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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: O APARTAMENTO-COBERTURA E O HOMEM-ÁGUIA - 3

NEUZA MACHADO


SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: O APARTAMENTO-COBERTURA E O HOMEM-ÁGUIA -3

NEUZA MACHADO


Nessa época, eu estava recém-separada, depois de um casamento de vinte e quatro anos e três filhos adultos. Por aquele tempo, eu trabalhava como professora (trabalho ainda). Com a separação, aluguei um apartamento em um prédio da Rua Benjamim Constant, no Bairro da Glória, no Rio de Janeiro. Enquanto aquilo, eu procurava adaptar-me à minha nova realidade existencial. Por tais motivos, as minhas noites de sono não eram muito tranquilas, pois estranhos sonhos e sonolências mórbidas povoavam a minha mente.

Em uma daquelas noites, insólitas e inesquecíveis (vivenciando aqui neste blog um sonho por demais nítido), vi-me entrando em um elevador, retornando para a minha residência (a residência do sonho), que se localizava em uma ampla cobertura, no alto de um prédio de vinte e um andares. Lembro-me do número do andar da cobertura, pois o vi, nitidamente, quando saí do elevador para entrar no apartamento. Logo que abri a porta de entrada, caminhei por um amplo salão, com poucos móveis, pois o que se destacava era o assoalho castanho-dourado, brilhante, e as amplas janelas do grande iluminado salão.

De repente, olhei para trás e não vi mais a porta de entrada/saída. Eu estava presa naquele luxuoso ambiente sonambúlico. Mas, as largas janelas do apartamento de meu sonho estavam abertas, o dia estava claro em demasia, e existia uma porta que dava para um terraço imaginário (no sonho, eu não via o terraço, mas tinha consciência de que ele estava ali). Sentia-me angustiada naquele expectante ambiente.

Logo depois, uma águia imensa, preta, com olhos penetrantes, e com o bico atemorizador, começou a voar em volta das janelas panorâmicas, abertas, do apartamento-cobertura. Voava e me olhava. Dava voltas, voando em volta das inúmeras e largas janelas, e me olhava fixamente. O seu tamanho era assustador. Às vezes, a imensa ave planava, com as asas abertas, imóvel no ar, em minha direção e em sentido frontal, olhando-me sempre. Em contrapartida, eu também a olhava admirada e com preocupação. Interagindo com o sonho, eu sabia que ela estava ali por minha causa. Encostei-me em um canto do salão, esperando que ela entrasse por uma das amplas janelas ou pela porta do terraço, para agredir-me ou coisa pior.

Acuada e imobilizada, parada em um canto do salão, vi a grande águia entrando pela porta do terraço. O chão, brilhante, encerado, metálico-dourado, refletia a estranha criatura. Era uma ave alta e magra, com aspecto de homem e cabeça de águia. Lembrava uma figura medieval, com a cabeça coberta, com as penas como se fosse um capelinho preto confundindo-se com a cabeça de ave, e a longa túnica preta também se misturando com as penas pretas. Usava coturnos medievais, pretos, que se identificavam com os pés próprios de uma ave. As asas negras, caídas ao longo do corpo, como se fossem braços, se ajustavam a uma espécie de forma masculina. O homem-águia veio se aproximando de mim, lentamente. O medo que eu sentia desapareceu, como que por encanto. O grande homem-águia abriu as asas para abraçar-me. Senti-me leve e protegida, aninhada em seus braços. Não sei dizer se, no final, eram asas ou braços. Mas, a face era de águia, com bico, olhos, e todos os pormenores que representam essa misteriosa ave.

Não me lembro do final do sonho. Não me lembro de ter saído daquele reconfortante abraço. Não me lembro de ter saído daquele grande salão.

Ainda hoje, repensando o sonho, sinto-me protegida e reconfortada ao me recordar daquele intrigante abraço. Imagino que o meu Anjo Protetor possua a forma de um homem-águia (e, certamente!, não penso que seja um anjo maléfico).

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