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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - X

NEUZA MACHADO


ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



DÉCIMO CANTO



mas, como eu ia contando, viajando sonhando de ônibus transestadual, transcendental, voltando de Porto Alegre, numa outra passada viagem incrivelmente memorável, grandiosa, espaçosa; um bello sonho fenomenal!, talvez, em janeiro de 1984, recordo aquele interessante deiforme gaúcho do Olimpo de Porto Alegre, cantando e tocando violão, enviando-me olhares dengosos, e eu, Circe Gordinha Odisséia dos Pobres, sentindo-me rainha aos trinta e sete anos, apesar dos muitos quilinhos a mais, e o gauchinho, tão jovem, Telêmaco Brasileiro dos Pampas do Rio Grande do Sul Mitológico, me olhando, mirando-me, esquecido das outras beldades passageiras, digo, das outras personagens beldades passageiras do Ônibus Interestadual Ficcional Transcendental Monumental Sem-Igual, pobrezinhas, não entendiam nada, não entendiam o interesse do deiforme gauchinho por uma gata-balzáquea gordinha e ronronante, não entendiam nada, coitadas!, o jogo da sedução independe de registro de idade, independe de peso; e o ônibus vai rodando em direção ao infinito de meus sonhos tão lindos, as paradas para o lanche, os olhares dele langorosos, o beija-mão, as promessas de reencontro em um lugar qualquer do Futuro Sonhado, reencontro jamais realizado, e o gauchinho flutuando iluminado no distante passado, nesse passado inventado; neste 04 de janeiro de 1999, atual, Mercúrio está favorável no Céu Astral, e Odisséia Maria poderá viajar tranqüilamente por meio de suas recordações inventadas e reencontrar o gauchinho longínquo, locutor de uma Rádio Gaúcha; se você pesquisar com atenção estas palavras aladas, Mercúrio Veloz continua em Sagitário, daqui a quatro dias estará devagar em Capricórnio, a cercear as minhas palavras sonhadas; por isto, hoje, eu estou tão falante, e Saturno está em Áries Rompante, novamente direto, graças a Zeus; e é bom que Saturno esteja favorável, o velho deus irascível e cerceador, pois Áries é a minha Casa Cinco do Amor no Horóscopo Solar Viajor, e o danadinho vai cortar o meu barato, meu doutor!, não vai permitir qu’eu viaje por aí procurando o tal Novo Amor, eu Circe Irinéia da Grandiosa e Homérica Pá Virada correndo atrás de Ulisses Peralta da Selva Mineira; mas os astros vão me proteger da sisudez de Saturno, já me garantiram, e poderei conhecer alguém especial ao longo de 1999; Plutão Especulador Curioso está em Sagitário, direcionando-me para novas e maravilhosas aventuras interditas, deixando minhas fantasias soltas no ar; então, descubro agora, quem comanda esta minha estranhíssima viagem é Plutão em Sagitário, o Plutão da Astrologia do Século XX é diferente do Plutão da Mitologia Romana, não tem nada a ver com a Mitologia do Ontem, o Plutão de hoje é ficcional, de mentirinha, é meio estranho, mas é bonzinho, não faz mal a ninguém, prejudica somente aos fanáticos por horóscopo; horóscopo não é para ser levado a sério; cuidado para não escrever errado, professora!, não escreva “à sério”, per amor do Senhor!; mas, o que seria de mim, sem essas gotas de ilusão?, que seria de mim?; vivo um momento caótico na História da Humanidade Sem Rumo; ainda bem!, Plutão vai neutralizar a sisudez de Saturno, terei uns 13 annos de muitas transformações pela frente; então, quem comanda mesmo esta minha viagem submersa em uma realidade caótica é Mercúrio Veloz em Capricórnio, recebendo auxílio indireto da presença camuflada de Plutão em Sagitário, com a ajuda também de Urano Pluri-Excêntrico em Aquário, momentaneamente propenso à confraternização; penso, penso e repenso, por baixo dos panos, Plutão Mimético em Sagitário está fazendo das suas, armando alguma coisa em meu benefício; só poderá ser em meu benefício!, planeando harmonizar as forças contrárias; sou sagitariana, não admito copas de fel nesta minha passageira vida real; colocando-se quomodo ponto de partida e encontro para uma nova empreitada em minhas viagens homéricas; e que viagem longa farei, por Zeus!, Plutão está começando o seu percurso em Sagitário, e isto, segundo os Magníficos Videntes Astrólogos do Brasil Varonil, vai durar mais uns treze annos, mais ou menos, não sei bem!; graças a Plutão Assanhadíssimo em Sagitário, a minha criatividade estará a mil por hora, e a minha viagem também, os oragos não se enganam jamais, os exotéricos esotéricos assim pensam; e não apenas Plutão estará me protegendo, ainda bem!, ele não estará em Casas que me prejudicam, ainda bem!, passei por poucas e boas quando ele ocupou Escorpião, seu domicílio astrológico atual; saibais Vossa Mercê, Plutão desalojou Marte neste Século XX, Marte era o patrono de Escorpião Tão Pensante e também de Áries Rompante, tinha duas bellas casas na Roda Astrológica da Grande Fortuna, Plutão apareceu de repente, foi descoberto em 1930 e zás!, apoderou-se de uma das casas de Marte Marciano Praláde Machão, atitude tão natural no Século XX; apesar dos pesados pesares, ainda bem!, ele estará me protegendo nos annos vindouros, ocupando Sagitário por uns 13 annos, ainda bem!; passei por poucas e boas enquanto ele esteve em Escorpião; foram 13 annos de mudanças radicais em my life; agora, em Sagitário, tudo está chuchu beleza e tomate maravilha, mais de 13 annos de pura felicidade pela frente; e não poderia faltar Júpiter Amigo Fiel iniciando o anno de 1999 em Peixes, enchendo de alegrias o meu setor familiar, no dia 13 de fevereiro, na parte da noite, daqui a um mês e dez dias, estará começando a brilhar em Áries a 0° 0’ (zero grau e zero minuto), derrubando assim as influências pesadas de Saturno Severo; graças à minha boa estrela sagitariana, graças a Júpiter Amigável em Áries, viverei em total entrosamento com os meus semelhantes, distribuirei per onde eu passar a minha alegria contagiante de sagitariana feliz e atuante, e poderei me comunicar, falar e cantar, e desenvolver estas minhas fantasias heróicas; para completar tudo isto, neste 04 de janeiro de 1999, Vênus Madrinha de Amores Impossíveis inicia novo trajeto em Aquário Aguadeiro, indicando-me que encontrarei um amor futurista; a Vênus Astrológica em Escorpião nunca me decepcionou!, a Vênus Madrinha!; o amor futurista será, talvez, um visionário, um desses videntes que enxergam o futuro longínquo; o meu presente, agora, é atravessar novamente a Incrível Ponte Rio-Niterói Inspiradora de Fantasias Senis, em direção a São Gonçalo das Causas Perdidas e ao infinito dos meus sonhos mais caros, num dia pra lá de tumultuado, enfrentando a possibilidade de um novo temporal apocalíptico; o ônibus vai devagar e cauteloso, o motorista titânico dirige cautelosamente, atravessa a Ponte do Destino Brasileiro com muito cuidado, o perigo ronda à nossa volta, relâmpagos riscam a escuridão da tarde, trovões ribombam pelo ar, e lá vai o ônibus RJ 117 046, Vila Isabel–São Gonçalo, devagarzinho, atravessando a Imensa e Inacreditável Ponte, uma das Grandes Maravilhas do Mundo Rotundo, uma Ponte Colossal Sensacional ligando duas Grandes Cidades do Brasil Varonil Sem-Igual, as Sete Maravilhas do Mundo Antigo se curvam ante as Maravilhas do Século XX; deixem-me cantar do meu jeito, não do jeito que a Antiga Musa Grega e Romana e Portuguesa canta, para valorizar o meu Brasil Brasileiro e o meu Incomparável Mulato Inzoneiro, amigo do meu amigo Barroso; o pobre muito trabalhou na construção da Ponte de Alguns Operários Desaparecidos no Mar de Escolhos e Para Sempre Olvidados, e ainda trabalha nas construções dos altíssimos edifícios de nosso País Varonil, sujeito também, quem sabe?, a um fim semelhante; mas, como eu ia dizendo, atravesso a Inarrável Ponte Sem-Fim em meio a relâmpagos e trovões aterradores, a tarde perdeu o brilho do Sol de Apolo Cantor, meu Deus!, está escura feito breu, Seu Alceu!; e lá vai o ônibus Vila Isabel-São Gonçalo, não verei hoje o másculo Almirante Guillén rebrilhando na Baía de Guanabara, não verei o Itapeba Um, nem mesmo o Segundo, dois jovens mancebos dos mares do Atlântico Norte; por sorte, o temporal não aconteceu, a viagem corre tranqüila na Ponte da Esperança Sobre o Mar Brasileiro dos Escolhos Cinzentos, o sol ilumina timidamente a Ponte Suspensa dos Sonhos Sem-Fim da Baía de Lethes dos Fluminenses Espectantes, não confundir com os expectantes homens parados que abundam no Mundo; já vejo os navios do outro lado da Ponte dos Amantes Eternais, que maravilha!, estou a ver o Almirante Guillén, com sua barba quadrada e fumando o cachimbo da paz; quem foi o Almirante Guillén?, seu Taussend?, o Real Almirante das Pelejas Antigas e Suas Aventuras Marítimas; vejo a fachada da Unimed do Bairro de Neves das Eternas Promessas Políticas, o mundo de hoje é o mundo das siglas, o homem de hoje se embaralha nas siglas, eu mesma convivo com uma, é a PVC correndo atrás de mim, ela quer me pegar para não mais me largar, mas eu não deixarei a porra da velhice chegar, se isto acontecer, dela me pegar, não vai me derrubar facilmente, lutarei com unhas e dentes, só baixarei a guarda no momento final, quando não puder lutar violentamente com vigor e furor; mas, como eu ia dizendo, vejo, enfim, o Canhão de Guerra do Paraíso de São Gonçalo, há um canhão de guerra na Praça do Paraíso; é hora de descer do ônibus, ou, é hora de saltar do ônibus, ou, é hora de “soltar” do ônibus, “soltar do ônibus” já se tornou uma expressão popular, mas o povo sempre tem razão, meu Irmão, digo, deveria sempre ter razão, nesse caso, o povo está com a razão, o ônibus é uma gaiola esquentada andando sobre rodas, as andas redondas poderosas do divino Pessoa, e os passageiros todos se “soltam” quando saem dele; enfim, cheguei ao meu ponto de ônibus, vou descer do ônibus, vou caminhar um pouquinho, um pouquinho de nada, vou subir triunfalmente as escadarias infinitas do Templo do Glorioso Saber, assinarei o ponto, este ponto é diferente do ponto de ônibus, assinar o ponto indica que não faltei ao trabalho; assinarei o ponto, farei xixi, pois estou apertada, digo, estou com vontade de urinar; lavarei as mãos; também sou humana e faço xixi e defeco e cuspo e arroto e solto gases quomodo qualquer ser humano, Odisséia Maria é pura invenção; agora, já me aliviei!, lavarei as mãos, lavar as mãos é um hábito saudável; vou lanchar um sanduíche de frango com pão dietético, pão diet repleto de farelo de trigo, mais farelo do que trigo; vivo fazendo regime e não emagreço, não, fazer regime é a minha obsessão, é a obsessão de todas as mulheres e homens também, nesses Últimos Annos do Século XX, os padrões de beleza do mundo atual impõem seus ditames, é preciso ser magro neste final de milênio, é preciso ser esbelto, senão, se não, senão a sociedade o rejeitará; ai! de você, professora!, se escrever errado os fatos e feitos circunscritos no mundo profundo; por causa disso, lamento não ter nascido no Século XVI, teria grafado no pergaminho do ontem, à moda dos índios do Brasil Varonil, a maior epopéia já escrita em língua Tupi-Guarani, teria sido bem melhor ter vivido na época das rechonchudas e sensuais mulheres índias de então; se isto tivesse acontecido realmente, eu não estaria aqui, hoje, escrevendo esta viagem inventada; me conformo com os quilos a mais, sou gorda, mas posso emagrecer e me tornar uma anosa bonita; mas quomodo eu ia dizendo, depois do sanduíche de frango feito com pão integral e um guaraná daite ou diet da Antárctica Gelada do Pólo Sul, diet é uma palavra americana, inglês americano, quero dizer, para o entendimento de meu leitor do século vindouro e dos séculos seguintes, e quer dizer dietético na Língua Brasileira copiada dos portugueses; mas, como eu ia dizendo, depois do guaraná diet, irei cumprir a minha obrigação de sofressora, perdão!, de professora, senão, senão, não terei quomodo pagar as contas do mês, meu Irmão,


