NEUZA MACHADO
SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: SUBINDO A SERRA ENCANTADA - 7
NEUZA MACHADO
Durante os anos de casamento, graças ao marido irrequieto, morei em vários lugares do bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Para ir-me a caminho ao centro da cidade (por motivos vários), de ônibus, táxi ou automóvel de passeio, sempre procurava usufruir as benesses do atalho da Avenida Menezes Cortes (a popular estrada da Serra Grajaú-Jacarepaguá, uma das pequenas montanhas que circundam a Cidade Maravilhosa).
Por motivo dessas “curtas viagens”, a serra do Grajaú já estava nitidamente decalcada em meus pensamentos. E não sem razão, muitos mágicos sonhos, a partir dela, povoaram as minhas noites sobrenaturais.
Em um desses sonhos, logo no começo, o sopé da serra se sobressaiu, com as características já conhecidas. As tais características se evidenciavam sempre pelo lado do bairro da Freguesia de Jacarepaguá, pois ali se situava a minha residência daquele momento. E, para começar esta longa narrativa de um simples sonho com apoteose, o prédio em que eu morava, no dito sonho, estava fixado justamente no lugar onde se ergue a construção do Hospital Cardoso Fontes, na base da serra, pelo lado da Zona Oeste. Entretanto, não era propriamente o prédio do Hospital, mas o local de minha moradia sonambúlica (um pequeno edifício de três ou mais andares, nada parecido com a minha real residência daquele momento).
Para explicar o motivo da certeza dos andares, afirmo que, no início do sonho, eu estava atarefada na cozinha, preparando alimentos relacionados a uma atmosfera de festa, que eu e meu marido iríamos oferecer a algumas desconhecidas visitas. Da janela da sala (que se conjugava com a cozinha e a área de serviço, sem paredes intermediárias), eu os via a conversar no pátio em frente ao prédio.
Em um determinado momento do sonho, a cozinhar os deliciosos quitutes, precisei de temperos, mas não os tinha à mão. Imediatamente, aproximei-me do parapeito da janela da lavanderia caseira, contígua à cozinha (no segundo ou terceiro andar), e comprei os tais temperos.
Como comprei os tais temperos, se não saí da cozinha?
Explicação do insólito: A vizinha do andar de cima tinha uma mercearia em sua própria lavanderia-e-cozinha. Para solucionar o problema da imediata falta de temperos em meu espaço de sonho, criei uma solução engenhosa (uma pequena mercearia à minha disposição logo acima de minha cabeça), pois, bastou-me esticar um longo braço até à janela da vizinha (não me lembro se enviei o dinheiro da compra), para ela depositar em minha mão os necessários temperos.
Agora, a explicação da abertura-janela da improvisada mercearia: A janela-mercearia ficava (repetindo tautologicamente a informação) no andar de cima, à minha direita, em ângulo L ao contrário (ponto de vista oblíquo). Na verdade, não era uma janela, mas uma ampla abertura, sem esquadrias, sem batentes e folhas (um recorte quadrado na parede), semelhante às antigas aberturas de lavanderias de apartamentos, amplas e sem as folhas ou vidraças.
Depois da solução engenhosa, continuei a movimentar-me normalmente pelo interior da cozinha, mexendo nas panelas, etc. Lembro-me que, de vez em quando, procurava observar, pela janela da frente (possivelmente, uma sala de visitas), olhando para baixo, os meus convidados e meu marido, os quais estavam conversando no pátio do prédio.
Em um intervalo do sonho, olhei pela janela da sala (pelo o outro lado do largo cômodo, pois não havia paredes a separar os aposentos), observando a paisagem arborizada e o movimento dos carros de passeio e ônibus a subirem a sinuosa estrada.
(Somente para os leitores que não conhecem a dita Avenida Menezes Cortes, explico-lhes que esta é uma rodovia que vai a direção ao centro da cidade do Rio de Janeiro, cujo trajeto, íngreme e sinuoso, passa por uma minúscula Floresta, pelo lado de Jacarepaguá).
Entretanto, quero crer que o início do sonho não me satisfazia, porque o inicial ponto de vista do meu olhar esbarrava, à frente e pelo lado esquerdo, com a serra arborizada e, pelo lado direito de minha perspectiva, com a minúscula floresta, já em nível baixo, uma espécie de pequeno precipício.
Em um momento da sequência de imagens sem nexo, eu estava apreciando a paisagem, quase semelhante à da Serra do Grajaú, e, de repente, o sonho se transformou.
