noites, insólitas e inesquecíveis (vivenciando aqui neste blog um sonho por demais nítido), vi-me entrando em um elevador, retornando para a minha residência (a residência do sonho), que se localizava em uma ampla cobertura, no alto de um prédio de vinte e um andares. Lembro-me do número do andar da cobertura, pois o vi, nitidamente, quando saí do elevador para entrar no apartamento. Logo que abri a porta de entrada, caminhei por um amplo salão, com poucos móveis, pois o que se destacava era o assoalho castanho-dourado, brilhante, e as amplas janelas do grande iluminado salão.

De repente, olhei para trás e não vi mais a porta de entrada/saída. Eu estava presa naquele luxuoso ambiente sonambúlico. Mas, as largas janelas do apartamento de meu sonho estavam abertas, o dia estava claro em demasia, e existia uma porta que dava para um terraço imaginário (no sonho, eu não via o terraço, mas tinha consciência de que ele estava ali). Sentia-me angustiada naquele expectante ambiente.

Logo depois, uma águia imensa, preta, com olhos penetrantes, e com o bico atemorizador, começou a voar em volta das janelas panorâmicas, abertas, do apartamento-cobertura. Voava e me olhava. Dava voltas, voando em volta das inúmeras e largas janelas, e me olhava fixamente. O seu tamanho era assustador. Às vezes, a imensa ave planava, com as asas abertas, imóvel no ar, em minha direção e em sentido frontal, olhando-me sempre. Em contrapartida, eu também a olhava admirada e com preocupação. Interagindo com o sonho, eu sabia que ela estava ali por minha causa. Encostei-me em um canto do salão, esperando que ela entrasse por uma das amplas janelas ou pela porta do terraço, para agredir-me ou coisa pior.

Acuada e imobilizada, parada em um canto do salão, vi a grande águia entrando pela porta do terraço. O chão, brilhante, encerado, metálico-dourado, refletia a estranha criatura. Era uma ave alta e magra, com aspecto de homem e cabeça de águia. Lembrava uma figura medieval, com a cabeça coberta, com as penas como se fosse um capelinho preto confundindo-se com a cabeça de ave, e a longa túnica preta também se misturando com as penas pretas. Usava coturnos medievais, pretos, que se identificavam com os pés próprios de uma ave. As asas negras, caídas ao longo do corpo, como se fossem braços, se ajustavam a uma espécie de forma masculina. O homem-águia veio se aproximando de mim, lentamente. O medo que eu sentia desapareceu, como que por encanto. O grande homem-águia abriu as asas para abraçar-me. Senti-me leve e protegida, aninhada em seus braços. Não sei dizer se, no final, eram asas ou braços. Mas, a face era de águia, com bico, olhos, e todos os pormenores que representam essa misteriosa ave.

Não me lembro do final do sonho. Não me lembro de ter saído daquele reconfortante abraço. Não me lembro de ter saído daquele grande salão.

Ainda hoje, repensando o sonho, sinto-me protegida e reconfortada ao me recordar daquele intrigante abraço. Imagino que o meu Anjo Protetor possua a forma de um homem-águia (e, certamente!, não penso que seja um anjo maléfico).

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: OITO LUAS CHEIAS NO CÉU - 2

NEUZA MACHADO



SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: OITO LUAS CHEIAS NO CÉU - 2

NEUZA MACHADO


Era uma noite clara, iluminada por uma espetacular Lua Cheia. Eu era uma jovem, magrinha, com longos cabelos cacheados, que já chegavam à cintura (em realidade e no sonho). Eu usava, nessa época, os cabelos presos em um volumoso rabo-de-cavalo. Na testa, eu exibia uma graciosa franjinha. Usava vestidinho de florezinhas coloridas, rodado e vaporoso. E, naquela noite de sonho, vi-me passeando, sozinha, em uma larga estrada desconhecida. Eu andava e andava e andava, maravilhada com a paisagem prateada e com aquela atmosfera mágica.

No meu sonho juvenil, andei por um longo tempo. De repente, comecei a sentir frio e apreensão. A estrada se alargava, cada vez mais, e a noite, prateada pela Lua Cheia, que, do alto, no céu, me acompanhava ao longo do caminho (por cima de minha cabeça), começou a se tornar dourada, com um brilho intenso e assustador. Fiquei momentaneamente sem ação, com receio de continuar a minha caminhada noturna.

