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sábado, 25 de fevereiro de 2012

SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: A VIAGEM - 4

NEUZA MACHADO


SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: A VIAGEM - 4

NEUZA MACHADO


Nessa época, eu já estava morando na Rua Garibaldi, na Tijuca. Ali, muitos sonhos interessantes povoaram as minhas noites, pois o prédio em que eu morava era muito silencioso. Aos poucos, pretendo relatá-los.

Em um deles, eu estava a sair de casa na parte da manhã. Ia ministrar duas provas em uma Universidade. No sonho, eu me vi saindo de meu apartamento.

Ainda o sonho: Cheguei a um local – desconhecido – para o trabalho regular e para ministrar as ditas provas. Movimentei-me na sala repleta de alunos (alunos desconhecidos) e distribuí as provas. Eles estavam comportados e compenetrados, elaborando as questões propostas.

No intervalo de uma prova para a outra, por algum motivo inexplicável, saí rapidamente, pretendendo voltar, logo a seguir, para aplicar a segunda prova.

Já na rua, comecei a caminhar a passos rápidos. Como estava com muita pressa, um jovem desconhecido motorista, com cabeleira louro-dourada, esvoaçante, que passava por ali em seu automóvel vermelho, com o teto de lona arriado, diminuiu a velocidade do veículo e se aproximou de mim, oferecendo-me um grande embrulho. Quando abri o embrulho, vi que eram passagens de metrô, acomodadas em tiras compridas, subdivididas, para serem destacadas, ou seja, tiras de passagens semelhantes a invólucros de band aid. Logo a seguir, o motorista louro, deu-me carona até ao Viaduto que fica antes da Praça Onze (o afamado Viaduto Paulo de Frontim do Rio de Janeiro). Em meu sonho dinâmico, o carro esporte vermelho, com a capota arriada, chamava a atenção dos passantes. Em um determinado momento, saí do automóvel brilhante, agradecendo a carona.

Ia atravessar a rua movimentada quando, na terceira passada, um grande caminhão de transportes bateu violentamente em mim. Levantei-me do chão e o caminhão desapareceu como em um passe de mágica. Uma vez que não havia sofrido nada, atravessei a rua e continuei, tranquilamente, o meu caminho, a direção do ponto de ônibus.

De repente, ao invés de estar no ponto de ônibus, vi-me em um quartinho apertado e um pouco comprido, onde algumas pessoas, em fila indiana, esperavam para comprar a passagem. Fiquei na fila unicamente para não perder a minha vez de entrar naquele lugar desconhecido, pois já possuía o ingresso (oferecido anteriormente pelo motorista louro).

Uma senhora negra era a primeira da fila e se encontrava rente a uma porta metálica. Eu era a sexta. Quando olhei à minha volta, o quartinho estava cheio de pessoas que esperavam entrar em algum lugar desconhecido.

Olhei para cima, obliquamente, e vi uma pequena janela no teto do quartinho, na qual um rosto de mulher me observava fixamente. Ao ser surpreendida por mim, fechou a abertura.

Nisto, ouvi o barulho de uma locomotiva e, imediatamente, a senhora negra tentou abrir a porta. Conseguiu abri-la e quase foi lançada em direção ao nada. Isto, porque o quartinho se movimentava (como se já fosse o próprio trem) e só por milagre ela conseguiu se segurar. Não havia plataforma, não havia trilhos, não havia estação, mas o quartinho passou a representar um vagão de trem. A senhora negra, retrocedendo, afastou-se um pouco e a porta fechou-se como se fosse encantada. Se antes não havia assentos no apertado recinto, esses apareceram milagrosamente. E o quartinho superlotado se transformou em um veículo de viagem. Vi-me sentada perto da janela, tranquila, apreciando o panorama cinematográfico que se apresentava diante de meus olhos (os assentos já ocupados e muitas pessoas de pé).

O quartinho corria velozmente, em aclive, sobre trilhos imaginários. Em meio à movimentação do sonho, visualizei cenários incríveis, parecidos com as terras de faroeste americano. A terra era vermelha e poeirenta, exatamente como aquelas apresentadas nos filmes americanos, e o quartinho corria velozmente, sempre em aclive.

Olhei novamente os passageiros e dei de cara com o rapaz louro, belíssimo, aquele que havia me dado o embrulho com os bilhetes e me oferecido carona em seu automóvel esporte vermelho-brilhante. Não sei explicar o motivo, mas ele também apareceu no interior do pequeno quarto em movimento, incluindo o seu incomum veículo vermelho.

Gritei para ele (o barulho do trem era insuportável) que eu não iria conseguir voltar a tempo para ministrar a segunda prova. Ele, aos gritos, respondeu-me que não me preocupasse, pois haveria tempo sobrando, que aproveitasse o máximo do duradouro passeio, pois era relaxante, e eu estava precisando de um longo período de entretenimento.

Não saí do quarto-vagão. Acordei, repleta de uma incomum felicidade.

O sonho permanece vívido em minha memória. O motivo? Antes que esquecesse de todos os detalhes, registrei-o em uma caderneta, imediatamente, ao acordar (antes mesmo do asseio matinal, para o café da manhã).

Sempre relembrando o sonho, tantos anos passados, percebo que, até hoje, a minha vida corre velozmente sobre trilhos imaginários, em meio a infindáveis sonhos de felicidade, e, sempre, procurando realizá-los. De vez em quando, presa às imposições vitais, detenho-me, para consertar alguns trilhos descarrilados.

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