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - IX

NEUZA MACHADO



ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



NONO CANTO


mas, como eu ia contando, graças ao século XVI, a desarmonia passou a reinar no Mundo Rotundo; o Progresso só trouxe problemas reais; o planeta se abarrotou desde então de seres humanos robotizados demais; nesses anos finais de século XX, mais de dez milhões de pessoas só em São Paulo, a Macro-Polis do Mundo Sem-Rumo, em 25 de janeiro de 1998, em seus quatrocentos anos de vida; entretanto, eu, Calíope Justine Robotizada das Asas Quebradas Mas Querendo Voar, não saberia viver sem as coisas boas inventadas na Era Moderna, sem a Imprensa Global a noticiar os desacertos existenciais e a bagunçada política geral atual neste século final, sem a luz elétrica, o telefone celular, a televisão, o satélite americano, pré-anunciador terrificante de chuvas e lamas e vendavais, vão arrasando o Mundo os tais; eu, Odisséia Maria Guerreira do Tecido de Seda Rasgado, não saberia viver sem a geladeira, sem o fogão de gás, sem a Internet Americana das Emoções Virtuais a levar-me a todos os recantos do Mundo Sem Fundo dos Amores da Tela, bastando apenas apertar umas teclazinhas miudinhas, uns pequeninos botõezinhos, e as notícias aparecem na Tela Fantástica, notícias dos meus amigos de Portugal e et cœtera e tal, no mesmíssimo minuto, e é quomo se estivesse conversando tête-à-tête com eles; infelizmente, este método do progresso sem paz não me satisfaz, falta alguma coisa, falta o contato emocional e brigão da Era de Peixes Chorão; já estávamos habituados a um passado de Lutas Guerreiras; Acontecimentos Imprevisíveis marcaram o século da Ágora Central Barulhenta, propiciando o desejo de retorno tranqüilo ao Primitivo Isolamento; infelizmente é esta a herança do século XX para você, meu Netinho do Mundo Virtual de Amanhã!; é esta a nossa herança, total individualidade e solidão, no nosso mundo atual não existe afeto, não; só os pais amam os filhos, geneticamente somos seres evoluídos, os pais amam seus filhos, mas não há diálogo entre eles, neste final de Século XX; por isto, os filhos deste século se drogam ou se evadem para outros planos, buscam uma filosofia que os faça compreender o incompreensível, buscam o nirvana, o não-sofrimento; herança pesada!, meu Irmão!, nosso pai nos legou esta herança pesada; digo, é o sofrimento a marca do Segundo Milênio, mas não será a do Terceiro Milênio Impessoal Das Emoções Filtradas Pelo Satélite Internet; a Astrologia de hoje prevê tal marasmo no seu milênio, Amor!; os Magos Astrólogos de Hoje e do Sempre rejeitam o sofrimento; não haverá Fim do Mundo, Raimundo!, fique tranqüilo!, você existirá com certeza; o Rei do Terror não será o Marte Guerreiro da Astrologia D’Agora, será talvez um pequeno meteorito do céu caindo em algum lugar isolado da terra; ou um grande meteoro passando por perto da Terra, quase arrasando-a; ou então uma revolução atmosférica afetando alguma parte de nosso planeta; fique tranqüilo!, o Rei do Terror não o afetará em 1999 e passará despercebido; acredite em mim!, Nostradamus tinha muita imaginação, viajava muito; meus alunos afirmam que os escritores viajam!; ele era um Sagitariano Viajante do século XVI, 1503, se não me falha a memória, viajava muito em seus versos; acredite em mim, o meteorito não se chocará com a Terra; acredite!, o homem não desaparecerá no sétimo mês de 1999; talvez uns Abalos Terríveis Tenebricosos acontecerão nesta Terra Azulinda e Redonda a causar comoção; todos essas predições são pura especulação dos Incríveis Magos Astrólogos Vendedores de Horóscopo e Ilusão; estas revistas massificam-me, compreenda-me!; o que seria de mim sem as previsões diárias?, sem essas gotas mágicas em meu cotidiano agitado?; de qualquer maneira eu creio em Deus Pai Todo Poderoso, e Ele me compreende, compreende até a minha mania de horóscopo; o Anno da Besta passará e eu passarinho, assim falava o divino Poeta Quintana; palmas para as poderosas e agitadas palavras aladas, elas influenciam a humanidade sofredora do século XX; idolatrado Quintana!, conheci o Quintana em 1986 quando visitei Porto Alegre do Rio Grande do Sul do Brasil Grandalhão, quando o visitei no apart-hotel cedido pelo divino Falcão, semideus nos Campos de Futebol do Brasil Varonil e do Mundo de Então, um atleta extra-real; bondoso Falcão, aquele mesmo Magnífico Falcão Voador dos Jogos Imortais da Era Moderna, jogador de futebol da Seleção nos anos 70 deste século em questão, aquele divino Falcão, tão humano!, condoeu-se da sorte de seu conterrâneo Poeta em sua velhice, o Grande Poeta já velho e sem-teto, quase morrendo quomodo indigente seleto, se não fosse o Falcão Brasileiro; bendito Falcão!, semideus nos campos de futebol das Olimpíadas Modernas e protetor-provedor de um poeta desamparado; o poeta Quintana soube exaltar as belezas de sua cidade natal, mas estava quase esquecido, coitado!; divino Quintana!, conversou comigo duas horas seguidas, em uma tarde, quase noite, de 11 de dezembro de 1986, ao lado de sua bondosa sobrinha-guardiã; ele ofereceu-me um livro de poesias com dedicatória; Odisséia Maria das Andorinhas Voadoras das Asas Quebradas, amante dos poetas do Brasil e do Mundo, conversou com o Quintana, já surdo, gritando para ser ouvido, falando alto e gesticulando, sentado em sua cama do quarto e sala do apart-hotel do divino Falcão Brasileiro, descendente dos gloriosos deuses da mitologia dos clássicos jogos de futebol do Brasil Varonil; ele, Quintana, estava chegando de uma viagem, já cansado, mesmo assim, recebeu-me, sortuda Odisséia Peregrina em Terras Gaúchas, e falou-me longamente de seu amor pela Bruna Lombardi; a linda Bruna o fascinou, a deusa loura dos anos setenta, das novelas televisivas do Brasil Varonil; segundo suas próprias palavras aladas, Quintana um dia pensou em ser um imortal da Academia Brasileira de Letras, mas não tinha influência política e financeira para chegar até lá; ele não sabia de sua procedência divina, o Grande Quintana!; os gênios-poetas já nascem imortais, não precisam da aprovação da Academia dos Homens Mortais para se tornarem imortais, saibam todos vocês poetas do Século XX; o Quintana queixou-se das injustiças sociais; e eu sei!, ninguém vai acreditar nisso!, até parece mentira por verdade, de verdade conversei com o Quintana, guardei o seu livro e a sua dedicatória, relíquia preciosa e invendável, tive as minhas duas horas especiais conversando com um descendente dos divos imortais, hospedei-me no Hotel dos Açores dos Portugueses Intrépidos de Porto Alegre, mágica metrópole banhada pelas águas do bello Guaíba, e vi o bellíssimo Sol se deitando e as ruas mitológicas a sombra cobrindo, no mês de dezembro, acompanhando o desenho infinito da rua principal infinita, aparecendo no topo do Infinito Olimpo Porto-Alegrense ao amanhecer, quando a Aurora de dedos de rosa surgiu matutina, e findou a trajetória apoteótica, uma grande bola de fogo dos Arquétipos Primitivos, lá no finalzinho da rua, ao anoitecer, por volta das 20 horas; espetáculo bellíssimo!, magnífica apoteose solar!, o luminoso Carro de Apolo Europeu brilhando nos Céus do Brasil Varonil; depois, de volta para casa, de volta para o Futuro-Sem-Muro da América Latina, pobrezinha, tão velhinha, de ônibus, viajando de ônibus, de Porto Alegre ao Rio de Janeiro, exalando poesia por todos os poros, pensando em Quintana, velhinho, só ele e sua sobrinha-guardiã e a secretária louçã, esbelta, galante, contratada pelo Falcão Imperante; bondosa sobrinha, amando o tio sublime; quomo estará agora a sobrinha do Quintana?; eu, Odisséia Maria Guerreira Apaixonada Por Másculos e Sensíveis Poetas do Brasil e do Mundo, descendente per lado materno de Emiliano Odisseu dos Martins Sant’Annas e Romanos de Carangola e Justiniana Penélope dos Gloriosos Damásios e Amorins da Serra dos Carolas de Carangola, uma Serra Encantada vizinha de São Manuel do Boi Afogado nos Rios Eternais de Minas Gerais, Viajante do Passado Perdido Nas Brenhas do Imenso Mineiro Sertão, de volta para o futuro ladino da América Latina, à bordo de um transcendental, grandiloqüente e descomunal ônibus supersônico do imaginário-em-aberto-mimético, pensando em Carlos Drummond, divo poeta mineiro-matreiro, meu sábio conterrâneo, vivendo no Rio de Janeiro, tão pertinho de mim, mas com quem nunca pude conversar; ele nunca permitiu a aproximação de suas tietes, no meu tempo seriam chamadas de fanzocas, não sei quomo serão chamadas depois do amanhã, em verdade não sei quomodo são chamadas agora; Drummond, tão tímido e sisudo!, jamais me ofereceria duas horas de conversa, ou um dedinho de prosa, em algum esbarrão cotidiano, numa tarde ensolarada qualquer, em alguma esquina de Copacabana Esplendorosa; não!, Drummond não me ofereceria esse privilégio não; quem sou eu?, uma Odisséia Maria Qualquer!; o Quintana foi tão gentil lá em Porto Alegre!, ele era tão simples e tão humano!, Deus o tenha no Reino da Glória Hebraica, Católica e Evangélica!; ele era tão simples e recebeu a Odisséia dos Míticos Mineiros de Carangola em seu apartamento, na linda Porto Alegre do Rio Grande do Sul, a cidade do divo Rio Guaíba; agora, de volta para casa, de volta do passado, viajando de ônibus-leito, vinte e quatro horas de ônibus nas Rodovias do Sul do Brasil Varonil, venho pensando nos Poetas do Mundo Profundo e do céu cor de anil, e olho um avião passando viril, riscando os Céus do Brasil dos Cem Mil, enquanto o velho ônibus-leito-de-dormir-viajando risca o caminho que leva ao meu sonho; agora de volta per a Casa da Beira do Rio, o divo Maracanã, fico pensando, lá naquele avião o Sol Apolíneo dos Raios Alados viaja também, infelizmente, não terei o calor de seus raios em brasas, não ouvirei suas reclamações de guri mui mimado, um grande guri sonhador, produtor de etéreas palavras de amor; não!, não ousaria desacreditar desse amor!, sussurrado numa mesa do Bar Encantado, comendo iscas de peixe grelhado e bebendo guaraná gelado; quero dizer, ele tomando aguardente fervente e olhando o mar incandescente, comparando seu coração a um barco silente; envolvendo-me com palavras ardentes; falso amor oferecido; e hoje, repensando o passado sonhado, qual é o Sol Apolíneo falado?, se há tantos falantes no Mundo Azulado?

