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domingo, 18 de outubro de 2009

ODISSÉIA MARIA - V

NEUZA MACHADO

Palácio de Versalhes
Foto de Rogel Samuel


ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



QUINTO CANTO


2a INVOCAÇÃO


mas, como eu ia contando, invoco também a ajuda de São Sebastião de Milão, para guiar-me nesta viagem transcendental; meu São Sebastião hoje do Rio de Janeiro!, Vossa Mercê, um mártir da fé, protegei-me neste infinito aéreo caminho!, quero chegar sã e salva, neste Brioso Avião Imaginário das Ilusões Perdidas, em Pasargada, lá eu sou amiga do Rei Manuel Venturoso Poeta do Século XX Brasileiro, e terei o homem musculoso e heróico que eu quiser, na cama que escolherei, mesmo que esse homem não seja o próprio Manuel, aquele não deu bandeira na Irene no céu, mesmo que esse homem não seja o João Rosa, paixão antiga e esplendorosa, minha paixão sertaneja, por quem, quomodo disse o Anjo Rochel, eu teria me apaixonado perdidamente, se tivesse tido tal prazer, durante sua curta permanência aqui na Terra Rotunda e Azulinda; não conheci o João, mas descobri o seu mundo, redescobri o meu mundo de Minas Gerais, passeei nas Veredas do Grande Sertão, conheci a Verde Gruta de São Marcos dos Ocultos Meandros, cumprimentei a Verde Família de Buritis Majestosos, envolvi-me tensamente com A Hora e vez de Augusto Matraga, convivendo diariamente com Nhô Augusto Filho do Coronel Afonsão do Saco-da-Embira, o Poderoso do Arraial do Muruci; envolvi-me também com o jagunço ficcional Seu Joãozinho Bem-Bem; viajei de avião com o Brilhante João até às Margens da Alegria Infantil em suas Primeiras Estórias repletas de glórias, vi lá do alto as nuvens de algodão de amontoadas delicadezas, convivi com a Tia e o Tio Engenheiro Construtor da Grande Cidade No Meio Do Nada, a Grande Cidade Central do Brasil, e sofri pra caramba com o assassinato do peru de Natal; estórias maravilhosas de um sertão para sempre eterno neste mundão; mas, como eu ia dizendo, retomando o fio de Ariadne Aracnídea do Misterioso Tecido Enrolado a Conduzir-Me ao Território de Vênus Conselheira Amorosa, ela nunca me faltou em meus epo-ficcionais casos de amor, neste 16 de dezembro de 1998, preste atençããão!, com ela transitando em Capricórnio das Altas e Inóspitas Montanhas da Antiga Grécia, minha Casa das Finanças Voláteis Reais no Horóscopo Solar e Casa Três no mapa do Ascendente, vou com certeza obter o esperado, por intermédio de um telefonema, quem sabe?; ou de uma carta; ou mesmo quando eu sair do Casulo de Seda Preciosa da Rua Garibaldi da Tijuca, para passear na Cidade Maravilhosa do Brasil Varonil; lá com certeza um velho financista divorciado charmoso endinheirado e carinhoso estará em uma esquina qualquer; para fisgá-lo, bastar-me-á estar alerta, com os sentidos e olhos bem abertos, e quem sabe?, zás!, com certeza, uma aparência de Vênus Dengosa e Brilhante não me faltará desta vez; hoje, 16 de dezembro de 1998, Marte Guerreiro Temível Terrível está favorável em Libra e Urano Estranhíssimo Planeta, superfavorável em Aquário, em seu domicílio de facto, em seu domicílio legal, e com a Lua Escorpiana Brilhante passando para o signo de Sagitário Arqueiro Centauro às 13 horas e quarenta e cinco minutos, horário de Verão no Rio de Janeiro, e com o Sol Exuberante dos Vaidosos Leoninos brilhando em Sagitário, meu signo querido e especial, sorte a minha ter nascido em Sagitário!, hoje, inclusive, com Marte Muito Garboso Machão em Libra, como eu ia dizendo, com certeza esbarrarei por aí com alguém desse signo; os librianos sempre se enredaram em minhas teias ficcionais, não sei o motivo?, o meu pouco conhecimento em Astrologia ainda não me permitiu compreender; quando eu nasci, Netuno estava em Libra, solitariamente em Libra, quero dizer, mas eu não sei qual é a força de Netuno em minha sortuda vida terrena; Netuno, hoje, 16 de dezembro, se encontra em Aquário, segundo os Astrólogos Adivinhos do Brasil Varonil, o Aguadeiro beneficia o Jovial Arqueiro; assim, com certeza, esbarrarei por aí com algum libriano taludo fortudo e cheio de gás; por falar em Libra, nos áureos tempos de minha vida amorosa conheci dois librianos sensacionais; um, coitado!, não tinha onde cair morto de tão pobre que era; o outro, doutor em literatura hispano-brasileira; mas, como eu ia dizendo, a minha estrela sagitariana sempre me envolveu com estrangeiros sensíveis, sempre me induziu a ouvir sussurros de amor e paixão em outras línguas, lendo, por exemplo, em