ODISSÉIA MARIA
NEUZA MACHADO
DÉCIMO NONO CANTO
mas, como eu ia contando, meu Anjo-Guru me levando pra sua terra maravilhosa, me apresentando a seu povo-caboclo, me levando pra tomar tacacá na Praça Central de Manaus, perto da Zona Franca dos Mercadores de Todas as Partes do Mundo, em frente ao Quartel Militar, pela Avenida Getúlio Vargas de Passarelas Tão Largas, em frente ao Instituto de Educação dos Jovens Manauaras, muita movimentação na Avenida Sete de Setembro esquina com a Getúlio Vargas, andando pela Zona Franca de Manaus, comprando incenso, mirra, óleos perfumados, aparelhos elétricos, roupas finas e mil bugigangas, gastando dinheiro a rodo na Zona Franca de Manaus, almoçando na Confeitaria Alemã, tomando chá e comendo finas iguarias no salão do Hotel Imperial, chá quente à moda inglesa, às 17h00, no salão refrigerado, lá fora 45 graus de calor; meu Leitor!, hábitos europeus no meio da Floresta; herança da época da borracha, Amor!, a borracha que encheu de dinheiro suado os bolsos fechados dos Seringalistas, assim contou-me o Bello Guia-Caboclo Mais Bonito do Mundo; eles extraíam a borracha dos troncos da Seringa, explorando o trabalho escravo dos nordestinos franzinos, esses saíam de seus Estados natais, em busca de comida e dinheiro, e trabalhavam quomodo escravos nos Inóspitos Seringais, comendo o pão que o diabo amassou, esperando um dia voltar ao Nordeste, se hoje não tem, amanhã deusdará, misturando seus sangues com as Índias Faceiras, morrendo com as febres tropicais, febre amarela, malária, tifo e et cœtera e tal, só tendo peixe, farinha de macaxeira e frutas no cardápio, às vezes, um pedaço de cobra, um macaquinho ou outro, um pedaço de jacaré, mas comer macaco é antropofagia, meu Deus!, e os perigos da floresta!, e a solidão da floresta!, e a saudade de casa!, e a maiínha tão longe!, rezando per seu pobre filhinho, perdido na Imensa Floresta!, será que a maiínha ainda está viva?, e os meus barrigudinhos irmãos, estarão ainda vivos?, será que a fome do Nordeste já foi dizimada?; e Odisséia Maria da Estrela Guia, aqui, tomando tacacá na barraca da cozinheira-cabocla, na Praça Central, um caldo quentinho, sem-igual, passeando talequal rica nos corredores do Hotel Tropical, tirando fotos históricas, passeando com o Anjo-Guru Amazonense Rochel e a Míriam Ramos pelos corredores luxuosos do Hotel Tropical, o maior da América do Sul Maioral, o mais caro, o mais exótico, com o seu imenso zoológico, aquele hotel que hospedou o Carreras, cantor lírico do Mundo Rotundo, quando ele foi cantar em Manaus, em fevereiro de 1996, recebendo um cachê praláde astronômico, por ocasião da reinauguração do Theatro local, o pobrezinho estava abandonado e foi restaurado com o sacrifício do Povo Dourado, aquele povo sofrido não deixa de pagar seus impostos, e o povo não pode entrar no Theatro, não senhor!, o preço da entrada era também astronômico, muito caro, quero dizer; mas, como eu ia dizendo, com a Vênus em Capricórnio, ela havia entrado em Capricórnio no dia 28 de novembro de 1995, numa terça-feira marciana, dia do soldado, se aliando a Plutão para mexer com a minha vida e o meu coração; andava tão pacata no Rio de Janeiro, de repente, zás!, minha Vênus me empurrando para Manaus!; lá você será amiga do Cacique da Floresta Encantada, terá o Dourado Caboclo que quiser, na rede entrançada de folhas de palmeira platinada que você mesma escolherá, lá você reinará!, agarre a chance de se expandir profissionalmente, mas cuidado com as atitudes radicais, com as atitudes extremas; cuidado com as mudanças repentinas, Odisséia!, com a Lua Crescente você se aproximará de suas metas inatingíveis, dedique-se mais para atingi-las, óh! Mulher!, fique alerta às oportunidades que surgirão, e et cœtera, etc, etc e tal, você, minha Cara!, precisa