Olhando, ainda, pela janela da sala, os convivas e meu marido (que conversavam animadamente), retirei a minha perspectiva de cima para baixo e direcionei-a, em sentido horizontal, para o meu lado direito (o lado baixo da pequena floresta da dita serra). A mudança do panorama do sonho foi drástica. Ao invés do cenário já conhecido, visualizei, como se fosse ampla tela de cinema, uma espécie de outro lado, montanhoso (muito parecido aos altíssimos montes de Minas Gerais). O cenário, à moda mineira, do lado direito de minha perspectiva, unia-se insolitamente ao pátio do pequeno edifício, o palco telúrico de minha moradia de sonho (por meio do início de um estreito caminho campestre).
Da janela do segundo ou terceiro andar da residência do sonho, passei a apreciar o novo cenário. A partir de uma reorganização das imagens, a Serra do Grajaú com a sua movimentação citadina, já conhecida, desapareceu, para ceder o espaço a um ambiente campestre, montanhoso, próprio da região de Minas Gerais. Um caminho sinuoso e solitário se destacava e se afunilava, desde o pátio do prédio (onde ainda estavam os convidados e meu marido) até ao alto da montanha. A visão da encosta só apresentava uma vegetação rasteira, à semelhança de pastagens de animais. Não me lembro de ter visto árvores, por esta nova perspectiva. Na parte mais alta da montanha, pude perceber o contorno de uma distante casinha (à semelhança de representação de pequenina casa campestre em aquarela onírica).
Em um novo movimento do sonho (não me recordo dos detalhes), eu já estava iniciando a caminhada, morro acima. Ao virar-me rapidamente para trás, acenei um adeus para os convidados e o marido (que me olhavam espantados), e continuei a andar, subindo sempre a direção da distante casinha de pintura.
Ao longo do caminho tortuoso, fui enfrentando vários obstáculos (poças d’água, ribeirinhos sem pinguela, caminho obstruído por pedras caídas de um barranco, temporal, trechos inundados onde eu me debatia para sair, bifurcações e outros mais). Se me recordo bem, percebi um ou outro passante casual, em sentido contrário, mas, lembrando-me integralmente do sonho, o caminho estava praticamente deserto.
Depois de trancos e barrancos, cheguei ao topo do altíssimo morro, onde se encontrava a dita casinha. Pela verdade do sonho, já não era mais uma pequena casa, mas, sim, uma imensa residência campestre de um só pavimento, sobre uma pequena elevação de terra. Ao redor da casa, contornando-a, uma cerca baixa de tábuas lisas de madeira, em sentido horizontal, e em três camadas, presas em várias grossas estacas.
O novo cenário parecia-se com aqueles dos filmes de faroeste americano. Para completar a semelhança com a enxurrada de filmes de cowboys americanos, que dominavam os entretenimentos cinéfilos da juventude brasileira, da época, alguns rapazes estavam sentados a descansar em cima dos mourões da cerca (com roupas e chapéus de vaqueiro americano).
Procurando lembrar-me do sonho com exatidão, os vaqueiros não se surpreenderam com a minha presença. Todos me cumprimentaram ao modo da roça, com muito respeito. Eram jovens louros, tipicamente americanos. Um deles recebeu-me com gentileza, uma vez que’eu estava cansada da atribulada viagem, morro acima, e levou-me para o interior da moradia. Já no interior da casa, apresentou-me a uma senhora obesa, que parecia ser a dona do lugar, ou criada de confiança, para que me desse um temporário abrigo, e, a seguir, voltou para a companhia dos outros rapazes. A partir daí, não os vi mais. E o sonho se encaminhou para um outro rumo. Entretanto, as características da alta montanha continuaram as mesmas.
Continuando a falar dos acontecimentos que se sucederam no interior da casa, além da senhora obesa, duas adolescentes também apareceram na sala, onde inicialmente eu me encontrava a conversar com a anfitriã. Vale lembrar que as três mulheres estavam vestidas e penteadas à moda do Velho Oeste Americano, o que contrastava com a minha natural forma de vestir-me.
Da sala, eu observava o ambiente ao redor, e, dali, eu via a entrada principal, do lado de fora, uma espécie de passarela ladeada de pequenas árvores e flores e encimada por caramanchões em guirlandas floridas (os quais estavam ligados às árvores de lado a lado).
Em um movimentar de olhos, as jovenzinhas me levaram até a uma cozinha, de aparência antiquada, onde pude beber água e saborear algum quitute, pois ali se encontrava uma outra jovem a cozinhar. Não vi mais a senhora obesa, pois esta desapareceu misteriosamente para algum outro aposento da casa. A seguir, as duas jovens me levaram a um quarto, e me mostraram o quartinho-banheiro, para que eu pudesse tomar um banho e repor-me da caminhada.