francês, Fragmentos do Discurso Amoroso de Roland Barthes, ou, em castelhano, O Amor tomado pelo Amor do Doutor Warat, argentino e brasileiro com muito prazer, brasileiro-argentino de Santa Catarina, de Florianópolis, quero dizer, cidadão do mundo rotundo, quero dizer; o eloqüente Doutor Warat, num rápido e passageiro conhecimento, um quase amigo; de qualquer maneira, para não perder o fio da meada americana de Shirley Valentine Ariadne Mitológica, quando eu nasci, Vênus Assanhada estava retrógrada e sem brilho dourado em Escorpião e isto me prejudicou horrores, prejudicou-me no setor amoroso, quero dizer, o motivo de minhas derrotas amorosas foi esta Vênus retrógrada em Escorpião em meu nascimento; mas não me queixo não, eu fui muuuito amada na vida; poucas mulheres foram amadas na História Literária da Humanidade, eu fui uma privilegiada, ainda sou!, e com certeza esbarrarei por aí com O Amor de meus sonhos, nome de um romance açucarado não-realizado; fui muito amada na vida!, por que estou aqui e acolá a me queixar de Vênus Madrinha?!!!, ela sempre me ajudou em meus casos de amor, ou mesmo nos momentos críticos e solitários desta minha vida terrena; por falar em solidão, a solidão sempre foi a minha Estrela da Vida Inteira; plagiando sem pejo o Poeta Manuel, aquele não deu bandeira na Irene no Céu; penso que a solidão interior é um mal de quem nasce no signo do Cachorro do Horóscopo Chinês, o Manuel que o diga, ele nasceu em 1886; a solidão, ninguém percebeu!, sempre foi minha sombra fiel, ela sempre me acompanhou e ninguém notou, sou agitada, indomável, com algum conhecimento e uma legião de semelhantes à minha volta, todos os personagens do mundo rotundo e profundo; de qualquer maneira, em realidade, só conto comigo, e não terei quem acenda uma vela por mim na hora da travessia final para o Reino dos Mortos; todavia, para mim, a grande travessia é esta viagem, viagem dentro de mim, desnudando os mais íntimos recantos de minha alma peregrina, trazendo à luz meus desejos escondidos, relembrando o distante futuro sem-muro repleto de felicidade; sim senhor, em 31 de dezembro de 1999, na passagem para o anno 2000 virarei a página do passado; novos horizontes vão abrir-se para mim, e o último anno do milênio de Cristo será a coroação de tudo; por enquanto, 1998 ainda não acabou, e eu retorno de 2001 feliz da vida, lá eu encontrei a minha Verdade Secreta Secretíssima, verdade ainda não descoberta, descobrirei com certeza!; deixo agora os anos vindouros em paz e recupero 1991, numa fantástica e estupenda viagem de volta ao passado, em Paris, quando vi pela primeira vez a Torre Eiffel e pude pensar no Brasil Varonil repleto de belezas mil; mesmo assim, sinto saudade, muita vontade de rever Paris, passear no Boulevard Saint Michel e no Boulevard Saint-Germain, jantar no Cafe de Flore com meu Anjo-Guru, visitar o Arco do Triunfo, rever a Vênus de Millus e a Gioconda Italiana domiciliadas em Paris; elas deveriam estar na Itália, mas estão em Paris, monami!; beba um cálice de aguardente pra queimar a língua ferina!; oh, Odisséia Maria!, que Deus a proteja, Mulher!; Deus me livre e guarde de uma Inquisição Intelectual neste final de milênio!, Deus Misericordioso que nos guarde!, Deus me livre de ser mal compreendida neste final do século XX; eu só quero viajar tranqüilamente nestas minhas humildes páginas ficcionais; não atiro pedras em ninguém, sou covarde e medrosa, não nasci para o papel de heroína!, pobre criatura pusilânime sou eu, de alma pequenina, sim senhor, fracota de ânimo, sim senhor, não tenho muita firmeza na vida, tão pouco sou decidida; apenas vou vivendo a minha vidinha sem graça; mas muito feliz, graças a Deus!!!; tive muuuita sorte por nascer sob a proteção de Júpiter Justiceiro, e vou começar o janeiro de 1999 com o pé direito e comerei à meia-noite do Anno Novo sete sementes de uva italiana, para ter muita sorte durante o anno todo; e usarei uma calcinha amarela de baixo americana, para ter muita sorte com money só se for americana; e vestirei um vestido branco rendado francês para ter muita paz e felicidade; e usarei um anel de cobra indiana para conquistar o tal amor prometido por Vênus Dengosa da Suprema Paixão Sem-Razão no já mencionado Orago Astral, a Sagrada Cobra do Amor Indiano, e et cœtera e etc e etc e tal; e brindarei com autêntica champanha francesa fabricada made in Brazil; sou uma doutora caipira pra lá de metida; e cantarei louvores ao Senhor, Ele sempre me protegeu com amor; na verdade só Deus Pai me protege