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sábado, 6 de novembro de 2010

DE VOLTA PARA O FUTURO: OS SEGREDOS DA CULINÁRIA MINEIRA DE ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO

Fotografia de Joana Martins (Jane Mamãe) aos 45 anos

DE VOLTA PARA O PASSADO: OS SEGREDOS DA CULINÁRIA MINEIRA DE ODISSÉIA MARIA

NEUZA MACHADO


Então, quomodo estava a dizer-lhe em nossa conversa de ontem, desde o meu nascimento em uma data qualquer do Final de Novembro de Meados do século XX, eu, Odisséia Maria, vi-me envolvida com a arte de alimentar-me muito bem. Só para Vocês terem uma idéia, pendurei-me aos seios de minha Jane Mamãe e mamei seu precioso leite, ininterruptamente, até aos Sete Annos. Ocorre que Jane Mamãe era uma camponesa saudável, uma descendente de Valerosos e Imortais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais (meu Papai Antônio Aquileu também). Então afirmo-lhes: Minas Gerais é uma região mítica, mágica, sem-igual no Mundo Global, localizada na parte Leste do Brasil Varonil, e, assim, Jane Mamãe aguentou, com incomparável galhardia mineira, o apetite descomunal de sua excêntrica filhinha.


Quomodo Vocês já notaram, nasci em um Alto de Serra Of Hinterland de Minas Gerais (aqui, em minha Pátria Natal-Brasil, neste Anno de 2001 - não s’esqueça do Anno: estou a escrever-lhe em 2001 -, adoramos os idiomas estrangeiros, aliás, adoramos os idiomas estrangeiros desde o Anno de 1995) e, portanto, possuo o conhecimento dos segredos inumeráveis, mitológicos, sobre culinária, ervas, simpatias e muito mais, que estavam e estão ainda guardados a sete chaves pelas Matriarcas Mineiras. Aprendi as Sigilosas Receitas de Minas Gerais com minha Avó Justiniaña de Ogiges, descendente da lendária Calipso, aquela que muito amou o navegador grego Ulisses, o Eversor de Cidades, (minha Avó Justiniña era também parenta distante do Centauro Quirón; talvez, uma tataraneta, não tenho certeza!). Foi graças a essa minha inesquecível Avó Camponesa (entretanto, muito Lady, uma senhora da roça mui fidalga à moda portuguesa), a poderosa Maga Quiromântica Justiniaña, neta de uma portuguesa de olhos glaucos, misteriosos, oriunda da indescritível Ilha de São Miguel, aquele Arcanjo Poderoso, que Jane Briseides Mamãe, filha de Emiliano de Brises, teve a feliz idéia de batizar-me, nas águas eternais do Rio Carangola, com o nome de Odisséia Maria.

Depois destas explicações, mui necessárias, e antes de revelar-lhes os meus Segredos da Incomparável Cozinha de Minas Gerais-Brasil, gostaria de dizer-lhes que esta minha predileção por Culinária (incluindo a minha vocação para literatura) já havia sido pressagiada pelos Astros que presidiram o instante, aquele espaço pequeníssimo ― mas indeterminado ― de tempo, de meu nascimento. Naquele momento, a Lua estava a 19o graus do signo de Sagitário, em minha Casa Dois do Dinheiro VagaMundo, se penso em meu Ascendente a 21o do signo de Escorpião. Ocorre que o meu Sol de Nascimento estava a 3o de Sagitário, na Casa Um, compartilhando com Escorpião o privilégio de também direcionar a minha vida interior práláde agitada. Por esta razão, o meu signo de nascimento sempre se imiscuiu na Casa Um do Ascendente e, também, na Casa Dois do dinheiro volátil, a bagunçar para sempre as misteriosas exigências de vida de meu misterioso Ascendente. Também por esta razão, a minha paixão por Horizontes Dilatados, sem preocupações existenciais, quomodo as preferências dos sagitarianos sortudos, encontrou, por parte do Ascendente em Escorpião, a intimação, em função de direito suposto, de impulsionar, para minha vida terrena (agitadíssima) uma série de transformações radicais.

Hoje, vou parar por aqui. Amanhã conversaremos mais um pouquinho. Por agora, recebam, Homens e Mulheres do Futuro Brasileiro Sem-Muro, o meu afeto incondicional e um imenso, amplo e carinhoso abraço transtemporal.


