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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

ODISSÉIA MARIA - XVI

NEUZA MACHADO



ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



DÉCIMO SEXTO CANTO


mas, como eu ia contando (neste 10 de janeiro de 1999), minha Polis é muito barulhenta, os cachorros latem sem parar confinados nos pequenos apartamentos de seus donos barulhentos; os carros buzinam o dia inteiro, e à noite também; o barulho infernal dos sujos aparelhos de ar condicionado não me deixam dormir sossegada; os pivetinhos e Pivetões assaltam em pleno dia, por Zeus!, roubam o dinheiro suado do trabalhador sofredor; o barulho incessante da Cidade intrigante é um problema sem solução, meu Irmão!; as pessoas de bem estão trancadas em casa e os bandidos estão soltinhos nas ruas; o barulho da Cidade é uma agressão aos ouvidos do pobre mortal atual; minha Polis é um vaivém constante de pernas viajantes, não dá para exaltá-la em versos troantes, minha Macro Polis é um vaivém constante de moças chegando de longe, de outros Estados, procurando empregos, desejando melhorar suas vidas; chegam inocentes iludidas e muitas se transformam em prostitutas, poucas conseguem vencer os enormes obstáculos; há prostitutas moças de família, durante o dia são respeitáveis senhoritas, à noite, vendem o corpo em Copacabana Bacana e no Centro da Cidade Maravilhosa; em todas as esquinas da Megalópole Maravilhosa há pontos de encontros aviltados, para os turistas estrangeiros e brasileiros, duzentos dólares por uma hora de amor; quem sou eu, para atirar pedras nas pobrezinhas?, olhe só quem está falando?, olhe só?; ninguém deste final de Século XX pode criticar o seu próximo!, todos têm um pedacinho do rabo preso em alguma arapuca maluca; o meu rabo preso está cheio de cicatrizes sem penas das esparrelas da vida; não há pedacinhos de rabos das filhas e filhos d’alguns sem arranhões, arranhões produzidos pela violência das esparrelas cotidianas; quem conhece esparrela, de apanhar passarinhos e outros pequenos animais, sabe o que estou a dizer, digo, sabe o que estou dizendo; mesmo com o meu rabo preso, graças à minha Vênus Bella Madrinha em Escorpião pra lá de assanhada; posso afirmar, essas meninas ganham em uma noite o que os pobres pais não recebem em um mês de trabalhos sem conta, suados; e os pais fingem não saber, coitados!; as suas filhas se prostituem e eles não sabem, meu Deus!; neste Anno de 1999, elas querem as roupas da moda e os caros sapatos e bolsas da moda, bolsas de marca, quero dizer, só as marcas famosas, quero dizer, as marcas mais caras do mundo e et cœtera e tal; as marcas de hoje são as marcas do mundo, das Capitais da Elegância, quero dizer, Paris, Londres e Nova Iorque, pois Paris, neste final de Milênio, neste final de Século XX, ainda é a Capital da Moda; contra a vontade dos americanos, os franceses são bons costureiros, inclusive os nascidos em Oram, cidade da Argélia no Norte da África, antiga possessão francesa, mesmo os velhos estilistas nascidos em Oram e residentes na França são bons costureiros e ditam a moda no Mundo Atual, à moda do Mundo; hoje não há fronteiras, não senhor!; o Mundo é uma Grande Imensa Aldeia Global, onde muito os da terra natal padecemos; entretanto, retomando o fio de Ariadne Princesa Sem-Rumo, lá vou eu, Diana Macabéia Olímpico de Sousa, oferecendo oblações aos deuses antigos e aos modernos também; parenta humilde daquela Macabéia Estrelíssima da Hora Fatal, aquela amiga de minha amiga Clarice; lá vou eu, singela insignificante caçadora de palavras aladas, na figura de Odisséia Maria das Flechas Bonitas Quebradas, acompanhada de meus invisíveis e fiéis e terríveis e ferozes cães malteses, todos da Ilha de Malta, com certeza, tendo à frente da malta o extraordinário Kérberos, bebedor viciado de catuaba do Agreste Nordeste; o Kérberos, intratável, bebedor de litros e litros de catuaba só para se tornar um potente cão procriador; lá vou eu, agora, abandonando a minha Polis barulhenta do final do Século XX, abandonando os Pivetes armados até aos dentes, inclementes; aqueles roubam dos pobres para dar aos ricos, para comprar dos ricos Comerciantes, quero dizer, as roupas da moda, tão desejadas, e os tênis mais caros das Lojas de calçados, eles também querem o que o filho do bilhardeiro pode comprar, e por isso roubam, meu Deus!; sinto o peito excruciado só de pensar no karma pesado dessas pobres famílias!; enquanto os pais se matam de trabalhar e moram nas favelas da Polis, o pivetinho rouba nas Ágoras de agora; e a minha