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quarta-feira, 19 de maio de 2010

17.5 - AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS: OS PADECIMENTOS FÍSICOS E MORAIS DE ALICE

NEUZA MACHADO


17.5 - AS AVENTURAS DE BHIMA NA TERRA DOS HOMENS: OS PADECIMENTOS FÍSICOS E MORAIS DE ALICE

NEUZA MACHADO


Os sofrimentos
do passado da Anciã Jovial
se misturavam aos lamentos
das doces e/ou amargas
recordações.
O casamento precoce
aos doze annos de idade,
com um velho decrépito
distante da mocidade;
a tentativa de aborto frustrado
aos treze annos de idade;
a morte da filha doente
aos oito annos de idade
e rejeitada por ela,
quando a pobre Alice
já contava vinte e um annos
de vida sofrida;
as surras de correia dadas pelo pai;
o sexo ansioso e amoroso
no meio do mato
com outros rapazes audazes;
os abusos sexuais de homens
praláde malvados;
as ameaças de morte;
a fuga para o Rio de Janeiro,
Capital do Brasil,
ajudada pelo Compadre
Antoinzim Aquileu
e a Joaninha Briseides
de Recontos Fabulosos Mil;
os doidos casamentos
na Cidade do Rio;
as traumáticas separações;
os filhos abandonados
com os diversos pais;
o desprezo dos filhos;
um filho militar
indiferente
aos seus apelos de mãe,
inclemente!;
os inúmeros relacionamentos,
et cetera e tal.

Então, veja Você!,
todos esses Acontecimentos
passando
diante dos olhos de Alice,
naquele preciso momento,
acionados por sua fala
entrecortada,
anormal,
e registrados
pela Veneranda Diana
e pelo Invisível Sentinela
do Espaço Sideral,
ambos emocionados
com os muitos entretantos
existenciais
daquela incrível Senhora.

E quando o Nenêm,
um guapo rapaz,
buscou-lhe o sexo,
no meio do mato?
E a surra de vara de guaxima
que o pobre levou do pai dele?,
só porque o pobrezinho
fizera sexo com ela?
Um Velhinho danado
e linguarudo,
que vira tudo de longe,
fora o culpado pela surra
que o belo Nenêm levara do pai.
“Coitado!, tive tanta pena dele!”
(exclamara a Alice)
“Queria tanto pedir-lhe perdão,
por ter sido a causa
de seu sofrimento e purgação!
Mas, ele nunca mais olhou para mim!,
você acredita?
Acho que ele tinha vergonha,
coitado!
Ou, então, talvez, pensasse
que a linguaruda fora eu!
Até hoje penso e repenso
no que aconteceu.
Penso que o Nenêm nunca soube,
de fato,
que quem contou pro pai dele
foi aquele Velho danado,
que morava ali perto
daquele recanto do mato.”
E a fuga para o Rio de Janeiro?
“O meu pai queria me matar!,
e foi o seu Pai,
o compadre Antoinzim Aquileu,
que me levou, de madrugada,
para embarcar no trem,
em Carangola.
A comadre Joaninha,
coitadinha!,
preocupada com a minha segurança,
foi junto,
com um cabo de vassoura na mão,
e o compadre Antoinzim
levava uma foice afiada
para me defender,
caso algum dos bate-paus de meu pai
aparecesse com a intenção
de me matar.
Tudo isto os seus Pais fizeram,
para me proteger,
até à saída do trem.
Eles, os capangas de meu pai,
ferozes,
queriam me matar,
a mando de meu próprio pai,
minha Senhora!
Foi o seu Pai,
o Compadre Antoinzim,
que me salvou da morte a pauladas,
me colocando no trem da madrugada.
Aí, eu fui para o Rio de Janeiro
com a intenção de enricar
e, depois, uma Fazenda comprar.
Eu queria ser Fazendeira,
ser rica com o suor de meu rosto,
sem precisar de casar
com um qualquer Fazendeiro mandão.
Fui mesmo é empregada doméstica!
Comi o pão que o diabo amassou,
no Rio de Janeiro!
Tive uns quatro maridos por lá,
fora os homens
com quem deitei sem amor.
Abandonei meu filho,
deixando-o com o pai.
Até hoje o meu filho não me perdoa!,
nem liga pra mim!
Telefonei para ele no dia das Mães.
Sabe o que ele fez?
Desligou o telefone na minha cara!
Eu abandonei o menino
porque não tinha como criá-lo.
Ele não me perdoa!
Tive mais filhos!
Estão todos espalhados por aí.
Tenho uma filha no Rio de Janeiro
que é cabeleireira;
outra, em Guarapari.
Estão todos espalhados por aí.
Mas, eu conheci todos os seus parentes,
minha Senhora!
Conheci sua Avó Justiniaña,
seu Avô Emilianno,
seus Tios e Tias.
Tinha um, coitadinho!,
que pegou doença venérea
em uma Casa de Puta.
O pinto dele inflamou
e apodreceu a pontinha.
O saco também inflamou!
O médico teve de cortar
o pedaço podre do pinto do seu Tio,
coitado!
Eu vi!
Ele me mostrou
e mostrou também à Justiniaña,
Mãe dele,
coitado!
Acho que foi o Duca,
seu Tio,
que perdeu um pedaço
do pinto inflamado!”
“Não!, Alice!, não foi o Duca, não!
Foi o Pedro de Brises da Conceição.
Mas, o pinto dele sarou
e ele casou-se!
Não teve filhos,
mas foi muito feliz com a a Fiota,
mulher sem-igual!
A tia Fiota foi,
para o Pedro de Brises da Conceição,
uma mulher amorosa,
valerosa,
fenomenal
e de bom coração.
Adotaram uma Sobrinha,
e a amaram demais!
Ele já faleceu, mas foi muito feliz!,
e viveu quomo quis!
O Duca José também
já está residindo
no Reino dos Mortos da Santa Sé,
Alice!
Quase todos os meus tios,
já foram pro Céu!”

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