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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

ODISSÉIA MARIA - XXII

NEUZA MACHADO


ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO



VIGÉSIMO SEGUNDO CANTO



mas, como eu ia contando, retomo de Avião Supersônico Transcendental o Espaço Aéreo do Ontem Inflamante, voando de Avião de volta para o Passado Distante, encontro no caminho a Carruagem de Apolo Fascinante; encontro também o Velocino de Ouro de Hércules Possante, o Valioso Cordeiro pastando nos Campos da Grécia dos deuses; e vejo do Alto Instigante a Nau de Aquiles, o Beligerante Pelida Filho de Tétis, a deusa divina, amante imortal do mortal Peleu; o Pelida, amigo de Pátroclo; o Forte, vingando seus mortos, vingando a morte de Pátroclo Valente, arrasando com a sua fúria a Cidade dos Ílios, vencendo o Poder de Heitor, o Grande Troiano, vencendo o Filho de Príamo; a Guerra dos Gregos, a Guerra dos Ílios, aquele Combate ficou na Heróica História do Mundo Profundo, graças à grandeza dos versos de Homero, aqueles versos hexâmetros troantes e bellos; no entanto, as Guerras de hoje são mil vezes maiores, as Guerras do Século XX, quero dizer; mas, como eu ia dizendo, viajando de Avião, por esses ares epo-ficcionais belicosos nunca dantes navegados por Epo-Ficcional Foguete Interplanetário de Carreira, viajando para o Infinito de Meus Sonhos Sem-Fim, e se o combustível acabar?, o que será de mim?, no Passado não existiu Posto de Gasolina, não!, quomodo irei abastecer o Avião, se o combustível acabar?, gasolina ou óleo ou qualquer combustível que faça o meu Avião Supersônico voar?, se a gasolina acabar, não poderei voltar, quomo voltar do Passado?, por Zeus!, se a gasolina acabar?; no momento, neste Anno de 1999, continuando a viagem, vejo, lá embaixo as Três Caravelas descobrindo o Brasil, Pedro Álvares Cabral desmatando o Brasil, os Índios da Mágica Floresta perdendo o Brasil, o português quinhentista dominando o Brasil, o pau-brasil saindo do Brasil, as riquezas do Brasil saindo do Brasil, as esmeraldas e diamantes enfeitando a Europa, o ouro, nos Museus do Mundo Rotundo, e o Brasil?, e o Brasil?, coitado do Brasil!, o Brasil se transformando em cinzas no braseiro de pau-brasil!, os braseiros brasileiros perdendo a combustão, neste Anno de 1999, todos apavorados no Reino do Ão, todos divagando no Império do Ão, todos sonhando no País do Ão, todos querendo um Mundo de Abundância no Território do Ão, mas os Inconfidentes Portugueses das Minas Gerais perderam a revolução, foram mortos ou expatriados pra terras distantes, e tudo continuou do mesmo jeito de então, pelos séculos e séculos e muito amém; e a minha Contra-Viagem sempre na contramão, retornando do Passado, o óleo não acabou, não!, graças a Zeus, Júpiter botou combustível no Avião, Zeus e Júpiter, divindades diferentes, óh! Confusão Sem-Razão!; num passe de mágica!, retorno do Malfadado Passado do Brasil Adorado, um raio divino me trouxe de volta num veículo veloz supersônico, de volta para o presente de 1999 sem honras e glórias, não há mais Heróis neste Mundo Atual; a Guerra dos Gregos ficou para trás; o Carro de Apolo, o Velocino de Ouro e o Carneiro Mitológico do Velo de Ouro de Hércules Valente ficaram para trás; agora, só vejo o demente presente embaçado; somente as alegrias verdadeiras valem lembranças; e eu sou sagitariana, muito prazer!, e hoje é dia 20 de janeiro de 1999, Penúltimo Anno do Século XX e Penúltimo Anno do Milênio de Peixes, dia de São Sebastião, nascido em Milão, ou foi em Roma?, meu Romano Irmão?, ou em uma outra cidade qualquer da Itália?, não há certeza, não!; São Sebastião, soldado romano do tempo do Mui Antigo Imperador Deocleciano, soldado cristão, defensor dos cristãos, dos inocentes presos cristãos; soldado-mártir da causa de Cristo, morto a flechadas e pauladas por infiéis pagãos; São Sebastião, Santo Padroeiro do Rio de Janeiro, Cidade Mui Maravilhosa inaugurada num 20 de janeiro, Cidade abençoada por São Sebastião, santo venerado por Dom Sebastião, aquele Rei tão jovem e tão amado pelos portugueses fiéis, aquele Rei imortalizado nos versos heróicos de Camões, desaparecido nas areias escaldantes de Alcacér-Quibir, chefiando a Cruzada mais Santa da História do Mundo, em agosto de 1578, mas, ainda é esperado em sua Pátria Querida; os portugueses esperam o Rei Sebastião, Sebastião, o Conquistador, o Santíssimo Servo do Senhor, Sebastião, o Rei do Amor, do amor por Cristo, quero dizer; e hoje é dia de São Sebastião, a quem invoco e peço proteção, para continuar esta minha viagem, peço também ao divo Mercúrio Veloz das Predições Astrais, por ora, habitando os domínios de Capricórnio, mas no dia vinte e sete de janeiro estará em Aquário Aguadeiro, propiciando-me uma eloqüência transcendental, que segunde o Mártir São Sebastião nesta minha viagem!; Mercúrio em Capricórnio me deixa sensata, censura e rasura minhas palavras aladas, desde oito de janeiro só faço viagens instrutivas, anseio viajar por Terras Inóspitas, uma viagem à Terra Encantada do Vazio Criador Bashôniano, apenas sons, músicas e sensações, convivendo com os deuses do Olimpo de Homero Mitológico e dos Orientais também, confraternizando-me com os deuses do Antigo Egito e com os deuses ingleses habitantes da Floresta dos Bárbaros Celtas, esperando a chegada de outros deuses-convidados, eles virão do Japão, da China, do Industão e et cœtera e tal; nesse sincretismo religioso não faltarão Tupã e a sua Imensurável Corte de deuses afamados da Floresta Amazônica; não faltará a Corte dos deuses africanos, também, Oxalá e Ogum e et cœtera e tal; também as deusas moirenas do Candomblé Baiano namorando faceiras os dourados deuses super-americanos; todos os Extra-Terrestres serão convidados para o Banquete de Deliciosas Ímpares Provisões Abundantes; ao lado da Carruagem de Apolo Cantor, estacionada no centro da Ágora, serão vistos, também, bellos e reluzentes Discos Voadores, os Pequeninos Homens Verdes do Planeta Marte, os Recurvados Homens Marrons do Planeta Saturno, as Formosas Damas Vermelhas do Planeta Vênus e et cœtera, etc e etc e tal, e todos os futuros deuses do Terceiro Milênio saídos das Imortais Páginas Ficcionais do Mago Brasileiro, o nosso singular Haliterses Mastórida, dentre os brasileses inventivos o mais competente, sem dúvida, na arte de conhecer os augúrios esotéricos e ler pelo vôo dos grandiosos aviões intercontinentais e pela borra de café dos habitantes de Fez e pela fumaça do chá indiano o presente e o futuro, o nosso Mago Mega-Milionário do Século XX; todos os futuros deuses do Terceiro Milênio estarão reunidos nessa festa de arromba, saboreando os mais finos manjares do Olimpo Pagão, nectares deliciosos caríssimos e ambrosias divinas, e bebendo as saborosas e alucinógenas sonhadoras bebidas dos deuses da Floresta Amazonense Equatorial-Tropical, o cauím saboroso da Sacerdotisa Iracema passando de copa em copa, de copo em copo, de taça em taça, o licor da Virgem Alencariana na Copa de Zeus, a Virgem da Grandiosa Floresta Aniquilada e Devassada sob a proteção de Netuno dos Mares Antigos, aquele vive no fundo do Mar Dulce do Caudaloso Amazonas, mas tem uma bella casa de veraneio às margens do Rio Negro do Norte do Brasil Varonil; ele às vezes se transfigura em Peixe Espada ou em Dourado Sem Escamas do Igarapé Caudaloso do Encontro das Águas Eternais, o divo Solimões Argentado e o Rio Negro de Águas Profundas e Misteriosas em um para sempre abraço amigável, indescritível; neste Cœnaculu dos deuses mui antigos e modernos, Odisséia Maria das Altas Serras of Hinterland das Minas Gerais dos Atléticos Invencíveis Caçadores de Esmeraldas e de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas e Gatos do Mato se esbaldando pra valer, esquecida do mundo real das contas insolúveis e dos problemas vitais, distante das filas imensas dos Bancos do Brasil Varonil, esquecida das contas da luz, do gás, da água, das contas do telefone, do Camping Clube e da NET, muito feliz da vida! convivendo com os deuses garbosos de todas as crenças e etnias, saboreando deliciosos manjares, vivendo e correndo, pensando e sonhando no Olimpo da Terra do Vazio Criador de Linhagem Oriental e Bashôniana, lendo vorazmente todos os Escritores-Artistas do Mundo Profundo, encantada com os versos mágicos dos grandes Poetas do Mundo, olhando de longe o Grande Navio Catarineta Minas Gerais, atravessando obliquamente a Ponte Rio-Niterói das Estranhas Narrativas Reais, recordando saudosa sua terra de origem; Minas já foi e hoje não é mais!; hoje o Rio de Janeiro é minha terra adotada, ou, quem sabe?, a Cidade Maravilhosa me adotou com amor; mas, como eu ia dizendo, 20 de janeiro de 1999, pós o apetite acalmado na Festa de Arromba, com a Lua brilhando no signo de Peixes, com Marte e Saturno se estranhando no céu, numa oposição daquelas de amedrontar, Marte em Libra e Saturno em Áries, temporariamente em Áries, quero dizer, em 01 de março ele retorna pra Touro, me obrigando a trabalhar, trabalhar, trabalhar; mas hoje é feriado no Rio de Janeiro, carioca que se preze adora um feriado, feriado em louvor ao Mártir São Sebastião, mas em São Gonçalo não é feriado não, feriado em São Gonçalo só no dia de São Gonçalo; por isto, não terei feriado não, vou trabalhar em São Gonçalo, senão não terei dinheiro para pagar as contas do mês e para comprar o pão, o arroz e o feijão; mas o contrato acaba no fim do mês, depois, adeus bellas viagens de ônibus velho caquético, atravessando todos os dias a Ponte Rio-Niterói dos Brasileses Intrépidos, olhando com orgulho e paixão o Almirante Guillén Garboso e Lendário, imaginando mil e uma aventuras com um Almirante Gattoso Fermoso, navegando mar afora com o Almirante Deiforme; se houver um tempinho, troco de Nau Argivosa e vou visitar o Millenium Condor das Montanhas Andinas, de vez em quando, pousado no Porto do Rio, à noite, seus sócios companheiros se atracam com as moças do Rio, ou então um passivo e arguto argonauta, tripulante trilendário do navio mitológico Argus Brilhante, possuidor de cem olhos argutos, se atraca com os michês do Rio, às vezes gastando seus dólares americanos com as beldades do Rio, nas boates mal-afamadas do Rio, assistindo striptease nos inferninhos do Rio e et cœtera e tal, minha Mentes Dinâmica calçada com bonitas sandálias voadoiras de oiro e brilhantes passeia no espaço vazio infinito comandando estas estranhas palavras aladas; mas, como eu ia dizendo, consulto o oráculo deste dia pós-moderno, neste 20 de janeiro de 1999, e o orago me diz, você vai Odisséia resolver os problemas aflitivos!, para eu aproveitar os três dias seguintes, para resolver os inenarráveis problemas maiores, e são tantos, meu Deus!, não há oráculo que dê jeito, Senhor!, mesmo que o momento seja oportuno para cuidar do meu ralo dinheirinho, não há jeito não!, é só conta e mais conta para pagar, meu Irmão!, o Correio só traz conta pra eu pagar, Mano Velho!, a ansiedade é tanta e só o que faço é comer, como todas as iguarias da geladeira, como todos os biscoitos guardados na lata, como todo o mel guardado no pote quebrado, como todo o queijo da queijeira mineira, insaciável à noite, vendo televisão, continuo comendo, comendo, e vou engordando, engordando, engordando, assim não conquistarei aquele bilhardeiro deiforme assinalado por Vênus Madrinha, neste 1999, não jogarei do meu Avião Supersônico os reais dólares e euros, para matar a fome dos pobres mortais do Brasil Varonil; mas, como eu ia dizendo, atravessar a Ponte Interinfinita Superlotada de Caminhões Gigantescos e Automóveis Velozes Brilhantes e Ônibus Antiquados Gaiolas dos Pobres é um barato legal, a paisagem do Rio é de uma beleza sem igual, esqueço que há no Rio esgotos mal cuidados, malcheirosos, crateras escuras, esqueço as ruas esburacadas do Rio, esqueço que o carioca joga lixo nas ruas, o carioca joga lixo nos canais foetentos, o carioca joga lixo nas praias foetentas, no Passado tão limpas!, os ricos industriais poluem a Cidade, jogando gás tóxico na atmosfera do Rio, pelas chaminés de suas fábricas de tudo, os motoristas jogam gás carbônico no ar, gás carbônico exalado de seus possantes carros mal cuidados, sujando sem dó os pulmões da população e de seus filhos também, pois seus filhos habitam a Cidade Agonizante Tão Bella e Charmosa também, e vão morrer com certeza com doenças respiratórias, se não houver um basta para tanto descuido; mas, como eu ia dizendo, a Cidade é Bella, é a Cidade Mais Bella do Mundo Atual, meu Senhor!, nem mesmo Paris possui as belezas do Rio Afamado, e é lamentável tanto abandono, meu Deus!, as Favelas invadem os bellos morros do Rio, os barracos mal construídos maculam a maravilhosa paisagem, mesmo assim, a Cidade é bella, talvez no passado tenha sido mais bella, a falta de amor do povo ainda não conseguiu destruir a Cidade, a Cidade ainda reina soberba no Reino do Ão, durante o dia reina a sujeira, o barulho dos carros, os assaltos, os homicídios e et cœtera e tal, à noite, tudo isso e muito mais e et cœtera e tal, à noite, a Cidade se ilumina com a incrível eletricidade moderna, de luzes elétricas, estrelas diversas luminosas, cores vibrantes e muito glamour, e é um espetáculo de rara beleza, meu espantado Leitor!; mas, como eu ia dizendo, com muito Amor, lá vou eu, por estes ares poluídos e bélicos nunca dantes navegados por Epo-Ficcionais Astronautas Atilados, neste 22 de janeiro de 1999, Penúltimo Anno do Milênio de Peixes, segundo dia do Sol em Aquário, com o Sol e Netuno favoráveis em Aquário, a Lua Nova brilhando temporariamente em Áries, tenho tudo a meu favor para conhecer um Ulisses Gattoso Super Especial; esse Alguém deve estar muito longe, talvez explorando a Cordilheira dos Andes, contando lorotas para as moças de lá, viajando pelo Mar do Caribe na Corveta Catarineta Princess Verônica, uma Corveta Nicaragüense dos Mares Suntuosos Fermosos, ou então reinando em outro navio qualquer, de nome sonoro e difícil de pronunciar, quomodo o Star Liberty, o Astro Vagamundo dos Mares do Norte e dos Mares do Sul do Incrível Mundo Rotundo, grande e charmoso!, atracado no Porto, sobressaindo-se garboso entre os demais, e o meu Alguém Especial tão distante de mim, sempre Bienvenido Granda em minha vida e em meu coração; mas, como eu ia dizendo, o Sol em Aquário, neste 22 de janeiro de 1999, uma sexta-feira de muito calor, um calor infernal, sem igual, com a Lua em Áries e Netuno em Aquário, e Vênus também em Aquário, e Urano Estranhíssimo em Aquário também, e Plutão Mui Transformador em meu Sagitário Querido, doze anos pela frente reinando contente, doze anos de transformações radicais, induzindo minha Mentes Dinâmica a vôos originais, exigindo energia vibrante, fazendo de minha vida uma aventura constante, Plutão levando-me numa epo-viagem ficcionalmente alucinante por esses ares insólitos nunca dantes navegados, e o orago do dia prometendo sucesso, não tenha medo de apostar no Futuro, óh! Mulher!, neste 22 de janeiro de 1999, jogue as cartas mais altas do baralho amoroso, aposte nos dados e nas corridas de cavalos, jogue na Sena e no Bolão da Esperança,

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