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sábado, 21 de agosto de 2010

2 - O NARRADOR TOMA A VEZ: SOBRE A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

NEUZA MACHADO


2 - O NARRADOR TOMA A VEZ: SOBRE
A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

NEUZA MACHADO


Narrador ficcional, pelo ponto de vista da Semiologia de Segunda Geração, é instância produtora de texto narrativo. Por este ângulo, penso no narrador de A Hora e Vez de Augusto Matraga especialmente como aquele que decide o valor dos elementos ficcionais, e esse valor é sempre um valor na referência a outros valores: valor moral, valor religioso, valor político. O narrador ficcional do século XX, como instância produtora de sentido, direciona e produz o fluxo narrativo, determina o sentido de destino, o sentido do sentido. O sentido é um conjunto de forças. Não damos conta do sentido de uma coisa sem antes considerarmos quais as forças que se apropriam dela. É assim que sentido aparece na filosofia de Nietzche, segundo a interpretação de Gilles Deleuze (Nietzche e a Filosofia). Mas as decisões de valor e os rumos do sentido de uma narrativa são derivados do discurso do Narrador.

Nas páginas que virão a seguir, dialetizando conscienciosamente meu ponto de vista teórico-crítico, posso afirmar que o narrador aqui realçado é alter ego do Artista Ficcional do século XX, como todos os outros narradores desta centúria e seus respectivos demiurgos, mas, sobretudo, neste caso específico, é alter ego daquele que recebeu, ao nascer, valores sertanejos. O que significa tal afirmação? Que este narrador, como personagem de narrativa em prosa, não consegue se tornar autônomo da face ficcional daquele que o concebeu. Assim, esclarecida a questão, é de meu interesse destacar o momento em que o narrador de A hora e vez de Augusto Matraga, enquanto personagem atuante, abandona a quase oralidade (característica do narrador experiente, descompromissado e informativo, a ditar normas de conduta à geração futura) para tomar a vez do herói, tornando-se questionador, mas livre e lírico, deixando suas recordações de uma localidade que lhe foi cara no passado aflorarem espontaneamente. Mesmo livre e lírico conduz-se como um narrador ficcional singular, e na etapa final da narrativa, já como representante da moderna burguesia, passa a apresentar a sua visão social de um mundo arcaico (o sertão) como símbolo de suas raízes de vida.


MACHADO, Neuza. O Narrador Toma a Vez: Sobre A Hora e Vez de Augusto Matraga de Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: NMachado, 2006 – ISBN 85-904306-2-6

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