domingo, 25 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - VIII

NEUZA MACHADO




ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



OITAVO CANTO




mas, como eu ia contando, teimo em reatar esta minha viagem inventada, agora, lá vou eu, Diana Maria Felix Brasileira-Mexicana Espectante, amante do Agustin do Passado Distante, Odisséia Maria para os íntimos, em direção ao infinito de meus sonhos mais bellos, infinito brilhante, pensando em rever aquele Maravilhoso Sol Amigo Inconteste das Luas Encantadas de Julho, revelador dos Sete Mil Amores Mágicos do Tom Jobim Brasileiro, possuidor de um poder astral na medida certa para se adaptar à minha Vênus Escorpiana, se o Destino Astrológico não impusesse o contrário, graças a um trígono perfeito, realçador dos desejos de afirmação da personalidade e da vitalidade dele unidos à minha amorosa sensibilidade venusiana; talvez, se o Destino assim o quisesse, um Sol Escorpiano para realizar um casamento sob medida com a minha Vênus Mandona; mas há tantos aspectos astrológicos, alegres liames entre homens e mulheres, os quais eu não poderia aqui relatar, aspectos não descobertos por Odisséia Maria Guerreira, pois, estou viajando incognitamente e a minha imaginação neobarroca gostaria de produzir um ritmo de viagem parecido com o de Camões n’Os Lusíadas; todavia, infelizmente, não sou Camões, não possuo o imortal engenho do incomparável Luís, a habilidade do genial português de raiz narrando a viagem de Vasco da Gama em seus versos decassílabos-heróicos, feliz; esta minha viagem é deveras enrolada; o século XX foi até hoje um século engrumado; não poderemos fazer nada bem se não estivermos bem, este final de século XX não está nada bem, mas eu estou muito bem, sim senhor!; não se pode realizar nada bem sem paixão, meu senhor, e eu estou enamorada sim, meu amor!; mas, como eu ia contando, não sei escrever versos hexâmetros, não sei escrever versos heróicos-decassílabos também; a minha viagem do final do século XX é uma viagem em melódica prosa intermitente e cheia de curvas e retornos, sem paradas de ônibus, sem aeroportos seguros, apesar dos tropeços nas pedras e das nuvens do céu astrológico, inseguros, a minha prosa terá de ter ritmo, um ritmo depéquebrado; a minha continua, não posso deixar de falar da Lua situada em Sagitário, o meu Sol Esplendoroso também, ambos reinando em Sagitário, ainda o meu Marte Rompante em Sagitário Viajante também, disputando o espaço apertado com o Sol e a Lua, e a Lilith Faceira da Astrologia de Ontem, ora!, quem diria!, também em Sagitário Quiromante; para finalizar, isto já está prolongado!, que bello stellium possuo!, não posso deixar de mencionar a presença, no espaço apertado, da Cauda Volumosa do Incomparável Dragão de São Jorge, a Brilhante e Engenhosa Cabeça, não podia deixar de ser, está localizada no Signo de Gêmeos; atravessei o Magnífico Portal da Vida Terrena em 1946, não s’esqueça!; mas, como eu ia dizendo, não posso deixar de falar da Lua Astrológica, a minha, já lhe disse, em Sagitário; nasci em uma segunda-feira com a Lua em Sagitário; desculpe-me por ser tautológica, amado netinho do século XXI, é só para você resolver o enigma de minha vida enrolada, ou, então, se perder na epopéia pós-moderna de meus pensamentos labirínticos; nasci numa segunda-feira, naquele distante dia em que os deuses de Hammurabi Sétimo Rei da Babilônia pronunciaram meu nome, comandados por Marduc, o deus supremo, detentor dos destinos do reino babilônico, aquele poderoso da festa do Aquitu, e as Novíssimas Parcas Bondosas do século XX, três amigas-madrinhas mui carinhosas, me ofereceram uma vida de sonhos de mil matizes azuis, rosas e dourados, e qu’eu realizaria os meus sonhos azuis-matizados; elas direcionaram a minha vida benfazejamente, ensinaram-me a transformar o limão em limonada açucarada, elas foram tão boazinhas e amáveis, apesar de todas as pedras espalhadas ao longo do longo caminho; mas, as minhas Luas Astrológicas Para-Sempre em Sagitário, a Lua Branca Castíssima e a Lilith Moirena Fogosa; a Lua Benigna e a Lua Bandida, ambas exigindo para a minha felicidade amorosa um Sol Leonino, quiçá Ariano; por agora, eu não ligo pra Sol Leonino, não tenho atração por Sol Ariano, apesar do meu Marte e do meu Sol, ambos em Sagitário; é este justamente o motivo de minha falta de atração por leoninos e arianos, eles são muito estrelas para o meu gosto; queria um Sol Canceriano de Façanhas Incríveis para me fazer rica no Amor Imortal; infelizmente, a minha Lua e Saturno não estão em Capricórnio, minha Casa Astrológica da Riqueza Sentimental, e, assim, baubau!, lá se foi o Sol Canceriano Para Sempre Amém; na próxima parada, esbarrarei, com certeza, com o Sol Virginiano da Floresta Equatorial, mas a minha Lua não está em Peixes; baubau!, lá se foi o Sol Virginiano Para Sempre Amém; aliás, são tantos os Sóis Virginianos à minha volta!; vejo-me rodeada por Organizados Sóis Virginianos dos Trabalhos Hercúleos, eles querem qu’eu seja certinha e metódica, infelizmente não sou, jamais agradarei a Sóis Virginianos Observadores e Críticos; os anos se embaralham em minha memória e eu não distingo as datas do Plano Vital, neste caleidoscópio luminoso de minhas lembranças os virginianos me rodeiam e não me deixam viajar, mas eu romperei a incontável barreira virginiana, com certeza, são tantos, são tantos, uma multidão de virginianos metódicos guerreiros, e ordinário, marche, meia-volta, volver, seja ordeira, limpa e organizada, trabalhe, trabalhe, trabalhe, olhe as minúcias da vida, sagitariana, não seja dispersiva, sagitariana, cumpra seus deveres, sagitariana, respeite as leis do mundo, sagitariana, não busque o infinito, sagitariana, coloque os pés na terra, sagitariana, e a descompassada sagitariana murmurando amém, amém, amém, só vocês organizam a minha vida, amém, o que seria de mim sem os virginianos?, amém, dos virginianos falarei depois, amém, se eu conseguir reatar este fio de Ariadne Aracnídea dos Sonhos Enrolados, amém, se eu não conseguir reatar o fio da viagem, você me perdoará; só o leitor do século XXI compreenderá esta minha homérica viagem por estes ares poluídos nunca dantes navegados, esta minha épica realidade aqui neste final de milênio; ele comporá os elos perdidos do meu fio narrativo de bicho-da-seda, saberá julgar com eqüidade, com muito sentimento de justiça e compaixão, a minha confusão mental e existencial, sim, procurará reorganizar o Caos que foi o século XX e a minha vida; você do Futuro Sem-Muro está reorganizando tudo, agora, voltando ao início para melhor compreender, escuto envolta em um halo de mágicas e infinitas palavras seus sonoros palavrões, malsinando o aqui dito; ai!, quanta confusão!, não compreendo nada!, quanta loucura!, o que será PVC?; mas, é isto mesmo!, aqui, neste momento, o Mundo é uma loucura total, é o Caos; as Grandes Potências querem acabar com as Pequenas, mandam mísseis mortíferos através de uma longa distância arrasando tudo, querem acabar com o Mundo, você não existirá, se o mundo acabar, você entendeu?, não sei se terei leitores no século XXI, as Grandes Potências e seus Grandes Caciques querem a profecia de Nostradamus se realizando, não sei se você existirá; o anno vem aí, 1999, o anno aziago, o anno profético, o anno assinalará o fim, dos mil passará, aos dois mil não chegará; Nostradamus, no século XVI, profetizou o fim; por isso estamos esperando a volta do Salvador; ele virá na calada da noite e muitos que se dizem de seu rebanho não serão reconhecidos por ele, muitos clamando “Senhor, Senhor”; por isto, não sou fanática religiosa, gostaria de ser reconhecida por ele, mas também quero reconhecê-lo, reconhecer o Salvador da Humanidade Sofredora quando ele voltar novamente ao Mundo, no anno que vem, quando ele chegar; ele virá no anno que vem!; lembre-se sempre da profecia, aos dois mil não chegará!; quando ele chegar, estará de terno e gravata ou então com roupas de padre, assim meio parecido com o Padre Marcelo, o nosso querido Padre-Cantor, uma multidão de fiéis o segue aos maiores Estádios do Brasil Varonil, quando as rádios e televisões do Brasil anunciam a presença dele nesses locais públicos; ou, então, usando roupas esportivas quomodo qualquer jovem de hoje; o meu Salvador virá com a aparência de jovem dinâmico, só os jovens verdinhos são revolucionários, e cantando e orando e sorrindo e chorando, quomodo os mortais do século XXI; os bobos fanáticos do século XX estão ainda presos à velha ideologia religiosa da Idade Média, eles não pensam, eles acham que o Salvador se mostrará com as antigas túnicas dos habitantes de Nazareth, na Judéia, quando aqui apareceu pela primeira vez e habitou entre nós, ou, então, com a forma das figuras européias antigas, cabelos longos, olhos azuis, um bello exemplar da raça ariana tão dignificada pelos adeptos da chamada raça pura; mas é isto, leitor do século XXI, século XXII, século XXIII, do terceiro milênio, quiçá do quarto, do quinto, do sexto, você só existirá se a profecia não se cumprir; mas, acredite, de verdade, em meados de 1999 os planetas se alinharão, todos muito próximos, quase todos, quero dizer, não todos, apenas os mais poderosos, Plutão Milionário em Sagitário, alguns em Capricórnio, Urano e Netuno em Aquário, e assim por diante, e isto é prenúncio de mudança drástica, talvez, o Fim do Mundo; raciocine, o fim foi previsto para o dia 13 de novembro de 1982 e nada aconteceu, resta-lhe uma esperança e você existirá, os pseudo-profetas continuarão a existir, o Mundo continuará no mesmo lugar, mesmo que no anno que vem aconteça uma hecatombe, o sacrifício de milhares e milhares e milhares de seres humanos, os que ousam implorar por um pedaço de pão, no lugar dos cem bois da mitologia do ontem, você existirá e haverá de ler estas linhas enroladas; as catástrofes do hoje são todas normais, despropositadas mas normais, fazem parte de nosso dia-a-dia; você habitará um mundo de paz e alegria no século vindouro, Século Das Paixões Filtradas Pela Máquina-Internet; a civilização até agora escondeu a sujeira sob o tapete; agora, final de Século XX, a sujeira avolumou-se por baixo do tapete, não dá mais para escondê-la, meu irmão; nós, deste Milênio de Peixes, já nos prevenimos o suficiente contra os males da sujeira, assim Jesus nos ordenou, e como penamos para manter a limpeza em meio à sujeira do Caos; o Cristianismo é a religião do sofrimento, e já pagamos pelos pecados de nossos antepassados, pagamos por tudo; isto, talvez, seja o fim de um mundo de sofrimento, fim do sofrimento para a redenção dos que virão, de você!, pois terá uma vida longa, viverá quase dois séculos com perfeita saúde e potência sexual; segundo os Incríveis Magos Cientistas de Hoje, a partir do alinhamento dos Grandes Planetas, depois do dia 05 de maio do anno 2000, o homem do próximo século passará dos cento e cinqüenta anos com muito vigor e saúde; Deus lhe abençoe, meu netinho amadinho!, os homens e mulheres de hoje dão graças a Deus quando conseguem ludibriar a morte certeira ultrapassando a marca dos sessenta anos, depois, ficam na expectativa, expectantes e espectantes, esperançosos e alertas, querendo viver mais, com pavor do Jesus Está Chamando; a frase fatal os levará a conhecer o outro lado da vida, o reverso da medalha, a morte, leitor; o seu Terceiro Milênio será o da Tecnologia Avançada de Intercâmbios Impessoais e Amores Filtrados por Máquinas Insensíveis; Aquário da Paz Futurista regerá o seu milênio, amadinho!; Peixes Sensível do Oceano de Emoções Oscilantes terá forçosamente de passar, terá de passar o cetro para Aquário Aguadeiro dos Amores Gelados, e eu não estarei aqui para conhecer esse próximo Mundo Artificial e Aquoso e Sem Sal, repleto de insossas calmarias ou de tempestades artificiais, não poderei aproveitar os momentos de uma Nova Ordem Mundial; você viverá; mesmo assim, mesmo habitando o final do Milênio de Peixes Emotivo Épico-Lírico-Dramático-Narrativo, espremi o limão e fiz uma limonada, descasquei o abacaxi e fiz uma abacaxizada; Nostradamus errou a profecia contida em sua Centúria, o pré-anunciador, no anno de 1999, no sétimo mês, do Céu virá um Grande Rei do Terror, ressuscitar o Grande Rei dos Mongóis, antes de Marte reinar pela felicidade; e Marte, no dia 06 de julho de 1999, estará saindo de Libra para ocupar Escorpião, a 0° 17’ de Escorpião, e Júpiter estará a 0° 24’ de Touro, numa oposição de arrepiar os cabelos de qualquer mortal supersticioso, e Saturno Severíssimo também estará por perto em Touro, só para complicar um pouquinho mais, imagine só a tal guerra se deflagrando no céu por intermédio dessas três potências astrais; mas a Centúria 10, quadra 72, não se cumprirá, as profecias infundadas não se cumprirão; o meu Deus Verdadeiro é todo poderoso, é puro Amor e não se compactua com profetas apócrifos; é bem possível que os exegetas tivessem interpretado mal os versos do Profeta Poeta Nostradamus, hoje o Ocidente está ressuscitando o Budismo Oriental Tibetano, o Dalai Lama, líder espiritual desta linhagem do finalzinho do século XX, é reverenciado pelos Ocidentais, já dialogou amigavelmente com o Papa Católico João Paulo II, o Karol Wojtila, este foi outro, jogou por terra uma das profecias de Nostradamus; segundo os exegetas, a tal profecia computava apenas 17 anos para o reinado de João Paulo II, oriundo da Polônia Católica e Comunista, é verdade!, o Papa já ultrapassou a marca dos 17 anos de papado, sofreu nesse intervalo um atentado terrorista, em 13 de maio de 1981, dia de Nossa Senhora de Fátima de Portugal, sua salvadora, sofreu delicadas operações, sofreu pracaramba o pobre do Papa!; apesar das profecias, o Papa Karol continua vivo, ultrapassará o século XX e abençoará o século XXI e viverá mais de três anos; o meu Binóculo não erra jamais, meu rapaz!; Nostradamus e o século XVI geraram o desequilíbrio atual, graças ao século do desconcerto existencial, des-con-cer-to, óh meu Rei!, a desarmonia passou a reinar no Mundo, afetando também o Mundo Profundo,