Não me lembro dos detalhes da lavagem corporal. Entretanto, penso ter saído do local enrolada em uma toalha, pois não me recordo de ter-me visto nua nas sequências seguintes. As gentis mocinhas estavam me esperando no quarto com algumas roupas nas mãos, para eu as vestir. O vestido que me ofereceram assemelhava-se aos delas próprios: longo, rodado e cheio de enfeites. Presentearam-me com antiquadas sapatilhas, acompanhadas de longas meias de algodão, além de enfeites para os cabelos. Uma penteadeira estava ali, à minha disposição! E elas começaram a me pentear, executando um penteado também antiquado, com cachinhos e laços de fita colorida.
Já devidamente adaptada ao ambiente e já vestida à moda das mulheres cinematográficas do faroeste americano, as mesmas duas mocinhas me levaram de volta à sala e ficaram conversando comigo algum assunto de que não mais me lembro. Depois de algum tempo, elas me informaram que o meu marido estava a se aproximar, pois viera buscar-me para levar-me para a minha casa.
Olhei para fora, para o pequeno trajeto da entrada da casa, ladeado de flores e encimado por um caramanchão florido, e vi um homem muito branco e louro se aproximando. Era o tal marido anunciado pelas jovens! (E não era o meu verdadeiro marido, aquele do princípio do sonho).
O meu diferente marido se aproximou de mim, enlaçou-me, colocando o braço direito em meus ombros, e encaminhamo-nos para a saída da casa. Dirigimo-nos para a outra extremidade, por um grande corredor que atravessava toda a casa (de onde se divisava a porta de saída), um corredor que apareceu repentinamente, já no final do sonho.
Do dito corredor situado na parte interna da casa, não me lembro de tê-lo visto antes. E não me recordo se houve despedidas. Com a nova aparição, as anteriores personagens desapareceram. Saí abraçada ao meu marido muito louro e resplandecente, completamente feliz. O caminho em cima da montanha era reto e amplo, para frente!
Ao lado do meu marido misterioso, não desci a montanha pelo o outro lado! Não me lembro de caminho de descida! E não retornei ao início do sonho!
SONHOS DILATADOS E BEM LEMBRADOS: SUBINDO A SERRA ENCANTADA - 7
NEUZA MACHADO
Durante os anos de casamento, graças ao marido irrequieto, morei em vários lugares do bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Para ir-me a caminho ao centro da cidade (por motivos vários), de ônibus, táxi ou automóvel de passeio, sempre procurava usufruir as benesses do atalho da Avenida Menezes Cortes (a popular estrada da Serra Grajaú-Jacarepaguá, uma das pequenas montanhas que circundam a Cidade Maravilhosa).
Por motivo dessas “curtas viagens”, a serra do Grajaú já estava nitidamente decalcada em meus pensamentos. E não sem razão, muitos mágicos sonhos, a partir dela, povoaram as minhas noites sobrenaturais.
Em um desses sonhos, logo no começo, o sopé da serra se sobressaiu, com as características já conhecidas. As tais características se evidenciavam sempre pelo lado do bairro da Freguesia de Jacarepaguá, pois ali se situava a minha residência daquele momento. E, para começar esta longa narrativa de um simples sonho com apoteose, o prédio em que eu morava, no dito sonho, estava fixado justamente no lugar onde se ergue a construção do Hospital Cardoso Fontes, na base da serra, pelo lado da Zona Oeste. Entretanto, não era propriamente o prédio do Hospital, mas o local de minha moradia sonambúlica (um pequeno edifício de três ou mais andares, nada parecido com a minha real residência daquele momento).
Para explicar o motivo da certeza dos andares, afirmo que, no início do sonho, eu estava atarefada na cozinha, preparando alimentos relacionados a uma atmosfera de festa, que eu e meu marido iríamos oferecer a algumas desconhecidas visitas. Da janela da sala (que se conjugava com a cozinha e a área de serviço, sem paredes intermediárias), eu os via a conversar no pátio em frente ao prédio.
Em um determinado momento do sonho, a cozinhar os deliciosos quitutes, precisei de temperos, mas não os tinha à mão. Imediatamente, aproximei-me do parapeito da janela da lavanderia caseira, contígua à cozinha (no segundo ou terceiro andar), e comprei os tais temperos.
Como comprei os tais temperos, se não saí da cozinha?