aproveitar as chances financeiras que estão por aí, os astros prometem sucesso!; dia 13 de Dezembro de 1995 Mercúrio em Capricórnio, Mercúrio na Casa da Fortuna abre mil portas d’ouro para uma Sagitariana Sem Medo, os Imponentes Portais da Incomensurável Floresta Amazônica, novas situações inesperadas per sua frente, novas e grandiosas conquistas nas Listas, saia por aí conquistando Terras Desconhecidas, um grande impulso será enviado a você, é hora de usar e abusar do seu poder de atração, saía pelo mundo depois dos quarenta!, vá fazer a América Homérica depois dos quarenta, Mulher!, a América do Sul, quero dizer!, a Amazônia, quero dizer!; no dia 24 de Dezembro de 1995 almoce e jante com a família, no dia 25 almoce com a família também, coma churrasco com os familiares, faça libações ao Deus Eternal, seu Natal de Jesus será sem-igual!, comemore o Natal; à tarde, volte para o Casulo de Seda da Floresta de Pedras da Tijuca Barulhenta, ligue a secretária eletrônica para ouvir os recados, votos de Boas Festas dos Amigos e tais; zás!, um convite para trabalhar em Manaus, o meu Anjo me chamando pra Manaus; venha, professora!, lecionar em Manaus!, jogue tudo para o alto e venha pra Manaus!, venha ministrar filosofia bachelardiana para os caboclos de acá, venha teorizar em Manaus, venha literatizar em Manaus, venha para Manaus, venha pra cá, pra comer jaraqui, quem come jaraqui, não sai mais daqui; venha pra cá, pra comer pacu, quem come pacu, se apaixona por Manaus; venha pra cá, pra comer tambaqui, quem come tambaqui, não sairá daqui, não coma dourado, é peixe danado, quero dizer, é peixe remoso, peixe sem escamas é muito perigoso; quero dizer!, é perigoso para a saúde, assim eles dizem lá em Manaus, peixe lisinho sem escamas dá doença de pele, em 1996, imensa legião de leprosos nas ruas de Manaus, não se esqueça dos leprosos das ruas de Manaus, cuidado com as doenças venéreas em Manaus, os contaminados turistas infectando as caboclinhas, e a culpa recai no lisinho peixe sem escamas; que peixe lisinho encrencado!; caboclo que se preze não come peixe sem escamas, assim me contou o meu Guia-Caboclo; grande sorte têm os peixes sem escamas, lisinhos, brilhantes, roliços, não vão parar nos aiós dos pescadores; cuidado com a aids, a doença do Século XX, dizimando a humanidade na Era do Progresso, exatamente igual às pragas do passado, a aids matando os homossexuais do Mundo, a aids matando os maridos-galinhas, matando as esposas inocentes, elas abrem as pernas para os maridos infectados, a aids matando crianças indefesas, filhas de pecadores aidéticos que transam sem camisinha; o sexo hoje é o mal da humanidade, homem com homem e mulher com mulher, a outra metade da laranja do tempo de Platão; há poucos héteros no Mundo Atual; mas, eu sou hétera com muito prazer!, adoro demais da cooonta o sexo oposto!; a sífilis e a aids exterminando a humanidade; o sexo agora é veículo de doenças; o Amor agora mata, bom Deus!, neste final de Século XX, cadê a vacina contra a aids, meu Deus!, os cientistas não conseguem encontrar o antivírus da aids!, mas conseguiram a fórmula da eterna virilidade, os cientistas criaram a pílula do homem, os velhos agora já podem transar, transar com as mocinhas, bem entendido?!, suas velhas vão ficar em casa chupando o dedo, enquanto as mocinhas chupam outras coisas e et cœtera e tal, chupam o dinheiro do velho e et cœtera e tal, vale a pena pagar pra coisa funcionar, a brocheza acabou na Terra do Ão, a aids continua na Terra do Ão, os cientistas recebendo prêmios, a Suécia premiando os cientistas do Viagra, o Prêmio Nobel para os cientistas do Viagra, a descoberta do Viagra para o bem da humanidade, o poderoso Viagra que faz o mole ficar duro; o Amor, posto que é chama, seja eterno enquanto duro,
NEUZA MACHADO