Quis descobrir o mistério. Continuei a caminhar em meio àquele brilho dourado. Enquanto andava, olhei novamente para o céu. Entrevi assombrada mais de uma Lua Cheia. Próximas à minha cabeça e um pouco mais à minha frente, oito Luas Cheias se destacavam, numa espécie de círculo brilhante, umas pouco distantes das outras, em movimento para frente. Continuei caminhando, contemplando o infinito, olhando as oito Luas Cheias que se movimentavam diante de meus olhos.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: A LONGA PONTE DE TRONCO DE ÁRVORE E O LARGO RIO INFINITO - 1

NEUZA MACHADO


SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: A LONGA PONTE DE TRONCO DE ÁRVORE E O LARGO RIO INFINITO - 1

NEUZA MACHADO


Na época do meu primeiro sonho (o que pretendo aqui relatar), eu já havia completado sete anos de vida no final do ano anterior. Minha família morava em uma casa de beira de estrada, no sopé da Serra dos Perons (uma montanha agrária que pertencia - ou pertence ainda - às inúmeras ramificações de um grande grupo familiar de origem italiana, cujo patriarca - penso eu - chamava-se Alexandre Peron). Era uma casinha de meeiro localizada no sítio do patrão de meu pai, o senhor Delilo Coutinho (irmão daquele famoso magnata do futebol brasileiro dos anos cinquenta e sessenta, o empresário Giulite Coutinho, anos depois presidente da CBF), casinha esta que se localizava na entrada/saída da cidade de Santa Luzia do Carangola de Minas Gerais, em direção à Estrada BR116 (onde atualmente existe um Anel Rodoviário, em bifurcação, pois, do lado esquerdo de quem vai para a BR116, a estrada se direciona a cidade de Divino, e, do lado direito, atravessando o rio Carangola, a mesma estrada vai a direção à Varginha e outras localidades adjacentes).

A mudança da casa velha (do Bairro de Santa Maria, onde eu nasci), uma casa antiga próxima ao grande Pontilhão de Ferro da Linha Ferroviária da Princesa Leopoldina, para aquela, a daquele momento, acontecera naqueles dias, imediatos ao dia do acontecimento desta minha narrativa. (O pontilhão, precioso, fabricado na Bélgica, e que se localiza, ainda hoje, nas imediações da já destacada casa velha, poderá ser apreciado em alguns Sites de Carangola). Assim, no meio dos entretantos do tal evento que desejo narrar, Mamãe diligenciava, muito ocupada com a arrumação de nossos poucos e usados móveis, em faina constante, muito trabalhadora e, por incrível que pareça, naquele dia, inigualável na cozinha (logo, a Mamãe!). Mamãe, naquele momento, encontrava-se atarefada com as panelas de ferro, pretas, sem polimento algum, e com o cozimento das refeições, e muito feliz na recente residência.

A bem da verdade, minha mãe não era lá muito fanática por arrumação de casa e, muito menos, com o brilho das panelas e horário de refeições. O fogão de lenha de nossa casa só fazia fumaça acionado por seu progredido estômago. O que eu quero dizer é que o horário das refeições, lá em casa, naquela época e em épocas posteriores, não acompanhava o tique-taque do relógio. Comíamos na hora em que Mamãe sentia fome.

Então! Então, naquele dia era um Domingo. Mamãe estava a receber a visita de sua irmã caçula, a Tia Fizica (que iria passar uns tempos em nossa casa). Mamãe matava algumas galinhas de nosso terreiro; retirava carne de porco das latas de gordura (carne temperada e cozida, mergulhada em banha de porco, para durar por algum tempo, pois, naquela época e nas pequenas Cidades, poucas famílias possuíam geladeira em casa); catava feijão para cozinhar em um grande panelão, cuja trempe se localizava em um fogareiro, do lado de fora da casa; e outras atividades mil. Por consequência, com tal azáfama, seu propósito era preparar um lauto jantar para nossa visita.

Mas, com todo esse movimento, o jantar estava demorando a ficar pronto. Por que? Porque as duas conversavam, e conversavam, e conversavam, e a esperada janta não saía de jeito nenhum. A janta, naquele tempo, era servida por volta das dezesseis horas, ou melhor, deveria ser servida nesse horário, mas nem sempre assim, se a cozinheira fosse semelhante à Mamãe. O almoço, como era o costume daquela época, nas cidadezinhas do interior de Minas Gerais, era servido às oito horas da manhã (isso, se a Mamãe acordasse antes das oito) e o café da tarde, geralmente, por volta de meio-dia, mais ou menos. A janta, por volta das quatro da tarde. Às vinte horas, pontualmente, era servida a ceia, enquanto ouvia-se a novela radiofônica (aquela que substituiu a incomparável novela de rádio O direito de nascer, adaptação em português de um dramalhão mexicano de uma famosa novelista chamada Glória Magadan). Pois dormíamos cedo, naquela época, só depois da novela do rádio.

(Esquecia-me de dizer que os adultos só tomavam café puro ao acordar, para iniciarem a lida. Somente as famílias muito ricas tinham o costume de um lauto café da manhã, com mesa posta e tudo. Evidentemente, não era assim em nossa casa).