ODISSÉIA MARIA, filha de Antônio Aquileu Pelides Papai e Jane de Brises Mamãe, descendentes de Imortais Caçadores de Onças Pintadas e Jaguatiricas Noturnas de Minas Gerais, uma região incrivelmente mágica situada na parte Leste do Brasil Varonil.


P.S.: Junto a esta Cartinha escrita em Novembro do Anno de 2001, envio-lhes mais uma deliciosa receita de Minas Gerais-Brasil (para Vocês do Brasileiro Futuro Sem-Muro Repleto de Fartura, fartura para todos sem distinção e, principalmente, um Futuro Brasileiro Sem Xenofobia). Experimentem! É uma receita fácil! Tenho plena convicção que Vocês vão apreciar! (Por favor, sejam gentis brasileiros e repassem a receita de Minas Gerais também para os amigos estrangeiros).


COSTELINHA DE PORCO COM CANJIQUINHA DE MILHO E MOSTARDA

Ingredientes:
1k de costelinhas de porco
½k de canjiquinha de milho (amarelo ou branco)
Folhas de mostarda/verdura (não confundir com creme de mostarda para sanduíches)
2 cebolas médias (cortadas batidinhas)
1 colher (das de sopa) de óleo de cozinha
4 dentes de alho (2 dentes para temperar as costelinhas e 2 dentes para o refogado)
1 cálice de cachaça da roça (optativo)
1 colher (das de chá) de pimenta-do-reino
½ colher (das de chá) de pimenta malagueta (optativo)
Sal (o suficiente para temperar as costelinhas e a sopa-creme de canjiquinha)
Cebolinha verde (para enfeitar)

Modo de fazer:

1o) Em uma panela funda, refogue as costelinhas (já temperadas com sal, alho e cebola batidinha). Não será preciso cozinhar as costelinhas separadamente, deixe apenas que elas fiquem com uma cor amarronzada (a famosa borra da carne, indispensável em alguns pratos de Minas Gerais). Motivo: As costelinhas serão cozidas juntamente com a canjiquinha. Quando as costelinhas já estiverem coradas, retire a panela do fogo por alguns minutos. Reserve.
2o) Em uma panela funda, esquente 1 (uma) colher (das de sopa) de óleo de cozinha e refogue dois dentes de alho (amassados ou triturados), colocando em seguida água, o suficiente para cozinhar as costelinhas e a canjiquinha. Deixe ferver.
3o) Quando a água alcançar fervura, jogue-a na outra panela com as costelinhas, levando-as ao fogo novamente (por favor, não retire a borra das costelinhas). Acrescente a canjiquinha (já previamente lavada). Cozinhe a canjiquinha juntamente com as costelinhas de porco em fogo baixo, mexendo de vez em quando, para não queimar o fundo da panela (o que estragaria este delicioso prato da cozinha mineira). Prove o sal (cuidado para não salgar este alimento dos deuses de Homero, por favor!).
4o) Quando você perceber as costelinhas e a canjiquinha já cozidas, coloque as folhas de mostarda cortadas em tiras grossas (ou rasgadas). Misture a verdura dentro da panela da sopa-creme, apenas para um cozimento rápido, tempere com pimenta-do-reino e pimenta malagueta (optativo), e acrescente o cálice de cachaça mineira para dar um sabor especial ao prato. (Isto, se você quiser, realmente, apresentar aos seus convidados um prato típico da região da Mata Mineira (Minas Gerais – Brasil). Eu, Odisséia Maria, posso garantir-lhes que minha avozinha Justiniaña, a Grande Maga Sem-Igual, em sua Cozinha de Sonhos Gastronômicos Deliciosos (Cozinha localizada em meu infantil passado encantado, situada no Córrego da Gruta do Divino Espírito Santo, Zona da Mata de Minas Gerais), não dispensava o gostinho da pinga neste prato digno dos deuses de Homero ― apenas um pouquinho! ― ao prepará-lo, naqueles dias festivos de minha mágica infância dourada.
5o) Por último, retire a sopa-creme do fogo (a espessura do caldo ficará por conta da cozinheira da hora), coloque-a em uma bela sopeira, salpicando por cima cebolinha verde picadinha.

BOM APETITE!

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