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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

4 - O NARRADOR TOMA A VEZ: SOBRE A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

NEUZA MACHADO


4 - O NARRADOR TOMA A VEZ: SOBRE A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

NEUZA MACHADO


O estudo semiológico do texto ficcional A Hora e Vez de Augusto Matraga de Guimarães Rosa, anteriormente realçado como base de minhas induções teórico-reflexivas, prende-se à Semiologia de Segunda Geração. Para que fique bem esclarecida a questão, há somente duas formas de se desenvolver estudos semiológicos centralizados apenas no texto enquanto coisa visível da obra literária. A primeira, mais usada pelos semiólogos radicais (Semiologia de Primeira Geração), estrutura-se a partir de um esquema fechado, instrumento seguro para detectar os sinais e códigos contidos na escrita, portanto, um estudo que objetiva trabalhar apenas a comunicação, as trocas linguísticas realizadas por meio da comunicação, os códigos que compõem esta rede de sinais presente na Literatura.

Esta primeira forma (Semiologia de Primeira Geração) direciona a apenas um tipo de abordagem (puramente científica), não permitindo, em hipótese alguma, uma futura reflexão interpretativa. Esta primeira forma estabelece e determina uma codificação do texto (impõe-se como estudo analítico, objetivo).

Quanto à segunda forma (Semiologia de Segunda Geração), o ato de se desenvolver um esquema semiológico (codificação do texto), promove uma decodificação. O texto se torna claro, os planos se tornam visíveis, o raciocínio se amplia, exigindo uma posterior interpretação. Este estudo semiológico se fixa dentro da segunda forma de se desenvolver um estudo esquemático e, posteriormente, interpretativo, em que a História é a base que explica a forma de comunicação humana. O código linguístico possui alguma ambiguidade, e o código do texto ficcional-arte que se vale do imaginário-em-aberto é pluri-ambíguo. Assim, não há como eliminar as conotações que fazem parte da linguagem enquanto um conjunto de sinais escritos, dentro do aspecto linguístico (normalmente inserido também no texto-arte) ou do literário-arte.

Ainda, no que diz respeito especificamente à obra de arte literária-ficcional, a ambiguidade, que gera o lado inconsciente da mensagem, será sempre mais forte do que os códigos. Esta segunda abordagem semiológica (de Segunda Geração), não apenas científica, não impede que se observem outros planos da obra literária. Por tais aspectos (ressalvando mais uma vez que a Semiologia de Segunda Geração aqui se revelará apenas como base para a exploração das camadas ocultas do texto roseano), procurei pensar não os códigos que compõem a rede de comunicação humana inseridos na ficção, mas o discurso narrativo como soma de códigos, investimento de que se serve o narrador de A hora e vez de Augusto Matraga para fundamentar a sua proposição de realidade ficcional.


MACHADO, Neuza. O Narrador Toma a Vez: Sobre A Hora e Vez de Augusto Matraga de Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: NMachado, 2006 – ISBN 85-904306-2-6

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