Só que, em nossa casa, e por causa dos descontentamentos de Mamãe, a ceia das oito horas da noite coincidia, quase sempre, com o horário da janta. É bom recordar o fato de que o Papai saía cedo para o trabalho. O pobre tomava um cafezinho requentado, antes de sair de bicicleta em direção ao serviço, na cidade, como funcionário-guardião do Armazém de Cereais do Seu Delilo Coutinho.

Mas, naquele dia, era domingo. Eu e o Papai esperávamos pacientemente a janta, que estava custando a sair das pretas panelas de ferro não-polidas. Mamãe conversava e conversava com a tia Fizica (por nome Iolanda, na certidão de batismo).

E o caso estranho que quero relatar foi assim:

Devia ser umas cinco horas da tarde. Cansada de esperar pela janta (que estava custando a ser servida por Mamãe), recostei-me em um travesseiro de paina, na caminha de solteiro que ficava em um quarto-saleta próximo à cozinha. Papai já estava ressonando no quarto do casal, o quarto da frente. O dia estava meio frio. Agasalhei-me com uma cobertazinha fuleira (cobertura de pobre, também chamada de coberta-bicicleta, não sei por quê?), e envolvi-me em meus sonhos infantis, próprios de uma menina de sete anos. Não tardei a pegar no sono. E comecei a sonhar. E o sonho parecia real.

De verdade, extra-sonho, havia um largo terreirão em frente a tal casinha da estrada, aquela em que morávamos. Depois da estrada de rodagem (uma ramificação rudimentar da BR116-Estrada Rio-Bahia passando pela cidade de Carangola), do outro lado, havia uma espécie de declive acentuado, arborizado, e, lá embaixo, se localizava um grande casarão de fazenda, já muito velho e caindo os torrões das paredes e podres as tábuas do assoalho (nesse casarão velho, de propriedade do senhor Delilo Coutinho, moramos também, posteriormente; hoje, a Casa-Fazenda já não existe e ali se localiza o tal Anel Rodoviário, passando um viaduto por cima do rio, e, com isto, distribuindo a estrada em várias direções). O cenário, no qual eu costumava entreter-me com outras crianças (com brincadeiras-mil), naquele tempo e até hoje, estava sempre a oferecer, a olhos infantis privilegiados, muitas árvores frutíferas, e, para completar o panorama de pura maravilha, lá em baixo, próximo ao velho casarão, passava o rio Carangola. Ali, naquele lugar, passei maravilhosos momentos quando criança.

Mas, como eu estava contando, a janta estava demorando a sair do fogão para nossos estômagos famintos. E Mamãe conversava, conversava, conversava com a Tia Fizica, e mastigava, mastigava, mastigava, alguns pedaços de carne de porco e carne de frango e provas de comida, assim como também a Tia Fizica. E a Tia Fizica rememorizava todos os casos acontecidos na roça, contando todos os episódios tim-tim-por-tim-tim. O Papai dormia, com fome, coitado!, na cama grande do quarto da frente. E eu, Menininha Sonhadora!, cochilava com fome também no quartinho da sala.

De repente (eis aí o maravilhoso sonho de meus sete anos!), o rio Carangola já estava diante do grande terreiro de nossa casa, já não havia estrada de rodagem coisíssima nenhuma; em baixo, já não existia nenhuma casa-fazenda caindo aos pedaços, não senhor!, nem mesmo árvores frutíferas, nem nada. Somente um largo rio (que já não era o rio Carangola), parecendo um imenso braço de mar de tão grande, separando a nossa casinha sem magnificência da visão magnificente de uma brilhante Cidade, que ficava lá, longe, diluída na paisagem e nos reflexos do grande rio, extenso... extenso... extenso...

No meu sonho infantil, olhei maravilhada a aparição, e, imediatamente, surgiu ante os meus olhos espantados uma longa e grossa tora de madeira, presa nas duas margens como se fosse uma longa longa longa ponte, unindo a minha casinha de roça à Grande Cidade, que se avistava ao longe.

Pela minha perspectiva inocente, a Cidade longínqua era grandiosa. Vi casas e ricos sobrados, maravilhosamente iluminados. E era dia! O sol os iluminava. E eu quis atravessar a ponte de tora de madeira e ir para o outro lado. E eu era uma menina de sete anos, bem caipirinha, bem roceirinha, bem o adjetivo inferiorizado que você quiser (não s’esqueça; eu não conhecia nenhuma grande Cidade).

Comecei a caminhar, procurando equilibrar-me em cima da tora que ficava sobre o imensurável rio de meu sonho infantil. Caminhei até à metade.