DÉCIMO NONO CANTO
mas, como eu ia contando, meu Anjo-Guru me levando pra sua terra maravilhosa, me apresentando a seu povo-caboclo, me levando pra tomar tacacá na Praça Central de Manaus, perto da Zona Franca dos Mercadores de Todas as Partes do Mundo, em frente ao Quartel Militar, pela Avenida Getúlio Vargas de Passarelas Tão Largas, em frente ao Instituto de Educação dos Jovens Manauaras, muita movimentação na Avenida Sete de Setembro esquina com a Getúlio Vargas, andando pela Zona Franca de Manaus, comprando incenso, mirra, óleos perfumados, aparelhos elétricos, roupas finas e mil bugigangas, gastando dinheiro a rodo na Zona Franca de Manaus, almoçando na Confeitaria Alemã, tomando chá e comendo finas iguarias no salão do Hotel Imperial, chá quente à moda inglesa, às 17h00, no salão refrigerado, lá fora 45 graus de calor; meu Leitor!, hábitos europeus no meio da Floresta; herança da época da borracha, Amor!, a borracha que encheu de dinheiro suado os bolsos fechados dos Seringalistas, assim contou-me o Bello Guia-Caboclo Mais Bonito do Mundo; eles extraíam a borracha dos troncos da Seringa, explorando o trabalho escravo dos nordestinos franzinos, esses saíam de seus Estados natais, em busca de comida e dinheiro, e trabalhavam quomodo escravos nos Inóspitos Seringais, comendo o pão que o diabo amassou, esperando um dia voltar ao Nordeste, se hoje não tem, amanhã deusdará, misturando seus sangues com as Índias Faceiras, morrendo com as febres tropicais, febre amarela, malária, tifo e et cœtera e tal, só tendo peixe, farinha de macaxeira e frutas no cardápio, às vezes, um pedaço de cobra, um macaquinho ou outro, um pedaço de jacaré, mas comer macaco é antropofagia, meu Deus!, e os perigos da floresta!, e a solidão da floresta!, e a saudade de casa!, e a maiínha tão longe!, rezando per seu pobre filhinho, perdido na Imensa Floresta!, será que a maiínha ainda está viva?, e os meus barrigudinhos irmãos, estarão ainda vivos?, será que a fome do Nordeste já foi dizimada?; e Odisséia Maria da Estrela Guia, aqui, tomando tacacá na barraca da cozinheira-cabocla, na Praça Central, um caldo quentinho, sem-igual, passeando talequal rica nos corredores do Hotel Tropical, tirando fotos históricas, passeando com o Anjo-Guru Amazonense Rochel e a Míriam Ramos pelos corredores luxuosos do Hotel Tropical, o maior da América do Sul Maioral, o mais caro, o mais exótico, com o seu imenso zoológico, aquele hotel que hospedou o Carreras, cantor lírico do Mundo Rotundo, quando ele foi cantar em Manaus, em fevereiro de 1996, recebendo um cachê praláde astronômico, por ocasião da reinauguração do Theatro local, o pobrezinho estava abandonado e foi restaurado com o sacrifício do Povo Dourado, aquele povo sofrido não deixa de pagar seus impostos, e o povo não pode entrar no Theatro, não senhor!, o preço da entrada era também astronômico, muito caro, quero dizer; mas, como eu ia dizendo, com a Vênus em Capricórnio, ela havia entrado em Capricórnio no dia 28 de novembro de 1995, numa terça-feira marciana, dia do soldado, se aliando a Plutão para mexer com a minha vida e o meu coração; andava tão pacata no Rio de Janeiro, de repente, zás!, minha Vênus me empurrando para Manaus!; lá você será amiga do Cacique da Floresta Encantada, terá o Dourado Caboclo que quiser, na rede entrançada de folhas de palmeira platinada que você mesma escolherá, lá você reinará!, agarre a chance de se expandir profissionalmente, mas cuidado com as atitudes radicais, com as atitudes extremas; cuidado com as mudanças repentinas, Odisséia!, com a Lua Crescente você se aproximará de suas metas inatingíveis, dedique-se mais para atingi-las, óh! Mulher!, fique alerta às oportunidades que surgirão, e et cœtera, etc, etc e tal, você, minha Cara!, precisa aproveitar as chances financeiras