Quer se comunicar com a gente? Entre em contato pelo e-mail neumac@oi.com.br. E aproveite para visitar nossos outros blogs, "Neuza Machado 1", "Neuza Machado 2" e "Neuza Machado - Letras".

domingo, 15 de novembro de 2009

ODISSÉIA MARIA - XVIII

NEUZA MACHADO



ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO


DÉCIMO OITAVO CANTO


mas, como eu ia contando, eu vou voltar pra Manaus, meu Leitor; eu trabalhei em Manaus, meu Amor!, sou Brasileira Altaneira, com orgulho e prazer, e tudo em minha terra é para se admirar; aqui não é a Floresta Barbizon, não senhor!; não é Fontenebleau, não senhor!, não é a França, não senhor!; as floresta de lá são muito civilizadas!; as florestas do mundo europeu são mais civilizadas; quero dizer, a minha Floresta Amazonense é muito mais Encantada!; é mítica, é endeusada, eu vivi dias muito felizes em Manaus; sim senhor!, comi matrinchã assado na brasa, comi costelas de tambaqui com muito coentro e sabor nos Restaurantes de Manaus, comi escabeche de peixe à moda cabocla, com muita pimenta murupi e pimenta de cheiro e um pouco de sal, com cebola, pimentão, coentro, salsinha, tomate e azeite doce, aquele caldo fervente de peixe e amor, com muita farinha de mandioca; mais tem de ser a farinha cabocla, grossa e saborosa!, só os descendentes dos índios sabem fabricá-la, sim senhor!; almoço de sábado, preparado pelo meu deiforme Guia-Caboclo, o Guia-Caboclo Mais Bonito do Mundo Profundo!; mas, eu vivi em Manaus, sim senhor!, e convivi com a Floresta Indevassável, andei de canoa nos igarapés mais longínquos, atravessei de Voadeira Veloz Argentada Brilhante o Rio Negro de Águas Profundas Veladas Bacantes até a Praia do Amor, sim senhor!, conheci as Aldeotas dos Pescadores Mestiços de Pele Vermelha, fiz libações com a fumaça dos peixes assados na brasa, nas praias, em honra dos deuses da Floresta Tropical; o cheiro do tucunaré de coloração prateada acalmou a fúria de Tupã, o implacável deus dos silvícolas; vi as bellas estrelas do céu, deitada em uma rede de fibra de tucunzeiro, ao lado do meu guia-caboclo, mais bonito é impossível!; comi tucumã de fruto oleoso e saboroso, comi e me regalei com o creme de açaí, o açaí vermelhinho de tanto sabor, comi doce de cupuaçu, um doce amarelinho, mais saboroso do que o ambrosia dos deuses de Homero, e tantos outros frutos tropicais, não dá pra falar, são tantos, são tantos, não posso enumerá-los; eu vivi no Amazonas, Rapaz!, sim senhor!, morei em Manaus, na Avenida Sete de Setembro, bem pertinho do Antigo Palácio do Doutor Governador, próxima à Escola Técnica dos estudantes caboclos, em direção aos Educandos, Bairro dos Educandos, quero dizer; assisti às missas dominicais na Igreja Nossa Senhora dos Remédios dos Índios Mestiços; estava em Manaus no dia do Inesquecível Concerto do José Carreras, em fevereiro de 1996, no magnífico Theatro Amazonas do Princípio do Século; comprei os meus peixes milenares no Mercado Municipal, aquele estranho Mercado da beira do rio, com aquela arquitetura art-noveau lembrando Paris, arquitetura representante da época gloriosa da borracha, quando os seringalistas do Norte nadavam em dinheiro; mas, como eu ia dizendo, passeei aos domingos pelas ruas de Manaus, andava sem destino pela Joaquim Nabuco, ou então meu destino era a Avenida Getúlio Vargas, quando não trabalhava, quase enlouquecia; na verdade, na verdade, não fui verdadeiramente feliz em Manaus, sofri saudades do Rio de Janeiro do Sudeste do Brasil Varonil, quase morri de tristeza, sentindo saudade dos filhos amados; mesmo assim, passeei em Manaus, fiz compras insólitas na Zona Franca, vi o José Carreras repito de Voz de Barítono cantar e encantar as ninfas