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - VII

NEUZA MACHADO




ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



SÉTIMO CANTO



mas, quomodo ia contando, o meu Anjo-Guru é o Anjo Rochel, filho do judeu francês Samuel e mãe Stella brasileira; ele aterrissou bellamente em minha vida no início do anno de 1981; o meu Anjo ensinou-me praticamente tudo, desde as teorias literárias mais elaboradas até os mais intrincados preceitos budistas; uma vez, o Carlão, funcionário da Faculdade de Letras da UFRJ da Avenida Chile, localizada em priscas eras na Avenida Chile, comentou sobre a existência de muitos extraterrestres disfarçados na dita Faculdade, entre eles o meu amigo de fé, meu irmão camarada; e não acreditei no Carlão!; hoje penso, o Carlão tinha razão, o meu Guru é um Anjo disfarçado, é um iluminado, e os iluminados não são desta Terra; por intermédio de meu Anjo conheci a Filosofia Teravada do Antiquíssimo Budismo do Ceilão, atualmente Sri Lanka, e o seu monge aqui no Brasil, o Venerável Vipassi do Brilhantíssimo Manto Dourado; desse encontro surgiu a minha simpatia pelo Venerável Sacerdote do Manto Encantado; a amizade não foi adiante por minha culpa, não me prendo a diretrizes religiosas, quero o meu cavalo solto no pasto, assim quomodo diria a divina Clarice, e por mais que digam que o budismo não é religião, não consigo pensar de outra forma; quando a pessoa começa a freqüentar as cerimônias, o Iluminado e Encantador Vessaki da Grande Lua Cheia de Maio e Outros Mágicos Acontecimentos, começam as cobranças religiosas; isto acontece em qualquer religião cristã ocidental; os deveres comunitários me incomodam, as amarras religiosas não foram feitas para mim, eu gosto de deixar meu cavalo solto no pasto; no máximo, almejo em entrar em um Templo e rezar livremente; em uma Igreja, de quando em quando; rezo a Deus todos os dias, e o meu Deus não é conforme o Deus de muita gente, o meu Deus é puro amor e não exige nada, não consigo imaginar um Deus exigindo a seus filhos um pedido de perdão todos os dias, e que se arrependam todos os dias de seus pecados; pecados?!!!, porque nasceram?!!!, porque vivem e amam?!!!, porque sofrem os desajustes existenciais?!!!, porque vão levando esta vida sem objetivos?!!!, achando que, se hoje não tem, amanhã deusdará?!!!; em um outro dia, durante um enterro, ouvi algo assim, “ela agora está no céu, porque se arrependeu de seus pecados antes de morrer”, e eu fiquei ali contemplativa, suspensa, imaginando, cogitando, pensando naquela vida-flor tão precocemente ceifada, naquela mulher tão jovem, cheia de esperança no amor, cujo único pecado foi ter nascido para passar por tantos sofrimentos, terminando seus dias com aquela doença de triste nome, aquela doença tão triste; não!, o meu Deus é diferente!, eu acredito em um Deus Repleto de Amor e Perdão Sem Terríveis Cobranças; com certeza, Deus Pai recebeu minha amiga em sua Casa no Céu sem perguntar pelos seus pecados inexistentes em sua existência na Terra; pecado, para mim, é tirar a vida do semelhante, é matar o povo de fome; pecado, para mim, é submeter o pobre a um trabalho sem remuneração condizente, é não assistir os desamparados, é querer as riquezas só para si e et cœtera e tal; esses que agem assim, com certeza, não habitarão o Reino do Céu, mas esses não fazem parte do meu mundo, e teimo em reatar esta minha viagem,


quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - VI

NEUZA MACHADO



ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



SEXTO CANTO


PROPOSIÇÃO


mas, monami do Futuro, retomando o fio de Ariadne Aracnídea da Epo-Novella Enrolada, reconto-lhe os feitos da anti-heroina cinqüentona astuciosa e fragmentada do século XX final, sua peregrinação nesses ares poluídos nunca dantes navegados por nenhum Brilhante Foguete de Carreira Espacial, des aquele início de viagem em 12 de dezembro de 1998, véspera do dia dedicado a Santa Luzia Protectora dos Cegos Borromeus de Carangola de Minas Gerais Sem-Igual; agora estou sozinha no Rio de Janeiro, e lá vou eu, Circe Calíope da Ilha Mágica dos Brasileiros Heróicos, Veneranda Calipso da Côncava Gruta da Rua Garibaldi da Floresta da Tijuca, Dianna Valente Vájira Diamante dos Ocidentais e Orientais; para os íntimos, Odisséia Maria Guerreira, Descendente de Emiliano Martins SantAnna, ou Emilianno Guerreiro de Brises Caçador de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas nas Florestas Encantadas de Minas Gerais, pai de minha Gran Mother Joana Martins Damatta D’Amorim, a Jane Coragem do Interior do Brasil; então!, lá vou eu à procura do Ulisses Saturnino Ponderoso da Silva, à procura do Incrível e Insólito Amor Transcendental Epo-Ficcional ou daquele amor endinheirado das causas do mundo; neste final de milênio, todos idolatram o vil metal; eu não sou diferente de ninguém, saiba você, leitor do século XXI; você aí no Futuro Sem-Muro do Século XXI pensando que essa Viajante do Tempo Perdido é uma heroína boazinha do século XX; ledo engano, seu Pagano!, nasci no século da ambição desmedida, tudo continua por aqui como dantes, nada mudou no Quartel de Abrantes; por isso, vou sair à procura do futuro Ulisses Endinheirado da Silva Ponderoso; quando eu me apoderar dele e do dinheiro dele, já ia escrevendo “do seu dinheiro”, quando eu me apossar do dinheiro suado de Ulisses Jupiteriano da Silva Equatorial, jogarei todas as notas ficcionais ou reais para o alto, ou, quem sabe?, da janela de um avião supersônico sem-igual, aquele avião imaginário que o Ulisses Ulissiponente me dará de presente; em verdade, guardarei o bastante para as minhas viagens lírico-epo-ficcionais, mesmo assim, jogarei a metade pela janela do avião; o dinheiro jogado pela janela do avião aplacará a fome (preste atenção na data do anno em questão) dos atuais seculares seis milhões de famintos do Brasil Varonil, neste próximo anno de 1999, e os pobrezinhos terão a sua parte do bolo de enrolo de arroz brasileiro; corro e corro atrás do Ulisses Endinheirado Pra Lá De Fogoso; estou pensando em seduzir o Dagoberto Terrestre, o homem mais rico do Brasil Varonil; ou, quem sabe?, o Sálvio dos Anjos, o dono do Baú da Felicidade-Sem-Fim, um baú cheio de riquezas mil; depois pagarei a Dívida Sem-Fim do País e distribuirei o restante da fortuna com os pobres mortais do Nordeste Brasileiro; o leitor do século XXI está pensando, exatamente agora, neste momento do Futuro Sem-Muro, no quanto sou ambiciosa, e não se enganou, não senhor!!!, sou mesmo uma mulher ambiciosa do final do século XX e vou tomar a armadura poderosa e brilhante do meu pai greco-romano-português-africano-carangolano e vou sair por aí em pelejas sem fim; eu, Circe Calíope de Sousa Costa do Marfim (descendente, per o lado paterno, do Imortal Zéca de Souza das Terras do Choro Sentido de Minas Gerais e de sua Mortal Consorte Costureira Antoniña Pereira, pais de meu pai, o herói Apolônio Antônio Aquileu de Sousa Borromeu, de voz maviosa e músico exemplar) ou Odisséia Maria Machado Guerreiro, em outras eras casada com Deocleciano Machado do Clã Valeroso do Calderão Tampado de Minas Gerais; eu, Odisséia Atualmente Sem-Terra, jamais serei a Teresa Batista Cansada de Guerra, a Teresa do meu amado Jorge; me perdoe Dona Zélia por amar seu marido; sou mineira, encantada!, mas amo demais da conta os escritores baianos; faço parte de uma facção de mineiras oblíquas, mineiras matreiras soltas no Mundo, Amazonas Indomadas Guerreiras são essas mineiras, ariscas e engenhosas, por isso amo o seu amado Jorge com muito fervor; amo também os poetas de Minas Gerais; do Centro e do Sul do Brasil; enfim, amo os poetas e escritores de todo o Brasil; mas, reafirmo, quero o meu Ulisses Hermes Termegisthus Armador de Viagens Epo-Transcendentais; depois vou para Pasargada, lá eu sou amiga do Rei de Melinde Poeta Manuel e terei o Estupendo Dom Juan qu’eu quiser, na cama que escolherei, lá eu sou amiga do Rei, aquele não deu bandeira na Irene no céu; no entanto, atenção!, se você definir-me quomodo uma oportunista, vou renunciar ao Ulisses Endinheirado de Reais Dólares Americanos e me contentarei em continuar solteira; não sou muito sociável, percebe?; agora vou colocar uma nova máscara no rosto, vou-me transformar em Maria Felix Mexicana do Perpétuo Amor Sofredor; eu sou mesmo uma Maria Felix Qualquer, Odisséia Maria é uma mulher fragmentada; agora é a vez de Maria Felix Estrela de Cinema Brasileiro-Mexicano-Americano; eu sou Maria Felix Mascarada da Selva Brasileira, saiba você, meu leitor do anno 2001 e seguintes, sou uma rechonchuda brasileira-mexicana em meus sonhos de amor mais ousados; ou apenas uma simples brasileira, muito prazer!; sim senhor, vou-me transformar em Maria Felix Bonita de Lara, em homenagem ao meu amor Agustin; sou agora a estrelíssima chiquita que fez derreter o coração do Agustin; ay! ay! ay! ay!, eu amo o divino Agustin e me enlevo toda ao ouvir sua voz de cantor, digo, ao ouvir os boleros de amor qu’ele fez para mim; viajo agora até Vera Cruz, monamour, transformando-me em Maria Felix Cheia de Glamour num passe de mágica; Odisséia Maria é uma mulher infiel, possui uma legião de amantes fiéis, todos os grandes poetas e narradores do Mundo Profundo; as mulheres-poetas, as escritoras-mulheres são por mim admiradas, mas leio seus livros comodamente sentada em uma poltrona azulada na sala do meu micro-casulo de seda da Tijuca Encantada; para a cama só levo os poetas mui ombres, talequal o meu divino Agustin do passado distante, Agustin-Amante da bellíssima Doña Maria Felix Bonita de Verdade escreveu lindos versos de amor e paixão; ay!, ay!, ay!, ay!, ay!, ay!, eu amo o divino cantor Agustin, e me enlevo toda ao ouvir sua voz sonorosa, digo, ao ouvir os lindos boleros de amor qu’ele fez para mim; viajo agora até Vera Cruz, vou ao encontro de Agustin, beijo o Agustin, e pense você o que quiser quomodo foram as minhas noites calientes com o Agustin; vou deixar você imaginar e sentir; o sonho é real, Amaral, o real é o mundo pensável; o meu amor por Agustin foi imenso; ele nasceu em 1900, não pude conhecê-lo pessoalmente naqueles annos da juventude; assim mesmo, Agustin, você está presente em minha vida, em meus sonhos, em seus boleros; quando puder, me telefone, Agustin!, terei muito prazer em conversar com você!; por que não me telefona?, está com ciúme do Bienvenido Granda da Ilha do Cocondrillo Verde?; eu amo também o telúrico Bienvenido Bigodudo, sinto cócegas quando ele me beija, sabe?; é por causa do bigodão imenso; quando ele canta “Señora, te llaman Señora”, implicando com a minha infidelidade amorosa, morro de chorar, quando a saudade aumenta e fico pensando no meu bigodudo cubano, é choro para três dias, um mar de salgadas lágrimas mui sentidas; nesses dias de saudade, os vizinhos escutam todo o repertório musical dele e do Agustin, e não sem razão começam a xingar e a gritar, pedindo-me aos berros para eu diminuir o som do meu atualíssimo CD Player deste final de 1998, um compact disc player praláde de pós-moderno; sou uma velha muito avançada, meu amor; em meu Casulo de Seda da Famigerada Famosa Tijuca não existe nada do tempo da vovó, meu netinho!; somente umas xícaras de porcelana chinesa para tomar o chá das dezassete horas à moda inglesa; sou muito esnobe, sim senhor!; adoro as boas coisas do século XX!; só não tenho dinheiro para manter uma vida luxuosa; por isso estou correndo atrás do Ulisses Milionário da Silva Tropical; mas, quomodo eu ia dizendo, os vizinhos reclamam do som barulhento, nem todos gostam de bolero mexicano, muito menos de bolero cubano, nem todos gostam de boleros de cabaré de primeira, segunda, terceira, quarta ou quinta categoria, e o meu apartamento, nesses dias, transforma-se, recebendo os fantasmas do passado; quando o choro acaba, refaço a maquiagem e saio à procura do meu Anjo-Guru Habitante da Mágica Montanha da Urca dos Shows Memoráveis do Cassino Real, o Bairro mais lindo do Rio de Janeiro Sensacional, aquele do bondinho aéreo, o transporte aéreo dos Turistas do Mundo ao Topo da Montanha Sagrada da Cidade do Rio; o Rio de Janeiro, a Cidade Encantada, possui duas Montanhas Sagradas, uma é o Pão de Açúcar de Confeiteiro do Céu, um doce de Montanha, uma montanha açucarada no Bairro da Urca, na outra Montanha reina o Cristo Redentor Francês-Brasileiro, abençoando a Cidade com seus braços abertos; mas, como eu ia dizendo, refaço a maquiagem e saio à procura do meu Anjo-Guru, passeando pela Urca, tomando banho de mar talequal Policasta Fermosa olhando de longe os mergulhos vigorosos dos Telêmacos Sarados Garbosos do Rio de Janeiro, fermosos, talequais deuses eternos, viris, valerosos, a banharem-se nas águas salgadas da Urca divina dos Cartões Postais do Brasil Varonil; ou mesmo apreciando o Palácio do Rei Menelau, atualmente edificado no alto da Sagrada Montanha, lugar paradisíaco, só acessível aos privilegiados abonados graças aos trilhos aéreos de seus bondinhos famosos famigerados; olhando de longe os Telêmacos Sarados Vistosos Garbosos do bairro da Urca divina e sociabilizando-me com os habitantes da Terra do Ão,