Explicação do insólito: A vizinha do andar de cima tinha uma mercearia em sua própria lavanderia-e-cozinha. Para solucionar o problema da imediata falta de temperos em meu espaço de sonho, criei uma solução engenhosa (uma pequena mercearia à minha disposição logo acima de minha cabeça), pois, bastou-me esticar um longo braço até à janela da vizinha (não me lembro se enviei o dinheiro da compra), para ela depositar em minha mão os necessários temperos.
Agora, a explicação da abertura-janela da improvisada mercearia: A janela-mercearia ficava (repetindo tautologicamente a informação) no andar de cima, à minha direita, em ângulo L ao contrário (ponto de vista oblíquo). Na verdade, não era uma janela, mas uma ampla abertura, sem esquadrias, sem batentes e folhas (um recorte quadrado na parede), semelhante às antigas aberturas de lavanderias de apartamentos, amplas e sem as folhas ou vidraças.
Depois da solução engenhosa, continuei a movimentar-me normalmente pelo interior da cozinha, mexendo nas panelas, etc. Lembro-me que, de vez em quando, procurava observar, pela janela da frente (possivelmente, uma sala de visitas), olhando para baixo, os meus convidados e meu marido, os quais estavam conversando no pátio do prédio.
Em um intervalo do sonho, olhei pela janela da sala (pelo o outro lado do largo cômodo, pois não havia paredes a separar os aposentos), observando a paisagem arborizada e o movimento dos carros de passeio e ônibus a subirem a sinuosa estrada.
(Somente para os leitores que não conhecem a dita Avenida Menezes Cortes, explico-lhes que esta é uma rodovia que vai a direção ao centro da cidade do Rio de Janeiro, cujo trajeto, íngreme e sinuoso, passa por uma minúscula Floresta, pelo lado de Jacarepaguá).
Entretanto, quero crer que o início do sonho não me satisfazia, porque o inicial ponto de vista do meu olhar esbarrava, à frente e pelo lado esquerdo, com a serra arborizada e, pelo lado direito de minha perspectiva, com a minúscula floresta, já em nível baixo, uma espécie de pequeno precipício.
Em um momento da sequência de imagens sem nexo, eu estava apreciando a paisagem, quase semelhante à da Serra do Grajaú, e, de repente, o sonho se transformou.
Olhando, ainda, pela janela da sala, os convivas e meu marido (que conversavam animadamente), retirei a minha perspectiva de cima para baixo e direcionei-a, em sentido horizontal, para o meu lado direito (o lado baixo da pequena floresta da dita serra). A mudança do panorama do sonho foi drástica. Ao invés do cenário já conhecido, visualizei, como se fosse ampla tela de cinema, uma espécie de outro lado, montanhoso (muito parecido aos altíssimos montes de Minas Gerais). O cenário, à moda mineira, do lado direito de minha perspectiva, unia-se insolitamente ao pátio do pequeno edifício, o palco telúrico de minha moradia de sonho (por meio do início de um estreito caminho campestre).
Da janela do segundo ou terceiro andar da residência do sonho, passei a apreciar o novo cenário. A partir de uma reorganização das imagens, a Serra do Grajaú com a sua movimentação citadina, já conhecida, desapareceu, para ceder o espaço a um ambiente campestre, montanhoso, próprio da região de Minas Gerais. Um caminho sinuoso e solitário se destacava e se afunilava, desde o pátio do prédio (onde ainda estavam os convidados e meu marido) até ao alto da montanha. A visão da encosta só apresentava uma vegetação rasteira, à semelhança de pastagens de animais. Não me lembro de ter visto árvores, por esta nova perspectiva. Na parte mais alta da montanha, pude perceber o contorno de uma distante casinha (à semelhança de representação de pequenina casa campestre em aquarela onírica).
Em um novo movimento do sonho (não me recordo dos detalhes), eu já estava iniciando a caminhada, morro acima. Ao virar-me rapidamente para trás, acenei um adeus para os convidados e o marido (que me olhavam espantados), e continuei a andar, subindo sempre a direção da distante casinha de pintura.
Ao longo do caminho tortuoso, fui enfrentando vários obstáculos (poças d’água, ribeirinhos sem pinguela, caminho obstruído por pedras caídas de um barranco, temporal, trechos inundados onde eu me debatia para sair, bifurcações e outros mais). Se me recordo bem, percebi um ou outro passante casual, em sentido contrário, mas, lembrando-me integralmente do sonho, o caminho estava praticamente deserto.
