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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

1 - O NARRADOR TOMA A VEZ: SOBRE A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

NEUZA MACHADO


1 - O NARRADOR TOMA A VEZ: SOBRE A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

NEUZA MACHADO


O propósito desta averiguação teórico-reflexiva é apresentar aos estudiosos das narrativas ficcionais ― brasileiras ―, manifestadas no século XX, um reformulado conceito de narrador, realçando o fato de que o meu pensamento analítico-interpretativo se direcionará pelo ponto de vista da interdisciplinaridade. Consciente de que a crítica atual exige do analista e/ou intérprete um conhecimento alargado que abarque mais de um ponto de vista teórico-crítico (analítico ou fenomenológico), estarei, nas páginas seguintes, analisando semiológica e sociologicamente o desempenho de um narrador em particular: o narrador de A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa.

Este narrador não poderá ser reconhecido, em estudos futuros, apenas como personagem ficcional (se penso na afirmação de Roland Barthes registrada em meados do século XX: o narrador é um personagem como outro qualquer), uma vez que o vejo também como alter ego de seu criador ficcional (nascido em uma localidade de Minas Gerais refletora de antigos costumes ditados por experiências de vida comunitárias), mas que, ao longo de sua vida, participou das normas da moderna sociedade capitalista.

Para oferecer consistência às minhas idéias diferenciadas, busquei auxílio, em um primeiro momento, na Semiologia Literária de Segunda Geração e, posteriormente, em Estudos Sociológicos de Textos Literários já reconhecidos no âmbito da Ciência da Literatura. A Semiologia de Segunda Geração (de Greimas, Barthes, Umberto Eco e Anazildo Vasconcelos), nos capítulos iniciais, poderá ser entendida como o alicerce que consolidou o desenvolvimento da conceituação na construção de um corpo teórico preciso para o ponto de vista analítico. As análises permitiram o desvelamento do texto ficcional e, ao mesmo tempo, sedimentaram as interpretações extratexto.

A Semiologia supracitada forneceu o fundamento que possibilitou a defesa da idéia de que o narrador sertanejo (entretanto, narrador do século XX) de A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa, poderá ser conceituado como um personagem representante da sua classe social adaptada aos valores da burguesia (voz das experiências de seu criador, aquele que, por isto mesmo, no desenrolar da narrativa sofre os conflitos do capitalismo periférico brasileiro, enquanto apresenta uma comunidade pura e seu herói). E se penso que a perspectiva do narrador roseano tem ligações temporais com as substâncias burguesas, posso adiantar incluso que a matéria apreendida no sertão, enquanto realidade histórica, é de um mundo primitivo, imaculado, e em vias de extinção. Este narrador especialmente está nas representações desta comunidade refletora de antigas substâncias primitivas, entretanto e contraditoriamente, relacionada com hábitos burgueses. Esta aparente contradição é concebível uma vez que o Ficcionista Guimarães Rosa, ao longo de sua existência, tornou-se conhecido como um cidadão moderno, viajado, culto, cosmopolita, mas as suas origens de vida reportam-no para as comunidades fechadas do passado, pois se criou ali.

MACHADO, Neuza. O Narrador Toma a Vez: Sobre A Hora e Vez de Augusto Matraga de Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: NMachado, 2006 – ISBN 85-904306-2-6

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