domingo, 18 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - V

NEUZA MACHADO

Palácio de Versalhes
Foto de Rogel Samuel


ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



QUINTO CANTO


2a INVOCAÇÃO


mas, como eu ia contando, invoco também a ajuda de São Sebastião de Milão, para guiar-me nesta viagem transcendental; meu São Sebastião hoje do Rio de Janeiro!, Vossa Mercê, um mártir da fé, protegei-me neste infinito aéreo caminho!, quero chegar sã e salva, neste Brioso Avião Imaginário das Ilusões Perdidas, em Pasargada, lá eu sou amiga do Rei Manuel Venturoso Poeta do Século XX Brasileiro, e terei o homem musculoso e heróico que eu quiser, na cama que escolherei, mesmo que esse homem não seja o próprio Manuel, aquele não deu bandeira na Irene no céu, mesmo que esse homem não seja o João Rosa, paixão antiga e esplendorosa, minha paixão sertaneja, por quem, quomodo disse o Anjo Rochel, eu teria me apaixonado perdidamente, se tivesse tido tal prazer, durante sua curta permanência aqui na Terra Rotunda e Azulinda; não conheci o João, mas descobri o seu mundo, redescobri o meu mundo de Minas Gerais, passeei nas Veredas do Grande Sertão, conheci a Verde Gruta de São Marcos dos Ocultos Meandros, cumprimentei a Verde Família de Buritis Majestosos, envolvi-me tensamente com A Hora e vez de Augusto Matraga, convivendo diariamente com Nhô Augusto Filho do Coronel Afonsão do Saco-da-Embira, o Poderoso do Arraial do Muruci; envolvi-me também com o jagunço ficcional Seu Joãozinho Bem-Bem; viajei de avião com o Brilhante João até às Margens da Alegria Infantil em suas Primeiras Estórias repletas de glórias, vi lá do alto as nuvens de algodão de amontoadas delicadezas, convivi com a Tia e o Tio Engenheiro Construtor da Grande Cidade No Meio Do Nada, a Grande Cidade Central do Brasil, e sofri pra caramba com o assassinato do peru de Natal; estórias maravilhosas de um sertão para sempre eterno neste mundão; mas, como eu ia dizendo, retomando o fio de Ariadne Aracnídea do Misterioso Tecido Enrolado a Conduzir-Me ao Território de Vênus Conselheira Amorosa, ela nunca me faltou em meus epo-ficcionais casos de amor, neste 16 de dezembro de 1998, preste atençããão!, com ela transitando em Capricórnio das Altas e Inóspitas Montanhas da Antiga Grécia, minha Casa das Finanças Voláteis Reais no Horóscopo Solar e Casa Três no mapa do Ascendente, vou com certeza obter o esperado, por intermédio de um telefonema, quem sabe?; ou de uma carta; ou mesmo quando eu sair do Casulo de Seda Preciosa da Rua Garibaldi da Tijuca, para passear na Cidade Maravilhosa do Brasil Varonil; lá com certeza um velho financista divorciado charmoso endinheirado e carinhoso estará em uma esquina qualquer; para fisgá-lo, bastar-me-á estar alerta, com os sentidos e olhos bem abertos, e quem sabe?, zás!, com certeza, uma aparência de Vênus Dengosa e Brilhante não me faltará desta vez; hoje, 16 de dezembro de 1998, Marte Guerreiro Temível Terrível está favorável em Libra e Urano Estranhíssimo Planeta, superfavorável em Aquário, em seu domicílio de facto, em seu domicílio legal, e com a Lua Escorpiana Brilhante passando para o signo de Sagitário Arqueiro Centauro às 13 horas e quarenta e cinco minutos, horário de Verão no Rio de Janeiro, e com o Sol Exuberante dos Vaidosos Leoninos brilhando em Sagitário, meu signo querido e especial, sorte a minha ter nascido em Sagitário!, hoje, inclusive, com Marte Muito Garboso Machão em Libra, como eu ia dizendo, com certeza esbarrarei por aí com alguém desse signo; os librianos sempre se enredaram em minhas teias ficcionais, não sei o motivo?, o meu pouco conhecimento em Astrologia ainda não me permitiu compreender; quando eu nasci, Netuno estava em Libra, solitariamente em Libra, quero dizer, mas eu não sei qual é a força de Netuno em minha sortuda vida terrena; Netuno, hoje, 16 de dezembro, se encontra em Aquário, segundo os Astrólogos Adivinhos do Brasil Varonil, o Aguadeiro beneficia o Jovial Arqueiro; assim, com certeza, esbarrarei por aí com algum libriano taludo fortudo e cheio de gás; por falar em Libra, nos áureos tempos de minha vida amorosa conheci dois librianos sensacionais; um, coitado!, não tinha onde cair morto de tão pobre que era; o outro, doutor em literatura hispano-brasileira; mas, como eu ia dizendo, a minha estrela sagitariana sempre me envolveu com estrangeiros sensíveis, sempre me induziu a ouvir sussurros de amor e paixão em outras línguas, lendo, por exemplo, em francês, Fragmentos do Discurso Amoroso de Roland Barthes, ou, em castelhano, O Amor tomado pelo Amor do Doutor Warat, argentino e brasileiro com muito prazer, brasileiro-argentino de Santa Catarina, de Florianópolis, quero dizer, cidadão do mundo rotundo, quero dizer; o eloqüente Doutor Warat, num rápido e passageiro conhecimento, um quase amigo; de qualquer maneira, para não perder o fio da meada americana de Shirley Valentine Ariadne Mitológica, quando eu nasci, Vênus Assanhada estava retrógrada e sem brilho dourado em Escorpião e isto me prejudicou horrores, prejudicou-me no setor amoroso, quero dizer, o motivo de minhas derrotas amorosas foi esta Vênus retrógrada em Escorpião em meu nascimento; mas não me queixo não, eu fui muuuito amada na vida; poucas mulheres foram amadas na História Literária da Humanidade, eu fui uma privilegiada, ainda sou!, e com certeza esbarrarei por aí com O Amor de meus sonhos, nome de um romance açucarado não-realizado; fui muito amada na vida!, por que estou aqui e acolá a me queixar de Vênus Madrinha?!!!, ela sempre me ajudou em meus casos de amor, ou mesmo nos momentos críticos e solitários desta minha vida terrena; por falar em solidão, a solidão sempre foi a minha Estrela da Vida Inteira; plagiando sem pejo o Poeta Manuel, aquele não deu bandeira na Irene no Céu; penso que a solidão interior é um mal de quem nasce no signo do Cachorro do Horóscopo Chinês, o Manuel que o diga, ele nasceu em 1886; a solidão, ninguém percebeu!, sempre foi minha sombra fiel, ela sempre me acompanhou e ninguém notou, sou agitada, indomável, com algum conhecimento e uma legião de semelhantes à minha volta, todos os personagens do mundo rotundo e profundo; de qualquer maneira, em realidade, só conto comigo, e não terei quem acenda uma vela por mim na hora da travessia final para o Reino dos Mortos; todavia, para mim, a grande travessia é esta viagem, viagem dentro de mim, desnudando os mais íntimos recantos de minha alma peregrina, trazendo à luz meus desejos escondidos, relembrando o distante futuro sem-muro repleto de felicidade; sim senhor, em 31 de dezembro de 1999, na passagem para o anno 2000 virarei a página do passado; novos horizontes vão abrir-se para mim, e o último anno do milênio de Cristo será a coroação de tudo; por enquanto, 1998 ainda não acabou, e eu retorno de 2001 feliz da vida, lá eu encontrei a minha Verdade Secreta Secretíssima, verdade ainda não descoberta, descobrirei com certeza!; deixo agora os anos vindouros em paz e recupero 1991, numa fantástica e estupenda viagem de volta ao passado, em Paris, quando vi pela primeira vez a Torre Eiffel e pude pensar no Brasil Varonil repleto de belezas mil; mesmo assim, sinto saudade, muita vontade de rever Paris, passear no Boulevard Saint Michel e no Boulevard Saint-Germain, jantar no Cafe de Flore com meu Anjo-Guru, visitar o Arco do Triunfo, rever a Vênus de Millus e a Gioconda Italiana domiciliadas em Paris; elas deveriam estar na Itália, mas estão em Paris, monami!; beba um cálice de aguardente pra queimar a língua ferina!; oh, Odisséia Maria!, que Deus a proteja, Mulher!; Deus me livre e guarde de uma Inquisição Intelectual neste final de milênio!, Deus Misericordioso que nos guarde!, Deus me livre de ser mal compreendida neste final do século XX; eu só quero viajar tranqüilamente nestas minhas humildes páginas ficcionais; não atiro pedras em ninguém, sou covarde e medrosa, não nasci para o papel de heroína!, pobre criatura pusilânime sou eu, de alma pequenina, sim senhor, fracota de ânimo, sim senhor, não tenho muita firmeza na vida, tão pouco sou decidida; apenas vou vivendo a minha vidinha sem graça; mas muito feliz, graças a Deus!!!; tive muuuita sorte por nascer sob a proteção de Júpiter Justiceiro, e vou começar o janeiro de 1999 com o pé direito e comerei à meia-noite do Anno Novo sete sementes de uva italiana, para ter muita sorte durante o anno todo; e usarei uma calcinha amarela de baixo americana, para ter muita sorte com money só se for americana; e vestirei um vestido branco rendado francês para ter muita paz e felicidade; e usarei um anel de cobra indiana para conquistar o tal amor prometido por Vênus Dengosa da Suprema Paixão Sem-Razão no já mencionado Orago Astral, a Sagrada Cobra do Amor Indiano, e et cœtera e etc e etc e tal; e brindarei com autêntica champanha francesa fabricada made in Brazil; sou uma doutora caipira pra lá de metida; e cantarei louvores ao Senhor, Ele sempre me protegeu com amor; na verdade só Deus Pai me protege e ampara, amém, as crenças esotéricas são a mania deste final de milênio; é bem verdade, há alguns fanáticos, mas eu não sou fanática, graças a Deus!, apenas me distraio dos problemas normais lendo revistas esotéricas mensais; o que seria de mim, neste final de século e de milênio, em meio a esta realidade caótica, se não tivesse essas gotas de ilusão empurrando-me pra frente?!!!; mas, como eu ia dizendo, no próximo Anno Novo de 1999, cantarei louvores ao Senhor, abençoarei meus filhos supermaravilhosos, desejando-lhes muitas alegrias e saúde nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, estendendo as minhas bênçãos maternas para todos os outros anos vindouros do século XXI; e dizendo ao Deocleciano, pai de meus filhos, seja sempre feliz, Déo!; ele, um ex-marido perfeito e continua sendo um amigo perfeito, um ser abençoado nascido em 13 de junho, e pediu-me em casamento, digo, ficou meu noivo no dia do seu aniversário, e casou-se comigo em um bellíssimo 31 de dezembro, há mais de trinta e um anos; minha Nossa Senhora!, a juventude ficou para trás!!!, envelheci e não percebi, tornei-me uma velha decrépita, minha Nossa Senhora das Grandes Graças!; mas, como eu ia sonhando, a primogênita Bete, de 13 de novembro, sem falar nos gêmeos abortados no anno anterior, espontaneamente, durante a gravidez, um menino e uma menina, bivitelinos; com certeza os gêmeos estão agora passeando tranqüilamente no Limbo da Teologia Católica, habitação celestial dos inocentes falecidos sem o batismo cristão; o Deocleciano colocou o 13 em minha vida para dar-me sorte para todo o sempre; e saiba Déo!, foi uma grande sorte ter-me casado com você, não estaria hoje viajando insolitamente através de mim mesma se tivesse me casado com outro; o Deocleciano compreendeu o meu desejo de voar livremente em um avião supersônico; ele, talequal Mercúrio Veloz do Signo de Gêmeos também possui asas nos pés; assim exigiu a própria liberdade e saiu voando para o Ocidente; mas deu-me liberdade também; permitiu-me voar em direção ao Oriente, o Oriente de minha fascinação, com as suas Histórias das Mil e Uma Noites e os seus Leques do Afeganistão, os leques fascinaram igualmente as divinas Lygia Fagundes e Sônia Coutinho; o Déo é do signo de Gêmeos e não aceita ser acorrentado; e acredite Déo!, somente os que têm liberdade dão liberdade, só os privilegiadamente livres permitem aos semelhantes liberdade também, o outro a sair por aí pedalando contra o vento sem lenço e sem documento, à moda do divino Caetano Baiano; e eu sei, Déo!, o nosso casamento no último dia de 1963 estava escrito nas estrelas, teria de ser realizado na terra e no céu, somos seres opostos nos Horóscopos SolarOcidental e Chinês; os opostos se atraem e, às vezes, se repelem; sem jamais esquecer a influência de Gêmeos; em meu horóscopo pessoal, na hora de meu nascimento, Urano se encontrava em Gêmeos, a 26o de Gêmeos; Urano Enigmático Fora Do Comum, Senhor do Estranhamento também; Gêmeos é a minha Casa Sete, Casa do Casamento no Horóscopo Solar, quero dizer; assim, Déo, eu pude aprender com você enquanto lhe ensinava algumas coisas importantíssimas quomodo, por exemplo, ser para sempre feliz, transformando o limão em limonada e o abacaxi em abacaxizada saborosa; agradecimentos por demais sinceros pelo fato de ter colaborado comigo; graças à sua participação eu pude me tornar a mother da Bete dos longos e sedosos e encaracolados e bellos cabelos cor de ébano, minha primogênita dos olhos profundos e mágicos, de olhos melífluos, bondosos, iluminada para além da realidade vital, nascida no anno da Serpente Chinesa de 1965, a mesma do dia 13 de novembro das páginas atrás; do Aleph Deiforme dos Macros Programas Computadorizados, o Aleph conforme com Deus, um missionário suasório de Deus, fiel discípulo do Filho de Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, nascido em 24 de outubro de 1966, dia dedicado aos Gênios da Humanidade, o príncipe herdeiro da linhagem do pai; e da Daleth, a caçula dos olhos de esmeralda, brilhantes, olhos glaucos de Athena semelhantes, nascida em um 12 de maio de 1968; filhos queridos, por todas os inúmeros momentos bons de nossa vida em comum, gratie plena; enfim, Déo, não foi ruim o enlace, não foi desagradável nossa vida em comum; você deu sonoras e gostosas gargalhadas, quand’eu contava piadas e mais piadas na hora de nossos incríveis, maravilhosos, estupendos, magníficos, fartos, incomuns almoços dominicais,

