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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

SEMIOLOGIA DO SERTÃO

NEUZA MACHADO


SEMIOLOGIA DO SERTÃO

NEUZA MACHADO


O discurso narrativo - ficcional -
de A hora e vez de Augusto Matraga estrutura-se como “instância fundadora do processo literário de criação
” (Anazildo Vasconcelos da Silva) a partir das vastas estepes do sertão mineiro, sobressaindo-se o modo de vida do sertanejo, seu linguajar aparentemente deturpado, os combates entre jagunços, as disputas políticas, enfim, todo um pequeno espaço sócio-substancial, miniatural, mas que reflete, em nível de interpretação, o próprio Mundo. Posso afirmar que a narrativa de Guimarães Rosa só poderia mesmo se estruturar em seu momento histórico, isto é, refletir toda a problemática existencial que envolveu o homem do século XX, fragmentado, levado pela aceleração dos acontecimentos, sujeito às imposições de poder e de dominação.

Evidentemente, só posso afirmar meus pensamentos sob o aval da Semiologia de Segunda Geração, entretanto teria de ressaltar o paradoxo da narrativa roseana: o mundo recriado possui todas as características apontadas acima, mas possui, também, matéria mítica ainda em fase embrionária. O sertão mineiro apreendido pelo Ficcionista Guimarães Rosa é ainda aquele espaço primitivo, no qual se mesclam as Idades Antiga e Medieval. Este sertão é uma bolha especialíssima flutuando no Caos da modernidade, ainda conservando a pureza de um mundo original. O complexo (o insólito) é o narrador refletir a pureza do homem primitivo em conflito com o mundo moderno. O diabo não existe”, reflete Riobaldo em Grande Sertão: Veredas. O “diabo” assinalado na narrativa de Guimarães Rosa é este desejo do homem atual de recompor sua identidade fragmentada. O “diabo” é esta busca incessante de valores de uso em um mundo onde esses valores já não existem. No entanto no sertão mineiro esses valores ainda existem como herança de antigas normas de vida comunitária. O narrador roseano de A Hora e Vez de Augusto Matraga
ultrapassa seus limites: enquanto criatura romanesca reflete seu criador.


MACHADO, Neuza. O Narrador Toma a Vez: Sobre A Hora e Vez de Augusto Matraga
de Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: NMachado, 2006 – ISBN 85-904306-2-6

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