e ampara, amém, as crenças esotéricas são a mania deste final de milênio; é bem verdade, há alguns fanáticos, mas eu não sou fanática, graças a Deus!, apenas me distraio dos problemas normais lendo revistas esotéricas mensais; o que seria de mim, neste final de século e de milênio, em meio a esta realidade caótica, se não tivesse essas gotas de ilusão empurrando-me pra frente?!!!; mas, como eu ia dizendo, no próximo Anno Novo de 1999, cantarei louvores ao Senhor, abençoarei meus filhos supermaravilhosos, desejando-lhes muitas alegrias e saúde nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, estendendo as minhas bênçãos maternas para todos os outros anos vindouros do século XXI; e dizendo ao Deocleciano, pai de meus filhos, seja sempre feliz, Déo!; ele, um ex-marido perfeito e continua sendo um amigo perfeito, um ser abençoado nascido em 13 de junho, e pediu-me em casamento, digo, ficou meu noivo no dia do seu aniversário, e casou-se comigo em um bellíssimo 31 de dezembro, há mais de trinta e um anos; minha Nossa Senhora!, a juventude ficou para trás!!!, envelheci e não percebi, tornei-me uma velha decrépita, minha Nossa Senhora das Grandes Graças!; mas, como eu ia sonhando, a primogênita Bete, de 13 de novembro, sem falar nos gêmeos abortados no anno anterior, espontaneamente, durante a gravidez, um menino e uma menina, bivitelinos; com certeza os gêmeos estão agora passeando tranqüilamente no Limbo da Teologia Católica, habitação celestial dos inocentes falecidos sem o batismo cristão; o Deocleciano colocou o 13 em minha vida para dar-me sorte para todo o sempre; e saiba Déo!, foi uma grande sorte ter-me casado com você, não estaria hoje viajando insolitamente através de mim mesma se tivesse me casado com outro; o Deocleciano compreendeu o meu desejo de voar livremente em um avião supersônico; ele, talequal Mercúrio Veloz do Signo de Gêmeos também possui asas nos pés; assim exigiu a própria liberdade e saiu voando para o Ocidente; mas deu-me liberdade também; permitiu-me voar em direção ao Oriente, o Oriente de minha fascinação, com as suas Histórias das Mil e Uma Noites e os seus Leques do Afeganistão, os leques fascinaram igualmente as divinas Lygia Fagundes e Sônia Coutinho; o Déo é do signo de Gêmeos e não aceita ser acorrentado; e acredite Déo!, somente os que têm liberdade dão liberdade, só os privilegiadamente livres permitem aos semelhantes liberdade também, o outro a sair por aí pedalando contra o vento sem lenço e sem documento, à moda do divino Caetano Baiano; e eu sei, Déo!, o nosso casamento no último dia de 1963 estava escrito nas estrelas, teria de ser realizado na terra e no céu, somos seres opostos nos Horóscopos SolarOcidental e Chinês; os opostos se atraem e, às vezes, se repelem; sem jamais esquecer a influência de Gêmeos; em meu horóscopo pessoal, na hora de meu nascimento, Urano se encontrava em Gêmeos, a 26o de Gêmeos; Urano Enigmático Fora Do Comum, Senhor do Estranhamento também; Gêmeos é a minha Casa Sete, Casa do Casamento no Horóscopo Solar, quero dizer; assim, Déo, eu pude aprender com você enquanto lhe ensinava algumas coisas importantíssimas quomodo, por exemplo, ser para sempre feliz, transformando o limão em limonada e o abacaxi em abacaxizada saborosa; agradecimentos por demais sinceros pelo fato de ter colaborado comigo; graças à sua participação eu pude me tornar a mother da Bete dos longos e sedosos e encaracolados e bellos cabelos cor de ébano, minha primogênita dos olhos profundos e mágicos, de olhos melífluos, bondosos, iluminada para além da realidade vital, nascida no anno da Serpente Chinesa de 1965, a mesma do dia 13 de novembro das páginas atrás; do Aleph Deiforme dos Macros Programas Computadorizados, o Aleph conforme com Deus, um missionário suasório de Deus, fiel discípulo do Filho de Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, nascido em 24 de outubro de 1966, dia dedicado aos Gênios da Humanidade, o príncipe herdeiro da linhagem do pai; e da Daleth, a caçula dos olhos de esmeralda, brilhantes, olhos glaucos de Athena semelhantes, nascida em um 12 de maio de 1968; filhos queridos, por todas os inúmeros momentos bons de nossa vida em comum, gratie plena; enfim, Déo, não foi ruim o enlace, não foi desagradável nossa vida em comum; você deu sonoras e gostosas gargalhadas, quand’eu contava piadas e mais piadas na hora de nossos incríveis, maravilhosos, estupendos, magníficos, fartos, incomuns almoços dominicais,

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