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - IV

NEUZA MACHADO



ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO


QUARTO CANTO



DEDICATÓRIA



...atravessei o dia e seu perigo na Ponte do Arco da Aliança Entre Mortais e Imortais, agora, posso retomar a minha viagem real; infelizmente, neste minuto-mito do tempo, não verei os navios do Cais de Niterói, não imaginarei bellas incríveis aventuras de marinheiros, olhando de longe o Almirante Guillén; esta minha viagem marítima a bordo de um ônibus velho continua, o anoso veículo enfrenta agora as ruas abandonadas e alagadas do Bairro de Neves Eternas, a poucos minutos de São Gonçalo do Estado do Rio, vai ser difícil chegar na hora certa, o dito cujo é velhíssimo e não consegue atravessar a corrente de lama; seja o que Deus quiser!, óh, Mulher!, mesmo se tivesse de ficar parada aqui até o apocalipse total, esperando as coisas melhorarem no Reino do Ão, neste final de noventa e oito praláde cansadão, prest’atençããão!; talvez os políticos resolvam fazer algumas obras na Cidade, quiçá no Brasil Varonil e arredores; por favor, oradores!, não fiquem só prometendo, cumpram pelo menos a metade das promessas já feitas; por isso agora eu confio no Governador Menininho, Governador do Estado do Rio de Janeiro, no momento, neste anno de 1998, preste atenção! (não sei se vou continuar confiando), confio por ora no Menininho, ao Menininho do Brasil dedico esta minha viagem sonhada, ele é um crente em Jesus e jamais fará algo que desrespeite as Leis do Senhor, pelo menos eu espero tal sorte, neste final de 1998, preste atenção!, anno de 1998, pois não confio na Gerência Atual, e conto com a misericórdia divina para colocar no Planalto Central do Brasil Varonil, nas próximas eleições, alguém carismático e sincero, alguém que se preocupe cada vez mais com o povo, sem lero-lero, alguém que se preocupe realmente com o povo brasileiro e não faça nada de desabonador, lembrando-se sempre, o Confiável Futuro Carismático, antes de tudo, de sua função primordial, o eleito para cuidar da Nossa Casa com carinho e amor (com certeza, se isto acontecer, vou cantar epopéias sinceras em sua homenagem, para o Carismático do Futuro, bem entendido!, preste atenção!, Carismático do Futuro!); o Atual, deste anno da graça de 1998, preste atenção!, eu disse 1998, foi eleito no passado para cuidar da casa e a casa pertence ao povo brasileiro; será que o Atual da República, neste anno de 1998, preste atenção!, 1998, cuida direito de nossa casa, será?, por isso rezo a Deus todos os dias, não é fácil cuidar de uma grande casa cobiçada pelo mundo inteiro!; ele pode se desmazelar; mas, quomodo o cogitado, estamos parados dentro do rio-rua, e penso e repenso e não paro de pensar, nem mesmo Caronte Mitológico das Histórias Antigas enfrentou tantos problemas sociais ao levar as almas gregas afamadas para o Hades Tenebroso, atravessando, com sua barquinha branquinha, tão mítica!, o Rio Lethes das Almas Penadas, ou mesmo quando transportou Dante Alighieri D’Itália em uma viagem pelo Inferno Medieval, numa famigerada famosa Divina Comédia à moda pré-renascentista do século XIV; na verdade, aqui, no momento, o Inferno de Dante se faz presente, há no ar um dantesco calor infernal, o ônibus força os motores num barulho provindo das quentes ardentes profundezas; neste momento, 1998, preste atenção!, lá vai ele, devagarzinho, quase parando, devagar-quase-parando, ainda não pifou, não deu prego, quomodo se diz no Norte e Nordeste do Brasil Varonil; coitadinha da cidade de São Gonçalo!, tão jogadinha e abandonada nesse anno de 1998, servindo de plataforma política para os políticos do Estado do Rio; agora, lá vamos nós!; eu, aqui, no meio do povo sofredor, que está voltando do trabalho estafante, vou agora para o trabalho nosso de cada dia; trabalho de noite e durmo de dia; na hora do meu nascimento fui abençoada, graças a Deus!, desta vez o suplício terminou, ainda não, desta vez o suplício vai terminar, parece que vai terminar, penso que está quase terminando; o orago astrológico do dia garantiu-me uma bellíssima tarde sem problemas, está para existir um oráculo mais fajuto do que este neste final de século XX, o temporal de hoje não está para brincadeiras, não, mesmo assim, confio em minha sorte sagitariana, Vênus Estrelíssima não me vai faltar desta vez, ai dela!, se isto acontecer!, Vênus Madrinha do Trabalho Exemplar e da Saúde Regular e do Amor Estrelar em Capricórnio não me vai faltar, não senhor, eu sou monoteísta com muito fervor, o meu Deus é maior do que Vênus Brilhante e nas horas de aperto só penso em Deus Pai; graças a Deus!, até agora o ônibus não enguiçou, se Deus quiser, não enguiçará; e rom-room-rom-roooom, lááááááá vamos nóóóós!, este trecho de minha viagem não quer acabar; infelizmente o rom-rom-rom foi alarme falso, o ônibus continua parado no centro da lama pegajosa; e que lama terríííível, meu Deus!; há milhares de ônibus à nossa volta e à nossa frente, todos parados, indefesos, no meio da lama e do lixo, impedindo o caminho, num homérico engarrafamento, num colossal e barulhento problema de trânsito, Deus me livre e guarde de tal momento sinistro!; por sorte, a minha mágica e preciosa caneta esferográfica está em minha bolsa, o meu caderno de anotações está na bolsa também; o que não tem remédio, remediado está; só me resta então esperar que os Santos do Céu nos socorram, comandados pelo valente São Brás Eversor de Obstáculos; peço também ao Buda Tibetano de meu Anjo-Guru Amazonense Rochel para secundar os meus santos; todos os aqui invocados desentupindo o caminho repleto de lama; não sei o porquê?, estou agora misturando rezas e crenças praláde milenares e esoterismo e cristianismo; não sei se rezo aos meus santos cristãos ou se faço uma branca bragata ou se recito mantras budistas, aprendidos com o meu Anjo-Guru; vou rezar mesmo é a Salve Rainha Mãe de Jesus; nessas horas do medo, óh, meu Deus dos Hebreus!, a fé das origens é muito mais forte!; o perigo ronda esta tarde sinistra funesta danosa medonha!; confio em Nossa Senhora do Perpétuo Socorro dos Momentos de Aperto, ela solucionará os imediatos e desastrosos e dolorosos e insolúveis problemas; o ônibus velhíssimo enfrentará a lama e sairá vencedor, sim senhor!; Nossa Senhora da Penha Mais Alta cuidou deste momento terrivelmente tenebricoso e danoso; o ônibus, agora, vai atravessar a Mimética Via Férrea dos Novos Trens Imaginários das Linhas Silenciosas, a Via Férrea Longa Infinita do Bairro das Neves de Niterói e por São Gonçalo do Estado do Rio também, e vai a direção do infinito-sem-fim dos meus sonhos dourados; o ônibus, agora, atravessa a linha divisora, aquela divide o Norte Silencioso das Idéias Ficcionais Geniais do Sul Barulhento da Massa Concreta; e está na hora do Trem Fantasma dos Parques de Diversões de Outrora passar, senhor doutor; nós vamos atravessar sim a linha imaginária do Fantástico Trem dos Meus Sonhos de Infância; eu que nasci e cresci num alto de serra of hinterland, perto do Pontilhão de Ferro que corta o Sertão, uma verdadeira obra-de-arte importada da Bélgica, o Pontilhão da Leopoldina-Princesa e da Velha Maria-Fumaça, a Via Férrea dos meus sonhos de infância dourados, me levando e embalando-me até Lacerdina; mas, agora, o apito estridente do Trem do Bairro das Neves Eternais vai acordar-me; estava sonolenta, dormindo dentro do ônibus velho; o ônibus parado dentro da lama; o barulho infernal das buzinas em volta; Nossa Senhora das Reais Causas Perdidas é poderosa e vai ajudar-me, vou rezar um rosário de lágrimas e risos agradecendo a ajuda, e pedirei por todos os passageiros do ônibus assinalados para uma viagem folhetinesca; darei graças e louvores ao Rei dos Reis dos Cristãos, e acenderei muitas velas em agradecimento fervoroso e repleto de fé; aproveitarei o momento de muita tensão, nessas horas as rezas saem espontâneas e límpidas, e pedirei a Nossa Senhora da Penha Mais Alta permanente proteção, pedirei por todos os desconhecidos do ônibus, por meus pais já falecidos, per meus irmãos vagamundos do mundo rotundo; agora, todos gritam e falam impropérios e reclamam, e os carros buzinam, buzinam, buzinam, o barulho é pior do que o do Inferno de Dante, o calor é mais forte do que o calor das labaredas subterrâneas infernais, neste dia 15 de dezembro de 1998, às 17 horas da tarde, horário de Verão no Brasil Varonil, menos em Manaus Capital do Amazonas, lá o fuso horário sai fora do tempo vital, quando o governo atual decreta o Horário de Verão Econômico e Legal; o horário de lá não acerta com a hora oficial do Brasil Varonil; mas, como ia contando, já estamos parados há uns 179 minutos; este dia ficará eternamente marcado em minha memória sem-fim, este dia ficará marcado para sempre no espaço intermediário de meu Calendário Astrológico da Duração Perpétua, suspenso no tempo do pensamento individual, suspenso entre o antes e o depois, o passado e o futuro, quomodo um dia me disse o meu inesquecível filosófico amor Bachelard, momento inesquecível, quomodo ensinou-me o inesquecível francês, naquelas tardes excitantes dos anos 90, enquanto eu escrevia uma excitante e ambiciosa tese de doutorado; neste momento, praláde tumultuado, saí do patamar da glória intelectual, o meu título suado não vale muito no Brasil, não significa nada no Brasil Varonil, só os doutores não doutores ganham muito dinheiro em minha Terra Explorada, defender tese é em verdade ilusão na Terra do Ão; no entanto, mesmo assim, defendi a minha vontade, a vontade de me tornar uma velha doutora sem eira nem beira; mas, quomodo ia dizendo, o meu título de doutora não significa muito por acá, viajo de ônibus para trabalhar, trabalhar, trabalhar; no meu caso, significa ganhar o pão, receber um salário para pagar as contas, as inúmeras contas e os impostos altíssimos; não há jeito de driblar o Imposto de Renda, o Felino Voraz; não há jeito de diminuir o Imposto Predial e Territorial Urbano, o famigerado IPTU do Brasil Varonil; os inúmeros Impostos impostos me deixam mui louca, os Impostos impostos para solucionarem os problemas do País Varonil, e quem paga sempre é o pobre assalariado, ele não tem nem mesmo sal para temperar a sopa de domingo, coitado!; sou uma pobre doutora de literatura brasileira sem-eira-nem-beira, se hoje não tem, amanhã deusdará, amanhã Deus me dará o emprego com ânsia almejada, almejo trabalhar pertinho de casa, para não enfrentar esses ônibus lotados e as longas distâncias, afinal a PVC está em meus calos; a porra da velhice está quase chegando, e os velhos aposentados morrem nas filas do INSS; se os velhos não trabalham, são vagamundos no Mundo e no Brasil Varonil com seus cem vezes seiscentos desempregados mil, assim pensa a minoria doutora pra lá de privilegiada, endinheirada; entretanto, saí melancolicamente do patamar da glória intelectual, viajo em direção a São Gonçalo do Estado do Rio neste ônibus assinalado, cuja placa é RJ 117 117, vindo da Rua do Passeio, uma rua encantada do Rio de Janeiro, agitada, a Cidade mais linda do Mundo Rotundo, em direção a São Gonçalo Casamenteiro padroeiro das solteironas portuguesas, e o motorista não sabe que o personalizo agora, nestas páginas mágicas de mágicas retortas, a curva mágica do Baco Pastoral, páginas de vidro ou de louça com gargalo recurvo repleto de química rosada, por intermédio de minha caneta mágica e esotérica comprada no Bazar Ilusões de Minas Gerais; nem mesmo o rapaz sentado à esquerda, jovem de óculos de tartaruga brilhantes azuis e usando calça jeans de índigo blue, cujo nome não sei, mas gostaria de perguntar o seu nome, rapaz!; não sei se devo, mas vou perguntar assim mesmo, sentindo as dores mortais da coluna arruinada pelo tempo sem tempo que vem de nortada, a PVC não me deixa em paz sequer um momento; o jovem gentil é estudante da Escola Técnica Federal do Rio de Janeiro, está no primeiro anno do Curso de Mecânica Futurista, tem 16 anos e se chama Eduardo; Eduardo Primeiro, Rei das Moçoilas, mora em São Gonçalo, no Bairro Paraíso do Canhão da Ágora para ser mais exata; no Paraíso de São Gonçalo, leitor!, existe um canhão de guerra no centro da Praça; Eduardo, o Primeiro, está preocupado com seu venerável papai; Papai Saturnino Severo de Antiga Linhagem Judaica está voltando também do trabalho estafante, viajando também em um ônibus velho, e com certeza estará enfrentando também o engarrafamento colossal sem-igual, talvez agora em cima da Imensurável Incomensurável Estupenda Ponte Rio-Niterói, a Última Grandiosa Maravilha do século XX, mil vezes maior do que o Memorável Colosso de Rodes da Antiga Civilização, neste incerto trajeto da História do Mundo Rotundo; coitadinho do pai de Eduardo Primeiro, meu temporário amiguinho do ônibus assinalado, estará certamente passando por momentos terríveis incríveis também, atravessando a Ponte Dos Que Lutam Para Ganhar A Vida Todos Os Dias, debaixo do fenomenal temporal apocalíptico, e desconhece, coitado!, a aflição de seu filho Eduardo, o Primeiro; graças a Alá dos Antigos Muçulmanos, o filho foi visitar a avó tão velhinha; mas, graças a um Gênio Ruim do Deserto Muçulmano, quando retornou para casa, o Eduardo foi obrigado a conhecer o Inferno de Dante Alighieri D’Itália e Florença; enfim, Alá protegeu o jovem Eduardo, São Brás desentupiu as ruas de São Gonçalo Padroeiro, Santa Bárbara acalmou a fúria da tempestade esquerdista tupiniquim, Santa Luzia dos Cegos Borromeus de Carangola, minha padroeira, guiou o motorista temporariamente sem rumo certo de boa política, e nosotros rompemos os obstáculos gigantescos, três horas dentro daquela caldeira infernal, rompemos todos os obstáculos, graças ao Deus dos Hebreus e também dos Cristãos!; eu, triunfante, Odisséia Maria Guerreira do Século XX Desequilibrado, pude subir as escadarias do Templo do Glorioso Saber sem ter molhado sequer um fio de cabelo; subi as escadarias, assinei o ponto, pratiquei alguns necessários rituais, e fui cumprir a minha obrigação de sofressora, realizar o meu trabalho, senão, como pagar as contas mensais e os impostos impostos e et cœtera e tal?; porsupuesto, tudo isto aconteceu neste memorável 15 de dezembro de 1998, preste atenção!; entretanto, os astros já haviam previsto tais ocorrências; assim predisseram os Imensuráveis Incomensuráveis Magos Adivinhos dos Vaticínios Astrais do século XX; e tudo terminou bem, a Lua estava favorável em Escorpião, Marte Benfazejo Apesar de Brigão em Libra, e Urano Rei Por Um Bom Tempo Tranqüilamente Em Aquário, Urano Esquisito reinará em Aquário ainda por muitos anos, até 30 de dezembro de 2003; além disto, o oráculo do dia intimava-me a fazer meditação para equilibrar o astral, e foi exatamente o que pratiquei durante a travessia tenebricosa tenebrosa horrorosa do Mar de Lethes Fluminense, depois de ter almoçado com meu Anjo Guru Amazonense no Restaurante Vegetariano da Praça Tiradentes; no entanto, a minha caneta esotérica de Madagascar me diz que ando devagar, digo, a divagar, e não conto os contos que deveria contar,