No meio do rio, depois de ter caminhado por um longo tempo, sempre me equilibrando, comecei a sentir frio e medo. Minhas pernas infantis já não colaboravam com a minha ânsia de atravessar o rio e ir para o outro lado, onde se localizava o estupendo cenário. As pernas falharam, eu escorreguei no liso da tora, e me vi sentada, com as pernas abertas sobre a tora de madeira, com muito medo de cair naquelas águas claras e tranquilas. O rio era um espelho tranquilo. Não me lembro de águas revoltas. Sentada (montada, com as pernas abertas ─ em forma de ípsilon de cabeça para baixo ─ sobre a tora de madeira), eu procurava movimentar-me, por certo sentada, dando impulso, elevando o corpo, sempre para frente. Quase chegando ao outro lado, vi-me em apuros, prestes a cair naquelas águas espelhadas e profundas. Em desequilíbrio, eu murmurava: ui!, ui!, ui!, olhando sempre em direção à Grande Cidade.

Não cai. E não voltei para trás no sonho, pois acordei.

Acordei com a Mamãe me perguntando: “O que ocê tá sentindo, Neuza? Por que ocê tá gemendo ui!, ui!, ui!?”. “Não estou sentindo nada não, Mamãe! Estava sonhando um sonho bão demais da conta! A senhora me acordou, antes d’eu chegar à cidade!... Já tem janta, Mamãe?”. E Mamãe a rir às bandeiras despregadas: “Que janta o quê, Neuza? Já é de manhã. Ocê dormiu sem janta. Um sono só, desde quatro da tarde de ontem. Não quis acordar ocê não. Ocê vai mais é tomar café, menina!, e ir logo p’ru Grupo Escolar, porque hoje já é segunda-feira!

Anos depois, já estávamos morando na Grande Cidade do Rio de Janeiro.

Em 1991, atravessei o Oceano Atlântico, sobre uma ponte de tora de madeira incrivelmente imaginária, pois olhava aquele marzão infinito da janelinha do avião. Viajava feliz, para conhecer algumas Cidades da Europa.

Em dezembro de 1995 e todo o ano de 1996, morei em Manaus, tendo por visão, o grande imenso e caudaloso rio Amazonas, visualizado em sonho aos sete anos de idade. Exatamente igual.

Em 1997, já de volta ao Rio de Janeiro, eu atravessava, todas as quartas-feiras, a Ponte Rio-Niterói, para trabalhar em São Gonçalo, como professora universitária. Nas idas e vindas, eu revivia o meu sonho dos sete anos. Tanto do lado do Rio de Janeiro, quanto do lado de Niterói, a minha perspectiva era sempre a mesma: uma longa ponte, um imenso rio-mar, e, bem próximas, duas magnificentes Cidades. Tudo exatamente igual.

Até hoje, as Grandes Cidades, as Longas Viagens e as Intermináveis Aventuras continuam em meus Sonhos de todas as noites. Os Caminhos da Roça, também. Graças a Deus! Felizmente, não perdi contato com as minhas raízes! Continuo direcionando os meus sonhos noturnos (manipulando-os), sempre para frente, até o final de meus dias, com o meu pezinho infantil ainda bem plantado em minhas emoções primordiais. Sem medo de ser feliz! Graças a Deus! Subidas íngremes (fáceis ou difíceis); tapetes brilhantes sendo puxados violentamente e maldosamente sob os meus pés com asinhas douradas; intermináveis elevadores, panorâmicos; longas estradas (de carro, ônibus, a pé, etc.); escadas infindas (sempre para cima, sim, senhor!; às vezes com dificuldade, outras vezes, com muita facilidade). Sonhos grandiosos! Sim senhor! Realidade comum! Muito trabalho! Pouco dinheiro! Sim senhor! Muita alegria! Tristeza, nunca!, de jeito nenhum! (vou driblando-as pela vida afora). Vida saudável e cabeça tranquila! Muita riqueza interior, sim senhor! Obrigada, meu Deus! Amém!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

PASSAGES DE PARIS 6 - O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE

NEUZA MACHADO




Um excerto de meu ensaio analítico-interpretativo O Fogo da Labareda da Serpente – sobre a obra de Rogel Samuel O Amante das Amazonas – foi publicado na Revista PASSAGES DE PARIS 6.

Para a leitura do excerto da Revista Francesa, clique em
apebfr.org/passagesdeparis/editione2011/articles/pdf/PP6_revision1.pdf

Para a leitura do livro O Amante das Amazonas de Rogel Samuel, clique em historiadosamantes.blogspot.com/2009/04/o-amante-das-amazonas.html

Para a leitura do livro O Fogo da Labareda da Serpente, clique em ofogodalabareda.blogspot.com/

ou literaturarogelsamuel.blogspot.com/