que estão por aí, os astros prometem sucesso!; dia 13 de Dezembro de 1995 Mercúrio em Capricórnio, Mercúrio na Casa da Fortuna abre mil portas d’ouro para uma Sagitariana Sem Medo, os Imponentes Portais da Incomensurável Floresta Amazônica, novas situações inesperadas per sua frente, novas e grandiosas conquistas nas Listas, saia por aí conquistando Terras Desconhecidas, um grande impulso será enviado a você, é hora de usar e abusar do seu poder de atração, saía pelo mundo depois dos quarenta!, vá fazer a América Homérica depois dos quarenta, Mulher!, a América do Sul, quero dizer!, a Amazônia, quero dizer!; no dia 24 de Dezembro de 1995 almoce e jante com a família, no dia 25 almoce com a família também, coma churrasco com os familiares, faça libações ao Deus Eternal, seu Natal de Jesus será sem-igual!, comemore o Natal; à tarde, volte para o Casulo de Seda da Floresta de Pedras da Tijuca Barulhenta, ligue a secretária eletrônica para ouvir os recados, votos de Boas Festas dos Amigos e tais; zás!, um convite para trabalhar em Manaus, o meu Anjo me chamando pra Manaus; venha, professora!, lecionar em Manaus!, jogue tudo para o alto e venha pra Manaus!, venha ministrar filosofia bachelardiana para os caboclos de acá, venha teorizar em Manaus, venha literatizar em Manaus, venha para Manaus, venha pra cá, pra comer jaraqui, quem come jaraqui, não sai mais daqui; venha pra cá, pra comer pacu, quem come pacu, se apaixona por Manaus; venha pra cá, pra comer tambaqui, quem come tambaqui, não sairá daqui, não coma dourado, é peixe danado, quero dizer, é peixe remoso, peixe sem escamas é muito perigoso; quero dizer!, é perigoso para a saúde, assim eles dizem lá em Manaus, peixe lisinho sem escamas dá doença de pele, em 1996, imensa legião de leprosos nas ruas de Manaus, não se esqueça dos leprosos das ruas de Manaus, cuidado com as doenças venéreas em Manaus, os contaminados turistas infectando as caboclinhas, e a culpa recai no lisinho peixe sem escamas; que peixe lisinho encrencado!; caboclo que se preze não come peixe sem escamas, assim me contou o meu Guia-Caboclo; grande sorte têm os peixes sem escamas, lisinhos, brilhantes, roliços, não vão parar nos aiós dos pescadores; cuidado com a aids, a doença do Século XX, dizimando a humanidade na Era do Progresso, exatamente igual às pragas do passado, a aids matando os homossexuais do Mundo, a aids matando os maridos-galinhas, matando as esposas inocentes, elas abrem as pernas para os maridos infectados, a aids matando crianças indefesas, filhas de pecadores aidéticos que transam sem camisinha; o sexo hoje é o mal da humanidade, homem com homem e mulher com mulher, a outra metade da laranja do tempo de Platão; há poucos héteros no Mundo Atual; mas, eu sou hétera com muito prazer!, adoro demais da cooonta o sexo oposto!; a sífilis e a aids exterminando a humanidade; o sexo agora é veículo de doenças; o Amor agora mata, bom Deus!, neste final de Século XX, cadê a vacina contra a aids, meu Deus!, os cientistas não conseguem encontrar o antivírus da aids!, mas conseguiram a fórmula da eterna virilidade, os cientistas criaram a pílula do homem, os velhos agora já podem transar, transar com as mocinhas, bem entendido?!, suas velhas vão ficar em casa chupando o dedo, enquanto as mocinhas chupam outras coisas e et cœtera e tal, chupam o dinheiro do velho e et cœtera e tal, vale a pena pagar pra coisa funcionar, a brocheza acabou na Terra do Ão, a aids continua na Terra do Ão, os cientistas recebendo prêmios, a Suécia premiando os cientistas do Viagra, o Prêmio Nobel para os cientistas do Viagra, a descoberta do Viagra para o bem da humanidade, o poderoso Viagra que faz o mole ficar duro; o Amor, posto que é chama, seja eterno enquanto duro,
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