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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O NARRAR PARADIGMÁTICO NA FICÇÃO ROSEANA DE MEADOS DO SÉCULO XX

NEUZA MACHADO



O NARRAR PARADIGMÁTICO NA FICÇÃO ROSEANA DE MEADOS DO SÉCULO XX

NEUZA MACHADO


Aí, então, tudo estava mesmo muito mudado”, porque tudo mudara no plano narrativo. Quebrou-se a monotonia do relatar metódico; instaurou-se o “reinado” do ato de narrar desencontrado (diferente, poético, ilógico). O insólito em Guimarães Rosa encontra-se no grau discursivo.

Para reafirmar sua transformação ficcional, o narrador faz surgir, no momento do impasse ficcional, a figura de seu Joãozinho Bem-Bem e seu bando. “Vinham do Norte”.

Vinham do Norte”. A palavra “Norte” como significante de território estritamente ficcional. O arraial do Tombador, portanto, se apresentando como espaço intermediário entre duas dimensões, consequentemente o local onde se daria o "encontro" dos dois personagens, representantes de planos narrativos diferentes (o Histórico e o Ficcional). Nhô Augusto como herói do plano histórico-substancial foi resgatado pela narrativa memorialista, mas, nas sequências seguintes viu-se caminhando contritamente (e ainda linearmente) em direção à realidade político-substancial do Arraial do Tombador, adquirindo, temporariamente, existência histórico-religiosa, portanto, um personagem ainda movido por forças ideológicas.

Pelo ponto de vista geográfico (e verossímil), a apreciação teórico-reflexiva se processa da mesma maneira: Nhô Augusto, ao se transformar em carismático-religioso, encaminhou-se para o Norte (do sertão de Minas Gerais), juntamente com seus pretos tutelares. Ao correr da narrativa é lícito observar que o narrador apresenta um autêntico personagem de ficção ao caracterizar a figura de seu Joãozinho Bem-Bem. No início (primeiro segmento), quando apresentou a figura de Nhô Augusto, o plenipotenciário do ato de narrar, figurado de narrador tradicional, estava preso à lógica da História (substancial), ou seja, submetido às imposições da memória (submetido ao ato de narrar sintagmático). Ao apresentar a figura de seu Joãozinho Bem-Bem, isto não acontece. O narrador já se libertou.


MACHADO, Neuza. O Narrador Toma a Vez: Sobre A Hora e Vez de Augusto Matraga de Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: NMachado, 2006 – ISBN 85-904306-2-6

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