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sexta-feira, 29 de março de 2013

A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: CASO VERÍDICO ACONTECIDO NO ALTO DE CARANGOLA EM UMA SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO


A HISTÓRIA DE ANTÔNIO: CASO VERÍDICO ACONTECIDO NO ALTO DE CARANGOLA EM UMA SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO


ANTÔNIO DE SOUSA COSTA

 

 

Minha mãe Antoninha contava um caso verídico, acontecido pouco abaixo do Arraial de Alto-Carangola, quase no final do século XIX. Nessa época, minha mãe tinha quase quinze anos, era ainda uma mocinha, quando ocorreu a notícia de um homem que tinha virado bicho no Alto-Carangola. Todos ficaram assombrados com aquela notícia, um homem virar bicho!?, não era possível nem acreditar em tal notícia. Mas era preciso verificar se era verdade mesmo. Aí, reuniu-se minha mãe com mais algumas colegas e foram ver de perto se era verdade que um homem tinha virado bicho.

 

Minha mãe Antoninha e as colegas foram até ao tal lugar indicado e constataram a verdade. Elas chegaram e viram dentro de um quarto um homem cabeludo deitado em uma cama de esteira, no chão. O homem estava com o corpo coberto de cabelo, com os dedos enrolados, com as unhas grandes e falava muito. Tinha muita gente que foi fazer visita, e todos de longe. Ninguém se atrevia a chegar perto do homem.

 

Mas, naquele momento em que minha mãe ali estava, chegou um amigo do homem que tinha virado bicho, por nome João Martins, e perguntou pelo o Egídio, como ele estava passando. De lá do quarto, onde ele estava deitado, ele ouviu a voz do amigo e deu um grito: “– Chega pra cá, João Martins. Eu preciso falar com você”. Esse fato, desse homem que virou bicho no Alto-Carangola, era muito comentado por muitos, pois o lugar ficou assombrado por muitos anos.

 

Eu conheci a casa do Egídio Fagundes, de chão, pé direito baixo, de pau-a-pique e de estuque, coberta com telha. A casa ficava em uma curva da estrada, do lado esquerdo pra quem sobe, quase chegando em Alto-Carangola, que, ultimamente, passou a chamar-se Arizona [*Orizânia]. Diziam que, se alguém passasse naquele lugar e dissesse, “é aqui que o homem virou bicho?”, ele aparecia.

 

Diziam, os mais antigos do lugar, que ele não morreu, desapareceu de uma noite para o dia. Ninguém viu a morte de Egídio Fagundes. Uma história triste e comovente de um moço que não chegou a ficar velho.

 

Contava-se que, em uma noite de sexta-feira da paixão, Egídio Fagundes arriou uma mula para repassá-la, e sua mãe detestou aquela atitude, querer repassar animal naquele dia, por ser sexta-feira santa. O moço respondeu que não tinha a ver uma coisa com a outra, e não quis atender ao pedido da mãe. Enquanto ele foi trocar de roupa, sua mãe soltou a mula e, quando ele voltou, e viu que a mula estava solta, ficou muito nervoso, e disse pra própria mãe: “– Agora vou te montar!”, e montou mesmo, na própria mãe, que o havia gerado e criado, até àquele dia, com todo carinho. Não se sabe se a mãe rogou praga nele, só se sabe que, daquela hora em diante, ele amuou em cima da cama e não levantou mais, desaparecendo sem ninguém ver o seu fim.

 

Quando eu nasci, minha mãe Antoninha já estava com trinta e dois anos, já tinha passado dezessete anos depois desse acontecimento. Alguns anos depois, eu já contava vinte e oito anos, eu e alguns companheiros músicos fomos tocar em uma festa em Alto-Carangola. A festa terminou às dez horas da noite e nós resolvemos voltar para casa. Até o momento que saímos da festa, dava pra passar naquele lugar, mas, à meia-noite, quando nos aproximamos do lugar, quando já estávamos em frente da casa, um dos colegas gritou: “– É aqui que o homem virou bicho!”, desabalamos numa correria e ninguém queria ficar para trás.

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