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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

30 DE SETEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 2

NEUZA MACHADO






30 DE SETEMBRO DE 2001 - EPÍSTOLA AOS HOMENS DO FUTURO - 2

NEUZA MACHADO


(Para o Brasileiro Consciente do Brasil-País do Futuro lembrar-se sempre que existiu um Brasil-Tristes Trópicos até o final do Século XX)


Hoje, Domingo, 30 de Setembro de 2001, Primeiro Anno do Século XXI e Primeiro Anno do Terceiro Milênio, conforme o prometido, eis-me aqui novamente.

Meus Amigos! Espero que, aí no Futuro, o mundo continue existindo. Desejo que Vocês Brasileiros estejam gozando boa saúde, paz e felicidade. Ab imo pectore (espero ter escrito corretamente a expressão latina atualmente em desuso), do fundo do peito, do mais íntimo recanto de minha alma, anseio que o mundo aí de Vocês continue belo e grandioso. Todos os dias, desta minha existência terrena, rogo pelo Futuro da maior parte dos Brasileiros ao Deus de Bondade da Fé Cristã (aqueles trilhões de brasileiros que estão atualmente, neste encrencado anno de 2001, sem sequer um centavo furado no fundo do casaco surrado). Continuarei rogando ad infinitum. Espero também que a Floresta Amazônica, o pulmão do mundo, continue existindo. Sem ar puro e clima favorável, Vocês Brasileiros do Maravilhoso Futuro não existirão. Neste meu tempo de calamidades sem-fim (não s’esqueçam de meu tempo histórico: final do Segundo Milênio e Primeiro Anno do Terceiro Milênio), as centenárias árvores do Brasil Varonil são derrubadas, diariamente, em grandes quantidades (pesquisem aí no Futuro e constatarão!). E os peixes? E os animais selvagens? Estão quase desaparecendo da face da Terra, graças às ações insensatas dos Homens. A água potável está por um fio aqui no Brasil Varonil deste 2001. Os grandes rios brasileses estão secando. Os rios da Floresta Amazônica (o Pulmão do Mundo), neste Início de Terceiro Milênio ainda são grandiosos, volumosos, mas, não sei não!, se continuar assim, com os Homens a derrubar as árvores da Grande Floresta, eles (os rios, as árvores e os homens) perecerão, com certeza.

Mas, neste meu anno de 2001, a vida continua aqui como dantes, nada mudou no Quartel do Abrantes. O Sol Hipercariocjônio brilhou nos céus do Rio de Janeiro. Muitas famílias foram passar o dia na praia; levaram suas crianças, cachorros, barracas de sol, água, cervejas, refrigerantes, e muita disposição para enfrentar os loooooongos engarrafamentos de carros, na ida e na volta, nas largas ruas de minha Cidade Maravilhosa. Os cachorros também vão à praia com seus donos. Que problemão! As areias repletas de lixo e cocô de cachorro! Os cachorros de estimação, de alguns ilustres senhores e de algumas impecáveis damas, são um problema à parte. Pela manhã, ou então à noite, na calada da noite, seus donos saem com eles pelas ruas de seus Bairros tradicionais. Não se assustem, Amigos do Futuro! Neste Anno de 2001, eles estão apenas passeando com seus bichinhos, os quais ficam confinados durante o dia nos micro-apartamentos. Entendam, são os muitos e muitos e muitos cachorros que defecam nas ruas e, cá entre nós, abaixar (os muitos donos de cachorro), para limpar a sujeira, é muuuuuuito humilhante! Não é mesmo?!!! Que se dane a limpeza da Cidade Maravilhosa neste Anno de 2001! Que se danem os pedestres distraídos, aqueles nobres pedestres que pisam nos cocôs de cachorro, os cocôs e cocôs espalhados pelas calçadas dos bairros residenciais do Rio de Janeiro, a megalópole do Mundo! Não é mesmo?!

Mas, continuando com as minhas notícias, outras famílias foram aos Templos de suas religiões, cumprindo assim suas obrigações religiosas; outros foram às suas Igrejas porque estão, realmente, iluminados pela chama da Fé. E haja fé nos dias de hoje! É preciso ter muita fé em Deus para aguentar as pressões do cotidiano. A ameaça de Guerra continua a nos assustar. Neste anno de 2001, no Oriente Médio, no Nordeste do Brasil Varonil, em outras partes do Mundo, há uma quantidade inumerável de crianças e adultos passando fome e sede, morrendo desamparados. Não sei quomodo relatar-lhes a permanente miséria que invade algumas partes do Planeta. A pobreza extrema é uma realidade até mesmo em alguns países do Primeiro Mundo. Mas, no Brasil Varonil, meu País abençoado por Deus, ser pobre é uma coisa normal (assim pensam hoje, neste Anno de 2001, os poucos muuuuuuito ricos! A elite endinheirada). Entretanto, todos os muuuuuuito pobres lutam para ganhar o pão de cada dia. O salário do pobre não é suficiente para pagar as despesas com roupas, calçados, alimentação; uniformes escolares para as crianças, cadernos, lápis, impostos altíssimos, et cœtera.

Entretanto, somos um Povo Feliz! O Sol hipercariocjônio não deixa de iluminar a Cidade do Rio de Janeiro, a mais bella Megalópole do Mundo.

Enfim, são estas as notícias de hoje, neste 30 de setembro de 2001. Domingo que vem, enviar-lhes-ei outra Carta. Aguardem-me!

Por ora, sem mais o que relatar, envio-lhes meu abraço carinhoso.

ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu e Jane Briseida, descendentes de Imortais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, um mágico território situado na parte Leste do Brasil Varonil.

P. S.: Minha narrativa ODISSÉIA MARIA um dia será publicada em especialíssimo Brasilês Vulgar. Aguardem!

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