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - III

NEUZA MACHADO


ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



TERCEIRO CANTO



mas, quomodo ia contando, sou Odisséia Maria Intelectual Sertaneja, uma hétero-descendente de Bravos Caçadores Mui Machos de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas e Gatas do Mato e de Mineiras Matronas Mui Fêmeas, Caçadoras também de Onços Pintados e Jaguatiricos Noturnos e Gatos do Mato, Mineiras Cozinheiras Fagueiras do Leste de Minas Gerais do Brasil Varonil, uma viajante interiorizada destes annos finais do Século XX, deste final de noventa e oito, preste atenção!, de azarações mui políticas; leitora amadora de Gabriel Garcia Marquez; amante delirante de escritores hispânicos; do uruguaio Juan Onetti; daquele divo escrivinhador que foi casado com a tia Júlia, tia dele, prest’ atenção!, aquele escreveu sobre a Guerra de Canudos acontecida no Brasil, sem ser brasileiro, sem ter vivenciado a tal Guerra, o pós-moderno, genial e bellíssimo Mario Vargas Llosa; leitora de Jorge Luís Borges, o divino argentino; e tantos outros divinos latinos; eles, os latinos, me seduziram nesses annos todos, ficcionalmente, press’tenção!, quero dizer; incluindo aqueles escritores franceses e brasileiros e portugueses mui loucos dos anos 50 e 60 e 70; eu, leitora e amante de escritores latinos começo hoje uma insólita e incrível viagem, sabendo sempre pitonisamente, para viver um Singular Grande Amor Imaginário, durante esta minha epo-viagem repleta de ficção e lirismo, será necessário, antes de tudo, sagrar-me Odisséia Maria Guerreira, a enfrentar os moinhos de vento do Reino do Ão e do Reino dos Ões, amar o divino Vinícius, o divino Cervantes e o divino Camões, perscrutando minha mente favorecida, graças aos favores daqueles deuses de Hammurabi Sétimo Rei de Babilônia, os quais na hora do meu nascimento pronunciaram com muito muitíssimo respeito o meu nome, benfazejamente, é claro!, perscrutando meu sólido coração cinqüentão ainda aberto para o telúrico amor, perscrutando minha realidade terceiromundista avassaladora; por tais motivas reais totalmente avassalada, desestruturada, massificada, desequilibrada, lá vou eu, Circe Irinéia dos Anjos Guerreiros Antigos, voando atrás de Ulysses da Silva Ponderoso, querendo prender Ulysses em minha Ilha Mágica, singrando estes ficcionais ares poluídos nunca dantes navegados por nenhum avião de carreira, mas ansiosa por chegar a um aeroporto seguro, sem poluição atmosférica ou mesmo da mídia atual, com a ajuda de Vênus Maravilhosa Madrinha do Trabalho e do Amor Redentor em Capricórnio; e Mercúrio Carteiro Mensageiro dos Deuses Eternais novamente direto em Sagitário, neste dia memorável de 12 de dezembro de 1998, prest’ tençããão!, quando inicio esta epo-ficcional-fantástica viagem em meu próprio interior; talvez, James Joyce, no início do século, com o seu Ulysses volumoso, em apenas um dia, tenha feito uma caminhada mais agradável, mas não sou James Joyce, não sou Clarice Pernambucana Lispector, não sou Murilo Mineiro Rubião, não sou Roberto Mineiro Drummond e tantos outros portentosos divinosos, eles souberam narrar com criatividade seus incríveis desencontros com a realidade caótica do Século XX, e, óh!!!, coitadinha de mim!!!, estou apenas tentando descrever aqui esta minha aérea viagem já agora iniciada, e seja o que Deus quiser!, pois quomodo dizia o divo Machado Carioca Poeta, o que fica realmente da espécie humana é a glória de ter vivido aqui nesta Terrinha Azulinda; por isto, retomando o fio de Ariadne Aranha da Teia Esburacada, lá me vou à procura do Amor neste final de milênio, lutando sem medo contra o deus da decadência existencial, quomodo sempre fiz, des aquel’outro dia memorável do início de minha vida, há tantos e tantos e tantos anos atrás, em Minas Gerais, enfim, lutando para continuar mulher, querendo ser ainda bella na terceira idade; seria bom ser bella quomodo estas sedutoras atrizes das novelas das oito da Rede Globo de Televisão do Brasil Varonil, ainda hoje, há mais de quarenta anos, seduzindo seus parceiros de trabalho televisivo com seus sensuais beijos e olhares langorosos, belezas eternas, esqueceram elas a passagem do tempo, freqüentando os especialistas da eterna juventude, esses vendedores-doutores de ilusão, privilegiados dos deuses atuais, esses souberam compactuar com aqueles diferentes anjos habitantes das sombras, os anjos tortos do poeta mineiro Drummond, conhecedores quomodo ninguém de quomodo alegrar as mulheres do Século XX; por tudo isto, eis-me aqui, Diana Athenas Caçadora de Ilusões, neste 12 de dezembro de 1998, preste atenção!, meu Irmão!, relembrando Osíris Rolando Lero Amoroso, aquele que numa tarde de novembro me disse ser um enviado dos deuses eternais e meu amador para sempre, até à morte, apesar de ser imortal e tomar o chá dos imortais na Academia Brasileira de Letras; todavia, meu Osíris Amoroso Lero Rolando, divino Osíris, aquele que sabe quomodo ninguém alcançar os mais recônditos labirintos do infinito, falou da boca para fora e jamais cumpriu seus votos de amor, jamais me mostrou suas artes marciais no campo de guerra da sedução ficcional; assim, eu, Diana Afrodite Desiludida dos Antigos Deuses Egípcios Eternais, continuarei cantando, para sempre, aqueles versos inventados para ele, meu longínquo Osíris, hoje esses versos esquecidos são a minha lanterna-canção de Lionoreta Brasileira de França e Portugal e Afeganistão; eu, Diana Caçadora da Grande Floresta Verde d’Amazônia, com uma pequenina luzinha, embarco agora em um avião imaginário e vou para Campina Grande, Paraíba, Brasil, descobrir o Nordeste e os nordestinos, descobrir, quero dizer, um nordestino capitalista que me faça feliz, e, quando eu voltar, no anno de 1992, estarei flertando com um imberbe budista tibetano, seguidor religioso do Venerável Dalai Lama, perdido e encontrado aqui no Brasil, vinte anos mais novo, e que poderia, ai! Jesus!, ser meu filho; no entanto, o tibetano glabro mostrou-me o caminho da verdadeira felicidade amorosa, ensinou-me o desapego das coisas terrenas e a busca da iluminação; por isto, eu, Vájira Diamante Forte e Resistente batizada em 30 de junho de 1990 no Antigo Budismo Teravada do Olimpo Maravilhoso de Santa Teresa, do Bairro de Santa Teresa, quero dizer, eu, Vájira Diamante, amiga inconteste do Venerável Monge Vipassi do Manto Dourado, jamais fui budista, mas convivo e amo os budistas, tive essa amizade transcendental com aquele discípulo de Buda de outra corrente filosófica, é claro!, mas nem por isto menos verdadeira; eu, Vájira Diamante da Antiga Língua Pali dos Budistas Antigos, continuo a minha viagem, e espero jamais colocar um ponto final em minhas aventuras seguras por estes ares poluídos nunca dantes navegados; atenção!, a minha viagem só será pontuada com vírgulas e voltas necessárias; depois de 1992, retomo a minha contra-viagem sem destino final e recordo 1991, na França, viajando com o meu Anjo-Guru budista e intelectual Amazonense Rochel; não sei o motivo, a França me pareceu tão exótica; eu, Odisséia, habitante do país mais exótico do Universo, em 1996, morei em Manaus, o lugar mais exótico do Planeta, e convivi com índios, caboclos, escorpiões, anacondas e sucuris; hoje, 12 de dezembro de 1998, véspera do dia de Santa Luzia, minha padroeira, a padroeira de minha cidade natal perdida nos confins da Zona da Mata de Minas Gerais, enfim, repito, hoje, não quero falar de coisas tristes, neste final de século e de milênio, só as alegrias valem lembranças; por isto, recordar Paris será glorioso, principalmente o Hôtel Gerson, 14, rue de la Sorbonne, onde vivi os momentos mais bellos de minha vida terrena, ouvindo os suspiros de amor dos parisienses, eles não têm vergonha de demonstrar em alto som seus momentos de incríveis paixões, Paris, de madrugada, eu, professora do Brasil Varonil, ouvindo os gemidos de amor de um casal no quarto vizinho, a amante exaltada gritou de prazer duas horas seguidas, seu furor uterino espalhado sonoramente na madrugada de Paris, o amante parisiense amoroso retribuiu com barulhentos beijos estalados; e também as brigas sexuais dos gatos nos parisienses telhados; enfim, solitariamente em Paris, invejando os amantes felizes; mas o que é isto?!, sou tremendamente feliz!, por que invejei o casal desconhecido?!, sou uma mulher livre e viajo e canto na hora que bem desejo, sou uma egocêntrica descendente de Bravas Caçadoras de Onços Pintados, Jaguatiricos Noturnos e Gatos do Mato de Minas Gerais, heroína brasileira fragmentada de um mundo fragmentado, uma mulher-somatório de todas as mulheres-heroínas do Brasil Varonil; mas de Paris falarei depois, páginas adiante, por certo!, a minha perspectiva mágica me obriga a pensar o presente, e o presente agora é um ônibus velho, viajo agora de ônibus velho em direção a São Gonçalo, vizinho velhinho de São Sebastião do Rio de Janeiro, atravesso a incrível Ponte Rio-Niterói, a Ponte Incomensurável do Destino dos Gloriosos Homens do Brasil Varonil, misturando-me ao povo trabalhador muito mal remunerado neste final de 1998, preste atenção!, por favor!, eu disse 1998, desci temporariamente do mirante ideológico da imaginação mágico-substancial, daqui a pouco vestirei a minha farda de Alferes do tempo de Machado Carioca de Assis, quero dizer, o atualmente desvalorizado jaleco formal de Professora Universitária de Literatura Geral, na verdade, um deslumbrante overall azul metálico à moda americana, para dar aula em São Gonçalo vizinho de São Sebastião; viajo agora de ônibus velho gaiola dos pobres, atravessando a Ponte Interminável do Destino Brasileiro, situada no insólito imaginário-em-aberto dos juízos de descoberta, sob uma chuva imensa e aterradora, sem fim, em direção ao infinito dos meus sonhos secretos; ouço um barulho estranho, assustador, sem igual, é um velho homem fechando a janela do ônibus velho, decrépito, pois teme a chuva a invadir o nosso mundo praláde caótico; agora, atravessando a Ponte Rodoviária dos Motoristas Intrépidos, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro nos proteja, amém!, vou a direção de São Gonçalo do Estado do Rio; e esta é uma viagem epo-lírica ou epo-ficcional ou epo-dramática, não sei!, não sei precisar o Gênero Atual desta minha narrativa enrolada, espero que não seja epo-paraliterária!, que Deus me proteja!, tamanho é o perigo a nos rodear, a cerração política provocada pelo descomunal temporal apocalíptico; enfim, graças ao Senhor Deus Onipotente dos Antigos Hebreus, dos Católicos e Crentes, no qual acredito deveras, atravessamos o perigo!; o Rio Lethes fluminense-brasileiro em dias ensolarados é uma baía tão linda!,

