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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

ODISSÉIA MARIA - XIII

NEUZA MACHADO




ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



DÉCIMO TERCEIRO CANTO



mas, como eu ia contando, retomando o fio de Ariadne Amorosa Tecelã, fui mesmo a Paris?, Odisséia das Serras de Plantação de Café de Minas Gerais, Carangola, nascida em um final de novembro, quase clareando o dia, numa casa velha do Bairro de Santa Maria, pertinho do Velho Pontilhão da Linha Férrea do Trem do Sertão, aquele imponente Pontilhão de Ferro importado da Bélgica no início do século; por isto as Grandes Pontes do Destino me atraem e me fazem sonhar; e fui enrolada numa cobertazinha fuleira; os astros diziam para eu não comprar promessas, jamais!, falsas promessas, quero dizer, entretanto, fui acreditando em todas as promessas do destino atual, sabendo que a minha evolução estava bem diante do meu nariz, no dia em que os deuses do Sétimo Rei Hammurabi, chefiados por Marduc, o deus da Babilônia, situada na região sumero-acadiana, pronunciaram meu nome, afirmando-me qu’eu teria um chevrolet ultramoderno no futuro; nunca tive chevrolet, nunca dirigi carro, mas pretendo aprender a dirigir antes de passar para o patamar de cima, suspensa entre o antes e o depois; as Parcas Boazinhas dos Meados do Século XX, três amigas queridas, confabularam e organizaram minha vida pra lá de desordenada; caipira da roça e Cidadã do Mundo, sofrendo de alergia nesse final de milênio, atravessando a Ponte Rio-Niterói das Brilhantes Visões, vendo o Ashley ancorado no Cais; o meu imaginário avião supersônico voando sobre a Baía de Guanabara, lá longe a Ilha Fiscal dos Bailes Modernos, onde grandes bailes foram realizados nas décadas de 40/50, ouvindo o som irritante da sirene do carro de polícia ultrapassando os carros na Ponte Longitudinal, tendo ao fundo a beleza da paisagem, os pássaros marinhos voando voando voando no infinito bonito, buscando o infinito sem fim dos meus sonhos epo-lírico-ficcionais; hoje, o dia está ensolarado, por ora, o dia está ensolarado; o Sol Hiperjônio dos gregos antigos se elevou nos vastos céus do Brasil Varonil, iluminando os eternos deuses de Niterói e os homens mortais; agora não vai chover, graças ao meu Deus adorado!, poderei ver o Almirante Guillén das Histórias Marítimas, o Itapeba Um e o Segundo também, bonitos, garbosos; mas, como eu ia dizendo, o dia está ensolarado, atravesso a Ponte Rio-Niterói das Bruscas e Inesperadas Freadas, viajando calmamente de ônibus velhíssimo, neste 08 de janeiro de 1999; nunca s’esqueça das datas do Mundo Profundo, Raimundo!; vejo os navios parados na Baía, o Pão de Açúcar enriquecendo a paisagem, o Cristo Redentor abençoando os cariocas, abençoando os fluminenses também; lá vou eu, Circe Calíope das Terras Encantadas de Minas Gerais, nascida na Zona Guerreira da Mata Mineira; descendente dos Audazes e Heróicos Caçadores de Onças Pintadas de Amarelo e Preto, Caçadores de Jaguatiricas Noturnas também; meu avô materno tão terno!, o Intrépido Emiliano de Brises Martins Sant’Anna Valente do Clã Valeroso dos Valerosos Romanos Valentes Carangolenses, marido de Doña Justiniaña de Ogiges Maria D’Amorim da Grandiosa Dinastia dos Damásios e Amorins Intrépidos da Serra dos Carolas Religiosos de Carangola Frajola, um local sem-igual, muito amado!, que faz divisa com São Manuel do Boi Afogado; Emiliano Romano foi um grande caçador de tatus e capivaras e pacas e jaguatiricas noturnas e onças pintadas de preto e amarelo dourado e et cœtera e tal; agora, lá vou eu, a famigerada Calíope Deolinda Sant’Anna Grieco Romana Portuguesa Brasilana Carangolana e Mui Divinana, parenta longínqua da Grã Ilustre Velha Romana, matriarca poderosa dos Romanos de Carangola, talvez parenta longínqua dos Romanos de Juiz de Fora; antigamente existiu uma Rua dos Romanos em minha