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domingo, 1 de novembro de 2009

ODISSÉIA MARIA - XI

NEUZA MACHADO



ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



DÉCIMO PRIMEIRO CANTO


quomodo eu ia contando, irei cumprir minha obrigação trabalhista, senão não terei quomo pagar as contas do mês, encantarei meus alunos com a mágica extraordinária dos grandes escritores criadores de um mundo muito profundo, mundo de magias e sonhos sem-fim, repleto de sortilégios e et cœtera e etc e tal; mas, como eu ia contando, depois retornarei de ônibus para a Tijuca, um bairro residencial localizado na Cidade mais bonita do Mundo, para o meu Casulo de Bicho da Seda Brilhante cheio de livros e de sonhos e esperança constante, e dormirei o sono dos justos, sem pesadelos e sem preocupações; já estou na metade da minha existência, no meio da minha vida, no meio do caminho repleto de pedras e espinhos, e não há motivo para ter preocupações com o Futuro, o Futuro a Deus pertence!, somente ocupações com o Presente; quomo, por exemplo, consultar o oráculo do dia seguinte, predizendo grande magnetismo na união, novos ideais poderão mudar a minha maneira de olhar o mundo; mas, óóóh!, oráculo mais fajuto!, Raimundo!, não sei quomodo manusear essa predição, não sei quomo direcionar o Destino Pagão, que Grande Presentão!, estou sozinha dentro do meu Casulo de Quartzo Rosado, não abro a porta para ninguém, não quero juntar as escovas, não, só quero o lado prazeroso do amor cinqüentão, Ulisses Astuto na casa dele e eu em minha casa, meu bem!, de vez em quando um achego amoroso, não sou de ferro, sou humana também, quomodo todo mundo; e pelo fato de não inquomodar todo o mundo, gosto de beijos e abraços e et cœtera e tal, de ouvir palavras de amor e paixão, se possível em idiomas diferentes, quomo quando estive em Paris, gloriosa; ali o meu Anjo a mostrar-me o interesse do bello vietnamita do Hôtel, deiforme novinho; zanguei-me com meu Anjo-Guru, dizendo-lhe não precisar de intermediários no amor, o tal vietnamita francês não me interessava, não; ele que fizesse um bom proveito do tal; no entanto, o dito era bem bonitinho, mais jovem e disposto para os jogos do amor; no entanto, verdade verdadeira, eu estava muito OK, com uma mentirosa aparência mui juvenil; que pena!, deixei de ouvir palavras de amor em francês acrescidas de um leve e intrigante sotaque vietnamita, não tive uma noite de amor à moda francesa; eu estava bonita em Paris!, eu estava very wonderful; por tais motivas reais, Paris me traz lembranças incríveis; sonhando, ainda verei nas montras de lá esta minha Odisséia Maria de uma brasileira mineira altaneira, uma edição elzevir do final do Século XX, com aqueles bellíssimos dizeres “vient de paraître”, acaba de aparecer na Paris dos Luíses uma brasileira mineira hilária e guerreira, pretendendo levar de Paris recordações singulares; Paris me traz lembranças incríveis, quomodo aquele jantar no Cafe de Flore financiado pelo meu Anjo-Guru preferido, bebendo excelente vinho francês e comendo caviar Sevruga, na mesma mesa em que o Pablo jantou no início do Século XX, e depois Roland Barthes também, e tantos outros divinos meninos, e o meu Anjo pagando a conta astronômica, mas o dia era especial, e não acontece todos os dias um jantar em Paris, Mon Petit!, principalmente no Cafe de Flore, e o gerente do Cafe oferecendo-me de presente o livreto com o cardápio do dia; foi mui gentil o gerente do Cafe!, ele intuiu a minha inventada riqueza e quis homenagear-me deveras, para que essa lembrança me fizesse sonhar com Paris nos vindouros dias de minha vida venturosa no Rio de Janeiro ex-Capital do Brasil Cor de Anil, minha única e querida capital do mundo; Paris é só para brasileiro ver, achar linda, e depois voltar correndo para casa, Paris é para de vez em quando; brasileiro que se preze só se sente bem no Brasil Varonil, talequal aquele pernambucano perdido em Paris, em 1991, prest’ atenção!; depois da noitada no Cafe de Flore, em uma madrugada encantada, o encontramos vagamundeando na rua deserta; nosotros soltos pelas ruas da Paris Real dos Luizes Reais, a Cidade-Luz, e o pernambucano rindo e chorando, ao ouvir nossas vozes brasilesas, perdão!, brasileiras; o idioma brasilês-português-espaguês-francês-inglês-tupiniquês de som adocicado, tão bello!, quando voltávamos, meu Anjo e eu, do Cafe de Flore, andando pelo Boulevard Saint-Germain em direção ao Castelo dos Sonhos, digo, em direção ao Hôtel Sonhador; hotel próprio para estudantes e turistas e abonados brasileiros; e o brasileirinho-pernambucano, emocionado, em Paris, ele ouviu o som familiar de sua língua nativa ressoando em Paris, na amplidão daquela incrível madrugada de setembro em Paris; ele estava trabalhando em Paris, comendo o pão que o diabo amassou em Paris, o pão que o diabo amassou com o rabo, sofrendo a profunda solidão dos exilados em Paris; e o brasileirinho continua andando solitário e infeliz em minhas recordações eternais, eternamente andando em direção ao Nada em Paris; se ele retornou ao Brasil, não sei, não sei se ele retornou ao Brasil Varonil ou se continua andando por lá, solitariamente, nas ruas iluminadas de Paris, madrugada em Paris, jamais saberei!; só sei que ele continua andando em minhas recordações, flutuando desamparado pelas ruas de Paris, preenchendo as minhas lembranças de Paris; mas como eu ia dizendo, houve aquela tarde no Museu do Louvre, quando encontramos amigos brasileiros também visitando o famoso Museu, mon Dieu!, bom Diós!, mio Dio!, pura coincidência, my God!, encontramos pessoas conhecidas em um Museu de Paris!; isto não teria acontecido no Rio de Janeiro não, não Senhor!; as sábias maravilhosas professoras da UFRJ e da UERJ estavam todas mui elegantes em Paris; o que estava fazendo a Odisséia Maria Sertaneja dos Heróicos Mineiros em Paris?, entre pessoas tão ilustres, em Paris?, Odisséia nascida em um alto de serra of hinterland de Minas Gerais; as professoras da UFRJ e da UERJ estavam lindas e pomposas no Museu do Louvre em Paris, e nós nos encontramos em Paris; e, neste instante, de volta para o futuro, vivendo o dezembro de 1999, quando todas as mudanças serão bem vindas, quando virarei a página do passado encantado para entrar no Anno 2000 com o pé direito alado, sabendo que Horizontes Interessantes estarão por aí; em dezembro de 1999 Plutão continuará em Sagitário; Marte, Netuno e Urano em Aquário; Mercúrio brilhando em Sagitário; Saturno Severo estará em Touro, retrógrado; Júpiter Troante em Áries Rompante; e Vênus Bellíssima Dama Vermelha em Escorpião, mas passando para Sagitário Mandão no primeiro dia do Anno 2000 do Calendário Cristão; Vênus Madrinha de nascimento sertanejo neste dezembro futuro estará em Escorpião, e eu estarei comemorando a passagem do anno com a família; ou, talvez!, em Paris das Histórias Românticas, passeando mui dite no Campo de Marte, assistindo feliz a passagem do Anno Assinalado do alto da Torre Eiffel, jogando confete no povo animado, tomando champanha e degustando caviar Sevruga, distribuindo gorjetas em euro, a moeda do final do Século XX, em Paris,

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