ODISSÉIA MARIA - II

NEUZA MACHADO




ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



SEGUNDO CANTO




DIÁRIO / NARRAÇÃO

... 12 de dezembro de 1998, 9 horas e 35 minutos, horário de Verão no Brasil Varonil, 10 horas e 35 minutos no Relógio Central do Rio de Janeiro; a Lua está em Libra, o Sol em Sagitário, Vênus inicia a sua caminhada, atravessando os domínios de Capricórnio, prometendo-me um grande amor milionário do ar; eu, Odisséia, de vez em quando Irinéia, nasci sob as bênçãos de Júpiter Patrono e ele estava em paz convosco, óh! divo Mercúrio!; ora, Capricórnio é o meu signo das finanças voláteis, volúveis, e a minha Vênus Madrinha do Trabalho e do Amor, passeando em território capricorniano, não me faltará desta vez; e por falar em Júpiter, este quase me deixou na mão; quando nasci, lá pelas bandas de Minas Gerais, o praláde benigno dos Oráculos Modernos/Pós-Modernos estava naquele momento ensimesmado, desconfiado, calado, domiciliado temporariamente no signo de Escorpião, e todo astrólogo que se preze sabe que Escorpião é o Inferno Astral dos sagitarianos; entretanto, a minha estrela de boa sorte não me faltou naquela hora tão importante de revelação existencial, as novíssimas Parcas do século XX, três superprotetoras amigas, seguraram o corte da linha divisória entre o Nada e a Vida, naquela zona da mata mineira de abertura que determina ao ser humano a capacidade de pensar, para que o nascimento se desse exatamente na madrugada de vinte e cinco de novembro, e adivinhe você, futuro leitor destas linhas, leitor da hora certa, hora de revelação do Mundo Tenebricosamente Silencioso, às vezes estático, daqui a alguns anos, quando estarei ainda muito viva e com saúde, eternamente, quem estava, naquele momento, pontificando no céu, tornando-se para sempre o meu signo ascendente?, Escorpião; talvez Sagitário!; Júpiter e Vênus e Mercúrio estavam ali unidos, também, enviando-me seus fluidos benéficos, e o mais importante é que Vênus retrogradava; o acontecimento ao invés de prejudicar-me ajudou-me horrores e maravilhas; Vênus, na Casa Um do Ascendente poderia tornar-me uma mulher sem complexos vitais, se estivesse caminhando para frente, mas isto não aconteceu, ela estava andando para trás, e, felizmente, pude tornar-me uma mulher menos preocupada com os desejos carnais e mais preocupada com as metas inatingíveis do coração; então, hoje, Vênus Madrinha está em Capricórnio, minha Casa Dois do Horóscopo Solar e Três do Ascendente, por certo, tenho motivos para me rejubilar, desta vez, aquele rico amor luminoso e inatingível não me escapará; é bem verdade!, o inatingível me seduz, sempre me seduziu e seduzirá, mas Vênus Brilhante não me faltou na hora do meu direito de livre-arbítrio, de decidir sobre o que fazer da minha vida naquele antigo mundo mineiro patriarcal; mesmo andando para trás, Vênus em Escorpião será sempre indicadora de força amorosa, assim dizem os Imensuráveis Incríveis Magos Adivinhos do século XX; graças a Vênus Implexora em Escorpião, sou uma mulher-teceloa, entrelaçando os fios da substancial imaginação, fios que se cruzam e entrecruzam com urdidura, tecendo uma teia de sonhos e risos sem-fim; o riso, óh meu leitor do Futuro!, ainda é a melhor arma para balançar as estruturas hipócritas deste final do século XX, de passagem para o XXI, mesmo que você não acredite em mim, apesar da PVC e das rugas e do desenrolar do tempo, a PVC, você descobrirá depois, é o meu maior problema atualmente, a conseqüência natural da Vida, no entanto, a partir de hoje, terei toda a probabilidade de realizar todos os meus sonhos, é Vênus Amorosa Madrinha afirmando-me tal prognóstico, o super-homem dos meus anelos mais bellos, ele na casa dele e eu em minha casa, em festivos e intermitentes encontros; as minhas viagens vitais, mentais e astrais; graças a Vênus Madrinha andando para trás, possuo a glória de ser uma ilustre desconhecida, jamais verei o meu nome inscrito na calçada hollywoodiana das estrelas; quanto a Júpiter Troante, em Escorpião, naquele longínquo 25 de novembro, hoje, dia 12 de dezembro, véspera do dia dedicado à Santa Luzia, mártir da Igreja de Roma e padroeira de Carangola, “minha Santa Luzia!, imploro-lhe que ilumine o meu caminho, para qu’eu possa enxergar somente o itinerário que leva à santificação da alma”; hoje, o Astro Patrono Júpiter Tonitruante está em Peixes, sua Casa domiciliar, no passado, antes da descoberta de outros planetas, Sagitário dividia com Peixes o privilégio de hospedar Júpiter, o Senhor Todo-Poderoso do Olimpo Romano; em verdade, os romanos, muito espertos, tomaram Zeus dos gregos e o transformaram em Júpiter, no entanto, para mim, vejo sempre em Júpiter o poder de Zeus, o danadinho usurpador, o malandro usurpou o trono de seu pai Saturno; por falar em Saturno Severíssimo, regente de minha dita Casa Dois do Mapa Solar e Casa Três do Ascendente, hoje em Áries, depois de uma rápida passagem por Touro neste 1998, mas, como eu ia contando, brilhando em Áries, em sentido direto, naquele longínquo nascimento estava em Leão, abrilhantando a minha Casa 9/10, não s’esqueça do meu ascendente!, juntamente com Plutão Especulador dos Segredos Alheios, no auge dos seus treze graus, no Signo de Leão, esticando seus raios até Júpiter Protetor Vigoroso, a treze graus de Escorpião, numa quadratura que teria tudo para sacudir maleficamente minha vida, se não fosse Júpiter Intrépido meu guardião e amigo, o dito defendeu-me bravamente naquele passado distante, possibilitando safar-me das Leis do Destino e oferecendo-me o número treze quomodo número de sorte, assim, o treze entrou em minha vida, Marte Corajoso Guerreiro, quero crer, estava também a treze graus de Sagitário, 13° ou 14°, os astrólogos às vezes se enganam, um pouco distante do meu Sol sagitariano, meu Sol a 3° de Sagitário, graças a essa pequena distância de 10° não se chocaram; felizmente, para mim, fui batizada em 13 de julho, pude ficar noiva em 13 de junho, casar com um homem nascido em 13 de junho, em um 31 de dezembro, a primeira filha de 13 de novembro, e permiti-me continuar cultuando o número 13, sem nunca temer a sua força purificadora, olhando-o sempre como símbolo de renovação, no Tarot, não vejo o lado negativo deste número de superstição, observo apenas os aspectos positivos; lá se vão meio século e dois anos de vida, com uma Carta Astral predicando uma quadratura exata entre Plutão e Júpiter, a 13° (treze graus), no entanto, tal quadratura nunca me prejudicou, conheci uma caminhada de vida dificultosa, sim, mas sempre realizei insólitos e implexores pensamentos, outros teriam renunciado ante a quantidade de obstáculos; assim aqui vou eu, Circe Irinéia Capitulina do Brasil, viajando em mim mesma, descobrindo, sempre, os astros não são os donos do destino de um ser humano, existe o livre-arbítrio nos dias atuais; e milhões de bolas de ar para o destino pagão, sou católica romana e creio em Deus Pai, mas não deixo de perscrutar o futuro; a minha realidade de habitante de um mundo caótico, participante ativa de uma mudança de século e de milênio, me leva a pensar no amanhã e massifica-me com estas revistas de horóscopo espalhadas por aí, enfim, não deixo de perscrutar o Futuro Sem-Muro, ele é uma incógnita, o atual Futuro Inseguro, e o que seria de mim, Matusalém, se não tivesse o ópio dos oráculos do final do Milênio a ajudar-me a enfrentar o porvir e a buscar cada vez mais uma distração para a minha vida agitada aqui nesta Terra Azulinda;