Depois de trancos e barrancos, cheguei ao topo do altíssimo morro, onde se encontrava a dita casinha. Pela verdade do sonho, já não era mais uma pequena casa, mas, sim, uma imensa residência campestre de um só pavimento, sobre uma pequena elevação de terra. Ao redor da casa, contornando-a, uma cerca baixa de tábuas lisas de madeira, em sentido horizontal, e em três camadas, presas em várias grossas estacas.
O novo cenário parecia-se com aqueles dos filmes de faroeste americano. Para completar a semelhança com a enxurrada de filmes de cowboys americanos, que dominavam os entretenimentos cinéfilos da juventude brasileira, da época, alguns rapazes estavam sentados a descansar em cima dos mourões da cerca (com roupas e chapéus de vaqueiro americano).
Procurando lembrar-me do sonho com exatidão, os vaqueiros não se surpreenderam com a minha presença. Todos me cumprimentaram ao modo da roça, com muito respeito. Eram jovens louros, tipicamente americanos. Um deles recebeu-me com gentileza, uma vez que’eu estava cansada da atribulada viagem, morro acima, e levou-me para o interior da moradia. Já no interior da casa, apresentou-me a uma senhora obesa, que parecia ser a dona do lugar, ou criada de confiança, para que me desse um temporário abrigo, e, a seguir, voltou para a companhia dos outros rapazes. A partir daí, não os vi mais. E o sonho se encaminhou para um outro rumo. Entretanto, as características da alta montanha continuaram as mesmas.
Continuando a falar dos acontecimentos que se sucederam no interior da casa, além da senhora obesa, duas adolescentes também apareceram na sala, onde inicialmente eu me encontrava a conversar com a anfitriã. Vale lembrar que as três mulheres estavam vestidas e penteadas à moda do Velho Oeste Americano, o que contrastava com a minha natural forma de vestir-me.
Da sala, eu observava o ambiente ao redor, e, dali, eu via a entrada principal, do lado de fora, uma espécie de passarela ladeada de pequenas árvores e flores e encimada por caramanchões em guirlandas floridas (os quais estavam ligados às árvores de lado a lado).
Em um movimentar de olhos, as jovenzinhas me levaram até a uma cozinha, de aparência antiquada, onde pude beber água e saborear algum quitute, pois ali se encontrava uma outra jovem a cozinhar. Não vi mais a senhora obesa, pois esta desapareceu misteriosamente para algum outro aposento da casa. A seguir, as duas jovens me levaram a um quarto, e me mostraram o quartinho-banheiro, para que eu pudesse tomar um banho e repor-me da caminhada.
Não me lembro dos detalhes da lavagem corporal. Entretanto, penso ter saído do local enrolada em uma toalha, pois não me recordo de ter-me visto nua nas sequências seguintes. As gentis mocinhas estavam me esperando no quarto com algumas roupas nas mãos, para eu as vestir. O vestido que me ofereceram assemelhava-se aos delas próprios: longo, rodado e cheio de enfeites. Presentearam-me com antiquadas sapatilhas, acompanhadas de longas meias de algodão, além de enfeites para os cabelos. Uma penteadeira estava ali, à minha disposição! E elas começaram a me pentear, executando um penteado também antiquado, com cachinhos e laços de fita colorida.
Já devidamente adaptada ao ambiente e já vestida à moda das mulheres cinematográficas do faroeste americano, as mesmas duas mocinhas me levaram de volta à sala e ficaram conversando comigo algum assunto de que não mais me lembro. Depois de algum tempo, elas me informaram que o meu marido estava a se aproximar, pois viera buscar-me para levar-me para a minha casa.
Olhei para fora, para o pequeno trajeto da entrada da casa, ladeado de flores e encimado por um caramanchão florido, e vi um homem muito branco e louro se aproximando. Era o tal marido anunciado pelas jovens! (E não era o meu verdadeiro marido, aquele do princípio do sonho).
O meu diferente marido se aproximou de mim, enlaçou-me, colocando o braço direito em meus ombros, e encaminhamo-nos para a saída da casa. Dirigimo-nos para a outra extremidade, por um grande corredor que atravessava toda a casa (de onde se divisava a porta de saída), um corredor que apareceu repentinamente, já no final do sonho.
Do dito corredor situado na parte interna da casa, não me lembro de tê-lo visto antes. E não me recordo se houve despedidas. Com a nova aparição, as anteriores personagens desapareceram. Saí abraçada ao meu marido muito louro e resplandecente, completamente feliz. O caminho em cima da montanha era reto e amplo, para frente!
Ao lado do meu marido misterioso, não desci a montanha pelo o outro lado! Não me lembro de caminho de descida! E não retornei ao início do sonho!
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