NEUZA MACHADO
A AUTORIDADE DO DOM DA GRAÇA
NEUZA MACHADO
O narrador de A Hora e Vez de Augusto Matraga, depois da “surra” aplicada pelos “bate-paus” em seu herói-personagem, abandona a proposição de narrativa centralizada no mítico (herói) e concentra na substância carismática (também poderosa) a tentativa de reestruturação do personagem. A face carismática de Nhô Augusto começa a se delinear a partir de seus padecimentos físicos e morais.
O narrador, ainda sintagmático, deseja “aconselhar”, passar adiante as experiências comunitárias do sertão. Por enquanto, ainda não “tomou a vez” dentro da estória narrada.
A face carismática de Nhô Augusto começa a delinear-se por intermédio desse desejo do moderno narrador sertanejo do século XX de reestruturá-la, e, ao mesmo tempo, reestruturar-se. Ele se encontra ainda no plano diegético e vale-se de forças substanciais, no caso substância religiosa, para dar continuidade à narrativa. Há ainda o fio narrativo linear estruturando o sentido do ato de narrar exemplos de vida de pequenos grupos religiosos do sertão mineiro. Por esta perspectiva sintagmática se vê envolvido pelos dogmas religiosos que compõem o espaço comunitário de seu sertão de origem, e, por sua vez, “toma” o partido de seu futuro personagem ficcional, representante, no momento, de uma face exemplar de sua vida. Percebo neste narrador, especificamente, aquele que conhece um determinado espaço, onde as experiências de guerra entre pequenas comunidades sertanejas e as parábolas moralistas são passadas de geração a geração. A “queda” (inevitável) e a tentativa de reestruturação (transformação) simbolizam as necessárias alterações substanciais do Mundo.
MACHADO, Neuza. O Narrador Toma a Vez: Sobre A Hora e Vez de Augusto Matraga de Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: NMachado, 2006 – ISBN 85-904306-2-6
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