de lá no Grande Teatro Amazonense, repito, construído com o dinheiro da borracha, aquele precioso edifício do início deste meu Século XX, imponente construção sem nenhuma serventia, perdido na Cidade Equatorial da Floresta Monumental, grandioso prédio numa cidade de poucos ricos e muitos pobres caboclos só possuidores das riquezas sem dono da Imensa Floresta Sem-Igual, e morrem de doenças ditas tropicais; mas não passam fome, não senhor!, há muitos peixes no rio, há muitas frutas na densa floresta, muitas raízes de mandioca do mato serão transformadas em farinha saborosa, há muitas tartarugas nos rios eternais fornecendo carne para as sopas e outros pratos da região; há ainda os animais da floresta, um animalzinho ou outro para matar a fome e não fará falta a ninguém, não senhor!, pois a floresta ainda não tem dono, graças a Deus!, ainda há algo no mundo quase sem dono, graças a Deus!; mesmo que o estrangeiro tente se apropriar da floresta, a Floresta Amazonense pertence ao Brasil, yes Sir, uma parte da grande Floresta Tropical-Equatorial da América do Sul pertence ao Brasil Varonil; a Bolívia é dona apenas de um pequeno pedaço; mas, como eu ia dizendo, os caboclos de Manaus não passam fome, não senhor!, e não passam frio também, não senhor!, lá ninguém sente frio, o frio não existe por lá, não senhor!, é só calor de matar o anno inteiro, 46 graus de calor!, nem as chuvas diárias espantam o calor, calor terrível, meu Deus!, mais quente que o Inferno de Dante!, inclemente!, calor tão forte!, óh! My God dos Americanos do Sul e do Norte!, são oito banhos por dia; eu tomava oito banhos por dia, meu Mano!, sem contar os banhos da noite, e as carapanãs-muriçocas, Maninha!, uma nuvem de carapanãs-antropófagas querendo chupar o meu precioso sangue diferente do Sudeste do Brasil Varonil, elas perceberam o meu sangue diferente, o sangue dos caboclos já possui repelente, as carapanãs não sugam o sangue dos caboclos, não!; carapanã, para quem não sabe, é o pernilongo amazonense, pior do que os pernilongos do Sul do Brasil, aqueles terríveis bichinhos cantadores nos ouvidos dos mortais a noite toda, perturbando o sono, zunindo, zunindo, enfiando seus pequeninos ferrões afiados nos pobres mortais, sugando o sangue dos mortais; mesmo assim, eu penso, fui muito feliz em Manaus, sim senhor!, um anno de felicidade sem-fim em Manaus, levada pelo impulso de minha índole aventureira; ou, quem sabe?, pelo poder dos astros absolutos, eles estavam em evidência naquele momento, quase todos em Capricórnio, naqueles memoráveis dias de 1996, com Plutão invadindo Sagitário, meu signo de sorte, e me obrigando a sair viajando, viajando; essas viagens serão relatadas aqui, com certeza, se eu não perder este fio de Ariadne Andarilha Em Busca da Sorte; Plutão ficará muitos anos em Sagitário, obrigando-me a sair do Casulo de Seda da Tijuca Aconchegante, obrigando-me a sair do casulo da paz, a driblar o trabalho loquaz pra sair viajando; ele me levará à Europa no Anno 2000, o Plutão, e me brindará com o reveillon de Páris Alexandre oriundo da Grécia, de 2000 para 2001, por que não?; distribuirei gorjetas em euro para os pobres de lá, a Nova Moeda do Mundo Desgovernado e Profundo; eu estarei super rica, depois de ter encantado o Homem Mais Viril do Brasil Varonil; mas, como eu ia dizendo, quase todos os planetas em Capricórnio; Netuno, Urano, Marte, Mercúrio, e o Sol também em Capricórnio, meu Anjo-Guru também de Capricórnio, do dia 02 de janeiro de 1943; o meu Anjo-Guru Amazonense Rochel, filho de mãe Stella Brasileira e pai Judeu-Francês Samuel, me levando pra sua terra maravilhosa, me apresentando a seu povo dourado, encantado,

Nenhum comentário: