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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

NOVA TRANSFORMAÇÃO DISCURSIVA EM A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

NEUZA MACHADO



NOVA TRANSFORMAÇÃO DISCURSIVA EM A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

NEUZA MACHADO


Devo ressaltar a figura de seu Joãozinho Bem-Bem como outro líder carismático no transcorrer narrativo-ficcional de A Hora e Vez de Augusto Matraga. Não um carismático religioso, mas guerreiro. Falarei sobre este personagem mais adiante e o relacionarei à última afirmativa de Weber.

Por ora, observo que já se delineia uma nova transformação na ficção roseana, submetida à transformação discursiva do narrador.

Depois do episódio de Tião da Thereza, o personagem Nhô Augusto, já vivenciando sua fase de transição (do linear para o vertical), recomeçou a pensar no antigo poder e a desprestigiar um pouco seu novo modo de vida.

O poder, de acordo com Foucault, instaura-se a partir de um exercício do próprio poder de mando. Onde há poder, o exercício do poder é acionado. Não há como pensar o Poder simplesmente, é imperioso observar, analisar e reinterpretar os seus sinais e materialização. O poder — o exercício do poder — se realiza sob uma organização em que todos que dispõem dele são peças-chave, desde o guarda civil ao Presidente. Não há como localizá-lo, pois ele é prerrogativa de uma maioria (ou de uma minoria) que o exerce como conduta arbitrária em maior ou menor grau.

O poder carismático não satisfaz ao personagem Augusto Matraga, porque ele socialmente já conhecera o poder arbitrário. O religioso possui poder, mas esse poder se opera em nome de um outro Poder Maior. Daí, a nova transformação de Nhô Augusto (poderoso personagem sertanejo do século XX, que isto fique claro). Daí, o desejo de retomar o antigo prestígio; o desejo de rebelar-se contra as imposições católico-religiosas. Daí, a transformação do narrador roseano, conhecedor das transformações históricas do Poder político de meados do século XX.

“Mas, daí em seguida, ele não guardou mais poder para espantar a tristeza. E, com a tristeza, uma vontade doente de fazer coisas malfeitas, uma vontade sem calor no corpo, só pensada: como que, se bebesse e cigarrasse, e ficasse sem trabalhar nem rezar, haveria de recuperar sua força de homem e seu acerto de outro tempo, junto com a pressa das coisas, como os outros sabiam viver.

Mas, e a vergonheira atrasada? E o castigo? O padre bem que tinha falado:

— Você, em toda a sua vida, não tem feito senão pecados muito graves, e Deus mandou estes sofrimentos só para um pecador ter idéia do que o fogo do inferno é!...” (A Hora e Vez de Augusto Matraga).

Ainda os preceitos religiosos, o mito do castigo divino sempre renovado através dos tempos.


MACHADO, Neuza. O Narrador Toma a Vez: Sobre A Hora e Vez de Augusto Matraga de Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: NMachado, 2006 – ISBN 85-904306-2-6

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