não é a Polis platônica, não senhor!, aqui não há perfeição, não senhor!, somos todos imperfeitos, Senhor!; agora, retomando o fio de Ariadne Implexora Emaranhada Enredada, lá me vou, eu, Diana Afrodite Rosa Magdalena Atilada ou Circe Irinéia Apaixonada ou Odisséia Maria Viajada, ou Vájira Diamante Resistente e Inquebrável e Afortunada, ou Maria Felix Brasileira dos Montes Distantes, não mais aquela rechonchuda mexicana das páginas anteriores andantes, viajando através de mim mesma, ou, quem sabe?, mostrando quomodo é a mulher de cinqüenta no final do Século XX; as mulheres de trinta já foram lembradas pelos poetas da década de sessenta, você, Mulher de Trinta, já amou, já sofreu pra caramba, você já foi lembrada pelos poetas d’antanho; os anos oitenta se encarregaram de exaltar a mulher de quarenta, Idade da Loba, segundo os escritores dessa época; por isso viajo através de mim mesma, neste 10 de janeiro de 1999, um maravilhoso domingo de sol itinerante, o sol hiperniteroijônio com seus raios brilhantes, só para mostrar o valor da mulher de cinqüenta; viajo em direção ao infinito de meus sonhos de vida, cantando e sorrindo e pensando e sonhando, às vezes, chorando, sem nunca ter vergonha de ser feliz, quomodo ensinou o divino Cantor Gonzaguinha de linhagem musical nordestina; viajo em direção ao infinito de meus sonhos mais íntimos, com a Lua reinando temporariamente em Escorpião, tendo a minha mente quomodo um projetor tridimensional; a minha vida é uma tela de cinema em três dimensões, libertando minha alma das amarras do mundo vital, vendo em minha tela trimágica o reflexo perfeito da minha consciência interior; eu sou responsável pela minha vida e por meus atos também, crio a minha própria realidade e et cœtera e tal, escolho o que fazer da minha vida na Vida, dou um sentido particular à minha existência, darei o sentido qu’eu quiser!, enquanto durar a minha permanência aqui nesta Terra Charmosa e Azulinda, sabendo que tudo depende de mim e dos meus atos sensatos, não padecerei per culpa de minhas próprias ações impensadas, uso e abuso do meu livre-arbítrio atual; mas tudo isto com a ajuda de Deus Pai dos Hebreus e Cristãos!; eu enxergo o mundo quomodo bem quero, não inquomodo a ninguém neste Mundo Rotundo e nem no Profundo; não quero ser uma vencida mas sim vencedora; eu faço esta viagem imaginada com muito prazer, apesar dos problemas imensos que enfrento e terei de enfrentar, apesar das pedras que invadem meu caminho enrolado repleto de flores extraordinárias, apesar da PVC que está próxima aos meus calcanhares; mas, como eu ia dizendo, com a Madrinha Vênus Dourada em Aquário, a Affeiçoada da Gente Lusitana e Brasileira também, aquela rege a minha Casa do Trabalho e da Saúde no Horóscopo Solar, e a Casa da União no Mapa do Ascendente, hoje me fazendo bons vaticínios; por isto ela não me faltou no passado, quando escolhi meu trabalho enrolado, a minha forma de sobreviver neste Século XX; é uma pena!, o salário não é dos melhores!; apesar do salariozinho de professora, aquela trabalha, trabalha, trabalha por hora, e no fim do mês, cadê ordenado decente, senhor?, cadê o ordenado decente?; mesmo assim acredite!, dou graças a Deus por ter um trabalho!, mesmo que o pagamento saia depois do quinto dia útil do mês, o dia assinalado para a compra do sal; por vezes, quando me sinto infeliz per este karma pesado, procuro fazer uma limonada gostosa e esqueço os percalços da vida; entretanto, a Vênus em Aquário me guiará neste Domingo caloroso de sol deslumbrante, neste 10 de janeiro de 1999, me guiará nesta tarde de sol e beleza sem-fim; dormi pracaramba na parte da manhã, estava cansada!; perdi o nascer do sol, os cantos dos passarinhos ao alvorecer; não vi as cores da manhã de pintura, não ouvi o mundo acordando tranqüilo; porque hoje é domingo, dormi até bem tarde!; óh mulher preguiçosa!; mesmo assim, lá vou eu, Diana Vájira Magdalena Preguiçosa viajando na Carruagem do Sonho Grandioso do Cocheiro Faetonte de Apolo Apolíneo Fermoso Gigante, invadindo a Floresta Tropical dos Índios do Brasil Varonil, conquistando as inóspitas e quentesardentes Terras Amazonenses, conquistando os inóspitos e misteriosos Igarapés, convivendo com índios, sucuris e caboclos valentes; matando à noite esvoaçantes carapanãs, as ditas malditas sugam todo o sangue de um indefeso mortal; driblando os Escorpiões Dourados na Floresta Misteriosa Tropical-Equatorial; os invasores ferrenhos vivem na Verde Cidade dos Homens Vermelhos do Brasil Varonil,

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