Cidade, hoje a rua se chama Santos Dummont, em homenagem ao nosso famoso brasileiro mineiro inventor do avião; Graças A Esta Necessária Descendência Tão Ilustre, lá vou eu viajando no Mundo Rotundo e Profundo, Odisséia Maria Cabocla Brasileira Mineira Grega Romana Portuguesa Africana Divinana e Carangolana das Incontáveis Amoráveis Saudáveis Misturas Genéticas Desejáveis; os Memoráveis Ilustres Famigerados Famosos e Notáveis Sobrenomes de Família, no Brasil Varonil Cor de Anil, são uma questão de identidade nacional universal; nascida na Zona da Mata Mineira Belicosa e Guerreira; cidadã do Rio Maravilhoso e do Mundo também; lá vou eu, olhando encantada a Cidade de Niterói, a Niterói dos hiperniteroijônios, aquela foi berço de um índio famoso, Araribóia, amigo dos airosos franceses; por isto, a Cidade de Niterói se parece com a França, por isto, existiu aqui, no passado, uma Loja Samaritana Francesa, imitação tupiniquim da Samaritain de Paris com certeza; lá vou eu no ônibus RJ 117 129, da linha Vila Isabel-São Gonçalo, apreciando de longe a imponência da Bella Catraia Maria Itajubá ao lado do Almirante Guillén, meu amor; o ônibus parou no ponto em frente ao Mercado Sendas de Niterói; há muitas sendas brilhantes e curvas empoeiradas nos outeiros-olimpos de Niterói; alguns passageiros desceram e sumiram na poeira dourada luminosa do Sol Hiperniteroijônio da Tarde Esplendorosa, eles não foram escolhidos para esta viagem sem-rumo, não farão parte desta viagem interinfinita interstícia, os deuses de Hammurabi Babilônico não pronunciaram seus nomes diante do Portal da Maravilhosa Vida Terrestre; entrementes, neste raríssimo intervalo de tempo, sur ces entre-faits, exatamente neste momento, o ônibus viaja para o infinito bendito, rom, rom, rom, room, rom, room, rooom, rooom, quase parando, devagarquaseparando, é um ônibus velhinho, coitado!, o motorista velhinho só voa de verdade na Cidade do Rio Encantado, em São Gonçalo, ele vai devagar, se ele correr, São Gonçalo o castigará com certeza; agora, atenção!, todos parados no Grande Cruzamento Perigoso do Pensamento Individual e Interdito, bem no meio do Bairro de Neves Eternas e Crateras Gigantes, lá vamos nós, e a minha alergia me atacando de novo, por causa do perfume barato impregnando o ar, o perfume barato do passageiro da frente, ou do lado, não sei bem; eu sou uma doutora sem eira, nem beira, viajo de ônibus para ganhar meu sustento, mas só uso o caríssimo parfum francês AnaïsAnaïs da Cacharel, um eau de toilette francês fabricado em New York nos Estados Unidos da América do Norte; os outros não-doutores do Rio ganham muito dinheiro; mesmo assim, sou muito sortuda, nasci em Sagitário Flecheiro, o signo da sorte; tenho a sorte de ser muito feliz; só olho verticalmente as estrelas infinitas, não olho nunca para o chão, não senhor!, não quero ver os cocôs de cachorro espalhados nas calçadas de minha Maravilhosa Cidade, os cocôs de cachorro dos grandes não-doutores e de suas finíssimas cônjuges; tenho horror a cocô de cachorro espalhado nas calçadas do Rio, neste início de 1999, preste atenção!, não sei quomo esses donos de cachorro não têm vergonha na cara, deixar cocô de cachorro nas calçadas do Rio; os hiper-cariocas d’ágora sujam sem piedade as ruas do Rio, são incapazes de jogar o lixo maldito nas lixeiras públicas, preferem jogar os copos descartáveis e latas de refrigerantes e sobras de sanduíche no chão da Cidade Maravilhosa; pobre Cidade!, tãomalamada!; perdoe-me, amorzinho!, por tantos entretantos e tantos, somos seres robotizados neste final do Segundo Milênio, repetimos e repetimos, quomodo máquinas modernas há muito enguiçadas; mas, se você estiver cansado de me seguir, nesta viagem sem pontos, parágrafos e paradas de ônibus, faça você mesmo a pontuação!, Meu Irmão!; Você, óh! Leitor do Terceiro Milênio!;

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